quinta-feira, 18 de setembro de 2008

SMS 280. O Algarve, que futuro?

18 Setembro 2008

Anda Portugal, por aí fora, a debater o seu futuro, se terá viabilidade nos próximos dias ou até mesmo se ainda existe hoje. Aquilo são colóquios no Norte, são seminários no Centro, são jornadas na capital, e até mesmo a televisão, certamente para compensar aquela atoarda que apenas não cheirou totalmente a perfume de antigo cigano porque substituiu 28 de Maio, segundo a qual os elementos identitários de Portugal seriam «futebol, Fátima e 25 de Abril», até mesmo a televisão viu-se compelida a pleitear a viabilidade deste Estado, ou do país com este Estado, ou da nação com este País, como se queira. Quando não se quer ver escrutinado o presente, provoca-se o divertimento com o futuro, sendo este exercício paraolímpico apenas mero divertimento porquanto qual o País, qual o Estado, qual a Nação que tendo futebol, Fátima e 25 de Abril não haverá de sobreviver? Não se percebe como é que, com tais elementos identitários manifestamente perenes, os pensadores paraolímpicos ainda perdem tempo em indagar a viabilidade ou mesmo a existência de Portugal… Tenhamos pena, verdadeira pena é das regiões que, dentro desse Portugal imortal, não tenham dotes para pontapés, não disponha de um lugar de aparições divinamente pagãs, ou que nunca tiveram um 28 de Maio a sério nem um 25 de Abril a brincar uma vez que dois dias de democracia converteram muito antigo comissário da ditadura em fervoroso missionário da liberdade. Com a situação em que o futebol algarvio se encontra, dado que também não há meio para alguma divindade descer dos céus para aqui havendo tão bons sítios para isso (em Marmeleite, no Cachopo ou no terraço de algum hotel de Albufeira, por exemplo) e porque, quanto a datas, falta pouco para alguns líderes da região, trocando as coisas, evocarem o 25 de Maio e o 28 de Abril, é de temer se este Algarve, sem os elementos identitários de Portugal, tem viabilidade, se tem futuro ou mesmo se existe.

Carlos Albino

      Flagrante sugestão: Uma ida a Almodôvar, para uma visita ao Museu da Escrita do Sudoeste. Diz respeito ao Algarve e a todos os que, por identidade, são algarvios.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

SMS 279. Esta máquina de esquecer

11 Setembro 2008

Trata-se do «8.º Encontro dos Povos», com o lembrete das migrações em pano de fundo. Num Algarve onde tanta gente assobia para o ar, sobretudo aquela gente para a qual a imigração apenas é carne para canhão, o facto de Estói se lembrar dos que, vindo de longe, entre nós estão e, salvo lamentáveis excepções, fazem das tripas coração para aprender a língua, trabalhar com gosto e ganhar umas migalhas de felicidade, merece registo, apoio e estímulo.

Embora a avaliar pelo folheto que anuncia esse encontro de imigrantes para dia 21, pareça tratar-se de uma iniciativa confessional e marcadamente religiosa, este pretexto não diminui a bondade da iniciativa. Primeiro, porque, com as dimensões que tem ou pode ter, o encontro de Estoi preenche uma grave lacuna do Algarve para com os migrantes que acolhe, quer a nível regional, quer a nível autárquico (as agendas municipais, por exemplo, desconhecem soberanamente os imigrantes). É como se, descontando tudo aquilo que nas escolas se faz por obrigação e lei, não tivéssemos uma palavra a dizer e duas a ouvir desses milhares de pessoas que também, na generalidade, contactam com a nossa cultura e história por mera curiosidade ou acaso.

É claro que o encontro de Estoi sabe a pouco – começa com um desfile de bandeiras dos países presentes e, com uma celebração religiosa pelo meio, vai pela tarde fora com gastronomia, música e danças dos grupos «de vários povos». Fica aquém do que seria razoável fazer, mas já é alguma coisa e sobretudo é uma boa lembrança. Na verdade, as «entidades regionais» descalçando a bota não estão viradas para este género de generosidade cultural, e as autarquias, cada qual por seu lado, esvoaçam entre «eventos» e animação em função dos que votam, acontecendo que esta doença infantil da democracia já há muito chega às juntas de freguesia. Parece que o Algarve anda esquecido que o pouco que culturalmente tem e lhe dá fortes traços identitários é derivado das migrações, de muitas e variadas migrações que rapidamente esquecemos uma a uma, ou uma depois de outra. Ou o Algarve não fosse uma máquina de esquecer.

Carlos Albino

      Flagrante falta de palavra: O comboio de alta velocidade entre Faro e Huelva combinado com Espanha em 2003, para funcionar em 2018…

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

SMS 278. O Carrocel Oito

4 Setembro 2008

Como era de esperar, o PSD reelegeu Mendes Bota, e, como se esperar será, o PS vai reeleger Miguel Freitas, ficando compostas as flores centrais do ramo que vai adornar as eleições. O PSD algarvio que não teve debate, teve despique e fez barulho, tem mais ou menos os seus nomes fixados mesmo que se admita algum mau humor da liderança nacional do partido; e o mais ou menos algarvio PS que não tem despique nem debate, sem problemas com a chefia, caminhando mudo e prosseguindo calado (pois que há-de dizer?) vive a paz daquelas força políticas em que a vontade política é como se fosse um acto administrativo ou, por indolência, um benefício nada sofrido daquela regra segundo a qual «as favas estão contadas».

Está à vista que há nomes mas não há debate. Miguel Freitas repete casuisticamente o que vem lá de cima, Mendes Bota faz a oposição casuística que pode. Sobre a região, o futuro da região e o que a região deve ser, há umas ideias gerais e umas explanações específicas (específicas, consoante se procure a conformidade com o poder ou a coerência de oposição), sobre os problemas da Sociedade troca-se por miúdos os comunicados do poder ou verbera-se o silêncio oficial quando tais problemas parecem ser graúdos, e assim se vai gastando o tempo, o tempo político até à normal e previsível efervescência da formação das listas – listas autárquicas e listas de deputados, esse Carrossel Oito que simula o debate que não houve até agora e possivelmente não haverá até às próximas corridas de Mendes Bota e Miguel Freitas, com mais uma voltinha para a menina Manuelinha e mais uma voltela para a menina Manuela, como o altifalante do Carrocel Oito a sério dizia.

Pode ser isto um divertimento e até proveitoso, mas a primeira vítima desta política aos oitos é sem dúvida a própria Sociedade, e as últimas vítimas serão os próprios políticos. Deixem chegar só mais uma geração.

Carlos Albino

      Flagrante vergonha: O que aconteceu na Praia dos Salgados (Albufeira) e zonas limítrofes. À causa chamam agora «efluentes» como se aquilo fosse o mesmo que emanante, proveniente ou irradiante, e os dicionários não registassem aquela adequada palavra que só pela palavra dá vergonha... Na verdade, Praia dos Efluentes é coisa mais nobre e fina.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

SMS 277. Ora, quando a segurança está insegura…

28 Agosto 2008

Não estive à espera do último crime para tocar no tema que a todos preocupa – o da segurança. Já aqui se tem repetido que a segurança não consiste em colocar um polícia ou guarda atrás de cada criminoso – a segurança existe quando cada cidadão, confiado no estado, não sente a necessidade premente de organizar e prevenir a sua própria defesa, sendo que, quando são muitos os cidadãos a sentirem essa necessidade, isso é um sinal de que o estado não cumpre uma das suas principais missões pois para isso se arma e tem justiça penal, o que os cidadãos, por princípio, não podem nem devem fazer. Um cidadão arma-se, quando muito, para ir à caça das perdizes e mesmo assim é preciso que ache piada em ser caçador ou disto tire algum proveito. Já o criminoso, por definição e estratégia, está armado e anda à caça dos cidadãos como quem desportivamente vai às perdizes. Fiados na mão leve dos tribunais e dos juízes de arribação, ou, se as coisas correrem pior nas esquadras, expectantes num comunicado protector dos direitos humanos, os criminosos sabem que a actuação lhes fica facilitada quando é a própria segurança que está insegura. E está.

Há cidades algarvias já de apreciável dimensão e movimento em que, por dias e noites, e por noites e dias, não se vislumbra uma patrulha, um guarda de giro, uma presença da autoridade ou a forte probabilidade dessa presença. E pelos campos e aglomerados isolados da serra, nem se fale. É como se a segurança se resumisse àquele telefone da esquadra com um estagiário à espera de que alguém comunique uma ocorrência, como nos bombeiros. A segurança tem um domicílio, está domiciliada, entre horários de expediente e piquetes de atendimento. A segurança recuou até esse ponto e quando avança ou se torna pública, notória e não raramente sobranceira, é porque há procissão, festival ou corrida de ciclismo, que obviamente é quando os criminosos não aparecem pois só correm quando andam a monte.

Resumindo e concluindo, não há um plano de prevenção contra o crime que seja conhecido desde a humilde taberna da serra ao litoral da autarquia que olha por cima do ombro para a autarquia do litoral contíguo. Porque não se culpe só a guarda ou a polícia domiciliada – as autarquias são também responsáveis desta segurança que está insegura.

Carlos Albino

      Flagrante bandeira preta: De ano para ano, a apertar o cerco à praia da Falésia, aquele caos de betão que Albufeira aprova. Uma vergonha. Vergonha a merecer bandeira preta.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

SMS 276. E falemos da alfarroba!

21 Agosto 2008

Continua o mesmo de há uns anos a esta parte: enquanto o Algarve está entretido com festivais dia-sim dia-não, nos campos e serras trabalha-se para não se ser roubado e rouba quem quer estando em causa essa coisa de valor económico apreciável que ainda tem o nome de alfarroba, valor económico que os armazenistas e industriais de trituração sabem muito bem qual é ele.

À falta de gente para a apanha, começou-se por dar metade da produção a quem fosse varejar as árvores. Agora nem isso. Verdadeiras hordas de gente marginal para quem nem a lei nem os direitos dos outros existe, devassam terras e terras pela calada da madrugada, enchem sacos e sacos, e possivelmente os armazenistas e industriais de trituração agradecem. Ainda há pouco tempo, esta ladroagem organizada ia de carro de besta a partir de acampamentos que montados e desmontados conforme as conveniências da natureza, agora vai de furgão fechado de duvidosa inspecção periódica a avaliar pelos pneus carecas, fumarada e matrículas mal amanhadas. Mas lá vai, deixando mulheres e crianças para a limpeza, recolhendo no retorno sacas e sacas, sendo certo que nem uma alfarroba fica nas árvores nem nos caminhos, enquanto dos armazéns de trituração, que por milagre se enchem até ao tecto, partem enormes camiões TIR que sobretudo as indústrias alimentares da Suíça bem agradecem e pagam melhor.

Ora é tempo dos municípios onde a produção de alfarroba conta, tomarem alguma iniciativa com conta e medida, mas sobretudo com imaginação. É tempo de esses municípios criarem departamentos de apoio ao agricultor, em parceria com os armazenistas e industriais de alfarroba e com os centros de emprego, abrindo portas ao trabalho voluntário remunerado, através de programas com princípio, meio e fim. No fim do varejo, tais programas dariam certamente lucro para todos e acabar-se-ia com este reino de ladroagem nos campos. É uma ideia, digam se não terei razão em chamar a atenção desses municípios.

Carlos Albino

      Flagrante chapeau: Para a excelente coluna de José Carlos Barros. É certo que o elogio fica em casa, mas tal como a coluna, chapeau! - de alto a baixo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

SMS 275. Açores, Madeira e Algarve

14 Agosto 2008

Paradoxalmente há dois movimentos opostos em matéria de regionalização: um, para a Madeira e para os Açores, onde vale o princípio de quanto mais regionalização melhor, sejam quais forem os expedientes dos beneficiados e as intenções nem sempre clarificadas dos decisores; outro, onde prevalece o mandamento segundo o qual quanto menos regionalização melhor ainda, ora com desculpa na crise e no défice, ora com receio de se perder a fartura e abastança das horas em que isto relativamente houve.

A eliminação da hipótese constitucional da criação de regiões-piloto que todo o país entendeu, desde a primeira à última hora, visar fundamentalmente o Algarve (remotamente Trás-os-Montes) tem claramente a ver com esse paradoxo da política portuguesa. Paradoxo esse que tem invariavelmente levado a que cada um dos dois dois partidos que chega ao poder coloca a meia-haste a bandeira da regionalização, aquela mesma bandeira que também invariavelmente iça ao mais alto do mastro enquanto hiberna na oposição.

É claro que o problema não é o do Algarve não ter um Alberto João Jardim ou um Carlos César; o problema é que o Estado ou a rede que nele decide e delibera politicamente em última instância tem Albertos e Césares a mais, tudo fazendo para não incomodar ou mesmo sequer ferir a sensibilidade dos protótipos da Madeira e dos Açores. E ai de quem incomode e fira!

Ora, era de fazer bem as contas do que a Madeira e os Açores dão, cada um, para o orçamento do Estado e do que dele retiram. E já agora, também umas contas-piloto do que, por exemplo, o Algarve dá para o mesmo orçamento e dele beneficia. Talvez assim se compreendesse melhor o paradoxo do Região Autónoma do Continente, com seus Albertos e seus Césares.

Carlos Albino

      Flagrante discriminação: A dos cultos e religiões, por exemplo, nos boletins municipais, alguns deles verdadeiros boletins confessionais para não dizer pior.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

SMS 274. Para que a novela termine

7 Agosto 2008

Há nesta novela da Maddie, uma evidência de poderosa realidade – Maddie é a culpada, afinal culpada de tudo. É a verdade. Ela é a culpada da existência da Judiciária, julga-se que até a criação da inexperiente PJ portuguesa foi uma das suas brincadeiras, porque antes já tinha inventado a experimentadíssima polícia de investigação inglesa para a qual está ainda para surgir um caso que não tenha sido resolvido; ela foi a culpada de ter convencido o Papa, pelos canais diplomáticos, a receber o casal McCann; ela foi a culpada por aquela jantarada; ela, sim, só ela através de heterónimos implantados com sagesse nos diários, rádios e televisões, foi a única culpada de todo este espalhafato; ela foi a culpada por essa dúvida de rapto ou morte, conforme a conveniência; outro culpado não se encontra para o avanço de tantos detectives privados, uns espanhóis, outros britânicos, possivelmente outros ainda apátridas e alguns até videntes; culpada foi da organização do fundo, da gestão do fundo e do marketing do fundo; culpada foi do resort, da Praia da Luz, da Igreja, dos cães, dos vestígios, dos porta-vozes e sobretudo culpada dos desenhos dos retratos robots de um moreno e sobretudo caucasiano. E, portanto, de tudo o que se coligiu, é que a culpa de Maddie no seu próprio caso não teve, e por sua única culpa não podia ter tido esta interrogativa racional: - «Qual é a pista mais provável?». Teve esta estranha interrogativa: «Quem é alguém que está algures e não diz nenhures?». Naturalmente esse alguém que está algures e não diz nenhures só pode ser Maddie, a única culpada.

Agora só falta um milagre, o milagre da aparição de Maddie na Praia da Luz. Mas duvida-se que Deus, sabedor do que todos os protagonistas sem culpa sabem, autorize. Mas que tal milagre daria jeito para que a novela termine, ah! lá isso dava.

Carlos Albino

      Flagrante expectativa: Por um estudo sobre os benefícios e malefícios da marca Allgarve porque há experiências que matam.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

SMS 273. Os cônsules honorários que há

31 Julho 2008

Volta e meia, têm notado, aqui se tem chamado a atenção para o panorama dos cônsules honorários com residência oficial no Algarve ou em cuja jurisdição consular o Algarve está, em todo o caso acreditados pelo estado português. E é natural que se chame a atenção – no Algarve movimentam-se não só milhares e milhares de estrangeiros, mas também centenas de interesses, desde a imobiliária à imigração, desde os negócios offshore a outros, alguns inimagináveis. Sabe-se naturalmente que um cônsul honorário que represente um país estrangeiro, seja ele português ou da nacionalidade do país defende, apesar de ser agente do estado que representa, não é funcionário deste, pelo que nada recebe pelo exercício de funções. Que leva então um cônsul honorário a trabalhar graciosamente, sobretudo para representar estados que quase não contam no mapa geopolítico afim ao Algarve e ao país? Possivelmente, há que ter em conta o salário de prestígio social de que o cônsul usufrui – matrícula consular no carro, chapa de respeito à porta do escritório, convites para eventos políticos de pôr-do-sol ou de sociedade a qualquer hora, de qualquer forma coisa pouca, muito embora haja aquela porta das facilidades, privilégios e imunidades por onde discretamente algum proveito pode passar. Se passa com honra, o honorário tem direito ao nome. Mas nem sempre será assim.

Para encurtar a questão, que é de transparência, embora a lei não estipule, o Governo Civil de Faro deveria publicar no seu site oficial a lista actualizada dos cônsules honorários acreditados no Algarve ou para o Algarve. É que fiquei muito preocupado pela hipótese de Bemba, por exemplo, ter estado um ano no Algarve sem saber se o Congo tem ou não tem cônsul honorário que o protegesse, coitado.

Carlos Albino

      Flagrante maior responsabilidade: A do Jornal do Algarve, com esta confirmação de ser o jornal mais lido e mais credível do antigo reino que nunca teve rei e da actual região que também não tem regente - tem delegados que também querem ser lidos e passar como credíveis.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

SMS 272. Bemba e as interpostas pessoas

24 Julho 2008

Agora nos calabouços do Tribunal Penal Internacional, acusado por crimes de guerra e contra a humanidade, Jean-Pierre Bemba viu assim interrompida a sua paradisíaca vida de há um ano na Quinta do Lago, na moradia de 2,5 milhões de euros que acaba de ser apreendida pela PJ, juntamente com contas bancárias, participações em empresas e aquele Boeing estacionado no aeroporto de Faro. O resto da história é conhecida – as circunstâncias em que ele, Bemba, teve que abandonar o seu país, supostamente para tratamento médico urgente no Algarve, e as circunstâncias que ele, Bemba, acabou por beneficiar de protecção policial especial por receio fundado de atentado contra a sua vida, desconhecendo-se quem transmitiu tais fundamentos e desconhecendo-se também se ele próprio, em função do passado, não estaria a atentar contra outros. No entanto, sabe-se agora que neste ano de acolhimento protegido e já após a detenção em Bruxelas, ele, Bemba, ou por interpostas pessoas, conseguiu transferências de dinheiro através de offshores.

Portanto, tivemos entre nós, um bom rapaz que, independentemente do que fez no passado (o TPI apurará) espalhava o cheiro atractivo do dinheiro a partir do Algarve, independentemente da proveniência dessa fortuna aparentemente colossal (o Congo, algum dia, terá uma palavra a dizer), não se sabendo em que áreas de negócio o «doente» operava, com que parceiros e se tais eventuais parceiros sabiam com quem estavam a lidar.

É certo que Portugal, pelo menos até agora, formalmente escapou-se da pior imagem, prestando sempre uma explicação lógica para este caso-Bemba, mas há que recear, até em função de outros casos, se o Algarve não estará a ganhar a imagem de refúgio para bons rapazes e interpostas pessoas. Por acaso, receio mais as interpostas.

Carlos Albino

      Flagrante insistência: E não há meio do Governo Civil publicar a lista oficial dos cônsules honorários com residência no Algarve ou em cuja jurisdição consular o Algarve está.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

SMS 271. A política está formatada

17 Julho 2008

Até às eleições, o panorama político do Algarve não deverá mudar: o PS tem Miguel Freitas com telecomando à frente do seu barco, no PSD as dúvidas foram tiradas a limpo por José Mendes Bota no que aqui se previa ser uma escaramuça como foi, e quanto ao resto, o PCP vai fazendo o seu tradicional trabalho colectivo (sem grande rosto que se veja), o CDS-PP anda por aí como as equipas do sobe-e-desce da primeira liga mais à espera de algum desaire do competidor ou boleia de grande, e o Bloco aponta, requer, denuncia, protesta, condena, luta a confraternizar e confraterniza a lutar – o que faz falta e nos dá o conforto de alguém cumprir o seu papel. Ah! Faltam os activistas isolados que saíram dos partidos, ou, por expressão sinónima, cujas cabeças os partidos abandonaram, ou ainda que apenas estariam nos partidos se deles fossem cabeça – estes escrevem artigos, e algum com mais elevado sentido de sobrevivência joga mão a uma associação, a um movimento, ou mesmo a um grupo de pressão, enfim, na expectativa de poder entrar no barulho, mas, até ao barulho, escrevem artigos.

Quanto às chamadas «instituições regionais», onde a AMAL faz de conta e pouco mais, o governo civil está possivelmente atento aos fogos no verão, não se prevendo grandes cheias no inverno que falta até às eleições e reza a todos os santos para que as coisas da segurança não desmintam aquele indesmentível Algarve dos bons costumes fora as excepções; a RTA parece que está apaziguada, e as direcções ou delegações dos ministérios cumprem e cumprirão as ordens de cima, com a corte de funcionários que circulam sobretudo em Faro e animam Faro, passando soberanamente ao lado de qualquer polémica.

O Algarve está formatado – politicamente, 2009 começa agora, embora ainda não haja muito barulho.

Carlos Albino

      Flagrante raciocínio: Há um aviso aos doentes que entram nas urgências do Hospital de Faro que diz: «A qualidade dos serviços públicos começa em si»… E estávamos todos a pensar que tal qualidade deveria começar nos serviços e nos funcionários públicos!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

SMS 270. Uma paz nada agradável

10 Julho 2008

Assim ao sabor do sentimento, digamos que há uma paz nada agradável, politicamente clara. Parece que cada terra, cada uma à sua maneira, está apaziguada ou conformada com o que tem; quem está no poder não sente nem quer pressentir a eventualidade de sismos, políticos, claro; quem está na oposição local também não se mexe muito por aquela regra das favas contadas, e, bem vistas as coisas, não há oposição regional porque também não há poder regional. De resto, estamos em festa, porque começa a haver festas, festivais e festividades por todo o lado, quase todas internacionais mesmo que não saiam da rua dos promotores. E quando há festas, festivais e festividades, quem não se sente em paz mesmo que saiba tratar-se de paz provisória e efémera?

O Algarve político, portanto, até Setembro, ficará confinado às celebridades que venham a banhos, às revistas e suplementos de jornais especializados em «eventos» e apanhados, e, de resto, que Deus ajude aos que, nas pequenas casas de comércio disto e daquilo, ou fazem por estes dois, três meses algum dinheirinho, ou terão muito que penar. E quanto às grandes casas, pouco importará, porque estão aqui como poderiam estar em Marrocos, na Tunísia, na Grécia ou no México, enquanto a imobiliária se compraze numa cumplicidade de interesses que as autarquias também não enjeitam no final da fila de intermediários aos quais também a ocasião dá jeito.

O que por aí se sente, possivelmente não será paz, mas apenas bonança. Precederá alguma tempestade? Oxalá que não. Significará um potencial de pensamento e reflexão? Duvida-se que assim seja ou, melhor dizendo, tudo aponta para que não seja assim. Um escritor norueguês que lá foi há muito mas que prezo, Björnstjerne Björnso, advertia que «em política, a verdade deve esperar o momento em que alguém precisa dela». Possivelmente, a generalidade dos algarvios está à espera da verdade.

Carlos Albino

      Flagrante disfarce: Há agendas autárquicas que há muito deixaram de ser agendas – são adendas de promoção política e, para disfarçar, até põem as missas todas.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

SMS 269. Oxalá, não esteja a voltar o pior

3 Julho 2008

Pois pior do que a censura e do que o exame prévio, é o calculado controlo dos canais de opinião e informação para deliberada omissão do que fuja aos fins não confessados, pior do que uma polícia estatal para os meios de comunicação é a conversão destes em meios de propaganda de interesses, sejam estes de poderes económicos, confessionais ou meramente pessoais. É que censura, exame prévio e polícia política têm quartéis, sabendo-se quem entra ou sai dos quartéis apenas possíveis em regimes autoritários e que nenhuma democracia tolera. Já na deliberada omissão organizada e na informação transformada em propaganda não há quartel e entra democracia adentro sem que a generalidade se aperceba, tal como a água por baixo da porta.

E como avisar ou alertar não ofende quem não prevarica, é oportuno deixar claro que crescem os sinais no Algarve de que, aqui e ali, há opinião organizada e informação calculada por consabidos funcionários públicos arvorados em jornalistas nas horas vagas; há meios que sobrevivem a troco de financiamento indirecto a pretexto de duvidosos propósitos ou finalidades de instrução pública que é saia larga; há apoios sem justificação aparente veiculados naquela cor que os camaleões da publicidade indirecta ganham conforme onde estão, e há também benesses de excepção que vão desde o salário de prestígio social aos chamados arranjinhos discretos e dobradinhos na gaveta entre as dobras do lençol. É por isso que, no exemplo mais palpável, alguns jornais se queixam de não obter das autarquias, em circunstâncias de igualdade, as informações que outros conseguem com privilégio a troco de parcialidade, de exercícios acríticos, de tácitas garantias de omissão, tudo isto em nome da Liberdade de Imprensa.

Claro que não é tudo assim, não sendo ainda caso para se dizer que sobram umas excepções honrosas. Há sinais. Mas é bom que aqueles que prevaricam saibam que há quem esteja atento e que numa Democracia, nesta, a nossa por exemplo, não há lugar para a delação (isto é coisa para os do antigamente, seus filhos e já netos que bem conheço) mas há lugar para o uso dos mecanismos adequados para que não volte o pior.

Carlos Albino

      Flagrante sugestão: Os jornais e rádios locais e regionais do Algarve com a consciência em paz, meia dúzia que sejam, deviam esquecer questiúnculas e organizarem jornadas anuais sobre o estado da informação local e regional. Não por interesses ou critérios corporativos, mas por estrita responsabilidade democrática.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

SMS 268. Resta a escaramuça

26 Junho 2008

Pelo que se deu conta, apenas uma só pessoa do Algarve marca presença nos novos órgãos nacionais do principal partido da oposição – Isabel Soares, secretária da mesa do Congresso, um lugar de faz de conta, sem desrespeito pela autarca de Silves.

Houve quem esperasse, enfim, que Macário Correia na eterna mas também divertida estafeta partidária com José Mendes Bota, pudesse personificar a tradicional consolação reservada pelos grandes partidos aos tristes sulistas e liberais palradores. E chegou-se a pensar que as suas profissões de fé em Manuela Ferreira Leite seriam já não tanto um passaporte para vogal da Comissão Política Nacional do PSD, mas pelo menos um visto de residência no Conselho Nacional.

Macário Correia foi governante, é autarca prestigiado e sendo presidente da Grande Área Metropolitana do Algarve (embora esta coisa pareça uma ONG), ele reunia condições para, desta vez e nas águas que passam agora debaixo das pontes do seu partido, assinar politicamente o livro de ponto. Mas não. Macário Correia ficou de fora e também seria difícil a Manuela Ferreira Leite encontrar alguém do Algarve que com ela fizesse equipa, sobretudo na matéria da regionalização administrativa da qual foge como o diabo da cruz.

Se Macário tivesse o peso adquirido de dirigente nacional do partido, naturalmente que o próximo embate com José Mendes Bota na disputa da liderança regional do PSD, teria outro sabor político. Não seria guerra, mas poderia ser diferendo de ideias, enfim, de projectos de sociedade, se é que nos tempos que correm se pode esperar de algum líder ou candidato a líder alguma ideia ou algum projecto de sociedade, porquanto são quase tão só bandeiras de algum conjunto de interesses difusos.

Nestes termos, o embate de Macário Correia com José Mendes Bota não vai passar de escaramuça. Independentemente do desfecho, quem ganhar a escaramuça outra coisa não vai ser na actual máquina do PSD do que um sorridente sulista e inofensivo palrador.

Carlos Albino

      Flagrante regresso: O de João Sabóia ao Arquivo Distrital de Faro que tem andado demasiado arquivado.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

SMS 267. O debate político…

19 Junho 2008

É já um lugar comum dizer-se que há falta de debate político no Algarve. E outra coisa não seria de esperar, sendo este um verdadeiro paradoxo da democracia que temos – não se usa os instrumentos que temos para, em completa liberdade de ideias e opinião, se aperfeiçoar a sociedade. É claro que se discute o cargo e o nomeado ou o preterido, a construção permitida ou interdita, a estrada que devia passar para todos e não à porta do regedor, é-se do contra quando não pinga o subsídio e defende-se o compadre quando o subsídio pingou, mas claro é também que isto não é a Política e muitas vezes ou quase sempre sendo da política está contra a Política.

As secções regionais dos grandes partidos limitam-se às escaramuças de sucessão e alternativas (agora é o PSD a passar por essa fase) ou então não ultrapassam a gestão calculada dos benefícios do poder para o que o silêncio é regra de ouro (caso típico do PS também nesta fase). A coisa parece aquecer quando o calendário eleitoral força a elaboração de listas para S. Bento, câmaras e juntas e, mesmo assim, a política não passa da política de listas em função de interesses e de grupos de interesses paralelos à política – o que também não é Política, muito menos debate político, embora se diga que seja. Resumindo e concluindo, aquilo a que impropriamente se chama política pouco mais será do que a organização de interesses privados mascarados de interesse público, sem que alguma vez se questione o bem comum, os valores que devam nortear a convivência, os projectos para uma ideia firme de sociedade no Algarve e os programas que avaliem meios para atingir as finalidades do bem comum e dos primados da pessoa, da justiça, da segurança e do desenvolvimento. Não se nega que os partidos, a começar pelos grandes (PS e PSD) estão cheios de ideais gerais sobre essas matérias, mas de ideias gerais está o inferno cheio com isso enganando-se todos os diabos.

Colocar nomes a este propósito, não só seria de mau-senso como também não seria de bom-tom para a Política como a entendemos numa democracia. Os nomes são secundários nesta abordagem e diabolizá-los também não iria salvar ninguém que esteja no inferno das ideias gerais. Mas será bom que todos os diabos pensem nisto, antes que o inferno estoire por falta de Política.

Carlos Albino

      Flagrante aniversário: O da Orquestra do Algarve que fez seis anos. Ora como a idade de uma orquestra é como a dos gatos (o primeiro ano equivale a 15 anos humanos e cada ano a mais vale cinco) a orquestra do maestro Cesário Costa tem 40 anos. Que o Algarve preserve o seu 17.º concelho que é a nossa maior autarquia de humanismo. Sem esse gato estaríamos mais pobres e sem companhia de estimação.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

SMS 266. Algarvios na Patagónia

12 Jumho 2008

Ponto prévio - Só por estreiteza de visão é que se pode ver aguerrida competição política entre a Presidência da República com a atribuição do Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa e os Prémios Talento do governo para distinguir os portugueses e luso-descendentes residentes no estrangeiro que se destaquem precisamente por isso – pelo talento. E estreiteza de visão ainda, lá porque uns prémios sejam dados num dia e outro no dia seguinte – no mesmo dia que fosse e à mesma hora, uma iniciativa não anula a outra, completam-se e, desde que os critérios sejam os da excelência, o mundo da emigração merece esses e mais prémios que houvesse nesse fito de reconhecimento da excelência.

Este ano, um dos prémios talento foi para uma associação de emigrantes radicados nos confins da Patagónia, emigrantes na sua maioria descendentes de algarvios – trata-se da Associação Portuguesa de Beneficência e Socorros Mútuos de Comodoro Rivadavia, província de Chubut, na Argentina, junto aos Andes patagónicos, a 2.000 kms de Buenos Aires. E quem subiu ao palco, foi a presidente dessa instituição, Maria Coelho Amado de Martín, descendente directa de gente do sítio da Tenoca, Boliqueime, Loulé… Aliás, os emigrantes dessa longínqua comunidade são, na sua maioria, oriundos do Algarve, chegados a essas terras desérticas a partir de 1902.

Fundada a 7 de Outubro de 1923, a associação liderada por Maria Coelho Amado é hoje uma obra imensa, pujante e afirmativa cuja descrição não cabe neste espaço, nem viria a propósito. O que vem a propósito deixar claro que o Algarve não pode nem deve perder de vista as extensões talentosas que possui na emigração, sabendo dar sem olhar ao que poderá receber ou sem fazer contas para tal e acima de estreitas visões.

Por isso, calou fundo a presença da governadora civil do Algarve na cerimónia de entrega dos prémios Talento, no convento do Beato. Não sendo algarvia, procedeu como algarvia e isso cala fundo.

Carlos Albino

      Flagrante trabalho de casa: Para Seruca Emídio que, com esta “descoberta” de louletanos nos confins da Argentina, lá tem que ir para a Patagónia. Mas que vá bem acompanhado.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

SMS 265. Sinais dos tempos

5 Junho 2008

A delegação portuguesa ao Congresso dos Poderes Locais e Regionais da Europa nomeada pelo governo, mostra os sinais dos tempos. Esse congresso, cuja primeira sessão plenária, em Estrasburgo, decorreu no final de Maio tendo decido por efectuar duas sessões a partir de 2009, é um dos quatro principais órgãos do Conselho da Europa, ao lado do Comité de Ministros, da Assembleia Parlamentar e do Secretariado-geral, aí cada estado faz o que entende – ou participa a sério e leva a sério, ou pura e simplesmente dedica-se ao turismo político. Mas o que, por ora se questiona, não saber-se se Portugal faz nisso turismo político, ou a isso se dedica a sério. Está em causa a delegação portuguesa.

Justificou o governo que para a nomeação de tal delegação consultou os governos autónomos dos Açores e da Madeira e ainda a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e a Associação Nacional de Freguesias (ANF). E compreende-se – o congresso tem duas câmaras, a dos poderes locais e a dos poderes regionais.

Vejamos então no que resultou a consulta: os delegados dos poderes locais partem dos municípios da Covilhã, Sousel, Cabeceiras de Basto e da freguesia de Oliveirinha, com substitutos de Leiria, Torres Novas, e da freguesia de Torgueda. Por sua vez, os delegados à Câmara dos Poderes Regionais, são o óbvio Carlos César (Açores), obviamente Alberto João Jardim (Madeira e Maria da Luz Rosinha (da Junta Metropolitana de Lisboa), com substitutos também da Madeira, dos Açores, mais um da Junta Metropolitana do Porto e outro ainda da junta de Lisboa – trata-se portanto de aplicar a velha fórmula do poder central e ilhas adjacentes.

Isto não engana – o Algarve não conta, nem para substituto como «região», nem ao menos para figura de corpo presente por entre os poderes locais. Não conta, e também não faz muito para contar. Algum dia, o Algarve será definido como uma área geográfica onde outrora viveram algarvios.

Carlos Albino

      Flagrante diferença de preços: Até para temas políticos, qualquer dia teremos que atestar em Espanha…

quinta-feira, 29 de maio de 2008

SMS 264. Jornalismo de cidadania

29 Maio 2008

A Internet ainda não entrou em pleno no Algarve, embora seja já apreciável a comunidade de utilizadores e comunicadores por esse meio, por um lado jovens estimulados nas escolas por professores de visão larga, e, por outro lado, por uma elite gradualmente mais vasta e também cada vez mais primando pela qualidade de intervenção, por inegável seriedade de pensamento e de escrutínio da coisa pública. Pelo meio, há evidentemente um grupo de divertidos, por vezes a tender para o grotesco, mas também estes, sem que tenham esse objectivo, contribuem para o alastrar desse meio de comunicação que é por natureza multiplicador de conhecimentos, alguns dos quais, na era do papel, estavam confinados e reservados a redutos fechados ou pura e simplesmente controlados pelos interessados. A quantidade e a velocidade de informações de interesse público na rede de computadores já é tamanha que passou a ser comum os diversos líderes da sociedade terem em conta «o que diz a net» sobre eles mesmos ou sobre as matérias que tratam, ou mesmo a recorrerem à net para dizerem o que entendem. Há uns dez anos atrás todos tínhamos que enfrentar as lacunas impostas pela escassez de informações, agora temos igualmente todos a tarefa de filtrar, perante um volume impressionante de dados e opiniões, o que de facto é relevante e útil. Num Algarve sem tipografias vocacionadas para a informação e sem televisão própria, a net é um túnel de escapatória para uma sociedade cujo maior problema, assim entendemos, é de comunicação.

Aí está portanto uma era bem-vinda de jornalismo de cidadania em que cada um pode livremente comunicar com todos, sendo evidentemente maior a responsabilidade. E ainda bem que a generalidade dos jornais da era do papel (que não acabará, antes pelo contrário…) entenderam que têm de ter uma vida paralela na net, com actualizações ao dia, à hora ou ao minuto, conforme podem, numa interacção que apenas reforça o seu «papel» na sociedade e no quadro de um jornalismo de cidadania cuja eficácia já suplantou a dúvida porque deveras escrutina.

Carlos Albino

      Flagrante apresentação: Estamos para ver quantas lojas do cidadão de segunda geração, das 30 previstas até final de 2009, ficarão no Algarve. Os municípios que se mexam.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

SMS 263. Desencorajante

22 Maio 2008

Os partidos, melhor, as alas regionais dos partidos estão num compasso de espera – ou por eleições internas, ou por medida de forças na perspectiva das listas para autárquicas e legislativas, é normal. Além disso, o verão aí vem, com tudo o que é formiga a trabalhar para armazenar o mais possível nesse curto espaço de tempo que não dá muito para pensar. Os burocratas não querem complicações, vão fazendo o dia a dia, sendo importante para a sua sobrevivência o não levantar ondas e ir cumprindo a maré. Já há muito que não debate de ideias e não será este o momento mais oportuno para se discutir como deve ser o Algarve, sobre o Algarve que se quer, um projecto para o Algarve. É claro que, à falta de motivos, por ora, com portagens, e, mais ou menos esbatidos os pretextos com a saúde, fala-se da lâmpada fundida na esquina da rua, da estrada que se faz ou não se faz ou porque não se fez, da urbanização a mais ou a menos, do feitio deste ou daquele, ou então fazem-se exercícios esotéricos, lições de moral, dissertações sobre costumes. Pouco mais. É desencorajante.

Carlos Albino

      Flagrante apresentação: A do programa Allgarve, em Paris, pelo secretário de estado do Turismo, Bernardo Trindade, esta semana. Como é que ele traduziu Allgarve para francês?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

SMS 262. A política é…

15 Maio 2008

Este país vai por modas. Agora é a moda dos jovens – que os jovens não se interessam pela política, que os jovens ignoram factos e acontecimentos da política, que os jovens, portanto, são uns mal agradecidos a quem generosamente lhes facultou os bons frutos da política, e além disso quase uns traidores face aos seus progenitores que não só terão inventado a política como herdaram a melhor das políticas dos avós e bisavós, ao longo do passado século XX, tornando Portugal no campeão da política... E se nos deixássemos de modas?

Os jovens sabem tanto e possivelmente mais de política como os seus pais há 17, 20 ou 25 anos, para não falar dos avós – o desinteresse pela política não significa desconhecimento, e, além disso, não se mede com respostas a inquéritos do tipo que dentífrico mais gosta. Ninguém lava os dentes com a política.

Ora importa, antes de tudo, deixar claro o que se entende por «interesse pela política». Será que interesse pela política é saber, como nas novelas dessa ministra da Deseducação que é a TV, quem está contra quem? Quem joga à batota para alcançar aquela mordomia disputada por outro não menos batoteiro? Quem lança mãos a todos os meios para eliminar politicamente e até civicamente quem se interponha na mira de um posto apenas porque lautamente remunerado, já que aqueles que não são, não interessarão, pelos vistos, para a política? Claro que se os jovens se desinteressam disto, desinteressam-se bem – o desinteresse é uma reacção saudável e um sinal que deve ser sentido, seria até melhor que fosse pressentido por alguns dos mais velhos que ainda entendem a política como defesa do bem comum e das coisas públicas, defesa essa desinteressada mas compensada – também mal da política se fosse uma irmandade de franciscanos descalços.

Política é seguir o funcionamento das instituições (das juntas de freguesia e câmaras às direcções regionais de ministérios e delegados governamentais, designadamente o governo civil) – mas toda a gente sabe que esse funcionamento é geralmente subterrâneo ou, como se diz no Cachopo, cozinhado na parte da trás da casa; política é escrutinar os actos públicos, no enquadramento dos partidos ou pela acção cívica independente – toda a gente sabe que, pelo contrário, o escrutínio em política está a ser quase apenas o evitar-se a ilegalidade, fazendo o tolerado ilícito e o inaceitável permitido, ou como se diz em Budens, o que é preciso é não sewr apanhado com a perna de fora; política é debater ideias de projecto para a sociedade onde vivemos, nos seus fundamentos e objectivos – toda a gente sabe que, no Algarve, ideia de projecto é a louvaminhas servil e o repicar de sinos do ataque pessoal agressivo para agrado do líder tentado a ser títere; política é, pegando nas palavras de Sérgio, abrir as avenidas largas da crítica – também toda a gente sabe que quem ousa a crítica e o debate de ideias não vinga na política, pelo que nenhum partido o escolhe para contínuo quanto mais para deputado.

    Continuaremos porque o tema é actual e, felizmente, polémico – dá para se dizer uma boa dúzia de verdades, mas os mais velhos que nunca se interessaram pela política como ela devia ser, não têm nem autoridade moral nem legitimidade política para limpar a consciência com exercícios de estilo contra o «desinteresse» dos mais jovens por uma «política», política desvirtuada, em os educaram e até, nalguns casos, condicionaram.


Carlos Albino

      Flagrante desafio: Que se faça o mapa político do Algarve, com os postos de «comando político» do Algarve, indicando-se com clareza onde estão algarvios e quantos algarvios estão.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

SMS 261. Não foi apenas atraso, aquilo era recusa velada

8 Maio 2008

Naturalmente que a demora do Hospital Central do Algarve foi já um atraso de vida. Com recurso a vários e sucessivos expedientes, gastaram-se anos a tentar evitar e não apenas a adiar o novo equipamento público cuja necessidade era uma evidência – houve um momento em que só não era uma evidência para o ex-ministro Correia de Campos, por sinal saudado até aos seus últimos dias de governo por quem, estando dele mais próximo, tinha obrigação de o acordar. Mas agora que a decisão está tomada e o calendário traçado, não vale a pena chorar sobre o leite derramado, embora se justifique uma chamada de atenção muito especial para a intervenção cívica, e não tanto política, na matéria. Na verdade, é de duvidar que tivéssemos algum dia hospital deveras, se, de ponta a ponta no Algarve, os cidadãos não tivessem reagido cada um à sua maneira contra o estado da saúde na região – reacção inorgânica, espontânea e sem movimento organizado, mas que consolidou uma opinião pública sobre essa questão. Bem se sabe que uma opinião pública nem sempre é a melhor das opiniões, mas à falta de instituições e de representantes que falem sem paternalismos, com autoridade moral e força política em nome da região, essa opinião pública acaba por ser recurso firme da democracia perante ministérios hipertrofiados em Lisboa e quase hegemónicos em iniciativas para o funcionamento do país.

Carlos Albino

      Flagrante negócio: Com os olhos. Sabemos todos com os olhos da cara.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

SMS 260. Pequenos horizontes e falta de rasgo, de visão

1 Maio 2008

Já nos esquecíamos daquela Capital nacional da Cultura em Faro, e da modestíssima verba para isso destinada que nem dava para mandar cantar quem tivesse os olhos abertos. Também nunca se esperou que alguma vez, ou por iniciativa do Algarve, ou por vontade política do governo ou conjugadamente pelas duas partes, o Algarve que, embora não queira, não deixa de ser uma cidade com várias freguesias, beneficiasse de uma candidatura a Capital Europeia da Cultura polarizada em alguma dessas freguesias. O Algarve, em matéria de cultura contenta-se com pouco, e basta pouco (o acrescento de um «l» traidor no nome histórico da região transformando-o em «programa») para se autoconvencer que já é muito. E até nem se importa que seja o ministério da Economia a dar cultura, habituado que está à pobre economia e desinteresse político do ministério da Cultura.

Claro que não se deve invejar o que Guimarães conseguirá para 2012, como Capital Europeia da Cultura, e com Guimarães a região Norte e até a Galiza – só para equipamentos novos e renovação urbana, Guimarães vai dispor de 70 milhões de euros e 25 milhões para a programação cultural, além de que as estradas 125 da zona há muito que estão requalificadas. Guimarães conseguiu, parabéns porque fez por isso, muito embora vá dispor, ao que se sabe, de 111 milhões de euros, tanto quanto só a Casa da Música no Porto, que fica a 55 kms de Guimarães. Não é Guimarães que está em causa, o que está em causa e se põe em causa é a falta de iniciativa, ausência de rasgo, bloqueio de visão larga, amorfia de projecto, bloqueamento de olhar de longo alcance, carência de raciocínio superior e alheamento de pugna pela excelência por parte do Algarve que não é uma entidade abstrata, um fantasma que corre em Albufeira e dorme no Caldeirão, uma alma satisfeita se os hotéis de sete estrelas estão repletos mas insatisfeita se o dinheirinho não pinga para os pequenos horizontes. Para quê mais cultura a não ser a de freguesia?

Carlos Albino

      Flagrante bom comportamento: O da Administração Regional de Saúde do Algarve que, garante quem representa quem recebe, pela primeira vez em 30 anos tem as contas em dia com os 15 laboratórios clínicos privados da região que atendem cerca de 300 mil doentes por ano.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

SMS 259. Jardim à parte

24 Abril 2008

As grosseiras e insistentes tiradas de Alberto João Jardim, pelos vistos já toleradas ou temidas pelos mais altos dignitários do estado, não ajudam em nada a caminhada que muitos partilham ou desejam no sentido da regionalização. Entende muita gente que tais tiradas não são «um estilo próprio», como o Presidente da República sugeriu, são reveladoras de uma forma indescritível de estar na política e, dentro da política, de estar no uso devido das capacidades críticas. E o que leva a tais tiradas não é de forma alguma «um exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo», como Jaime Gama fez render, é a transubstanciação do pior que o combate político pode colocar na hóstia da vida democrática, mas sempre possível numa ilha e por um ilhéu que se julga o centro do mundo, mas beneficiando na Madeira, como em nenhum outro território, das bordas periféricas da regionalização.

Estaria o País mal e sem destino, se em cada casa que não seja recife, cada rua que não seja ilhéu, cada cidade que não seja ilhota, cada região que não seja ilha, esse «estilo» e esse «exemplo supremo» fossem seguidos na política do recife, do ilhéu, da ilhota e da ilha. Primeiro, porque esse protótipo de Jardim instala o medo na sociedade – uma regionalização, de que a Madeira e os Açores são exemplos com expressão política por benefício constitucional e consenso nacional, não é um instrumento para roer a corda, roendo cada vez mais até parecer Kosovo doméstico sem o assumir por falta de coragem final, mas roendo sempre num malabarismo de excepção sediciosa em que vale tudo – da falta de educação elementar às grandes tiradas próprias de feiticeiro ou chefe que só por essa via amedronta a tribo a si sujeita ou de si refém. No entanto, o medo desse chefe de tribo ainda se tolera e até se ajeita ao folclore político que precisa de feiticeiros - o problema é quando, ou se do medo se passa à fase da imitação, e por aí se começa a pensar que cada rua deve ter o seu Jardim, e que para se ser chefe de ilhota se tenha de ter aquele «estilo próprio» e seguir aquele «exemplo supremo».

É oportuno que se diga que, para obterem a mera autonomia administrativa sem expressão política, as regiões portuguesas não precisam de Jardim – devem até manter esse estilo e exemplo de Jardim à parte. Tal estilo e tal exemplo inviabiliza o mínimo passo, não pelo medo do protótipo, mas pelos imitadores.

Carlos Albino

      Flagrante acordo: Para encurtar caminho, a partir da próxima SMS passaremos a redigir, com muito agrado, já pelas regras do novo Acordo Ortográfico.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

SMS 258. Diplomacia municipal…

17 Abril 2008

Um acordo de geminação de um município isolado, pouco ou nada conta para o panorama do intercâmbio internacional de uma região, mas o total dos 26 acordos (por entre os 600 de todo o país) que os municípios algarvios mantém com autarquias estrangeiras, enfim, se forem ou fossem levados a sério, já são alguma coisa ou pelo menos dá para começar alguma diplomacia municipal.

Infelizmente nem todos esses acordos têm expressão política – além dos que estão desactivados porque morreram à nascença, alguns desses acordos são do reino do folclore e vivem aos soluços, outros não passam de manifestações episódicas de caridade oca, outros são oportunidade de convívio, de excursões mais ou menos bem sucedidas e salvam-se poucos como acordos de cooperação descentralizada e de relações autárquicas internacionais pautadas por propósitos de qualidade e excelência.

Olhando de relance esta incipiente «diplomacia municipal» do Algarve, não é difícil concluir que ela depende em muito do voluntarismo de presidentes de câmara, de simpatias sem sustentação por parte de grupos da terra ou, pura e simplesmente, de uma atracção pelo exotismo. Exceptuando um outro fenómeno de negócios em vista mas em acções casuísticas, não há uma estratégia delineada de cada município e muito menos uma estratégia concertada entre os municípios, que envolva diversas parcerias, designadamente da área económica, cultural e educativa. Por isso também nenhum município sentiu ainda a necessidade de criar um departamento de relações internacionais, pois para quê?

Vivemos metidos na concha e se a concha se abre é para excursões. É muito pouco, ou nada, para diplomacia municipal.

Carlos Albino

      Flagrante contagem decrescente: Para as eleições de 2009, europeias (soi-disant), legislativas e autárquicas. Quem quer ganhar e não está no poder tem que dizer em breve; quem está no poder, tem que deixar sugerido.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

SMS 257. Atenção às diferenças

10 Abril 2008

Por via das escolas chega o primeiro grande sinal de um Algarve diferente, radicalmente diferente daquele que duas gerações conheceram – é um Algarve mais multi-cultural, muitíssimo mais pluri-étnico e manifestamente inter-nacional, com o hífen desta última palavra a acentuar o seu significado original. As estatísticas, apesar de desfasadas e de não poderem retratar com rigor a realidade continuadamente movediça, já tinham dado esse sinal, mas sem suscitarem a urgência de medidas ou a premência de reflexão sobre o modelo organizativo da sociedade em que cada cultura, etnia e nacionalidade se foi arrumando mais ou menos pacificamente, cada uma prosseguindo as suas regras, os seus hábitos e gostos que, vistos de fora, até têm sido apreciados nuns casos como saudável folclore, ou como bitola exemplar noutros casos de comunidades estrangeiras tradicionalmente portadores dos estandartes de civilizações supostamente mais avançadas, mas que têm mantido equilíbrio entre excessos de sobranceria e manifestações de tolerância convivencial. Mas quando tudo isto chega à escola – havendo escolas com dezenas, largas dezenas de etnias e nacionalidades transportando culturas díspares – há que repensar o modelo, não pelo receio de que os factos nos ultrapassem mas para se construir uma sociedade sem receios.

Sobretudo, as políticas locais que já não podem ser mono-culturais – a língua aprende-se, a cultura não. Tais políticas, cada vez mais, e mais aqui do aqui ali, têm e devem ser mais pluri-culturais, devem atender cada vez mais aos factores inter-religiosos (questão que até há pouco quase não se colocava), tendo alguns municípios que criar departamentos especializados de acompanhamento e apoio, e não apenas iniciativas casuísticas e pontuais, algumas no patamar de caridade.

Carlos Albino

      Flagrante falta de pontualidade: A da Mãe Soberana de Loulé, com quase duas horas de atraso no programa, num total desrespeito numa manifestação que para além do legítimo culto, expressa inestimável denominador de convivência humana que é sua mágica e estima.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

SMS 256. Camaroeiro de votos

3 Abril 2008

O governo já começou com o corte de obras no Algarve, e começou pelo elo que lhe parece ser o mais fraco – Guterres já tinha feito o mesmo que Durão Barroso agradeceu. E tinha que ser.

Para satisfazer o imenso cardápio de reivindicações para a Região Oeste (não foi acaso que a isso fizemos referência na SMS de 7 de Fevereiro), em compensação da perda de um aeroporto que nunca existiu, e para outras obras de vulto que o calendário eleitoral aconselha sem adiamentos noutras zonas de simpatia do país, olhando para o mapa, o que é que o Algarve conta? E o que conta no Algarve? Ou por que insondável motivo conta?

É isso que o ministro Mário Lino, para já, deveria vir explicar, se é que pode explicar, ou seja necessário explicar, porquanto a região ficou docemente pacificada ou inoculada com o assunto da requalificação da 125 que se julga ser o remédio para todos os males, e, não só remédio mas também razoável ou mesmo eficaz camaroeiro para apanha de votos. É o que vai ser, porque a quebra de compromissos já entrou nos hábitos da política. E assim vai tomando perversa força aquela pergunta retórica – «Desde que não mexam no meu quintal, que me interessa que mexam no quintal dos outros?». Perversa porque, algum dia, verão que estão todos no mesmo quintal. E então será tarde para dar conta do engano e justificar os desenganos.

Carlos Albino

      Flagrante dúvida: Mas então as comissões concelhias dos partidos não são capazes de escolher listas sem sondagens? E isso faz-se por sondagens ou por critérios, condições e perfis que é o que justifica partidos numa democracia?


quinta-feira, 27 de março de 2008

SMS 255. Autoridades cheias de vento

27 Março 2008

O título deste apontamento, que também só poderia ficar pelo título se fosse entendido à primeira vista, resume a perplexidade e a impotência dos cidadãos que assistem, dia a dia, anos a fio, à forma como funcionários autárquicos se julgam imunes à lei e impunes às infracções. Entre outros de vária ordem (desde o atendimento à prestação de serviços) damos um exemplo que denota a mentalidade: um pouco por todo o lado estacionam as suas viaturas privadas em locais interditos para esse fim, colocam no vidro dianteiro o cartão autárquico, desafiando polícia de giro ou guardas de ronda, e desafiando de tal modo que chegam a discutir em directo com comandantes de posto desautorizando polícias e guardas, como se tais funcionários infractores fossem autoridades acima das autoridades. Já me certifiquei dessas situações que são de pasmar, tratando-se afinal de autoridades cheias de vento.

Compete aos presidentes de câmara e às próprias câmaras, é claro, cortar cerce os abusos destes funcionários que logo à partida põem em crise os códigos de conduta que, presumo, juram cumprir no contrato de função pública. Tais actos de excepção sediciosa contra regulamentos gerais ou locais, a serem tolerados, põem em cause, num primeiro passo, as autoridades de vigilância e num passo seguinte a própria autoridade política.

Mas se o caso fosse apenas o do estacionamento de viaturas, tudo ficaria resumido a essa afirmação espúria de território, que, como se sabe, faz parte dos instintos primários. Só que o caso não fica por aí, chega à própria relação com o cidadão que muitas vezes fica sem palavra, ou pela vizinhança com o infractor (no Algarve, todos os mundos são pequenos…), ou, mais grave, pelo receio de represálias que para serem eficazes são discretas (no Algarve, chama-se a isto navalhada nas costas).

Ora, muita gente teme a regionalização precisamente por admitir, por essa via, a multiplicação das autoridades cheias de vento, dada a experiência já colhida nas autarquias onde o poder político manifesta lassidão e permissividade – em parte porque porção de tais funcionários até formam ou condicionam a clientela eleitoral, pelo que se julgam, também eles, investidos de maiorias, sendo pior nos casos das maiorias serem absolutas.

Há que pôr travão nisto. Aliás, os presidentes de câmaras têm a obrigação de pôr travão nisto.

Carlos Albino

Flagrante Positivo & Negativo: Positivo - o relançamento do Festival Internacional de Música do Algarve. Negativo – a teimosia em designar-se por Allgarve um programa de animação que até é aceitável para Colónia de férias.

quinta-feira, 20 de março de 2008

SMS 254. Sete pequenos desabafos

20 Março 2008

  1. À falta de melhor, leio diariamente El Mundo e El País, para ficar a saber dos dois lados. E sobretudo, pelo que vou lendo da Andaluzia, vou também sabendo do que não se diz nem possivelmente se poderá dizer do Algarve.

  2. Muito divertida a crescente institucionalização do provincianismo no Algarve, com alguns políticos a fazerem do Algarve o seu quintal. Pelo menos, na Andaluzia não há disto.

  3. Todavia, muito mais divertida é esta história da atrasadíssima requalificação da Estrada N.º 125 quando já se devia era estar a pensar na requalificação da Via do Infante…

  4. Metaforicamente, o conceito de complexo de Édipo, é visto como amor à mãe e ódio ao pai, até porque o mundo infantil resume-se a essas figuras parentais ou aos seus representantes. Também há o complexo de Electra, para o outro género. Para alguns dos nossos provincianos e complexados protagonistas, esses dois conceitos têm uma nova e única designação: portagens.

  5. Perante o mapa dos postos de comando do Algarve, que à evidência contraditam qualquer agenda para a regionalização, sem dúvida há que concluir que o Algarve não passa de uma colónia de férias e oportunidades. Aqui, o rei não vai nu, anda em férias. Não falemos das cunhas.

  6. É deveras uma cena medieval quando se vê um delegado popular, um representante pelo voto, um deputado eleito em sufrágio transformar-se em arauto do poder, montado em seu corcel.

  7. Ainda bem que o Vaticano esclareceu – aquilo que foi anunciado como sendo os novos pecados do século XXI, afinal não são pecados e muito menos mortais. Se fossem, 99% de arautos e 83% dos provincianos não se livrariam do inferno; a 125, mesmo requalificada, seria uma mera estrada dos diabos, e a Via do Infante seria mera ligação entre inferno e purgatório com portagens, porque já não passa disso mesmo sem elas.

Carlos Albino


Flagrante decisão: Numa clara imitação de práticas presidenciais, de governos e agora do governo civil de Faro, vamos promover as «SMS abertas».

quinta-feira, 13 de março de 2008

SMS 253. A técnica do erro

13 Março 2008

Ninguém se livra de fazer erros ou cometer erros, voluntária ou involuntariamente. O ser humano, por natureza, é uma máquina de fazer erros, mas o que o faz elevar-se dessa natureza, é precisamente tomar consciência do erro e analisar as causas que estiveram na base da decisão errada. E então quando se tem poder e uma decisão errada afecta os cidadãos que delegaram esse poder, essa responsabilidade de análise do erro torna-se em dever de quem erra – dever público, e em direito de quem delega o poder – direito a que, nas sociedades democráticas e sem os tiques do autoritarismo, se chama escrutínio no interesse público. Infelizmente, entre nós, acontece o contrário – teme-se o escrutínio, diaboliza-se o escrutínio.

Ora, desde governantes a chefes políticos do beija-mão ou da contra-mão, passando pela enorme fila de líderes que por aí há – eles são líderes partidários, líderes de balneário, líderes empresariais, líderes associativos, líderes de pacotilha, líderes de gangs, líderes religiosos, líderes da noite, líderes locais, sei lá!, até há quem me diga que já há líderes de opinião! – toda esta gente é levada a julgar que os parentes caiem na lama, ou que ficam diminuídos no poder, se reconhecerem o erro que sabem ter cometido na decisão. Toda essa gente até fomentou – com êxito, diga-se - uma espécie de cultura de imunidade no erro, como se líder fosse apenas aquele que nunca dá o braço a torcer. Por isso, não se dão ao trabalho de verificar se há equívocos na teoria utilizada, se quem aconselha não usa raciocínio errado e com água no bico, se os dados usados não estão errados ou não foram recolhidos com pressupostos errados, pelo que não admitem quando erram e instalam a patética regra do Eu tenho poder, estou aberto a todas as críticas, mas não estou errado. Que patética abertura!

Parafraseando aquela conhecida sabedoria chinesa, é caso para se dizer que quando se aponta para o erro, o idiota olha para o dedo.

Vem isto a propósito de educação, saúde, analfabetismo iluminado, segurança, regionalização, provincianismo autárquico, e, enfim, vem a propósito de muita governança que se mantém à custa das sabidas clientelas que, essas sim, conhecem as técnicas do erro melhor que os seus líderes, e tantos são estes que inviabilizam a formação de um escol que é aquilo de que o Algarve mais precisa. Sim senhor, precisa de escol, escol que não há. E não há porque os líderes que nunca erram e as clientelas que dominam a técnica do erro, inviabilizam esse escol, vendo nele o inimigo público.

Carlos Albino

Flagrante insistência: Nos postos de comando do Algarve, devem estar por princípio algarvios. Há limites até para os empregos políticos e aquele «sentir-se algarvio» não basta, pelo menos enquanto cheira a desculpa de funções.

quinta-feira, 6 de março de 2008

SMS 252. Mau serviço cívico

06 Março 2008

Li agora afirmações de Miguel Freitas (na revista Algarve Mais) sobre o movimento cívico Regiões Sim e noto também agora o grande reboliço noutro movimento cívico que se intula Não Apagem a Memória mas que começa logo como se chamasse Liquidem a Inteligência Rapidamente. Afirmações do líder regional do PS e reboliço, têm um traço comum.

Peguemos no que está mais perto do que é importante, as afirmações de Miguel Freitas, que lança a seguinte pergunta cuja resposta é obviamente uma insinuação: «Digam-me uma coisa que o PSD tenha feito na região em 2007, a não ser que o movimento Regiões Sim agora tenha substituído o PSD/Algarve». E logo a seguir, Miguel Freitas afirmou, segundo o entrevistador, com voz firme: «É verdade que 90 por cento dos associados do movimento são militantes do PSD, mas isso é outra questão. Se é por aí que medimos o trabalho do PSD, então tudo bem. E dos outros, nem vale a pena conversarmos».

Não vou gastar dois segundos sequer sobre o que significa a referência a esses tais outros (os 10 por cento, certamente) a quem Miguel Freitas não concede conversa, nem um segundo sequer sobre como é que ele conseguiu ter a trabalhadeira de verificar a ficha política de cada cidadão que aderiu a esse movimento cívico (independentemente de cada cidadão aderente ter ou não partido, ou de saber se o outro aderente tem ou não) para, com voz firme, o líder do PS/Algarve declarar aquela sua verdade atemorizadora, e que é atemorizadora pelo manifesto exercício de diabolização inquisitorial que eu esperava de muita gente mas não de Miguel Freitas, com esta ligeireza.

Vamos ao que importa.

Conforme o calendário, queixam-se os partidos políticos de que a sociedade civil não se organiza ou não sente necessidade de impulsionar movimentos de intervenção cívica, transversais e plurais. Ora, pelos exemplos que temos vindo a registar e onde o de Miguel Freitas enfileira, os responsáveis por esta situação são os próprios partidos, porquanto mal surja um movimento cívico transversal e plural, os partidos, cada um por si, tentam capturar tais movimentos para o seu controlo. E quando não conseguem capturar, insultam o movimento argumentando que este foi capturado pelo outro.

Quando, à evidência, o movimento cívico é plural e transversal, cada partido cria uma suspeita de que existem forças espúrias no movimento, e a sociedade civil que já está amarfanhada pelo estado (estado que não é o governo, como na confusão lançada pelo regime autoritário), fica atónita e por certo incapaz de impor aos partidos que recolham à sua dimensão.

A não ser que se volte a pensar que um movimento cívico não deve ir além dos chás de caridade, de debates sobre o sexo dos anjos ou de marchas de cidadãos civicamente fardados atrás de bandeiras irracionais, obviamente que um movimento cívico tem na base uma intervenção política de qualquer matiz e aos aderentes não se lhes deve exigir que sejam quimicamente puros de partidos ou que devam respeitar quotas libertas da impureza partidária.

Miguel Freitas prestou um mau serviço cívico, e sobre os 10 por cento da sua boa consciência nem vale a pena conversarmos. Os outros 90 por cento, é outra questão.

Carlos Albino


Flagrante palavra: Revivalismo, o dos avozinhos do regime autoritário que por aí circulam como teóricos da democracia.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

SMS 251. Os cães

28 Fevereiro 2008

Em conveniente declaração prévia, digo já que nada tenho contra os bichos e que até gosto de bichos, mas há limites. E o limite está quando por aí vemos muito homem-cão a passear cão-homem, sem se saber muito bem se o dono é o cão ou será o homem, pois a exibição do luxo dessa propriedade é recíproca e provoca idênticos dejectos, cada parte a julgar que faz boa figura – o cão treinado para mostrar que o dono é homem, e o homem mostrando a felicidade de que o cão é dono.

Não vou falar dos episódios trágicos que há muito tempo deviam ter terminado de uma vez por todas se as autoridades tivessem autoridade, usassem a autoridade ou tivessem meios para exercer a autoridade – na verdade, é impossível colocar atrás de cada homem-cão uma autoridade que impeça a luxuosa transformação em cão-homem daquilo que é apenas cão e que os donos exibem como se fosse homem mas a que a lei exige açaime e corrente.

Por outras palavras, também no Algarve não há controle do que rigorosamente se chama posse responsável dos cães, até porque, havendo muitos cães-homem e outros tantos homens-cão, são incontroláveis os cães que são donos do homem, mesmo que tais cães não tenham cão. E até podem dizer que isto é uma metáfora, mas que não é indicador de riqueza e de qualidade de vida no Algarve, ah, lá isso é que não é, mesmo que a Universidade da Beira Interior, já agora, também inclua esse item de genes agressivo, pois o provincianismo também é cão sem açaime.

Carlos Albino

Flagrante esclarecimento: É expectável que nos postos de comando do Algarve, por princípio, devam estar algarvios o que não difícil de definir, e não tanto interessados em negócios algarvios. Só uma agenda para a desregionalização é que leva a fechar os olhos a isso.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

SMS 250. A prioridade da Escola

21 Fevereiro 2008

Claro que só num país da cauda do mundo é que responsáveis políticos se atrevem a dizer em ar de descoberta, com êxito e impunidade política, que devemos dar prioridade à educação e à escola… Então não foi dada? Não deveria essa prioridade ter sido dada há muito, ser há muito um dado adquirido e ter entrado já na rotina do orçamento e da política? Essa conversa que, no século XIX, era a conversa normal dos países mais avançados da Europa, se ainda serve de conversa e bandeira política em 2008, é porque o País tem as suas bandeiras do ensino em meia-haste à porta das suas escolas, por maior que seja a boa-vontade de um escol de professores em disfarçar ou remediar esse ar de luto da educação.

Num balanço destas décadas de democracia que já vai em tantas décadas como as do puro regime autoritário, custa constatar como o Estado tratou os professores como bombeiros voluntários, protegido (ele, o Estado) sem dúvida por uma minoria de beneficiados bombeiros excepcionais. E custa verificar como o mesmo Estado converteu os professores, de modo geral, em tribo nómada, a saltarem de terra em terra, muitas vezes sem tempo sequer para armar a tenda, submetendo-os portanto a uma cultura de tenda que também não deixa de gerar zelosos interesses. Foi deveras um milagre que a escola, de quando ou quando, pela abnegação de alguns professores (e não por vontade expressa do Estado) tenha cumprido algumas das suas missões, ou conseguido ligar-se, aqui e acolá, à comunidade que serve, da qual deveria ser motor e não apenas piquete para apagar fogo posto.

Carlos Albino


Flagrantes nomes de escolas: Diz-me como te chamas, dir-te-ei quem és… E há cada nome!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

SMS 249. Apenas para agradecer

14 Fevereiro 2008

Não é tarde nem cedo – agradeço. Quando muitas câmaras algarvias continuam perdulariamente a promover ou elas próprias a editar livros sem escrutínio de qualidade apenas porque nome feito dá nome e não se passa disto, tenho de agradecer a Maria Aliete Galhoz, a Isabel Cardigos e a Idália Farinho, o trabalho de pesquisa sobre o património oral do concelho de Loulé. Trabalho que já deu dois volumes, um primeiro sobre contos (2005), um segundo sobre romances (2006), e aguarda-se por um terceiro, sobre orações. Conto do povo, romances do povo e orações do povo, precise-se. É que há por aí muita coisa publicada que se diz de cultura popular, mas que mais não é do que cultura contra o povo. Há uma minoria de povo que é anti-popular, sobretudo quando essa minoria pavoneia ignorância como sendo sabedoria, e exibe cópia ou arremedo como sendo matéria genuína e herança de gerações.

A tradição cultural oral do Algarve, sem dúvida, sofreu uma fortíssima ruptura no século XX, cujas causas estão inventariar com precisão mas que se suspeitam – há instituições responsáveis pela decapitação desse património. Grande parte dessa tradição perdeu-se, pouco ficou – basta tentar saber como Aleixo e com ele ou como ele os poetas populares cantavam e competiam, para se perceber como pouco da tradição ficou. Ora, ir à busca do pouco que resistiu, com aquele rigor que apenas é possível obter quando se tem humildade académica, é o que está patente nos volumes já publicados (com excertos em CD) sobre o património oral de Loulé – é um trabalho sério. Não é tarde nem cedo, obrigado Aliete Galhoz, obrigado Isabel Cardigos, obrigado Idália Farinho.

Carlos Albino

Flagrante pergunta: Há um ambiente esquisito, não há?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

SMS 248. Algarve ou figura de estilo?

7 Fevereiro 2008

Os autarcas da Região Oeste apresentaram ao Governo uma apreciável lista de contrapartidas como forma de compensar o chumbo do aeroporto na Ota. A lista é extensa e vai desde redes de lojas da “terra e do mar”, de “espaços urbanos da cultura, criatividade e conhecimento” a carta regionais (social, educativa e desportiva), passando por eixos viários estruturantes, agência regional do ambiente e energia, projecto digital, observatório das dinâmicas regionais, sistemas de gestão autárquica, um Polis regional, a requalificação do linha ferroviária do Oeste, marinas na Nazaré e em Peniche, centro de investigação, qualidade e certificação de produtos regionais, um pólo tecnológico, um hospital, um aeródromo em Torres Novas, requalificação da lagoa de Óbidos e valorização das termas das Caldas, entre o mais, designadamente infraestruturas rodo-ferroviárias que aproximem a região do futuro aeroporto, por certo em Alcochete, um pólo turístico e «montagem de um sistema de governança regional”. É claro que, se por não ficarem com o aeroporto os autarcas do Oeste exigem isso, é de crer que se tivessem ficado com o aeroporto exigiriam o mesmo ou talvez mais… O não-aeroporto é um pretexto e o aeroporto pretexto seria, porque o Oeste tem lobby influente na política – no governo, no parlamento, por dentro dos partidos e por fora, no poder e na oposição – e quando se trata de defender a região, toca a reunir.

Não é censurável, antes pelo contrário é de elogiar a força anímica e organizadamente reivindicativa dos autarcas e agentes do Oeste – é até coisa de meter inveja noutras regiões onde o medo de perder empregos políticos (se não é isto, parece) dita a submissão dos pretextos e a canonização política de interesses que dependem de centros decisão que, na verdade, estão fora da terra e exportam a grande massa de benefícios para fora da terra, sem contrapartidas de maior.

Imagine-se o que o Algarve não deveria reivindicar por não ter o que deveria ter. Mas onde é que está aqui a garra do Oeste, para não falar das garras mais a norte e até já da garra alentejana? Aliás, pouco falta para que os próprios comandos do Algarve não estejam todos nas mãos de gente que o Algarve distraído adoptou, ou que com muita e interessada atenção adoptou o Algarve. Tanto faz, embora muitos teimem em acreditar que o Algarve não será apenas uma figura de estilo.

Carlos Albino

Flagrante provérbio: Com papas e bolos, se enganam os tolos.