As grosseiras e insistentes tiradas de Alberto João Jardim, pelos vistos já toleradas ou temidas pelos mais altos dignitários do estado, não ajudam em nada a caminhada que muitos partilham ou desejam no sentido da regionalização. Entende muita gente que tais tiradas não são «um estilo próprio», como o Presidente da República sugeriu, são reveladoras de uma forma indescritível de estar na política e, dentro da política, de estar no uso devido das capacidades críticas. E o que leva a tais tiradas não é de forma alguma «um exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo», como Jaime Gama fez render, é a transubstanciação do pior que o combate político pode colocar na hóstia da vida democrática, mas sempre possível numa ilha e por um ilhéu que se julga o centro do mundo, mas beneficiando na Madeira, como em nenhum outro território, das bordas periféricas da regionalização.
Estaria o País mal e sem destino, se em cada casa que não seja recife, cada rua que não seja ilhéu, cada cidade que não seja ilhota, cada região que não seja ilha, esse «estilo» e esse «exemplo supremo» fossem seguidos na política do recife, do ilhéu, da ilhota e da ilha. Primeiro, porque esse protótipo de Jardim instala o medo na sociedade – uma regionalização, de que a Madeira e os Açores são exemplos com expressão política por benefício constitucional e consenso nacional, não é um instrumento para roer a corda, roendo cada vez mais até parecer Kosovo doméstico sem o assumir por falta de coragem final, mas roendo sempre num malabarismo de excepção sediciosa em que vale tudo – da falta de educação elementar às grandes tiradas próprias de feiticeiro ou chefe que só por essa via amedronta a tribo a si sujeita ou de si refém. No entanto, o medo desse chefe de tribo ainda se tolera e até se ajeita ao folclore político que precisa de feiticeiros - o problema é quando, ou se do medo se passa à fase da imitação, e por aí se começa a pensar que cada rua deve ter o seu Jardim, e que para se ser chefe de ilhota se tenha de ter aquele «estilo próprio» e seguir aquele «exemplo supremo».
É oportuno que se diga que, para obterem a mera autonomia administrativa sem expressão política, as regiões portuguesas não precisam de Jardim – devem até manter esse estilo e exemplo de Jardim à parte. Tal estilo e tal exemplo inviabiliza o mínimo passo, não pelo medo do protótipo, mas pelos imitadores.
Carlos Albino
- Flagrante acordo: Para encurtar caminho, a partir da próxima SMS passaremos a redigir, com muito agrado, já pelas regras do novo Acordo Ortográfico.
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