Em vez de assobiarem para o lado, os dirigentes políticos, não os que estão longe ou lá em cima, mas os que estão aqui e bem perto, deveriam apresentar soluções para o que mais aflige os algarvios – a insegurança, o desemprego e a crise que está a minar as pequenas empresas e obviamente o comércio. Não aquela soluções vagas e abstractas que decorrem da reza do credo da estabilidade rezado como aqueles que rezam de cor e salteado para o seu deus distraído, mas soluções concretas para os problemas concretos da concreta sociedade. Não basta a constatação e o encolher de ombros, dissertando sobre o sexo dos anjos em vez de formularem os problemas e descreverem os remédios. Quanto à segurança, aí temos uma justiça amiúde desafinada cujas decisões deixam o cidadão atónito e desmobilizam as próprias autoridades que assim cada vez mais se refugiam em balcões de expediente; quanto ao desemprego, mais grave agora que o desemprego sazonal que era a rotina a que grande parte comodamente se habituou, aí temos o jogo com estatísticas que não dá pão a ninguém e muito menos paga encargos; quanto à crise, esperemos pelo verão, mas quando os hoteleiros dizem que um isolado jogo de futebol de fim-de-semana lhes deu mais clientela que as férias de carnaval, está tudo dito em termos de prenúncio, com o comércio a sentir de forma dramática a quebra do consumo, sabendo-se do resto – obras paradas, imobiliária sem negócios sólidos à vista a gerir ofertas de desespero. É evidente que todos esperamos uma boa revoada de turistas que de alguma forma, aqui e ali, deixe algum dinheiro fresco a circular na região mas, como as coisas estão a correr, ninguém pode garantir que o final de Junho, Julho, Agosto e um pouco de Setembro sejam favas contadas.
É hora, pois, dos políticos provarem que são políticos, que são merecedores com nobreza do que a política lhes deu e que têm nas mãos argumentos que convençam os eleitores e lhes dêem esperança nas virtualidades do sistema de representação. Em tempos de relativa abundância ou de recurso ao dinheiro fácil que o poder sempre consegue arranjar, o marketing até pode fazer alguns milagres de voto. Mas num momento de crise na qual o Algarve tem a tendência histórica de se converter num dos primeiros becos do país, o marketing político equivale ao suicídio político dos que dele abusam, a não ser que a sociedade por algum paradoxo já tenha optado pela sua própria extinção o que será impensável admitir mesmo num beco.
Sempre é oportuno dizer isto pois por aí lemos e ouvimos muita dissertação sobre o sexo dos anjos que não diz nada a ninguém e com verbos de encher que não têm qualquer relação directa e útil com os problemas concretos com que a sociedade algarvia se debate, problemas esses que não têm 16 autarquias, são da região toda, da serra ao mar. Será preciso trocar isto por miúdos?
Carlos Albino
- Flagrante desleixo. Pior que o árbitro no Estádio Algarve foi o estado do relvado. Alguém a merecer cartão vermelho.
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