Ninguém se livra de fazer erros ou cometer erros, voluntária ou involuntariamente. O ser humano, por natureza, é uma máquina de fazer erros, mas o que o faz elevar-se dessa natureza, é precisamente tomar consciência do erro e analisar as causas que estiveram na base da decisão errada. E então quando se tem poder e uma decisão errada afecta os cidadãos que delegaram esse poder, essa responsabilidade de análise do erro torna-se em dever de quem erra – dever público, e em direito de quem delega o poder – direito a que, nas sociedades democráticas e sem os tiques do autoritarismo, se chama escrutínio no interesse público. Infelizmente, entre nós, acontece o contrário – teme-se o escrutínio, diaboliza-se o escrutínio.
Ora, desde governantes a chefes políticos do beija-mão ou da contra-mão, passando pela enorme fila de líderes que por aí há – eles são líderes partidários, líderes de balneário, líderes empresariais, líderes associativos, líderes de pacotilha, líderes de gangs, líderes religiosos, líderes da noite, líderes locais, sei lá!, até há quem me diga que já há líderes de opinião! – toda esta gente é levada a julgar que os parentes caiem na lama, ou que ficam diminuídos no poder, se reconhecerem o erro que sabem ter cometido na decisão. Toda essa gente até fomentou – com êxito, diga-se - uma espécie de cultura de imunidade no erro, como se líder fosse apenas aquele que nunca dá o braço a torcer. Por isso, não se dão ao trabalho de verificar se há equívocos na teoria utilizada, se quem aconselha não usa raciocínio errado e com água no bico, se os dados usados não estão errados ou não foram recolhidos com pressupostos errados, pelo que não admitem quando erram e instalam a patética regra do Eu tenho poder, estou aberto a todas as críticas, mas não estou errado. Que patética abertura!
Parafraseando aquela conhecida sabedoria chinesa, é caso para se dizer que quando se aponta para o erro, o idiota olha para o dedo.
Vem isto a propósito de educação, saúde, analfabetismo iluminado, segurança, regionalização, provincianismo autárquico, e, enfim, vem a propósito de muita governança que se mantém à custa das sabidas clientelas que, essas sim, conhecem as técnicas do erro melhor que os seus líderes, e tantos são estes que inviabilizam a formação de um escol que é aquilo de que o Algarve mais precisa. Sim senhor, precisa de escol, escol que não há. E não há porque os líderes que nunca erram e as clientelas que dominam a técnica do erro, inviabilizam esse escol, vendo nele o inimigo público.
Carlos Albino
Flagrante insistência: Nos postos de comando do Algarve, devem estar por princípio algarvios. Há limites até para os empregos políticos e aquele «sentir-se algarvio» não basta, pelo menos enquanto cheira a desculpa de funções.
Sem comentários:
Enviar um comentário