Não é tarde nem cedo – agradeço. Quando muitas câmaras algarvias continuam perdulariamente a promover ou elas próprias a editar livros sem escrutínio de qualidade apenas porque nome feito dá nome e não se passa disto, tenho de agradecer a Maria Aliete Galhoz, a Isabel Cardigos e a Idália Farinho, o trabalho de pesquisa sobre o património oral do concelho de Loulé. Trabalho que já deu dois volumes, um primeiro sobre contos (2005), um segundo sobre romances (2006), e aguarda-se por um terceiro, sobre orações. Conto do povo, romances do povo e orações do povo, precise-se. É que há por aí muita coisa publicada que se diz de cultura popular, mas que mais não é do que cultura contra o povo. Há uma minoria de povo que é anti-popular, sobretudo quando essa minoria pavoneia ignorância como sendo sabedoria, e exibe cópia ou arremedo como sendo matéria genuína e herança de gerações.
A tradição cultural oral do Algarve, sem dúvida, sofreu uma fortíssima ruptura no século XX, cujas causas estão inventariar com precisão mas que se suspeitam – há instituições responsáveis pela decapitação desse património. Grande parte dessa tradição perdeu-se, pouco ficou – basta tentar saber como Aleixo e com ele ou como ele os poetas populares cantavam e competiam, para se perceber como pouco da tradição ficou. Ora, ir à busca do pouco que resistiu, com aquele rigor que apenas é possível obter quando se tem humildade académica, é o que está patente nos volumes já publicados (com excertos em CD) sobre o património oral de Loulé – é um trabalho sério. Não é tarde nem cedo, obrigado Aliete Galhoz, obrigado Isabel Cardigos, obrigado Idália Farinho.
Carlos Albino
Flagrante pergunta: Há um ambiente esquisito, não há?
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