25 Março 2004
Possivelmente o que vou escrever é coisa já requentada e conhecida de todos, menos por mim. Pois estava eu muito longe da filosofia e exasperado com a sujidade e o ruído das ruas (já por aqui uma vez se garantiu que muitas das nossas cidades algarvias de marca estão perto do nojo que grande parte do terceiro mundo já varre) mas ao entrar num café, olho, leio um letreiro e de imediato me recordo de Unamuno. Lembrei-me de como o filósofo espanhol foi pelo pensamento afora quando ao entrar numa velha farmácia de Valência, encontrou na parede um letreiro com a fórmula para a última tentativa de salvação do moribundo que tivesse experimentado remédios indicados atrás de remédios, sem resultado para debelar o mal desconhecido. A fórmula do boticário de Valência chamava-se treuka máxima e consistiia numa mistura das parcelas de toda a medicamentação conhecida, fosse ela qual fosse - a esperança era a de que alguma dessas parcelas, na misturada de centenas e centenas, acertasse contra as causas do mal.
Ora nesse café de uns uns 16 metros quadrados apenas (para mais um café de Loulé que é a capital da algazarra) acabei de encontrar coisa semelhante à treuka achada por Unamuno, para a pior doença do Algarve que é o barulho selvagem, portanto um barulho mortal. O que diz o letreiro? Isto: «A Terra tem 5 Oceanos, 7 Mares, 5 Continentes, 513 milhões de quilómetros quadrados… e você vem fazer barulho para aqui?» Estão a ver o remédio, não estão? Eu fui pelo pensamento afora e vi o remédio…
Carlos Albino
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