29 Janeiro 2004
Essa ideia peregrina de dividir o Algarve em duas comunidades urbanas, supostamente uma polarizada em Portimão e outra em Faro, é de quem não conhece o Algarve ou, se conhece, quer deliberadamente feri-lo de morte arrancando-lhe por decreto o coração da unidade, vazando-lhe por despacho o sangue da coesão e, no estilo próprio dos bichos das campas rasas, dividindo o cadáver para reinar. A solução que, em última análise, consistiu em atirar para o ar - ou em sortear como na lotaria da Santa Casa – as Grandes Áreas Metropolitanas, as Comunidades Urbanas, as Comunidades Intermunicipais de fins gerais e as Associações de Municípios de fins específicos, é uma solução copiada daqui e dali, não é original. Mas admita-se que tal sorteio sirva para resolver - ou pelo menos para o Poder Central em exercício limpar a água do capote - os problemas do Norte e do Centro do País onde impera a agressividade por um ou dois palmos de terra e as lutas selvagens por independências locais que não deixam de ser independências macacas. Politicamente, foi esse Centro e esse Norte que inviabilizaram a Regionalização que há muito devia ter sido feita pelo que não há qualquer legitimidade em impor-se agora ao Algarve uma solução espúria, oportunista e sem mapa, porque o problema do Centro e do Norte é o mapa, está no mapa e decorre do mapa – mapa que o Algarve tem sem margem para dúvidas. É verdade que perante esse fracasso dos mapas estranhos ao Algarve, alguns algarvios politicamente responsáveis vergaram indecorosamente a cabeça tentando salvar-se também politicamente com dois discursos: um, para uso em Lisboa, e outro, para iludir o pobre Reino cá de baixo que lhes deu profissão política e até nome. Mas o certo é que os amuos de Aveiro-Viseu-Coimbra, as disputas Guimarães/Barcelos-Braga, as coisas entre Covilhã e Castelo Branco, os despiques de Leiria e Santarém, para não se falar das reivindicações de Bragança, da Guarda, de Tomar e até do desafinanço alentejano de Évora e Beja, tudo isso não tem nada a ver, nem de perto nem de longe, com o que se passa no Algarve - mesmo quando se regista inequívoca discórdia de fundo percebe-se que a discórdia algarvia decorre exclusivamente de não haver Região e é um custo da Não-Região, como também custo da Não-Região é a longa lista de disparates que não cabe aqui descrever. Assim, essa solução da Grande Área Metropolitana para os 16 Municípios do Algarve apenas pode ser aceite como expediente de solução para a superfície ou mapa do Algarve. A Região é o único volume político que se adequa ao Algarve pelo que a excepcionalidade da Região-Piloto deveria ser reposta na Constituição da República.
Carlos Albino
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