9 Outubro 2003
«Aqui repousam os restos mortais de um homem que, durante a sua vida, fez o possível para ser honesto e que, se, por diversas vezes, ele faltou aos seus deveres, foi motivado pelas injustiças dos homens» - foi a frase que João Rosa Beatriz, fundador do Concelho de São Brás de Alportel, pediu que lhe colocassem na campa. João Rosa Beatriz foi «anti-clerical» porque no seu tempo ser anti-clerical era o mesmo que, hoje, ser anti-fundamentalista, sendo o fundamentalismo uma doença que não ataca apenas muçulmanos, cujos contaminados por esse mesmo mal, continuam a entregar todo o poder aos clérigos. Não vamos fazer história porque, para além do País estar cheio de historiadores (90 por cento dos portugueses são historiadores), o que Maria João Raminhos Duarte disse com grande inteligência, em São Brás, a propósito de um Algarvio generoso que imolou toda a vida e sem tréguas pelo ideal do combate à injustiça, acabou por ser uma verdadeira «oração ecuménica». Por isso, estranhei que o padre de São Brás estivesse ausente. É verdade que a Igreja por aí tem andado a pedir desculpa pelos seus fundamentalismos do passado (um extenso comboio, sobretudo quando a Inquisição era um verdadeiro regime de talibãs…) mas ficar-lhe-ia bem que reconhecesse, ainda que discretamente, que alguns anti-fundamentalismos também do passado contra ela, tiveram justificação e legitimidade. Pelo que se lhe conhece, Cristo, se fosse vivo, estaria presente na evocação de João Rosa Beatriz. E se calhar esteve, estando o padre ausente. Não há desculpa, a não ser que o padre também seja historiador.
Carlos Albino
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