13 Novembro 2003
Como sempre, o poder central português agora casado com o poder central espanhol, desta vez a a propósito dos comboios de alta velocidade, destina para o Algarve o maior desprezo. Foi assim com as estradas, continua e continuará a ser assim com os portos, foi sempre exactamente isso com os caminho de ferro. Pura e simplesmente desprezo. Estive na Figueira, ouvi atentamente Barroso e Aznar, confrontei as versões portuguesa e espanhola das conclusões desse arranjo político em que o transmontano de Lisboa foi de carrinho, digam-me o que disserem. Não vou falar muito do carrinho mas apenas do que interessa ao Algarve. Para já, alta velocidade apenas vai existir para Lisboa e Porto. Haverá para Lisboa porque os espanhóis querem impor uma nova centralidade estratégica em Badajoz absorvendo o Alentejo português até ao mais pequeno ossinho, sendo o resto conversa. Haverá também alta velocidade para o Porto, porque idêntica estratégia espanhola está delineada para Vigo. Mas bem lá no fundo do túnel pretendem, querem e impõem os espanhóis que todos os caminhos vão dar a Madrid. E assim será, basta ver o mapa. E para o Algarve? Bem para o Algarve, em matéria de comboios, lá ficou prometida na Figueira, uma «conexão» entre Faro e Huelva à qual, olhando para o tal mapa, prefiro chamar um ramal da Andaluzia para o aeroporto do Sapal. Porque não Lagos? E é um ramal apenas para velocidade elevada e não para alta velocidade, nada mais. Além disso, os termos do chamado acordo não são claros: a «conexão» Faro-Huelva será planificada «em função dos resultados dos estudos a desenvolver», de forma que essa ligação possa estar concluída antes de 2018. Imaginem - 2018! - e «em função dos resultados dos estudos»… Ah! Já me esquecia – promete o poder central de Lisboa uma nova ligação entre Faro e Évora (primeira e única paragem do TGV em Portugal antes de Lisboa) com óbvia travessia da Serra Algarvia. Como se viu com a auto-estrada, os ecologistas já devem estar de plantão certamente e, tal como no passado, preparados para acordos debaixo da mesa em Almodovar. Não se chama a isto desprezo pelo Sul do País, mas simplesmente desprezo pelo Algarve. E então aquela data de 2018, data das comemorações do primeiro centenário do fim da I Guerra Mundial, faz-me rir deste desprezo.
Carlos Albino
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