quinta-feira, 19 de março de 2009

SMS 306. Políticos e funerárias

Calcula-se porque seja, de um momento para o outro, aí temos articulistas inesperados a escrever sobre o óbvio que até confrange e colunistas supostamente convidados cujas colunas mais não são do que propaganda confrangedoramente embrulhada em celofane. Todavia, isso não seria nada de anormal se na generalidade os inesperados articulistas e os colunistas convidados não fossem políticos de carreira ou dirigentes partidários e, em função desses estatutos, ocupando cargos públicos de relevo ou desempenhando importantes funções por endosmose da política.

Claro que não se põe em causa a inquestionável liberdade de expressão, o que se estranha é que tais políticos não usem a tribuna política que por legitimidade lhes pertence e para colmatar calculados silêncios destes últimos auspiciosos anos venham agora com regularidade para os jornais, em vésperas de eleições ou talvez por causa das eleições, como que a fazerem prova de vida e a subtraírem espaço destinado para a livre crítica e para o escrutínio da actividade pública àqueles que não têm a tribuna política que os políticos deviam usar e para tal foram eleitos. É que não só subtraem espaço mas também inibem que o cidadão comum use os jornais para aquilo que os jornais servem, devendo servir inclusivamente para observatório dos próprios políticos.

Com a política passa-se agora coisa semelhante, não é igual mas apenas semelhante à que, no Algarve ou quase só no Algarve se passa com as funerárias às quais se delega divulgar quem morreu. Em vez de anúncios nos jornais locais ou regionais, as funerárias têm o péssimo hábito de colocar placards próprios colocados nas praças públicas, anunciando cada uma apenas os seus mortos (havendo guerras de placards se uma funerária usa o placard da outra), ou à falta de placards colam os prints nas placas de estradas e caminhos, havendo placas que parecem cemitérios em função dessa publicidade selvagem à margem da lei e das posturas municipais (onde existem), subtraindo publicidade legal aos jornais e inibindo a família do morto de honrar a memória deste nos veículos de comunicação comunitária.

Os políticos, sobretudo detentores de cargos públicos ou exercendo altas funções de representação para que foram eleitos, podem mas não devem fazer dos jornais os seus placards de funerária… Fica-lhes mal pois se vestem o fato escuro não é por sentimento mas porque o ramo do negócio a isso os obruga.

Carlos Albino

      Flagrantes hipóteses para mestrados: pelo que consta ainda está por fazer uma investigaçãozinha sobre política e corrupção durante o a I República no Algarve e, já agora, outra investigaçãozita sobre a corrupção apolítica durante a II Guerra Mundial também no Algarve. O resto é banda desenhada.

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