Acintosamente, os que não têm um rasgo de cultura que não seja o da cultura popular contra o Povo (com ajuda das televisões, nomeadamente a pública, que mais parecem fossas livres porque vai lá tudo parar) chamam à Orquestra do Algarve o 17.º concelho do Algarve. Mas, fora o acinte, acertam na designação – a Orquestra do Algarve não só é o 17.º concelho, como é um governo civil para os devidos efeitos mais útil do que o do Arco da Vila de Faro, e que quisermos dizer coisas sérias a brincar a orquestra já mais alta que o pico da Fóia, tem oito estrelas que nenhum hotel possui e tem mais oiro que o oiro que o senhor ministro Pinho consegue ver em cada allgarve de golfe e apesar de parecer custar muito, vejam só, custa um centésimo dos cães de luxo do Algarve juntos que andam por aí sem propriedade responsável a conspurcar as ruas e a passear os donos. E fora de brincadeiras, mal do Algarve, da Cultura do Algarve, se perde a sua orquestra que, sem território, é o seu melhor concelho. Irreprimivelmente, senti-me forçado a escrever estas linhas, terminado o concerto-espectáculo Diabolus in Musica em Portimão (com a magnífica Banda Osíris), naquele teatro municipal que com justiça deve encher Manuel da Luz de orgulho. Corrijo: de brio.
É claro que no interior da orquestra terá havido reivindicações excessivas, alguns exageros para os tempos que passam que saltaram cá para fora do contexto e com fífias. É claro também que a orquestra ainda não conseguiu colocar a olhos vistos no elenco gente da terra, para que seja mais Orquestra do Algarve e menos Orquestra no Algarve, mas isto são outras contas – são contas da casa e muito há a fazer, só quem já está no paraíso é que nada terá nada à frente para fazer. É claro também que falta no Algarve uma vontade explícita de levar o público até junto da Orquestra, sobretudo o público que desejaria ir e não pode, acontecendo isto até quando a orquestra se desloca contratualmente com o propósito de ir ao encontro do público. Nisto, algumas juntas de freguesia, responsáveis pelo que do pior provincianismo confessional o Algarve tem, parece que preferem patrocinar ou apoiar excussões a Fátima ou mesmo a Santiago de Compostela, porque Roma daria muito nas vistas e os velhotes que contam para os votos calculados não aguentariam a estafada. Mas também estas são outras contas.
Carlos Albino
- Flagrante ponderação: O habitual prémio SMS de jornalismo, atribuído anualmente por altura dos Reis, está a ser ponderado. Será revelado na próxima semana.
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