Se alguma coisa há com a qual a democracia não ganha nada, antes pelo contrário perde, é a propaganda – a tal, a enganosa, sendo que, em política, a propaganda raramente deixa de ser enganosa. E, pelo andar da carruagem, era já de prever que, com a aproximação destas eleições, entraríamos na fase da propaganda. O achincalhamento do debate, da crítica e do diálogo, a «morte civil» dos que não se prestam ao exercício laudatório, a criação de várias polícias desfardadas a propósito de modernizações aqui e ali que não passam de bazófias, e o estímulo a que chefes passem a chefões e chefinhos se armem em chefes numa hierarquia que volta, neste país, a dissimular a falta de inteligência com o exercício discriminatório dos poderes e com a exibição da capacidade de provocar temor, tudo isto acaba por garantir impunidade aos propagandistas.
Vem isto a propósito da regionalização.
Até há pouco, melhor, até antes da crise, o argumento máximo dos que afastaram a regionalização como o diabo da cruz, foi sempre o argumento de que o Estado não tinha condições, designadamente económicas, para concretizar essa finalidade. Agora que ainda não se atingiu o pino da crise nem se sabe bem qual será a altura do pino, os mesmos prometem e anunciam o propósito da regionalização como bandeira eleitoral. Ainda assim, seria de dar umas résteas de crédito se esses tais mesmos tivessem feito alguma coisa pela regionalização, nomeadamente por via da desconcentração de poderes que não seja mera criação de empregos para a clientela, e, claro, por via da descentralização de competências sobre as matérias que não sejam para inglês ver. Mas não, pelo contrário – confundiram a autoridade conferida legitimamente pelo voto com o autoritarismo impante que manda o voto às urtigas.
Ora, autoritarismo pré-nupcial e propaganda em dia de boda, dão em mau casamento.
Carlos Albino
- Flagrante constatação: A ministra da Educação, afinal, sabe menos que uma criança de 10 anos, e o ministro da Economia, afinal também, sabe mais que um Nobel de 71 anos.
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