O caso não é geral mas volta e meia repete-se. Refiro-me aos serviços técnicos de câmaras que tutelados pela política acabam por tutelar a política gozando o prato. Arquitectos, engenheiros e alguns desenhadores correlativos estão metidos nisso – não todos, repete-se, nem sequer a maioria, apenas aquela minoria de sabidos como as há em todas as profissões «técnicas» que amarram o contribuinte e o eleitor aos pareceres «técnicos» elaborados com aquela lentidão que não mata mas mói, ou segundo critérios díspares que variam de cabeça para cabeça e conforme o interessado é Sua Excelência ou aparentemente arraia miúda. Já nem me refiro aos conflitos de interesses que, aqui e ali, aparecem não tão evidentemente como outrora mas dissimulados, talvez melhor dizendo, camuflados, procedimento que tem seguramente êxito numa sociedade onde a regra é a de cada um que se governe. O pior que as autarquias têm passa por aí, não se registando iniciativa autónoma de monta no que toca à transparência e no combate à pequena corrupção a qual, no somatório, até consegue ser maior e pior que a grande.
Vem isto a propósito de um daqueles casos que não fazem notícia nos jornais, mas repete-se. Determinada pessoa pretendeu abrir uma pequena e modesta casa de venda de pão. Alugou casa, fez obras na conformidade da lei, dirigiu-se aos serviços municipais para obter o licenciamento. Para uma simples padaria, os ditos serviços, passados oito meses, não tinham ainda elaborado o parecer necessário para a decisão… Claro que a dita pessoa desesperou, denunciou o contrato de arrendamento, perdeu tudo o que investiu, desistiu, nem quer ouvir falar dos serviços técnicos municipais da sua autarquia. Oito meses sem um não, sem um sim, sem uma resposta qualquer, é de facto demais. Não se trata de um PIN, de uma grande superfície, de uma urbanização de enchido e cozido, tratava-se apenas de uma pequena casa para venda de pão, portanto coisa pouco para comover tecnicamente os serviços técnicos que assim procedem confiados que o anonimato os protege das consequências da lassidão e que a arraia miúda não os põe em sentido como alguma Sua Excelência os poderá pôr. O caso não é geral, mas repete-se e é assim que, aqui e ali, os «técnicos» vão tutelando a política quando querem e quando lhes apetece gozar o prato.
Carlos Albino
- Flagrante dificuldade: O prémio SMS de Jornalismo que não é de atribuir por atribuir, relativamente a 2008 que passou, não é atribuído – a crise também passa por aí.
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