5 Março 2004
Pasmo: em plena cidade, uma casa sem passeio e portanto sobre a estrada, recebe um primeiro andar falso e estende mais por uns valentes metros quadrados. Licença? Para quê a licença se o proprietário é funcionário municipal? Tudo clandestino. O presidente deve saber, o fiscal fecha os olhos, o mamarracho ali fica para a posteridade... É claro que o dono disto se ri dos que, com todo o escrúpulo e zelo pela lei, aguardam há meses, anos, vários anos por alguma licença de obras.
E aquela casa mesmo à beira da estrada? Bem, essa recebe dois andares. Também sem qualquer licença. Tudo clandestino. Os da junta encolhem os ombros, a carrinha do fiscal passa sem travar. Para quê travar? Ou não é verdade que, uns cinquenta metros abaixo, um antigo e exíguo salão de baile deu em vasto armazém de alfarroba, com mais cinco metros para cima, um enorme portão de ferro em vez da velha portinha e o dono a rir-se? Não tinha ele, mesmo em frente ocupado metade de uma via pública para idêntica façanha clandestina? Para quê licença?
Estes são apenas dois exemplos de como o Algarve das obras clandestinas está a tornar-se insuportável. São exemplos miúdos, porque há também os graúdos! Sim, os graúdos em quem ninguém pode tocar no receio de represálias na próxima campanha eleitoral...
E garantem-me que há já por aí firmas «especializadas» em construção de ruínas em lugares ermos, seja em terrenos só de lavoura ou mesmo em encosta íngreme de pedras! Tudo para que a ilegalidade das obras, com esse passe de mágica, se torne – imaginem – legal!
Neste panorama de ilegalidades monstruosas - em que tanto os decisores cá de baixo mas que, nas câmaras, condicionam os decisores lá de cima, como os fiscais de rua que a olhos vistos enriquecem sem justa causa, tornam obviamente obrigatório o perdão imediato a qualquer GNR de trânsito apanhado com uma perna de fora no quartel de Albufeira - o cumprimento da lei, para o cidadão que queira ser íntegro, acaba por se transformar numa punição. Numa injusta e irremediável punição.
E o curioso é que não há campanha eleitoral local, desde Aljezur a Alcoutim e entre Castro Marim e Vila do Bispo, que nos últimos trinta anos não tenha sido feita «contra a corrupção»... Perante tanta honestidade não me curvo apenas – faço uma circunferência!
Carlos Albino
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