Não vale a pena falar dos casos porque toda a gente sabe, ouviu e tem sentido mas o pior que o mundo obscuro dos negócios incomensuráveis oferece vem parar ao Algarve. Nos últimos anos são casos atrás de casos, de onde menos se espera e quase sempre de quem é apenas conhecido nesses meios obscuros porque se não fossem os escândalos, continuariam simpáticos anónimos entre os anónimos simpáticos, e influentes ilustres entre os ilustres influentes. É claro que nem toda a gente dos negócios é assim: há, felizmente, investidores sérios, sejam estes grandes, médios ou pequenos e que se incomodam tanto ou mais que o cidadão comum com essa gente que aqui vem parar, sabedores da falta de escrutínio dos seus procedimentos, usufrutuários da lassidão política e jogando com uma justiça que deveras não funciona ou pela lentidão ou pela intervenção de uma legião de consultores preparados não para a concretização da justiça mas para ajudar a quem pretenda ladear a lei dentro da legalidade porque esta é a questão – a questão das escapatórias, matéria em que muitos portugueses ganhariam o Nobel se houvesse Nobel para peritos em escapatórias. Aliás, saber manejar as escapatórias já se transformou em honestidade e melhor maneja mais honorável já é, muito embora essa honestidade escapada e essa honorabilidade de mafarrico vá comendo a democracia como o bicho da madeira come a madeira e transformando a política naquele pó que nem serradura é.
O caso de Bemba, por exemplo, excedeu as marcas. Foi dado asilo a quem agora mesmo, nas masmorras de Haia, está formalmente acusado pelo Tribunal Penal Internacional, interrompida que foi a sua vivência no paraíso da Quinta do Lago, vivência essa que não foi por acaso, como não terá sido por acaso que aqui veio parar.
O mal do Algarve é que há por aí muita gente que não é algarvia, não se fez algarvia e a quem o Algarve não lhe interessa rigorosamente para nada a não ser o mundo obscuro das escapatórias. Vivem e actuam num Algarve aparte, embora se cruzem connosco anónimos, simpáticos e influentes.
Carlos Albino
- Flagrante portento: É dos dicionários – portento diz-se de quem é extraordinariamente talentoso, inteligente e capaz. Foi o caso de Luís Vicente no seu desempenho na peça «O Presidente» levada à cena no Teatro Lethes e que alguns não tiveram a paciência de esperar. Oh santo deus! A cultura espera-se!
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