quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

SMS 35: Álvaro Cassuto: Bravo! Bravo!

8 Janeiro 2004

Mas que magnífica noite em Loulé! O Cine Teatro – pérola de arquitectura pela simplicidade e harmonia – estava cheio e o programa tinha elementos para domesticar até animais selvagens: entradas de Mozart, condimentos de Donizetti e alguns doces de Rossini. Mas não foram os condimentos, nem as entradas e muito menos os doces que estiveram à prova no primeiro deste ano de 2004. Certamente que o melhor meio para de dirigir seres humanos será talvez tocar-lhe violino, embalá-los com o violoncelo, acordá-los com a trompa, amaciá-los com o oboé, dar-lhes profundidade com o contrabaixo e – porque não? – limpar-lhes a parte má da consciência com uns valentes abanões vindos lá dos lados dos tímpanos. Mas também nada disto estava em causa. A Orquestra do Algarve entrou como se fosse a continuação das nossas vidas e o maestro Álvaro Cassuto, depois de discretamente beijar a batuta, começou o seu trabalho com a seriedade de quem sabe que pode acrescentar mais alguma coisa às mesmas nossas vidas. Ele ia dirigindo suavemente aquela afinada máquina de sons humanos e pensava eu: este homem, se assim continua, está a domesticar o Algarve. Ele entusiasmava-se fugidiamente para, com um ligeiro levantar de tacão dos seus sapatos de verniz, prevenir o melhor simultâneo dos sopros com as cordas e pensava eu: este homem vai fazer escola. Ele ouviu uma longínqua faladura de criança, deixou a batuta suspensa, olhou para o lado sorrindo e pensava eu: já tem garantido o voto daquela criança. Por tudo isto, não perdoarei, jamais perdoarei a quem negar todo o apoio a Álvaro Cassuto e à sua Orquestra do Algarve e por tudo isso, levanto-me da plateia e por entre os aplausos grito: Bravo! Bravo! Um aprendiz de negócios, dizia outrora a Voltaire: «É uma grande felicidade para mim, mas nunca me sobrou tempo para ter bom gosto!». Também não perdoarei a quem me disser que não lhe sobra tempo para gritar «Bravo!» a Álvaro Cassuto que está a colocar no Algarve a praia que nos faltava. A daquela Arte que estimula a liberdade de espírito.

Carlos Albino

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