Naturalmente que a demora do Hospital Central do Algarve foi já um atraso de vida. Com recurso a vários e sucessivos expedientes, gastaram-se anos a tentar evitar e não apenas a adiar o novo equipamento público cuja necessidade era uma evidência – houve um momento em que só não era uma evidência para o ex-ministro Correia de Campos, por sinal saudado até aos seus últimos dias de governo por quem, estando dele mais próximo, tinha obrigação de o acordar. Mas agora que a decisão está tomada e o calendário traçado, não vale a pena chorar sobre o leite derramado, embora se justifique uma chamada de atenção muito especial para a intervenção cívica, e não tanto política, na matéria. Na verdade, é de duvidar que tivéssemos algum dia hospital deveras, se, de ponta a ponta no Algarve, os cidadãos não tivessem reagido cada um à sua maneira contra o estado da saúde na região – reacção inorgânica, espontânea e sem movimento organizado, mas que consolidou uma opinião pública sobre essa questão. Bem se sabe que uma opinião pública nem sempre é a melhor das opiniões, mas à falta de instituições e de representantes que falem sem paternalismos, com autoridade moral e força política em nome da região, essa opinião pública acaba por ser recurso firme da democracia perante ministérios hipertrofiados em Lisboa e quase hegemónicos em iniciativas para o funcionamento do país.
Carlos Albino
- Flagrante negócio: Com os olhos. Sabemos todos com os olhos da cara.
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