Este país vai por modas. Agora é a moda dos jovens – que os jovens não se interessam pela política, que os jovens ignoram factos e acontecimentos da política, que os jovens, portanto, são uns mal agradecidos a quem generosamente lhes facultou os bons frutos da política, e além disso quase uns traidores face aos seus progenitores que não só terão inventado a política como herdaram a melhor das políticas dos avós e bisavós, ao longo do passado século XX, tornando Portugal no campeão da política... E se nos deixássemos de modas?
Os jovens sabem tanto e possivelmente mais de política como os seus pais há 17, 20 ou 25 anos, para não falar dos avós – o desinteresse pela política não significa desconhecimento, e, além disso, não se mede com respostas a inquéritos do tipo que dentífrico mais gosta. Ninguém lava os dentes com a política.
Ora importa, antes de tudo, deixar claro o que se entende por «interesse pela política». Será que interesse pela política é saber, como nas novelas dessa ministra da Deseducação que é a TV, quem está contra quem? Quem joga à batota para alcançar aquela mordomia disputada por outro não menos batoteiro? Quem lança mãos a todos os meios para eliminar politicamente e até civicamente quem se interponha na mira de um posto apenas porque lautamente remunerado, já que aqueles que não são, não interessarão, pelos vistos, para a política? Claro que se os jovens se desinteressam disto, desinteressam-se bem – o desinteresse é uma reacção saudável e um sinal que deve ser sentido, seria até melhor que fosse pressentido por alguns dos mais velhos que ainda entendem a política como defesa do bem comum e das coisas públicas, defesa essa desinteressada mas compensada – também mal da política se fosse uma irmandade de franciscanos descalços.
Política é seguir o funcionamento das instituições (das juntas de freguesia e câmaras às direcções regionais de ministérios e delegados governamentais, designadamente o governo civil) – mas toda a gente sabe que esse funcionamento é geralmente subterrâneo ou, como se diz no Cachopo, cozinhado na parte da trás da casa; política é escrutinar os actos públicos, no enquadramento dos partidos ou pela acção cívica independente – toda a gente sabe que, pelo contrário, o escrutínio em política está a ser quase apenas o evitar-se a ilegalidade, fazendo o tolerado ilícito e o inaceitável permitido, ou como se diz em Budens, o que é preciso é não sewr apanhado com a perna de fora; política é debater ideias de projecto para a sociedade onde vivemos, nos seus fundamentos e objectivos – toda a gente sabe que, no Algarve, ideia de projecto é a louvaminhas servil e o repicar de sinos do ataque pessoal agressivo para agrado do líder tentado a ser títere; política é, pegando nas palavras de Sérgio, abrir as avenidas largas da crítica – também toda a gente sabe que quem ousa a crítica e o debate de ideias não vinga na política, pelo que nenhum partido o escolhe para contínuo quanto mais para deputado.
- Continuaremos porque o tema é actual e, felizmente, polémico – dá para se dizer uma boa dúzia de verdades, mas os mais velhos que nunca se interessaram pela política como ela devia ser, não têm nem autoridade moral nem legitimidade política para limpar a consciência com exercícios de estilo contra o «desinteresse» dos mais jovens por uma «política», política desvirtuada, em os educaram e até, nalguns casos, condicionaram.
Carlos Albino
- Flagrante desafio: Que se faça o mapa político do Algarve, com os postos de «comando político» do Algarve, indicando-se com clareza onde estão algarvios e quantos algarvios estão.
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