quinta-feira, 23 de abril de 2009

SMS 311. Assim vai a política



23 Abril 2009

No Algarve, as listas para a Europa não provocaram qualquer alarido, parece que, das duas uma, ou estão todos contentes ou todos estão profundamente indiferentes. À excepção de Jamila Madeira que lá conseguiu um lugar sem garantia de eleição, certamente na expectativa de uma desistência, duas renúncias e meia suspensão, o Algarve é um zero à esquerda e à direita da Europa. Mais do que nunca o Algarve é uma periferia, um local sem importância nas excursões para Bruxelas/Estrasburgo.

Nas listas para as autárquicas, de modo geral quem está no poder recandidata-se e para quase todos os que se recandidatam só por grande asneira ou falta de destreza é que a vitória lhes fugirá das mãos. E diga-se que alguns dos futuros derrotados até desejarão paradoxalmente ser derrotados, na expectativa de usufruírem o pagamento político pelo facto de terem aceitado o imenso sacrifício de se candidatarem sabendo que iriam ser derrotados – o Arco da Vila de Faro tem alguma tradição de acolhimento destes desventurados, e se não for o Arco, o turismo terá lugar.

Nas listas para as legislativas que ainda vão relativamente longe mas já provocam despique de nomes – nomes que também na generalidade não passam de nomes, não se conhecendo desses nomes uma ideia sólida, um projecto de alcance ou um golpe de asa que dê esperança. É claro que citar alguma excepção que poderia ser citada apenas confirmaria a regra, mas nunca o Algarve teve tanto nome com voz do dono e para agradar ao dono.

Carlos Albino

      Flagrante slogan: Nós, Desgraçados.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

SMS 310. Assaltos e mais assaltos



16 Abril 2009

É claro que as notícias são más e o resto nem se sabe, porquanto não tem contagem o que não é participado às autoridades – para quê? pergunta-se – e a grande parte do que é participado não chega ao conhecimento público pois os jornais da especialidade, sem indagar as causas profundas, apenas vão dando no dia a dia o que tenha mais sangue, o que selectivamente provoque maior escândalo moral e o que mais choque em função dos montantes de euros como rendimento do crime. A televisão, designadamente a pública que é paga mesmo por quem não a queira pagar, dá de passagem as coisas que não pode omitir, anda alegre e obsessivamente entre um clube do Porto e dois de Lisboa concedendo interminável tempo de antena nacional ao problema da clavícula do futebolista Bóbó, e quando não há Fátima que comova, enfim, lá despeja explicações do governo com uns atalhos de visível satisfação pois a oposição tida como voz mais pesada não presta, e na verdade pouco faz para que acredite que preste. E o que essa mesma televisão, designadamente a pública que é suportada mesmo por quem deste jeito a não queira suportar, diz do resto do mundo parece ser apenas para que se tenha a ideia de que Portugal, apesar de tudo, é um país de brandos costumes e que lá fora é pior seleccionando-se em cada dia que passa o pior desse resto do mundo para que nos esqueçamos do que aconteceu ao virar da esquina.

O que, quanto à criminalidade, está a acontecer no Algarve é desde há muito o suficiente e já demais para que não nos interroguemos seriamente não só sobre as más notícias mas acima tudo sobre o que acontece e não chega a ser notícia sendo no somatório mais grave e coloca as populações em alarme e até justificadamente em pânico. Terão as autoridades policiais condições e meios, terão efectivos suficientes e serão pagos com a mínima dignidade em função do risco? Que prevenção da criminalidade há, que programas específicos e que planos que dêem o mínimo de confiança às populações? Como funciona a justiça na região que para também para grande parte da justiça é local de passagem, entre o estágio e a sinecura, assim sendo com decisões que deixam o cidadão comum atónito?

Carlos Albino


      Flagrante tema de crónica: Os presidentes de câmara que por andam a fazer crónicas e que já falaram da subida do Olhanense, das gaivotas com o mar azul ao fundo e do excelente mel da serra, têm um bom tema sobre o qual ninguém escreveu – como cantam os canários nas gaiolas da sua terra…

quinta-feira, 9 de abril de 2009

SMS 309. Teremos voz na Europa?


9 Abril 2009

O Algarve tem tido mais ou menos uma presença na Europa, embora nem sempre brilhante, nem sempre a deixar o eleitorado convencido de que vale a pena escolher alguém para o corrupio de Bruxelas-Estrasburgo. É claro que o Parlamento Europeu de 1986 é diferente deste que vamos eleger a 7 de Junho e se o novo Tratado Europeu vingar mais diferente será esbatendo a ideia de turismo político e de exílio dourado que a «representação» dos europeus tem sugerido.

Recapitulando, antes mesmo de eleições europeias, Luís Filipe Madeira foi um dos nomeados em 1986 e em 1987, nas primeiras eleições, foi o número dois da lista do PS encabeçada então por Maria de Lurdes Pintasilgo. Em 1989, foi José Mendes Bota a pontuar pela região pela banda do PSD, enquanto, pela banda do PS, algum cheiro a Algarve poderia exalar, enfim, a eleição de João Cravinho, pois José Apolinário teria de aguardar uns quatro anos para, em Janeiro de 1993, marcar presença e ganhar direito a um lugar elegível nas eleições de 1994 mantendo-se até Outubro de 1998, uns quatro meses depois de José Mendes Bota, que não fora directamente eleito, ter regressado a esse terreno. Nas eleições de 1999, o Algarve continuou a ter aparentemente voz na Europa, porquanto o PS fez eleger Joaquim Vairinhos e, por aquele mecanismo do sai efectivo entra suplente, também Joaquim Piscarreta em 2001 lá foi para o corrupio. Nas eleições mais recentes, as de 2004, o Algarve resumiu-se e bem a Jamila Madeira. Para as próximas eleições de 7 de Junho, não se sabe ao certo o que os partidos vão conceder ao Algarve, se concederem, porquanto a questão de presença europeia ou não, tem andado arredada do frágil debate político regional dominado pelas autárquicas que ainda vão relativamente longe. A reclamação dessa presença não tem sido visível ou audível por parte dos partidos na região, quase parecendo que a Europa não faz parte da agenda política algarvia. E se calhar não faz, pois a agenda política algarvia também se resumirá, quanto à Europa, a duas ou três agendas pessoais e só deus sabe o conteúdo europeu e finalidades europeias de tais agendas.

Carlos Albino

      Flagrante raciocínio: Diz Apolinário que já ninguém ousa chamar «elefante branco» ao Estádio Algarve por causa de uma final de taça e de um rally. Passou a ser um elefante incolor.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

SMS 308. Eles juram cumprir o mandato



2 Abril 2009

Dos oito deputados eleitos no Algarve, apenas metade pode dizer que cumpriu o mandato inteiro de uma ponta à outra, embora a dois tenhamos que descontar uns breves hiatos.

Presentemente e já na recta final da legislatura, no PSD aí temos como efectivos Mendes Bota de cuja algarviandade não se duvida e ainda José Pereira da Costa que foi membro da Assembleia Municipal da Figueira da Foz, vereador dai também em 2001 e antes desta apostólica descida ao sul fora secretário de Estado da Defesa e dos Antigos Combatentes. Ainda no PSD, Carlos Silva e Sousa, Luís Gomes e Ofélia Ramos Costa tiveram ocasião de passar por S. Bento como suplentes.

No PS houve mesmo dança. João Cravinho que foi cabeça de cartaz político renunciou em Janeiro de 2006 pelas razões que se sabe ou se supõe, três meses depois Luís Carito fez o mesmo após de uns meses de suspensão do mandato, depois de José Apolinário outro peso-pesado do mesmo partido ter igualmente renunciado em 2005 pelos motivos que sobretudo Faro conhece. Miguel Freitas, o líder distrital, esteve em S. Bento entre Março de 2005 e Setembro de 2006, suspendendo o mandato para se tornar funcionário da representação permanente de Portugal em Bruxelas seguindo o Comité Especial de Agricultura e nesse contexto assumindo a coordenação de Agricultura e Pescas. Jovita Ladeira e Aldemira Pinho são quem da banda do PS pode dizer que não jurou em vão cumprir o mandato para foram eleitas, porquanto, em função da expedita ginástica regulamentar de S. Bento, Hugo Nunes começou como suplente, subiu a efectivo temporário e tornou-se efectivo definitivo, o mesmo acontecendo com Esmeralda Ramires, David Martins, pois Manuel José Rodrigues ainda está no escalão dos efectivos temporários, e Paulo Morgado que pisou o chão de S. Bento como suplente em Março de 2005, suspendeu o mandato desde Janeiro de 2007.

Naturalmente que, em 2005, cabeça de lista e principais figuras da lista do PS, ou fizeram esse papel par dar nome ao partido ou para o partido lhes dar nome, e se outra explicação pode haver (há certamente mas não a dizemos), ela apenas apenas descredibiliza a figura do deputado aos olhos do eleitor defraudado pelas rifas que saem aos suplentes.

Carlos Albino

      Flagrante adjectivo: Disse Miguel Freitas que o objectivo do PS é voltar a ser «o maior partido autárquico da região». E anda toda a gente convencida que o PS é um partido nacional e que não há nem pode haver partidos autárquicos…

quinta-feira, 26 de março de 2009

SMS 307. Insegurança, desemprego e crise

26 Março 2009

Em vez de assobiarem para o lado, os dirigentes políticos, não os que estão longe ou lá em cima, mas os que estão aqui e bem perto, deveriam apresentar soluções para o que mais aflige os algarvios – a insegurança, o desemprego e a crise que está a minar as pequenas empresas e obviamente o comércio. Não aquela soluções vagas e abstractas que decorrem da reza do credo da estabilidade rezado como aqueles que rezam de cor e salteado para o seu deus distraído, mas soluções concretas para os problemas concretos da concreta sociedade. Não basta a constatação e o encolher de ombros, dissertando sobre o sexo dos anjos em vez de formularem os problemas e descreverem os remédios. Quanto à segurança, aí temos uma justiça amiúde desafinada cujas decisões deixam o cidadão atónito e desmobilizam as próprias autoridades que assim cada vez mais se refugiam em balcões de expediente; quanto ao desemprego, mais grave agora que o desemprego sazonal que era a rotina a que grande parte comodamente se habituou, aí temos o jogo com estatísticas que não dá pão a ninguém e muito menos paga encargos; quanto à crise, esperemos pelo verão, mas quando os hoteleiros dizem que um isolado jogo de futebol de fim-de-semana lhes deu mais clientela que as férias de carnaval, está tudo dito em termos de prenúncio, com o comércio a sentir de forma dramática a quebra do consumo, sabendo-se do resto – obras paradas, imobiliária sem negócios sólidos à vista a gerir ofertas de desespero. É evidente que todos esperamos uma boa revoada de turistas que de alguma forma, aqui e ali, deixe algum dinheiro fresco a circular na região mas, como as coisas estão a correr, ninguém pode garantir que o final de Junho, Julho, Agosto e um pouco de Setembro sejam favas contadas.

É hora, pois, dos políticos provarem que são políticos, que são merecedores com nobreza do que a política lhes deu e que têm nas mãos argumentos que convençam os eleitores e lhes dêem esperança nas virtualidades do sistema de representação. Em tempos de relativa abundância ou de recurso ao dinheiro fácil que o poder sempre consegue arranjar, o marketing até pode fazer alguns milagres de voto. Mas num momento de crise na qual o Algarve tem a tendência histórica de se converter num dos primeiros becos do país, o marketing político equivale ao suicídio político dos que dele abusam, a não ser que a sociedade por algum paradoxo já tenha optado pela sua própria extinção o que será impensável admitir mesmo num beco.

Sempre é oportuno dizer isto pois por aí lemos e ouvimos muita dissertação sobre o sexo dos anjos que não diz nada a ninguém e com verbos de encher que não têm qualquer relação directa e útil com os problemas concretos com que a sociedade algarvia se debate, problemas esses que não têm 16 autarquias, são da região toda, da serra ao mar. Será preciso trocar isto por miúdos?

Carlos Albino

      Flagrante desleixo. Pior que o árbitro no Estádio Algarve foi o estado do relvado. Alguém a merecer cartão vermelho.

quinta-feira, 19 de março de 2009

SMS 306. Políticos e funerárias

Calcula-se porque seja, de um momento para o outro, aí temos articulistas inesperados a escrever sobre o óbvio que até confrange e colunistas supostamente convidados cujas colunas mais não são do que propaganda confrangedoramente embrulhada em celofane. Todavia, isso não seria nada de anormal se na generalidade os inesperados articulistas e os colunistas convidados não fossem políticos de carreira ou dirigentes partidários e, em função desses estatutos, ocupando cargos públicos de relevo ou desempenhando importantes funções por endosmose da política.

Claro que não se põe em causa a inquestionável liberdade de expressão, o que se estranha é que tais políticos não usem a tribuna política que por legitimidade lhes pertence e para colmatar calculados silêncios destes últimos auspiciosos anos venham agora com regularidade para os jornais, em vésperas de eleições ou talvez por causa das eleições, como que a fazerem prova de vida e a subtraírem espaço destinado para a livre crítica e para o escrutínio da actividade pública àqueles que não têm a tribuna política que os políticos deviam usar e para tal foram eleitos. É que não só subtraem espaço mas também inibem que o cidadão comum use os jornais para aquilo que os jornais servem, devendo servir inclusivamente para observatório dos próprios políticos.

Com a política passa-se agora coisa semelhante, não é igual mas apenas semelhante à que, no Algarve ou quase só no Algarve se passa com as funerárias às quais se delega divulgar quem morreu. Em vez de anúncios nos jornais locais ou regionais, as funerárias têm o péssimo hábito de colocar placards próprios colocados nas praças públicas, anunciando cada uma apenas os seus mortos (havendo guerras de placards se uma funerária usa o placard da outra), ou à falta de placards colam os prints nas placas de estradas e caminhos, havendo placas que parecem cemitérios em função dessa publicidade selvagem à margem da lei e das posturas municipais (onde existem), subtraindo publicidade legal aos jornais e inibindo a família do morto de honrar a memória deste nos veículos de comunicação comunitária.

Os políticos, sobretudo detentores de cargos públicos ou exercendo altas funções de representação para que foram eleitos, podem mas não devem fazer dos jornais os seus placards de funerária… Fica-lhes mal pois se vestem o fato escuro não é por sentimento mas porque o ramo do negócio a isso os obruga.

Carlos Albino

      Flagrantes hipóteses para mestrados: pelo que consta ainda está por fazer uma investigaçãozinha sobre política e corrupção durante o a I República no Algarve e, já agora, outra investigaçãozita sobre a corrupção apolítica durante a II Guerra Mundial também no Algarve. O resto é banda desenhada.

quinta-feira, 12 de março de 2009

SMS 305. Mudança de critérios

12 Março 2009

Até há pouco tempo, o bom autarca era apenas aquele que apresentava obra. Sem obra, a reeleição estava liminarmente arrumada. Todo o pau servia para fingir qualquer obra e alguns autarcas traídos nesse frenesim de poder chegaram a cair no ridículo de venderem dois palmos de esperteza por três votos sem inteligência. Por isso aí temos cidades e vilas cheias de mamarrachos não tanto porque não houvesse leis mas apenas porque se autorizava para «haver obra», e mesmo que tais mamarrachos nada tivessem a ver com os bicos de obra da política eles sempre foram garantindo, por esta ou aquela via, uns retornos no apoio às campanhas eleitorais – não é por acaso que alguns desses mamarrachos se situam onde antes tinham funcionado sedes partidárias graciosa ou simbolicamente cedidas, por certo com segundas intenções.

Agora, o critério do eleitor já não vai sendo tanto a obra mas o perfil, e no perfil a moral, mais precisamente a moral política. Um autarca pode ter obra na mão, até muita obra ou obra a dar com um pau, mas se aos olhos públicos se revelar sem moral política, ele não tem hoje as chances que tinha no passado recente – os critérios mudaram. É assim que um autarca que o seja e insista, ou outro que tenha sido e queira retomar, se o sábio olhar público o identificar como comandante trapaceiro, peru miliciano de represálias, devasso sorridente ou traficante de influências fardado em São Francisco descalço, esse autarca bem pode dizer que sem ele a terra não teria cinco arranha-céus ou que se não tivesse sido ele a terra teria sido riscada do mapa, bem pode dizer isso e mais, com a pose de salvador único e insubstituível, mas, desprovido da tal moral política, quanto mais diz mais perde, sobretudo na democracia local onde o engano pode durar mas não perdura muito.

Por essas e por outras, pelo menos na fase em que o país está (com a justiça na lástima e a educação à mercê de experiências de laboratório impostas por uns brincalhões) sou pela separação de eleições locais e eleições nacionais, pois de outra forma a verdade eleitoral não virá tão bem ao de cima.

As próximas eleições autárquicas vão ser sobretudo um teste de moral política – para quem está e quer continuar, para quem ousa iniciar-se e definitivamente para quem eventualmente se julgue um messias de regresso mas que sem moral política na cara não passará do frete de fazer de messias.

A honestidade não é uma questão de marketing, o eleitor já sabe e por isso mudou os critérios. Ainda bem.

Carlos Albino

      Flagrante figura triste: A dos deputados por substituição que por aí andam, como se treinar para a Fórmula 1 da política fosse apenas andar à boleia.

quinta-feira, 5 de março de 2009

SMS 304. Os números do desemprego


5 Março 2009

Os números do desemprego no Algarve são de arrepiar a espinha, os sindicatos fazem bem em reclamar medidas especiais urgentes e os que tentam tapar o sol com uma peneira fazem mal. Há que encarar a situação de frente, identificar os problemas e tentar encontrar as melhores soluções antes que a situação social se agrave para níveis incontroláveis. Mas é muito provável que o bom senso não impere pois aqueles mesmos que nunca olharam com seriedade para o emprego não é agora que terão seriedade para olhar para o desemprego.

Era de esperar que alguma coisa já se tivesse feita, estando o Algarve altamente dependente de uma actividade económica sujeita aos altos e baixos do «ambiente» internacional, cujos comandos nem estão cá e para aos quais os algarvios são um indigenato feliz com o desemprego sazonal disfarçado com uns ganchos. E mais se justificaria que alguma tivesse sido feita e não foi, porque essa mesma actividade alimenta a jusante praticamente quase tudo o que economicamente no Algarve mexe à excepção de alguns teimosos da agricultura mas também estes desprotegidos e sem estímulo, até porque o deus dará de Espanha já não é o que era.

O que se tem ouvido é meramente o discurso róseo de justificação para quem está na banda do poder, ou a reclamação desesperada ou tornada ainda mais desesperada por quem, sobretudo em época eleitoral, aproveita qualquer desalinhavo do mesmo poder. Discursos róseos e reclamações tardiamente desesperadas não auguram nada de bom sobretudo numa região do país onde visivelmente os ricos estão mais ricos e os mais pobres cada vez mais pobres, para usar a fórmula tantas vezes usada para se ganhar eleições mas rapidamente esquecida depois de contados os votos.

Carlos Albino

      Flagrante sinal dos tempos: Um pai, publicamente, para quem quisesse ouvir, diz para o filhote: «E se essa professora te tocar com um dedo diz-lhe que o teu pai lhe dará um tiro nas patas».

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

SMS 303. A crise internacional


26 Fevereiro 2009

Portugal é bafejado de vez em quando com um milagre caído dos céus. Infelizmente, estes milagres não dão pão para a boca, não são chuva de pepitas de ouro e também não são banhos de civilização, cultura e civilidade. Os milagres que volta e meia bafejam Portugal são meras explicações normalmente sobre o que toda a gente já percebeu como sendo de culpa própria mas cujas causas também toda a gente percebe que será conveniente remetê-las para gente alheia, inominada e de preferência longínqua. O nosso século passado, o portuguesíssimo século XX, foi vivido à espera da conversão do Rússia e actividades correlativas como se estivesse aí a chave da solução para os problemas de um século que começou com a corrupção e a anarquia a autoalimentarem-se, e que praticamente foi até ao fim com o analfabetismo e a miséria a servirem de suporte para todo o género de déspotas e títeres, alguns dos quais rapidamente se trajaram de democratas mas todos muito satisfeitos pelo facto do povo estar confiadamente à espera da conversão da Rússia – naturalmente que uso a Rússia por metáfora. Mas, com ou sem metáfora, o certo é que um terço da população portuguesa emigrou, partiu e a maioria não quer regressar à terra dos milagres mesmo que a saudade não morra e as remessas de dinheiro enviadas tivessem feito enorme jeito às antigas Contas Gerais do Estado, agora civilizadamente trajadas em Orçamento do Estado.

É claro que, convertida a Rússia, a explicação milagrosa para os nossos males está agora na «crise internacional». Fizeram-se loucuras na banca, na imobiliária, com os dinheiros europeus (e tanto que foi a fundo perdido…), nas escolas, no aparelho do Estado e nos aparelhómetros das autarquias, mas conhecidas as consequências que algum dia teriam de aparecer, sacode-se a água do capote e lá vem a crise internacional. Os deputados eleitos que na generalidade – salvo honrosas excepções, para evitar melindres - acabado o escrutínio voltaram costas ao cidadão e se especializaram nos jogos de poder das máquinas partidárias, transformando o dever de representação em emprego político e em expectativa de mordomia e em contrato de trabalho com o chefe, também agora ousam limpar a seco esse passado com lições de «crise internacional» quando se confrontam com os protestos do desemprego, com as consequências das loucuras e com a apatia e desconfiança do cidadão comum perante uma justiça que nunca funcionou, uma escola que anda entre o oito e o oitenta, e uma saúde minada pela doença incurável do enriquecimento seja qual for o esquema da «crise internacional»...

Carlos Albino

      Flagrantes correcções (da edição do JA em papel): A «sondagem» a que nos referimos no SMS da semana passada, obviamente era uma flagrante observação, minúscula como todas as observações e não parte do texto. E uma semana antes, saiu como observação minúscula o que fazia parte do texto, tendo sido apagado o seguinte: «Em Faro, um duelo mais do que entre partidos entre duas personalidades – José Apolinário e Macário Correia. Um e outro têm que escolher bem os padrinhos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

SMS 302. Apolinário, Macário e Vitorino

19 Fevereiro 2009

Como era de esperar, quanto a autárquicas, Faro está no centro da polémica politica embora o resto do Algarve não seja paisagem. Macário entra na corrida com promessas frescas, Apolinário tenta segurar, Vitorino insiste e com isto são os indivíduos que marcam. No resto do Algarve, quem está deverá ficar a não ser que nestes poucos meses que faltam para o acerto de contas com o eleitorado cometam asneira da grossa.

É claro que Macário ao pedir ao eleitorado passaporte para Faro, não lhe interessaria apenas Faro como autarquia mas como símbolo de alguma influência regional ou de alguma referência de liderança que desgastando-se na periferia política tavirense não lhe será possível. Na verdade ninguém se converte em farense de um momento para o outro porque Faro não é uma religião, é apenas uma primeira divisão ou divisão de honra.

De Apolinário ainda não se viu aquele golpe de asa – até agora geriu uma crise confusa que tão depressa se compreende nas causas e motivos como rapidamente se deixa de perceber nos efeitos e consequências. Apesar de pertencer ao partido do poder mas partido sem profissão de fé regional que se veja e convença (Miguel Freitas está lá por Bruxelas e não é em fins-de-semana, e-mail, uns telefonemas, uma outra sessãozita e corrupios de secretários de estado que fazem uma agenda política, sendo já tarde para reaver o que o tempo levou), pois Apolinário ainda tem tempo, pouco, não para mostrar mas para prometer esse golpe de asa. Paradoxalmente depende sobretudo de si próprio porque aquilo que parece serem ajudas pode desajudá-lo.

E Vitorino, que insiste, é de facto mais uma incógnita do que um fiel da balança até porque ele não tem propriamente um ideário – tem apertos de mão. Este ritual dá votos e ninguém pode garantir quantos apertos de mão Vitorino vai dar.

Carlos Albino

      Flagrante sondagem: A esmagadora maioria dos inquiridos praticamente apenas conhece dois deputados do Algarve – Jamila Madeira (que até nem está em S. Bento) e Mendes Bota (que até nem está no Parlamento Europeu). Os restantes são tidos como deputados dos militantes sendo a militância, como se sabe, a margem de 97,3 % de erro.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

SMS 301. Boa fase para apostadores

12 Fevereiro 2009

Esta fase de crise inegável que é pretexto também para impor ou perpetrar o impensável, esta fase de dúvidas sobre o que de mais sério um Estado pode possuir e que também é oportunidade para a própria seriedade passar a ser coisa secundária, pois esta fase é uma boa fase para apostadores, sobretudo para os apostadores para quem a razão pouco ou nada diz interessando-lhes apenas o acertar em cheio para onde o poder vai pender, agindo calculadamente em função da aposta no poder. Um pouco por toda a parte, aí estão os apostadores – com visibilidade inegável nos pequenos gestos do quotidiano, mas com sabida discrição na escola, nas empresas, na administração pública e, claro, na política que, em época de crise e de dúvidas, acaba por ser a mãe de todas as apostas, e não apenas mãe mas sobretudo matriarca quando na sociedade os valores do civismo são ultrapassados pelo egoísmo e cilindrados pelo egocentrismo, pois não há egoísta nem egocêntrico que não aposte e não engrosse o sindicato tácito do oportunismo que se rege pelos estatutos da ganância. Assim foi no século passado, quando, nos anos 30, a corrupção, a usura, o descarado tráfico de influências, a repartição de mordomias por fidelidades mafiosas e o desbaratamento das coisas públicas acabaram por conclamar um salvador, qualquer salvador que fosse mesmo que estivesse ao nível da cobra a encantar os pássaros. E assim foi com o mercado negro e os negócios escuros com que fizemos a nossa II Guerra Mundial com toda a neutralidade que foi a fortuna para apostadores de êxito mas pobreza, atraso e miséria para aqueles a quem a história humana reserva sem alternativa ou o lugar de espectadores impotentes e calados ou, se julgam que têm força e falam, o lugar de livres escravos.

Com a entrada na Europa a ser vivida como perverso milagre e com a democracia a rolar como distracção adquirida, muitos senão a generalidade dos portugueses pensaram que Portugal estaria, desta vez, imune ao seu mal secular ou que, se tal mal eventualmente renascesse ele não chegaria às províncias, sendo cortado pela raiz na capital, no centro do poder por obra e graça da vacinação com Europa e democracia.

Nunca é tarde para alertar, sobretudo na fase em que os apostadores voltam a querer organizar a festa, a sua festa.

Carlos Albino

      Flagrante duelo político: Em Faro, mais do que entre partidos entre duas personalidades – José Apolinário e Macário Correia. Um e outro têm que escolher bem os padrinhos.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

SMS 300. O sítio sem nome

5 Fevereiro 2009

Portugal já começou a ser outra vez um sítio sem nome. Todos constatam com muito pesar que há corrupção mas, constatando isso, logo acrescentam de alguma maneira que não há corruptos. Todos se afirmam contra o centralismo e contra os poderes centralizadores que levam ao despotismo oculto e ao afastamento do Estado relativamente aos cidadãos mas, afirmando isso, logo garantem que não há egocêntricos no poder, nem déspotas a vários níveis sublimando na burocracia os seus complexos de superioridade, e que, assim sendo, se os cidadãos estão afastados do Estado é porque assim quererão. Todos reconhecem que há mordomias e distribuição de cargos por simpatia e conveniência e não por competência, mas, indo ao somatório dos casos concretos, da empresa municipal ao instituto autónomo de ministério, logo dizem que toda a gente é competente, com curriculum ajeitado e talhada para o múnus. Todos os que, por responsabilidade pública ou profissão de fé deveriam dedicar-se à concretização do direito e não podem fugir à verdade de que o direito não se concretiza, também não deixam de garantir que a máquina da justiça está emperrada, lenta e contraditória, mas logo a seguir, não deixam de confundir a defensável presunção de inocência com a defesa descabelada da inocência e antes de conhecida qualquer decisão de qualquer meritíssimo não deixam de afirmar que a condenação será um erro, e isto para não falar dos sabedores de direito que usam a sua ciência para ajudar a contornar o mesmo direito e as leis paradoxalmente dentro da legalidade baralhada. Todos ficam perturbados com o conhecimento dos factos mas logo a seguir insurgem-se contra a divulgação dos mesmos factos pisando no almofariz invocações de segredo de justiça e desejos confessos de censura prévia como se pisam alhos e salsa para as omeletas, mas remetendo a verdade para investigações que apenas terminam fritas no arquivamento, no esquecimento geral ou nos acordos tácitos que ninguém fica a perceber por serem tácitos. Um país assim é um sítio sem nome e onde também, desculpem lá, as regiões que se julgava terem nome também perdem o nome, pois qualquer sítio onde haja corrupção sem corruptos, onde haja mordomias sem militantes disso, onde o direito é como um deus de nome invocado em vão, e onde ao conhecimento e apuramento dos factos se prefere a omissão protectora, esse sítio não tem nome.

Carlos Albino

      Flagrante passo em frente: O projecto das Minas de Sal-gema de Loulé pelo qual há tantos anos nos batemos (designadamente aqui, no Jornal do Algarve) e que apenas o actual poder autárquico assumiu de forma clara e desabrida depois da tibieza dos anteriores, é sem dúvida o primeiro grande passo em frente do Turismo de Civilização no Algarve.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

SMS 299. Vem tudo aqui parar

29 Janeiro 2009

Não vale a pena falar dos casos porque toda a gente sabe, ouviu e tem sentido mas o pior que o mundo obscuro dos negócios incomensuráveis oferece vem parar ao Algarve. Nos últimos anos são casos atrás de casos, de onde menos se espera e quase sempre de quem é apenas conhecido nesses meios obscuros porque se não fossem os escândalos, continuariam simpáticos anónimos entre os anónimos simpáticos, e influentes ilustres entre os ilustres influentes. É claro que nem toda a gente dos negócios é assim: há, felizmente, investidores sérios, sejam estes grandes, médios ou pequenos e que se incomodam tanto ou mais que o cidadão comum com essa gente que aqui vem parar, sabedores da falta de escrutínio dos seus procedimentos, usufrutuários da lassidão política e jogando com uma justiça que deveras não funciona ou pela lentidão ou pela intervenção de uma legião de consultores preparados não para a concretização da justiça mas para ajudar a quem pretenda ladear a lei dentro da legalidade porque esta é a questão – a questão das escapatórias, matéria em que muitos portugueses ganhariam o Nobel se houvesse Nobel para peritos em escapatórias. Aliás, saber manejar as escapatórias já se transformou em honestidade e melhor maneja mais honorável já é, muito embora essa honestidade escapada e essa honorabilidade de mafarrico vá comendo a democracia como o bicho da madeira come a madeira e transformando a política naquele pó que nem serradura é.

O caso de Bemba, por exemplo, excedeu as marcas. Foi dado asilo a quem agora mesmo, nas masmorras de Haia, está formalmente acusado pelo Tribunal Penal Internacional, interrompida que foi a sua vivência no paraíso da Quinta do Lago, vivência essa que não foi por acaso, como não terá sido por acaso que aqui veio parar.

O mal do Algarve é que há por aí muita gente que não é algarvia, não se fez algarvia e a quem o Algarve não lhe interessa rigorosamente para nada a não ser o mundo obscuro das escapatórias. Vivem e actuam num Algarve aparte, embora se cruzem connosco anónimos, simpáticos e influentes.

Carlos Albino

      Flagrante portento: É dos dicionários – portento diz-se de quem é extraordinariamente talentoso, inteligente e capaz. Foi o caso de Luís Vicente no seu desempenho na peça «O Presidente» levada à cena no Teatro Lethes e que alguns não tiveram a paciência de esperar. Oh santo deus! A cultura espera-se!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

SMS 298. É a fase da propaganda

22 Janeiro 2009

Se alguma coisa há com a qual a democracia não ganha nada, antes pelo contrário perde, é a propaganda – a tal, a enganosa, sendo que, em política, a propaganda raramente deixa de ser enganosa. E, pelo andar da carruagem, era já de prever que, com a aproximação destas eleições, entraríamos na fase da propaganda. O achincalhamento do debate, da crítica e do diálogo, a «morte civil» dos que não se prestam ao exercício laudatório, a criação de várias polícias desfardadas a propósito de modernizações aqui e ali que não passam de bazófias, e o estímulo a que chefes passem a chefões e chefinhos se armem em chefes numa hierarquia que volta, neste país, a dissimular a falta de inteligência com o exercício discriminatório dos poderes e com a exibição da capacidade de provocar temor, tudo isto acaba por garantir impunidade aos propagandistas.

Vem isto a propósito da regionalização.

Até há pouco, melhor, até antes da crise, o argumento máximo dos que afastaram a regionalização como o diabo da cruz, foi sempre o argumento de que o Estado não tinha condições, designadamente económicas, para concretizar essa finalidade. Agora que ainda não se atingiu o pino da crise nem se sabe bem qual será a altura do pino, os mesmos prometem e anunciam o propósito da regionalização como bandeira eleitoral. Ainda assim, seria de dar umas résteas de crédito se esses tais mesmos tivessem feito alguma coisa pela regionalização, nomeadamente por via da desconcentração de poderes que não seja mera criação de empregos para a clientela, e, claro, por via da descentralização de competências sobre as matérias que não sejam para inglês ver. Mas não, pelo contrário – confundiram a autoridade conferida legitimamente pelo voto com o autoritarismo impante que manda o voto às urtigas.

Ora, autoritarismo pré-nupcial e propaganda em dia de boda, dão em mau casamento.

Carlos Albino

      Flagrante constatação: A ministra da Educação, afinal, sabe menos que uma criança de 10 anos, e o ministro da Economia, afinal também, sabe mais que um Nobel de 71 anos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

SMS 297. Há gente a gozar o prato

15 Janeiro 2009

O caso não é geral mas volta e meia repete-se. Refiro-me aos serviços técnicos de câmaras que tutelados pela política acabam por tutelar a política gozando o prato. Arquitectos, engenheiros e alguns desenhadores correlativos estão metidos nisso – não todos, repete-se, nem sequer a maioria, apenas aquela minoria de sabidos como as há em todas as profissões «técnicas» que amarram o contribuinte e o eleitor aos pareceres «técnicos» elaborados com aquela lentidão que não mata mas mói, ou segundo critérios díspares que variam de cabeça para cabeça e conforme o interessado é Sua Excelência ou aparentemente arraia miúda. Já nem me refiro aos conflitos de interesses que, aqui e ali, aparecem não tão evidentemente como outrora mas dissimulados, talvez melhor dizendo, camuflados, procedimento que tem seguramente êxito numa sociedade onde a regra é a de cada um que se governe. O pior que as autarquias têm passa por aí, não se registando iniciativa autónoma de monta no que toca à transparência e no combate à pequena corrupção a qual, no somatório, até consegue ser maior e pior que a grande.

Vem isto a propósito de um daqueles casos que não fazem notícia nos jornais, mas repete-se. Determinada pessoa pretendeu abrir uma pequena e modesta casa de venda de pão. Alugou casa, fez obras na conformidade da lei, dirigiu-se aos serviços municipais para obter o licenciamento. Para uma simples padaria, os ditos serviços, passados oito meses, não tinham ainda elaborado o parecer necessário para a decisão… Claro que a dita pessoa desesperou, denunciou o contrato de arrendamento, perdeu tudo o que investiu, desistiu, nem quer ouvir falar dos serviços técnicos municipais da sua autarquia. Oito meses sem um não, sem um sim, sem uma resposta qualquer, é de facto demais. Não se trata de um PIN, de uma grande superfície, de uma urbanização de enchido e cozido, tratava-se apenas de uma pequena casa para venda de pão, portanto coisa pouco para comover tecnicamente os serviços técnicos que assim procedem confiados que o anonimato os protege das consequências da lassidão e que a arraia miúda não os põe em sentido como alguma Sua Excelência os poderá pôr. O caso não é geral, mas repete-se e é assim que, aqui e ali, os «técnicos» vão tutelando a política quando querem e quando lhes apetece gozar o prato.

Carlos Albino

      Flagrante dificuldade: O prémio SMS de Jornalismo que não é de atribuir por atribuir, relativamente a 2008 que passou, não é atribuído – a crise também passa por aí.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

SMS 296. O 17.º concelho algarvio

8 Janeiro 2009

Acintosamente, os que não têm um rasgo de cultura que não seja o da cultura popular contra o Povo (com ajuda das televisões, nomeadamente a pública, que mais parecem fossas livres porque vai lá tudo parar) chamam à Orquestra do Algarve o 17.º concelho do Algarve. Mas, fora o acinte, acertam na designação – a Orquestra do Algarve não só é o 17.º concelho, como é um governo civil para os devidos efeitos mais útil do que o do Arco da Vila de Faro, e que quisermos dizer coisas sérias a brincar a orquestra já mais alta que o pico da Fóia, tem oito estrelas que nenhum hotel possui e tem mais oiro que o oiro que o senhor ministro Pinho consegue ver em cada allgarve de golfe e apesar de parecer custar muito, vejam só, custa um centésimo dos cães de luxo do Algarve juntos que andam por aí sem propriedade responsável a conspurcar as ruas e a passear os donos. E fora de brincadeiras, mal do Algarve, da Cultura do Algarve, se perde a sua orquestra que, sem território, é o seu melhor concelho. Irreprimivelmente, senti-me forçado a escrever estas linhas, terminado o concerto-espectáculo Diabolus in Musica em Portimão (com a magnífica Banda Osíris), naquele teatro municipal que com justiça deve encher Manuel da Luz de orgulho. Corrijo: de brio.

É claro que no interior da orquestra terá havido reivindicações excessivas, alguns exageros para os tempos que passam que saltaram cá para fora do contexto e com fífias. É claro também que a orquestra ainda não conseguiu colocar a olhos vistos no elenco gente da terra, para que seja mais Orquestra do Algarve e menos Orquestra no Algarve, mas isto são outras contas – são contas da casa e muito há a fazer, só quem já está no paraíso é que nada terá nada à frente para fazer. É claro também que falta no Algarve uma vontade explícita de levar o público até junto da Orquestra, sobretudo o público que desejaria ir e não pode, acontecendo isto até quando a orquestra se desloca contratualmente com o propósito de ir ao encontro do público. Nisto, algumas juntas de freguesia, responsáveis pelo que do pior provincianismo confessional o Algarve tem, parece que preferem patrocinar ou apoiar excussões a Fátima ou mesmo a Santiago de Compostela, porque Roma daria muito nas vistas e os velhotes que contam para os votos calculados não aguentariam a estafada. Mas também estas são outras contas.

Carlos Albino

      Flagrante ponderação: O habitual prémio SMS de jornalismo, atribuído anualmente por altura dos Reis, está a ser ponderado. Será revelado na próxima semana.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

SMS 295. Este 2009 que aí está

31 Dezembro 2008

Assim como nos anos das vacas gordas, a política no Algarve não passou do «esperemos que isto passe para se ver no que isto vai dar», também não é agora em tempo de vacas magras que a atitude política se vai alterar. Assim, no silêncio calculado dos que vivem da política e dela, quase mecanicamente, recebem as benesses e o salário de prestígio social, este 2009 que aí está e que envolve eleições, aquela regra vai ser de ouro, e todos esses vão esperar que isto passe para ver no que vai dar. Na verdade, quando a política é tomada e vivida ou manipulada, ao mesmo tempo, como causa e efeito, quem arrisca não petisca,. e quem não arrisca, pela certa petisca. É claro que, há uns anos, estaríamos longe de imaginar que a democracia daria numa situação que não passa de jogos de interesses – interesses pessoais ou interesses organizados de grupo, tanto faz, em que os eleitores e contribuintes apenas existem, não para serem ouvidos, atendidos e servidos pela política para melhor, mas apenas para legitimar a vitória dos que por aí andam a esperar que isto passe para se ver no que vai dar.

Teremos, pois, autárquicas, europeias e legislativas. Nas autárquicas, na maior parte dos16 casos do Algarve, voltará a ganhar que ganhou, pelo que as oposições locais andam a desencantar quem possa perder sem grande transtorno, mesmo com recurso a quem foi exonerado da política ou que há muito a política devia ter demitido. Não há ninguém que a troco de um lugar certo de deputado que é o maior petisco, arrisque uma derrota autárquica. Nas europeias, nem se sabe se o Algarve terá algum lugar «elegível», como se diz no jogo em que a democracia se transformou, em todo o caso parece que há lugar cativo e o esforço para essa marcação foi notório. Nas legislativas, salvo algum autarca de relativo êxito provinciano que tenha sonhado ou mesmo reivindicado um voo mais alto para S. Bento, as máquinas partidárias têm obviamente os nomes na calha, pelo que gentinha cá de baixo só é ouvida para não se dizer que não foi escutada – fica quem estiver de alma e coração na situação porque de situação se trata por muito que custe a quem jamais esperaria que a democracia desse em situação.

Carlos Albino

      Flagrante expectativa: As contas e resultados dessa coisa do Allgarve que foi a maior asneira do Ministério da Economia Cultural ou da Cultura Económica, como queiram, pois misturar cultura e economia é regra de qualquer situação.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

SMS 294. O respeito pelas religiões

24 Dezembro 2008

Os poderes públicos devem obviamente respeitar a igualdade entre religiões, não lhes cabendo dizer se a crença professada por uns é melhor que as outras. E esse respeito é independente de uma crença ser aparentemente maioritária relativamente a outra. Se uma determinada religião é reconhecida e não colide com a Constituição e as leis, não cabe aos poderes públicos professar, pois cada um é livre de professar o que entender ou de não professar nada. Os poderes públicos não podem nem devem quer hostilizar uma determinada religião ou os seus agentes em função desta, como também não podem nem devem privilegiar alguma religião mesmo que os seus agentes gostem.

Ou pela aproximação das eleições, ou para alicerçar «imagem política», ou até a pretexto de «apoio cultural», o certo é que os poderes autárquicos, aqui e ali, vão fazendo das suas pondo em crise preceitos da convivência democrática mesmo que ninguém levante cabelo. Um exemplo, o que por vem nas agendas municipais em matéria de cultos com a prestação de informação certamente adequada e legítima num boletim ou num jornal confessional mas que de forma privilegiada e exclusiva não tem cabimento. Se por hipótese, tais agendas municipais prestassem informação relativa a todos os cultos professados no território autárquicos, enfim, ainda seria um critério embora se duvide que em terras pequenas como as do Algarve, os crentes sejam assim tão desleixados que precisem da agenda do município para o cumprimento dos deveres religiosos e onde fica o templo para esse exercício. Mas não, a religião para tais autarquias parece ser só uma e mais nenhuma, e nesta observação não há qualquer interesse em representar religiões eventualmente lesadas não se sabendo também se alguma se queixou. Apenas um exemplo, porque há mais e até exemplos com água no bico.

As religiões, a começar pela dominante, dizem-se apolíticas e só lhes fica bem. Mas já fica muito mal aos poderes públicos construídos e constituídos pela política deixarem-se levar por confessas simpatias por uma religião em detrimento das restantes, deixando sugerir uma proximidade promíscua que não ajuda deus nem mata o diabo, porque apenas visa o voto dos anjinhos.

Carlos Albino

      Flagrante drama: O do alcoolismo no Algarve.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

SMS 293. A Imprensa livre, bela prenda

18 Dezembro 2008

Numa democracia – é bom repetir – a Imprensa livre e isenta é a melhor prenda que uma sociedade pode ter ao longo do ano e não apenas pelo Natal que precede eleições. Livre e isenta – é bom repetir. E como não há liberdade sem responsabilidade (sem esta responsabilidade é melhor que não seja prenda) é evidente que a Imprensa livre é um pequeno reduto se os irresponsáveis forem a maioria. Já quanto à isenção, costumam os pensadores de café argumentar que não é possível Imprensa isenta, mas é – a Imprensa é isenta se tiver o fito do bem comum e perderá cada vez mais a mesma isenção se tiver em mente apenas o interesse geral, sabendo-se que o chamado interesse geral não passa da imposição dos interesses particulares dos mais fortes em detrimento dos interesses dos mais fracos. Para ser isenta, a Imprensa terá que escrutinar em cada momento, do grande título de primeira página à vírgula da necrologia, se está a servir o bem comum ou o interesse geral. Aliás, compete à Imprensa ir dizendo o que lhe parece ser bem comum, ainda que correndo o risco do erro e submetendo-se com humildade ao dever de reconhecer quando erra.

Estafadamente vai para 35 anos, e com isto quase duas gerações, que o país andou a zurzir contra a censura prévia da ditadura e ainda zurzem como se isso existisse mas dando jeito para descargo de consciência. Ora quem viveu e lidou frontalmente com essa censura prévia, tem alguma legitimidade para afirmar que numa democracia há o equivalente, se não até pior: é a condição prévia. Um regime autoritário impõe a censura prévia para impedir a democracia; numa democracia, quem submeta a Imprensa à condição prévia está a chamar pelo regime autoritário como o pastor chama os cães com belos assobios.

Muitos ou bastantes sabem do que estou a falar. Os restantes sabem mais do que aquilo que aqui deixei esboçado. Por ora. Esboço é esboço.

Carlos Albino



      Flagrante inversão de papéis: O dos políticos que não usando, como devem, a tribuna própria para a qual foram eleitos, se convertem em colunistas, cronistas e até já se conclamam de jornalistas!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

SMS 292. Estragam isto

11 Dezembro 2008

1. A profissão de deputado. Bastou aquele 31 da votação sobre a avaliação dos professores para levantar a lebre: as faltas dos deputados duplicam à sexta-feira (devem triplicar nas sextas antes das pontes) pelo que neste ano de 2008 já perto do final, tais faltas vão em quase 700. E curioso, as ausências são justificados com «trabalho político».

Não se questiona o «trabalho político», compreendendo-se agora (no caso do Algarve) a razão pele qual, volta e meia, há deputados a queixarem-se dos jornais não falarem deles e dos seus «trabalhos políticos» e apenas referirem o trabalho político de um ou outro como se falar de quem trabalha fosse conceder privilégio. Naturalmente que uma coisa é a justificação da falta no parlamento e outra é o pretexto, mas daria um grande jeito os jornais documentarem a presença de Suas Excelências em notícias tão importantes como esta: «Nesta sexta-feira x, o deputado Y deslocou-se à Ilha de Faro para constatar in loco o nível de subida do mar, rumando depois para Albufeira para constatar a qualidade do peixe grelhado.»

Relacione-se isto com a recusa ou escusa de alguns deputados profissionais em se candidatarem nas próximas autárquicas e teremos a chave da justificação para as autárquicas e dos pretextos para o parlamento. Estragam isto.

2. A profissão de banqueiro central. E pasma-se quando se fica a saber agora que Vítor Constâncio, pelo comando do Banco de Portugal, recebeu em 2007 18 vezes mais o rendimento nacional por habitante e está entre os banqueiros centrais mais bem pagos do mundo, quando o seu salário é ponderado pelo rendimento per capita – recebe 250 mil euros por ano. Não se exige que o governador banco central seja um frade franciscano descalço, mas como se compreende que ele, num país onde os ricos são cada vez menos pobres e os pobres cada vez mais miseráveis, ganhe mais do que o seu colega norte-americano que leva para casa escassos 140 mil euros/ano?

Outro profissional a estragar isto.

Carlos Albino

      Flagrante buraco financeiro: A banca portuguesa, de Janeiro a Junho portanto antes da crise financeira - , lucrou cerca de seis milhões de euros por dia, pelo que ganhou mais de mil milhões de euros e mantendo elevados os custos operativos. Então porque é que não estava a banca preparada para enfrentar a crise e teve que pedir ao Estado que tratou como Maomé e a quem só ofereceu toucinho? Estragam isto.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

SMS 291. Regionalização e professores

4 Dezembro 2008

1. Regionalização. A guerrilha institucional a propósito do Estatuto dos Açores cai mal. E cai mal porque o mesmo governo que fecha as portas à regionalização administrativa no continente é o mesmo que estimula ou rubrica a cada vez maior autonomia política das regiões insulares, num descompasso despropositado e inaceitável. Não se sabe quem irá pagar os custos gravosos desta continentalização onde as disparidades da distribuição da riqueza são evidentes, mas não é justo que os pobres cada vez mais pobres paguem os custos da insularidade. Chega-se, por exemplo, ao ponto de, para a nomeação de coordenadores do ensino na América do Norte, ser na prática a secretaria regional de educação dos Açores a fazer, na prática, as nomeações, apenas porque os Açores têm lá emigrantes, sendo esse um assunto de estado – o Algarve, as Beiras e Trás os Montes também lá têm emigrantes.

2. Professores. Do 8 caiu-se no 80. Sem que se tenha feito uma avaliação serene e séria das razões e motivos do divórcio da escola relativamente à sociedade, estendeu-se o dedo aos professores, e, na prática apenas contra os professores. Mais grave: em vez de se estabelecer um sistema de avaliação de desempenho por via do qual a escola e a sociedade ganhassem de vez confiança recíproca, optou-se pela via mais pérfida que em Portugal pode existir e que é a da criação de um policiamento de matriz corporativa, com professores convertidos em polícias dos seus colegas. Naturalmente que por entre os que a isso se prestam, sabe-se que a sua maioria descamba para os actos de sediciosa vingança. E o resultado está à vista: professores da melhor água estão destroçados na carreira e nas suas vidas pessoais, vítimas desta Mocidade Portuguesa tardia mas persistente na mentalidade daqueles para quem a finalidade vencedora da vida está nos despojos ganhos em guerras de secretaria.

Dois assuntos de fábula que mostram como a democracia potencialmente pode eleger ditadores, os grandes e os pequenos. Naturalmente que não estamos ainda em risco de eleger um grande (ainda não foi convocado um plebiscito) mas os pequenos aí estão a pulular. E pululam nas escolas.

Lamentável.

Carlos Albino

      Flagrante advocacia: Ainda não se viu sinais de debate da transparência e da responsabilidade perante a Sociedade que assiste calada à querela corporativa interna. Lamentável também o baixo tom das palavras a que se chegou de parte a parte.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

SMS 290. Há um Plano B?

27 Novembro 2008

Tempos difíceis vão vir, mas não desejamos, ninguém deseja que o pior possa acontecer para a actividade que se converteu no principal suporte económico do Algarve e para as actividades conexas ou que andam em órbita do turismo. Mas, ainda há bem poucos anos ninguém pensaria que uma crise financeira a ditar uma crise económica pudesse, com persistência, abalar o sistema adoptado à confiança pela generalidade dos países, a ponto de se terem tolerado como inofensivos os paraísos fiscais cujo relativo controlo, apenas desde há uns cinco, sete anos se revelou ser necessário no que toca a operações ilícitas e ilegais, as quais foram sobretudo atravessando os negócios imobiliários.

É sabido que, com poucas excepções, os grandes e verdadeiros proprietários das redes e unidades turísticas que operam no Algarve, não estão no Algarve nem sequer no país – estão fora. Por aqui mantêm delegados, com a categoria de directores mas sem grande ou mesmo sem nenhum poder de decisão autónoma para as questões de fundo, e, quando muito, representam. Enquanto o lucro for evidente, tudo correrá bem ou mais ou menos bem. E se o lucro desaparecer? Pois se desaparecer, é claro que vão-se os anéis e ficam os dedos.

Só agora por aí se começa a fazer estudos previsionais com bases credíveis e seriedade, os sinais de perigo até nem são alarmantes, os recuos podem ser recuperáveis mas tudo depende de factores que ninguém isoladamente controla e que mesmo em conjunto também ninguém pode controlar, mesmo que continue a haver magnífico sol, esplêndido mar, praias de sonho, ouro a olhos vistos nos campos de golf e… infra-estruturas.

Ora, já devia haver um Plano B para a região porque o salve-se quem puder, com o peso e a dependência que se gerou, não vai salvar ninguém. Não desejamos, ninguém deseja, mas a prudência aconselha a que não enterre a cabeça na areia.

Carlos Albino

      Flagrante ilusão: Duelos pessoais que não chegam a escaramuça e muito menos a batalha, e «guerras políticas» declaradas ou travadas artificialmente, não enganam a ninguém mas iludem muita gente.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

SMS 289. Diálogo totalitário


20 Novembro 2008

É inevitável falar desta questão que opõe os professores à ministra da Educação, com a sociedade a assistir atónita a este duelo em que a política, mais uma vez, se está a desprestigiar. E o que choca, no meio de tudo isto, é o fingimento de diálogo ou, para mais precisão, a cultura do diálogo totalitário que é a erva daninha da democracia.

A ministra da Educação mais não é do que o cúmulo do que tem vindo a acontecer ao longo de anos, da parte de numeroso grupo de políticos que jamais se deram ao trabalho de se auto-avaliarem, desde o recôndito presidente de junta ao mais alto magistrado. Na verdade, fomos ouvindo da boca desses políticos aquele frase já corriqueira do «Estou aberto a todas as críticas…» apenas para dissimular a prepotência, o autoritarismo, e muitas vezes até para dissimular práticas que roçam o crime público, como o abuso de poder. Então, nos pequenos meios em que não há bases de anonimato social, essa cultura de diálogo totalitário tem sido um a ver se te avias. Não são raros os casos em que o cidadão que critica de forma correcta é considerado como inimigo público – o que sendo aberrante em democracia, destrói a democracia ou a converte em mero exercício formal. Pior ainda quando à crítica se segue a represália como castigo, aquela represália de que a vítima não pode apresentar queixa porque há represálias que caiem do céu e sem provas, como é típico da cultura política totalitária que, não haja dúvidas, pode existir debaixo dos tapetes da democracia. Daí que cada um se feche em casa e sem que se note se gere um clima de medo na expressão pública das ideias que não sejam as de louvaminhas, encómios e elogios ao líder que para se justificar como líder, ainda assim, continua a repetir que está aberto a todas as críticas e vai o todos os sítios simulando ouvir todos não escutando ninguém tal como o coronel na parada em hora de ordem unida.

Estou em crer que larga percentagem de professores, detidos pelo medo da crítica, têm as suas vidas familiares destroçadas e as relações sociais desfeitas em grande parte, na obediência a esse desiderato de ordem unida a que a ministra se devotou aplicar nas escolas. E se vão à manifestação em Lisboa, não é porque o sindicato seja afecto a isto ou àquilo, mas apenas porque a manifestação é a única base de anonimato em que se podem expressar. É o escape ao qual a ministra, obviamente, destina total desprezo como é próprio do diálogo totalitário.

Ora este tipo de diálogo pode funcionar ou sobreviver com um presidente de junta ou mesmo um presidente de câmara; com um ministro, não, se ele não perceber o momento do ponto sem retorno.

Carlos Albino

      Flagrante falta de princípios: A dos partidos para os quais, à medida que as eleições se aproximam, vale tudo e até arrancar olhos. Não bom exemplo, nem erradicam a cegueira.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

SMS 288. Liderança de quê?

13 Novembro 2008

O presidente da Câmara de Olhão, Francisco Leal, vem dizer que os autarcas do PS não vão apoiar Macário Correia para a «liderança» da Comunidade Intermunicipal do Algarve, se o actual presidente da AMAL for designado pelo PSD para essa posição de controle da estrutura sucedânea da área metropolitana. E quanto a justificação, Francisco Leal avançou com o reparo de Macário Correia «só pensar na sua promoção pessoal e na promoção do seu partido».

Primeiro. Não é que Francisco Leal não tenha razão para tal afirmação, porque tem, mas não disse o resto. E o resto é que não há nenhum, dos restantes 15 autarcas algarvios (Francisco Leal incluído) que, de uma forma ou de outra, apenas não pense na sua promoção pessoal e na do seu partido – obviamente que não podem pensar na sua despromoção e na despromoção do partido. Basta ver a página dois ou página três das agendas, boletins e folhetos municipais. Macário Correia, nisso, não é excepção.

Segundo. Se a justificação da «purga» de Macário Correia fosse a de que a gestão desta na AMAL foi errada ou errática, apagada ou para apagar, incapaz ou parcial, sediciosa para os interesses da conclamada região ou permanente excepção do pensamento geral, bem!, teríamos matéria para discussão, e além disso pretexto para se indagar de quem ou de quais os partidos dispõem que não sejam erráticos, borrachas de apagar, sediciosos e de calculada excepção comportamental no ponto de vista político.

Terceiro. Mas que liderança para a imperativa Comunidade? Poder-se-á falar de liderança? Há quem pense que não se trata de liderança mas de controle. Quem vai estar à frente da estrutura não pode ser líder, mas sim controleiro e tem que, à partida dar garantias de poder ser bom controleiro. E aqui é que bate o ponto que é o ponto. Havemos de voltar a falar do ponto. Temos tempo.

Carlos Albino

      Flagrante tiragem: A da edição, prometida por Mendes Bota, com as intervenções no debate sobre “A Ferrovia, o Algarve e a Europa”. Que sai do prelo depressa e, se possível, online para sinopses ou algumas por inteiro.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

SMS 287. Câmaras e deputados

6 Novembro 2008

Numa democracia, a primazia é ou deve ser da política, e mal vai uma democracia quando a política é ultrapassada na definição e salvaguarda da coisa pública, pelos interesses privados ou particulares (sejam eles de ordem forem) organizados perversamente não tanto contra a política, mas para a subjugar discretamente, a controlar sediciosamente, a orientar premeditadamente, a condicionar compulsivamente.

Numa democracia a sério, esta terá ou deveria ter instrumentos e mecanismos de refreio dos interesses que, não sendo à partida contra a política, retiram a esta a primazia, mas que anulando-a, aqui e ali, até granjeiam a fama de a reforçar a «política activa» na proporção directa das vantagens e favores que da política retiram. Daí que aconselhem a política e políticos a neutralizar escrutínios e a fugir destes como o diabo da cruz, o que conseguem e não é difícil quer dentro dos próprios partidos (desde a anestesia de aviso até ao que se poderá designar por assassinato político), quer nas avenidas largas da crítica que uma sociedade democrática deveria assumir como artérias principais e não como becos ou travessas para onde se remetem esses recalcitrantes e maldizentes dos entendimentos que correm à boca calada ou, para efeitos de debate público, disfarçados em linguagem que ninguém que deveria entender, entende.

Tem isto muito a ver com a corrida às câmaras, aos parcos lugares de representação no parlamento com que o Algarve conta, e ao que pingar do próximo governo a ser eleito ou de como tal governo resultar, corrida que começa agora. Obra feita ou obra que ele não foi capaz de fazer e eu sou, parece ser o refrão da disputa para as câmaras, refrão que já sobra para as juntas de freguesia onde o emprego político, pelos vistos, já se revela bom, tornando obsoleto a outrora invocada abnegação pela causa pública. Para os deputados, a coisa será mais complicada sobretudo para os que procuram segurar o lugar – é que decorrida uma legislatura, não se viu que tenha saído dos representantes com poder mas possivelmente sem grande influência, um projecto mobilizador da região, uma ideia sólida que torne o futuro do Algarve sinónimo de esperança. Projectos, sim, têm havido mas do deus-dará, e ideias, também sim, mas sem originalidade e gravitacionais do poder central. Duvida-se é se, no terreno, há quem também esteja mobilizado para pedir contas ou não tenha medo de as pedir. Sim, medo.

Carlos Albino

      Flagrante questão: Acredita-se que diminuiu o número de desempregados inscritos. Mas o que é que isso tem a ver com o número de desempregados não inscritos, sem falar da ausência de dados fiáveis e actualizados à data, sobre aumento, estabilização ou retracção da população activa? É que os números dão para tudo e as palavras alguma vez têm que ter ponto final.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

SMS 286. A entrevista do primeiro-ministro

30 Outubro 2008

José Sócrates falou de regionalização, na ciclópica entrevista para o DN/TSF e referiu-se a uma coisa chamada «maturidade» como condição para um governo seu avançar nesse processo. Com «maturidade» sim, sem «maturidade» não. E se em 2005, ele remeteu o assunto para depois de 2009, agora expressa a vontade e intenção de apostar na regionalização, mas sem se comprometer com datas – apenas com a «maturidade».

Mas «maturidade de quem? Do estado? Do governo? De cada uma das regiões? E se uma região que seja se revelar imatura, as restantes maduras terão que deixar a maturidade a fermentar? Sócrates não descreve o que, neste caso, deva ser a «maturidade indispensável» mas deixa sugerido que ela terá a ver muito com a desconcentração e que uma desconcentração perfeita ou razoável possa ser sinónimo da tal maturidade. E é nessa desconcentração administrativa do País que disse e reiterou estar empenhado neste mandato perto do fim.

Bem! Quanto à desconcentração, de acordo. Sempre aqui dissemos que se é a meta da regionalização que se marca como ponto de chegada, aí a natureza também não dá saltos, havendo degraus a cumprir por todos – pela administração e pelos administrados. Primeiro, desconcentrar serviços públicos; segundo, descentralizar comandos, e, por fim, a tal «maturidade» para a regionalização com o uso dos instrumentos democráticos do sufrágio para escolha de quem vai usar dos poderes regionais – problema que, por ora, não se coloca. Por ora, o problema é apenas o da «maturidade» do Estado na desconcentração e nos esboços de descentralização que está a fazer e como a faz.

Todavia, se a meta e a intenção é a da tal regionalização com maturidade, não há desconcentração nenhuma com o Estado a nomear pretores para as regiões, gente desligada ou gente que apenas está ligada por dois ou três negócios, por uma ou duas mordomias ou por uma sinecura, portanto gente que está por aqui mas continua com alma fora, que não pode dizer que o Algarve é «a minha terra» para o que não é condição ter berço aqui, enfim gente que à falta de poiso no Norte ou no Centro encontra um bom sítio no Algarve, não por opção mas por emprego político ou alguma conveniência pessoal que é antípoda da «maturidade» que Sócrates coloca como condição para a regionalização.

Pelo que clamorosamente se verifica no Algarve, o Estado está a revelar-se imaturo na desconcentração que diz fazer – nomeia gente como no quartel que em Tavira havia, se nomeava o oficial de dia e por turnos. No Algarve, é o Estado que tem sido imaturo.

Carlos Albino

      Flagrante prova dos nove: Seria um debate público, directo, cara a cara, entre Mendes Bota e Miguel Freitas sobre o Orçamento de Estado e implicações para o Algarve. Com tais figuras, teríamos o Teatro das Figuras repleto e possivelmente ficaria gente de fora.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

SMS 285. A fase do deixa-andar

23 Outubro 2008

Parece que vingou a regra do deixa-andar. Como se viu a propósito da RTA, apenas os nomes é que estiveram em causa, o 31 contra o 27, ninguém ficou a perceber bem que projecto, que ideia a fundamentar o projecto, que visão a fundamentar a ideia, que desígnio a justificar a ideia, no fundo, o que é que se quer ou se pretende para estas tristes quatrocentas e tal mil pessoas, para além das afirmações triviais, gastas e sabidas – ficaram portanto nomes em confronto e uns ressaibos para animar a cena, o que é muito pouco.

E não admira que assim seja. A política algarvia dá o tom – pobre de ideias, avessa ao debate, sem desígnio, sem projecto, sem ideias, sem visão que não seja a do feudo. Apenas nomes, dois três quando muito, cada um fugindo do outro mas à espera da roda da sorte eleitoral, é que parece sugerir que ainda há política, política algarvia. Se um defende com generosidade e até acutilância algo que se aproxime de um desígnio, o outro diz que defende o mesmo, se não melhor, sem explicitar bem o que defende, e o debate esvai-se, ficando um a falar sozinho e o outro a fingir que continua a falar na companhia de reservados. É o deixa-andar.

É claro que deste deixa-andar, as primeiras vítimas serão os próprios profissionais da política. Nas autarquias, porque os decisores eleitos estão atados pelos decisores efectivos que não são eleitos e que, em nome de critérios sobejamente técnicos, mais não fazem do que decidir em função de interesses que fogem da política e que vergam a decisão política. No parlamento, porque o eleitor, o cidadão comum, cada vez percebe menos porque é que há um círculo eleitoral pois quem representa, de facto exerce a política, mas não faz política apesar das aparências da actividade que o dever de oposição determina. E das instâncias delegadas, desconcentradas ou «regionalizadas» como para bom-tom se diz, nem se fale, porque, aí, a sobrevivência nos cargos pia mais fino – apenas candidatos a mártires arriscam, e até os mártires estão a desaparecer, porque não há mártires no deixa-andar.

E perante isto, até talvez seja melhor escrever sobre os passarinhos, coitadinhos, que fazem seus ninhos nos beirais, criando os filhinhos e fazendo enxovais no seu deixa-voar, etc, etc… Até se escreve melhor, é menos incómodo e proporcionará que cada político que encontre o autor, lhe dê uma palmada de júbilo nas costas e diga, aí sim, alto e bom som: «Grande prosa! A democracia precisa é disso!».

Carlos Albino

      Flagrante descoberta: Essa, a de que os comboios no Algarve dão prejuízo. Sem ligação a Espanha e sem perceber que um Algarve sui generis cresceu para outros lados, o que é que o dono dos combiois queria?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

SMS 284. Invocar a crise…

16 Outubro 2008

E anda bastante gente a invocar por aí a crise para o que lhe convém. É verdade que há crise, embora a crise de cada um dos portugueses, no seu dia a dia, seja hoje praticamente igual à de cinco, dez, vinte anos atrás… Dos portugueses, na sua maioria. Porque há, de facto, uma minoria de portugueses que, ao invés dessa maioria, apenas entra em crise quando lhe convém – e que boa oportunidade não é esta, para essa conveniência de atemorizar e tanto mais enquanto é tempo. Esta gente invoca a crise como os crentes hipócritas invocam deus – invocam o santo nome da crise em vão.

Crise no Algarve haveria e de que maneira, se de Londres ou de Zurique fossem dadas ordens para encerrar hotéis da cadeia (poucos há fora da cadeia); se não fosse anunciado novo e ainda maior hipermercado depois de inaugurado um outro tido maior do que o da véspera embora todos eles se designem por «grandes superfícies»; se o golfe deixasse de ser ouro, como diz Manuel Pinho; se os casinos deixassem de alimentar o vício do jogo ruinoso para alguns calados da tal minoria que no dia seguinte se queixam da crise perante trabalhadores e credores; se as câmaras deixassem de fazer o inadmissível mas fazem porque vêm aí as eleições (a crise, para algumas câmaras gastadoras até dizer basta, só virá depois das eleições, vão ver); enfim, crise grave haveria se a Política (letra maiúscula, a das ideias e a do debate crítico, não confundir com a política minúscula, a dos cálculos e empregos) não continuasse à espera do dono, na secção de perdidos e achados da PSP de Faro, e por aí fora.

Naturalmente que a crise, a crise financeira internacional provocada por uns tantos anónimos internacionais que não deveriam ficar impunes por terem procedido na floresta do sistema como os predadores na Amazónia, é um facto e que era esperado – seria difícil admitir a vigência das leis da selva no centro da civilização. Mas uma coisa é a crise desses índios e os seus reflexos em Wall Street e nas praças de Londres, Zurique e Frankfurt (o resto é paisagem) e outra é o pretexto da crise usado com desfaçatez no Cachopo ou em Marmeleite. Não chega lá.

Carlos Albino

      Flagrante constatação: Isto a propósito - o pior dos paganismos, o paganismo repulsivo, é o que entra pela igreja adentro.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

SMS 283. Apenas da maior importância

9 Outubro 2008

Há conferência em Faro, dia 18. Não é para bajulices, para atribuição de medalha, para encómio de governante ou escárnio de opositor. «A Ferrovia, o Algarve e a Europa», chama-se. É o PSD a organizá-la, podia ser outro, nem interessa porque o que interessa é o tema. E com os protagonistas certos – o ministro que acordou com os espanhóis, em 2003, o calendário do TGV português, onde o Algarve contava (Carmona Rodrigues), o coordenador da CP no Algarve (Luís Alho), o coordenador do Grupo Técnico para o Estudo da Mobilidade (Pinheiro Henriques), o presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário (Arménio Matias) e, compreensivelmente, as vozes que o PSD, sendo anfitrião, tem para o caso - para além do líder regional do partido, Mendes Bota, o deputado Jorge Costa e o presidente da AMAL, Macário Correia, e com isto lá se vai já metade do espaço para este apontamento. Mas que o tema é da maior importância, é, num tempo em que o ministro Mário Lino fala 17 horas e meia para compensar o Oeste de um aeroporto que nunca existiu, e reserva para o Algarve quatro minutos e dois segundos, sendo dois desses minutos para falar no Algarve sobre o Oeste. Metáfora, claro.

É verdade que para o Algarve nunca esteve previsto um TGV mas apenas um comboio de alta velocidade entre Faro e Huelva (nem toda a alta velocidade é TGV), programado para 2018. Por acaso, estive nessa cimeira da Figueira da Foz e as circunstâncias proporcionam que, logo na ocasião, dissesse a Durão Barroso e a José Maria Aznar, primeiro a um, depois a outro também por circunstância, ter dúvidas e mesmo descrença que algum dia houvesse alta velocidade entre Huelva e Faro, mas que se isso acontecesse, mesmo uns dez, vinte anos depois em 2018, seria uma excepção no histórico da visão de Lisboa relativamente ao Algarve. Que não, disseram ambos, e quase chegaram ao Pare, Escute e Olhe. E está-se a ver, a escutar e a ouvir.

Em todo o caso, honra lhe seja feita, Mendes Bota mobilizou em alta velocidade a sua área política para falar do caso e é de ouvir e registar o que vai ser dito na conferência. Porque quem não fala no caso como devia e podia, está a perder não só o pendular mas também o intercidades.

Carlos Albino

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

SMS 282. Linhas de água

2 Outubro 2008

Para que não restem dúvidas e, sobretudo, para que se eliminem suspeitas, deveria ser feito um levantamento do que no Algarve se tem construído e como se tem construído nas linhas de água e nas áreas de previsível influência do mar. A olho nu, nota-se que muito está mal, ou por decisões apressadas, ou por interesses cuja decifração corre em surdina mas que ninguém assume. Assim a olho nu, quem observe o que se construiu e como se construiu na costa e o que já vai invadindo o interior com indisfarçável voracidade, não é difícil chegar à conclusão de que muito está mal. A tal ponto que, hoje, «o que se fez no Algarve» ou «a tragédia urbanística do Algarve» já é uma bitola pelo País afora para avaliar o mau grau do que parece estar mal pelo mesmo País afora, com alguma chuvada inesperada a dar fundamento às impressões, pareceres intuitivos ou mesmo suspeitosos de cada um. Será bom acabar com isto através de um estudo sério, rigoroso e célere que desse azo à elaboração de um livro branco sobre a construção civil e obras públicas no Algarve, porque nem tudo o que aconteceu com as últimas chuvadas se explica por falta de limpeza de colectores, caixas e sarjetas de rua ou por atulhamento de ribeiras, algumas já esquecidas como ribeiras que a natureza cavou sem inteligência imobiliária. Como nem tudo o que pode vir a acontecer – oxalá que não – se poderá explicar com o desnorte dos anos 60-80, nem com as excepções de correcção do PROTAL.

Parece que há estudos ou avaliações sobre quanto o mar poderá subir ou quando e em que circunstâncias subirá, também parece que há avaliações sobre as águas subterrâneas e outras águas de que cada projecto ou plano de golfe carece, mas desconhece-se alguma reflexão segura sobre as águas que podem cair do céu, para onde ou por onde elas têm que escorrer e se muita construção por aí feita não briga com a força natural das coisas. Naturalmente que o problema não é o da manilha mais larga ou menos larga, mas sim o das linhas de água em todo o mapa do Algarve.

Carlos Albino

      Flagrante mau filme: O da direcção-geral das Artes, acusada pela associação DeVIR de se esquecer de orçamentar verba para financiar o 11ª edição do Festival Internacional de Dança Contemporânea «a sul» envolvendo cinco autarquias algarvias e 13 companhias de dança convidadas (oito do continente africano).