quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SMS 433. O poder do lobby

20 outubro 2011

O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, não veio ao Algarve garantir a requalificação da 125 desta ou daquela maneira, agora já ou daqui a instantes, nem veio a Faro prometer a correção da miserável linha ferroviária com estações onde deveriam estar, conservando-se exatamente como nos tempos em que era alternativa ao carro de burro. Mas foi a Viseu prometer a auto-estrada para Coimbra e, embora mais tarde mas nesta legislatura, a linha de comboio para a mesma cidade. Na sala, entre os que ouviam o ministro, estava o presidente da assembleia municipal de Viseu, Almeida Henriques de seu nome, e que por mero mas indisfarçável acaso, muito mero acaso, é também o secretário de Estado Adjunto da Economia e do Desenvolvimento Regional, trabalhando pois ao lado do ministro e com as delegações deste, pelo que aquilo que estava a ouvir não seria assim uma grande novidade. O lobby de Viseu estava ali sem qualquer disfarce, numa reunião partidária, com certeza, mas o que foi dito foi para Viseu ouvir, tomar conhecimentoe ganhar alento.

Naturalmente que só é de saudar Viseu pelo que consegue tal como é de saudar o Oeste (Leiria, Caldas) pelo que também conseguiu e vai conseguindo, o Algarve não deve invejar nem tem que invejar, mas é lícito que se interrogue sobre o poder dos lobhbies e sobre como as decisões políticas de exceção são feitas na sequência de lobbying, que é coisa que o Algarve não faz e que desde sempre não tem tido capacidade de fazer, por dois motivos. Primeiro motivo, é que quem poderia fazer lobbying (deputados influentes ou alguns raros admitidos em governos) cuidam mas é das suas vidinhas, até evitam assumir-se como algarvios a não ser cá em baixo para provocar uns circunstanciais aplausos dos provincianos e uns títulos na imprensa regional, como sempre acrítica e reverente. Segundo motivo, é que para haver lobbying por quem o possa fazer, a região tem que ter força moral como região, força política endossada pelas instituições que possua e sobretudo poder económico e financeiro. Nada disto o Algarve desgraçadamente tem porque não são uns verbos de encher que conferem tal força – a força moral da região nem chega ao Caldeirão com medo da travessia, a força política termina nestas direções regionais que na sua maior parte são sinecuras ou manifestos exemplares de gente que engoliu garfos - tem havido exceções mas porque são precisamente exceções, os governos também se têm encarregado de apear tais incomodidades. E quanto a força económica e financeira, ela está toda, na sua parte útil e operativa, fora da região – aqui nem molha os pés.

O Algarve fica para trás, neste jogo de lobbying que não é nada bonito, aliás é mesmo muito feio no pino desta crise sem precedentes.

Carlos Albino
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Flagrante impreparação: Há ministros deste governo, decisivos nos dinheiros, que desconhecem que cidades algarvias aparecem nas estatísticas com escassos milhares de habitantes mas que, por três a quatro meses, são literalmente ocupadas e usadas por centenas de milhares… E cortam como se tais cidades estivessem no deserto. Ou vieram do outro mundo, ou não passam de uns caloiros da governação.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

SMS 432. E assim a isto se chegou

13 outubro 2011

Há um ano ninguém queria acreditar e mesmo os que com isto ameaçavam por efeito dos calores da política, faziam-no vagamente convencidos ou esperançados que a tempestade passaria ao largo. E tão convencidos estavam de que isto era mais um jogo, que não tomaram providências na região, referindo-me às autarquias que há muito deviam ter preparado a casa para o pior que aí está – o governo de há um ano, esse já lá vai e o eleitorado avaliou-o na devida altura com a punição que se sabe. Continuou-se a gastar, sobretudo em muito de supérfluo, como se nada estivesse para acontecer, e em grande parte continuou-se a gastar por responsabilidade e inconsciência de muitos funcionários. E querem exemplos? Começa logo pelos veículos. Em Londres, os ministros vão a pé, de bicicleta ou de táxi para os seus ministérios; em Madrid foram tomadas medidas que apontam nesse sentido e em Lisboa o uso dos carros oficiais já é de mau tom fora das questões oficiais que é a fórmula portuguesa de contornar... Mas, vá lá, em Lisboa, além de apanhar um táxi seria sempre uma boa desculpa para chegar uma hora atrasado a tudo, ainda se entende que um ministro não vá a pé de Cascais, de Loures ou de Sintra onde possa morar que, à escala do Algarve seria o mesmo que calcorrear de Portimão até Faro.  O que não se entende é que no Algarve, escassos 100 ou 200 metros tenham que ser em carro oficial, ou mais grave, no caso dos chefes que são mais que os índios, em carro de serviço. É apenas um exemplo. Serve apenas para dar nota de que a consciência do que a crise é e do que a crise implica, surge tardiamente e apenas quando se fazem os cálculos para o próximo ano com base na situação presente que era esperada – as autarquias estão sem dinheiro e sem perspetivas de dinheiro. Sabia-se isso pelo que teria sido melhor poupar durante um ano com um terço dessas lâmpadas que estão nos descampados sem casas apenas para exibir a “grandeza urbanística” de nada, do que deixar-se agora as terras habitadas às escuras durante horas. Ou, em metáfora regional, que em vez de tanto fogo de artifício de cada um no seu quintal contíguo ao outro quintal, se tivesse feito apenas um, dois ou quando muito três exercícios de fogo preso que eram os suficientes para serem vistos do Algarve todo. Metáfora apenas, mas já é tarde.

Carlos Albino
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Flagrante presente envenenado: A Via do Infante que foi o maior presente envenenado oferecido à região.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

SMS 431. D. Sebastião e o cardeal D. Henrique

6 outubro 2011

Foi um balde de água fria? Não foi. O facto do PSD ter colocado no Programa de Governo a criação de regiões-piloto, levou a que muitos tivessem pensado que vai ser agora, porquanto o PS não se oporá, o PCP não criará obstáculos, o BE irá na onda e quando muito o CDS colocará reservas., mas que, feitas as contas, a ideia terá pernas para andar. Mais uma vez se pensou que uma região, ainda que piloto, cai do céu, bastará um toque na lei fundamental, um decreto. E então, com o secretário de Estado Marco António á frente, ele que tem sido inegável campeão da regionalização, a pergunta era de lhe ser feita, o que aconteceu no recente debate em Vila Real de Santo António.  E a resposta só pode ter sido um balde água fria para os que se acomodaram à ideia de que para a criação da Região do Algarve, ainda que experimental, bastará o milagre supostamente fácil de quem legisla e de quem governa, sem mais, ou seja, sem que a região candidata a Região mexa uma palha, se organize civilmente, se movimente civicamente, sem que crie fóruns abrangentes onde o provincianismo fique à porta e sem a sociedade mostre que tem lideranças credíveis, com peso no País ou perante o País, que tem força própria, elevada, mobilizada e mobilizadora, e com autoridade moral, cultural, política e cívica – sobretudo cívica, que é o mais importante e não depende de decreto, nem de programas de governo. Para quem, por honestidade intelectual, reconheça que o Algarve não tem este acervo – tem fogachos, tem voluntarismos, sérios sem dúvida, mas apenas voluntarismos - a resposta de Marco António não foi um balde de água fria e a invocação do decálogo da troika foi mero pretexto, mero pretexto. Que respondeu Marco António? Depois de tribunar que a regionalização não é uma prioridade havendo que “perceber o que é essencial e o que se pode tornar acessório” em função do “cronograma e valores definidos” pela troika, ele foi direto ao assunto e gravou o epitáfio: “Não há tempo, nem momento, nem oportunidade para abrir um debate sobre a regionalização”. Mas qual debate? O debate político envolvendo poder legislativo e executivo, ou o debate oriundo da sociedade interessada? Marco António certamente ao responder aquilo não desconhecia que esses dois debates coincidem na inviabilidade de um com a inexistência do outro. Politicamente, o decálogo da troika dá o excelente pretexto; civicamente, a sociedade algarvia tem vozes mas não tem voz, é rica de voluntarismos mas não dá mostras de vontade coletiva, invoca a pretensão da região por conveniência e conforme a conveniência dos sultanatos autárquicos mas não tem movimento consolidado, plural, com caderno, com endereço. E, desculpem lá, a crise na construção civil é enorme, mas não são esses andaimes que dão força à reclamação da região, piloto que seja ela. O PS já provou que, afinal, não tem nenhum D. Sebastião e o PSD está a provar que não passa do cardeal D. Henrique, sem que com rigor se responda à pergunta: O que é o Algarve? Um conjunto de sultanatos? E isso basta?

Carlos Albino
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Flagrantes produtos portugueses: No hipermercado, água espanhola comercializada por empresa suíça… Ao menos a água!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

SMS 430. Vale a pena recordar


29 setembro 2011

Não é com intenção de acerto de contas mas apenas para se aquilatar o nível a que se coloca a política no Algarve, mesmo quando a política se cruza diretamente com o futuro da região, ou pelo menos com aquele futuro que uns quantos bem intencionados e que não esperam nada da política, desejam para a região. Aí por ocasião dos calores de discussão sobre a regionalização – assunto que a crise e a troika se encarregaram de colocar na arca congeladora -  foi sugerido pelos bem intencionados que as autarquias (municípios e freguesias) abrissem mão de poderes e até questionassem a justificação da sua própria existência e aceitassem colocar parte dos poderes que têm e parte da sua própria existência nas regiões, no caso do Algarve, na Região do Algarve que continuamos falsamente a supor que existe mas que é uma coisa falsa porque nem houve amostra disso nem há sinais de que possa haver. E o que sucedeu? Sucedeu que em vez de se aceitar que há municípios e sobretudo freguesias a mais com péssimos serviços, se estimulou a criação de novos concelhos e de novas freguesias, sendo melhor que quem lá de cima andou por aí a dar “ânimo” a uns ingénuos e até suporte a gente de mão, se esconda debaixo da mesa e mude de nome para não cair agora em contradição. Na verdade, os mesmos folgazões da política que se serviram de ingénuos para, com o enganoso municipalismo reforçado e com as rebeliões fragmentárias locais que levaram à multiplicação de freguesias e a ânsias de novos concelhos para efeitos meramente imobiliários (o resto é conversa), inviabilizarem a Região e reforçarem o centralismo que foi sempre a sua bandeira, são os mesmos agora que, a pretexto da crise e da rendição sem condições à troika, anunciam com regozijo funerário a extinção de freguesias e preparam a fusão de municípios. E com isto, a Região perdeu, o centralismo sai reforçado sem apelo e sem deixar margem a grande contestação, e naturalmente que a clientela iludida pelo fogo-fátuo do municipalismo que por pouco não voltava a ser foraleiro com o regresso dos pelourinhos, essa clientela também perdeu ou vai perder. É uma questão de tempo.

Carlos Albino
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Flagrante arrepio : Arrepio mesmo com o nível de conhecimentos, de capacidade e de motivação intelectual que a generalidade dos alunos do ensino superior revela no Algarve. Como é que gente tão atrasada chegou tão longe? E como é que se permitiu que se tivessem atrasado tanto?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SMS 429. Não o convidem mais, por favor


22 setembro 2011

 Ainda estão dos ouvidos algumas palavras que Alberto João Jardim veio dizer aqui, no Algarve, convidado como estrela da regionalização, por certo com a intenção de motivar os algarvios a imitá-lo um pouco. Por aquilo que destemperadamente ele disse e não tanto pelo tom – cada um tem o tom que tem -, escrevemos que o convidado da Madeira em vez de ajudar, tinha vindo dar uma machadada no objetivo da regionalização, descredibilizando-a. Na verdade, sempre que Alberto João Jardim abre a boca julgando dar uma aula sobre regionalização, o que ele faz é falar de provincianismo, sobretudo daquele provincianismo que se colou à revolta da Maria da Fonte contra os enterramentos fora as igrejas. Mas a Madeira fosse um caso de sucesso de qualquer Maria da Fonte em traje moderno, seria de ouvir Jardim e calar. E não duvido que, se o convidaram a pregar no Algarve, era porque Jardim tinha precisamente a fama intocável de “fundador da Madeira”, pelo que, não havendo ainda “fundadores do Algarve”, o sermão do Funchal poderia estimular a procriação dos ditos. Só que aquilo que acaba de ser descoberto e deixa o país atónito (ocultação de dívidas perto de 1891 milhões de euros com desvio de verbas para isto e para aquilo) transformou o fundador da Madeira no “afundador da Madeira”, Madeira essa que tem menos de metade da população do Algarve e um território que equivale a Albufeira tão esticada como gostaria de se esticar se a deixassem, mas que, através da chantagem da independência, afinal brinca com o orçamento do Estado sugando-o, abusa dos contribuintes portugueses e dá suporte há três décadas à versão portuguesa mais acabada ou amacacada de um ilustre democrata do sertão africano. Por favor, não o convidem mais a pregar no Algarve, que, com os sermões que aqui veio fazer, já estragou muito e já levou a que alguns, mirando-se ao espelho, tenham discursado para si próprios: “Sou o Jardim do Algarve, não sou?”

Carlos Albino
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Flagrante reconhecimento: Discordou-se mas agora damos tardiamente razão a José Apolinário – “Faro é Faro”.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SMS 428. Publicidade e informação

15 setembro 2011

Há por aí grande confusão em determinada cabecinha, entre publicidade e informação. Para essa pessoa tanto faz uma coisa como outra e, pelos vistos, o que o Algarve necessitará é de publicidade, muita e mais publicidade, e a informação, também pelo que já está visto, é mero adorno desse fogo de vista. E então, vá de rios de dinheiro para essa publicidade, para esse fogacho que, como outros fogachos, vai durar um anito, quando muito um anito e meio.  E o comércio algarvio, que está nas lonas, vai nisto.

É claro que a preciosa liberdade de expressão não existe no vácuo – precisa de uma base material que lhe dê sustentação. E essa base, para os jornais e rádios, é uma sólida e variada carteira de anunciantes, cujo suporte financeiro permita a prática de um jornalismo crítico e independente. Os anunciantes e os leitores que pagam as suas assinaturas ou compram em banca o seu jornal preferido, deveriam ser as únicas fontes de receita dos jornais que não sejam meros expedientes ou refinadas aventuras. Cada expediente ou cada aventura que surja fora disto lançará uma justa e real sombra de desconfiança sobre toda a atividade jornalística na região, sobretudo se a obsessão publicitária revelar completa ausência de ética ou dispensar a ética.

Mas, segundo parece, está-se a brincar com coisas sérias. E, mais grave, a brincar num tempo de crise para todos, à exceção, naturalmente, dos brincalhões de paraísos fiscais a quem muitas vezes convirá brincar com o dinheiro como as crianças que jogam às manecas.

Carlos Albino
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Flagrante esclarecimento: Naturalmente que os ditos “jornais de encarte” não são jornais, são boletins e não mais. Um jornal que seja jornal não precisa de ser encartado noutro jornal.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SMS 427. A crise dos jornais de cá


8 setembro 2011

Tinha que dar nisto. Os governos com políticas circunstanciais e imediatistas para a imprensa pobre da província que disseram querer apoiar, os municípios a constituírem-se em editores de publicações próprias compensando isso com subsídios informais, a publicidade dos serviços públicos distribuída por critérios difusos e de simpatia, grande parte da publicidade privada por livre arbítrio colada às paredes, as empresas jornalísticas (algumas, pagando as justas pelas pecadoras) brincando umas iludindo-se outras com os apoios ao longo de anos, e os leitores a habituarem-se comodamente à ideia de que os jornais são gratuitos e lhes chegam às mãos por barrigas de aluguer, tinha que dar nisto: semanários que passam a quinzenários, encerramentos. È da crise, mas não é só da crise que o problema vem de longe e é de raiz.

As maiores empresas que operam na região, operam como se não precisassem dos jornais, e pelo que fazem parece que não precisam. As pequenas, desde as funerárias às do espetáculos, também não precisam dos jornais – têm as paredes, bastando umas fotocópias desde as de grande formato às pequenas pagas pela família do morto, um balde de cola e um rapaz a horas. Os municípios fazem as suas agendas em papel couché, os seus boletins, montanhas de folhetos – também não precisam dos jornais para a divulgação institucional das suas atividades e da “mensagem do presidente” que é sempre a mesma. E a culminar, algumas aventuras que começaram luxuosas e acabam em remendadas, encarregaram-se de destruir o sistema de assinaturas próprio do jornal de proximidade. E sendo assim, os jornais não podem viver do ar – sem publicidade, sem assinantes, sem compra direta, têm que fechar.

É certo que o Algarve, contrariamente a outras regiões do País, conseguiu atravessar todo o século XX sem um diário, sem um grande jornal de referência e símbolo da força anímica da província, se a teve ou tem. Teve dois ou três semanários, que continua a ter, mas que, para isso tiveram que fazer das tripas coração. É também certo que os algarvios, na generalidade, não se dedicaram à leituras dos seus jornais como os de outras regiões se dedicam aos seus. Lê-se pouco na região, melhor dito, quase nada se lê., chega-se a casa com o da bola debaixo do braço e a televisão é a maravilha, ou à passagem pelo café basta uma olhadela pela página dos crimes. E sem interesse crítico dos leitores, não foram poucos os jornais que se traíram a si mesmos com “crónicas” de ilustres figuras que ninguém consegue ler ou com intermináveis prosas laudatórias a quem, direta ou indiretamente os foram subsidiando enquanto podiam ou podem, entretecendo-se isso com o noticiário “regional” de agência falando do que toda a gente já sabe, igual em todos os lados.

E temos a pescadinha de rabo na boca: não se lê porque pouco de útil e de bom interesse público há para ler, e não se pode publicar o muito que há de interesse público e útil porque aqueles de quem se depende põem condições, às claras ou às escondidas que às escondidas é o que mais há e impera.

Carlos Albino
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Flagrante apelo: Se querem homenagear José Barão, paguem a assinatura do “Times do Algarve” que os assinantes são a base dos jornais independentes e livres, embora tenham que ser feitos à proporção.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

SMS 426. Cunhas de affecto e de protecçaõ

1 setembro 2011

A protecçaõ que a politica offerecce , naõ he hum simples acto da illustre piedade se em cada hum houver tanto talento para o entender e vem dos nossos Maiores em successiva tradiçaõ pois já elles julgavaõ por periddo aquelle dia, em que naõ protegiaõ a alguém. Assim a amizade de hum deputado pela sua regiaõ que é reyno, poder-se-há ella dar a conhecer, mas naõ se costuma conservar se ninguém beneficciar do seu affecto e naõ usufruir da cunha de protecçaõ. Do fortíssimo empenho, com que um deputado quis que alguns fossem providos no Emprego pode resultar que naõ haõ de ser certamente dignos os seus humildes merecimentos, mas o desvanecimento he maior que a sua utilidade. Disto está o Allgarve cheio e porque tantos em taõ longos annos muitos obraram. Pergunta o reyno do Allgarve a cada deputado porque naõ tem maõ para escrever e preguntar no suave exercício dos seus preceitos, sabendo a razaõ – naõ tem coraçaõ para o amar. Onde ha affecto que naõ seja pella cunha ou pella affectuosa protecaõ, sempre ha tempo para preguntar. He taõ obstinado o silencio dos deputados que ao reúno a que futuro haõ de chamar regiaõ sem ser, já naõ parece silencio, perece crueldade. As cousas mortas, ainda que muitas vezes sejaõ chamadas, naõ respondem; ainda que sejam provocadas, naõ resentem. Tal he a amizade dos deputados pelo reyno, que nem respondem ás frequentes queixas, a naõ ser que venham elleicções que só servem para os acordar de taõ escadloso lethargo, voltando a pedir elles que resuscite a sua morta amizade pello reyno que até se riu daquella cenna sem grandeza do governador civil substituto. E a vinda daquelle outro á nossa quinta, que tantas vezes foi promettida, he como matéria prima, que sempre está em potencia, nunca se reduz a acto, sempre as suas promessas saõ promessas, e sempre as esperanças do reyno ficam esperanças. Todos os passos que daõ, saõ como os dos Planetas retrogados, que saõ inuteis. Mas breve he o dia para subir , e descer escadas de Ministros, e Escrivães; sendo que em huns naõ deixa de haver letras cobertas pello reybo, nem em outros presteza; mas as letras de huns, pelo que papaõ, saõ só de Papiano; e a presteza de outros, pelo que roubaõ, he comoa velocidade de Atalanta com sentido nos fructos de ouro. Mas como os deputados pouco sabem de mitologia, que Deos os guarde muitos annos.

Carlos Albino
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Flagrante ortografia: O autor não escreve segundo qualquer  acordo ortográfico mas em portuguez de 1815, quando havia reyno.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

SMS 425. Passos Coelho, não gostei dessa

25 agosto 2011

Naturalmente que ninguém estaria à espera de que Vossa Excelência anunciasse no Calçadão de Quarteira o fim das portagens na Via do Infante, a reavaliação dos critérios para a chamada requalificação da 125, desse algum alento aos que viram o Turismo Algarvio diluído na aguada do centralismo mais regionalista e até provinciano do que se possa imaginar, ou que fizesse alguma boa surpresa aos que trabalham e vivem na terra onde veio falar, cumprindo o ritual cujo momento, por força do marketing político, as primeiras páginas de jornais esperam, os telejornais preparam para abertura e, por certo, todo o país aguarda seja com dúvida profunda, mera curiosidade ou firme convicção. Falar no Calçadão, mesmo que este seja o Pontal em vão, não é mesmo que falar na praça da Sé de Braga, nos Aliados ou nos Restauradores. O discurso de verão do líder do PSD, esteja no governo ou na oposição, não é o de comício de exceção ou o de ajuntamento para angariar votos. Pelos anos que passaram, é um discurso que faz prova se o líder é tribuno e se, sendo tribuno, faz prova de que aquilo que diz não fica pela forma mas tem conteúdo, novidade e premonição. Daí que depois dos discursos de alguns que outrora falaram nesse ritual já inimitável ainda que sob a fórmula rifada de “Pontalinho”, rarefeitas as últimas palavras, até os apaixonados dissessem logo: “Este não vai lá!”. E não foram pelos indícios que as provas deixaram. É claro que discursos do Calçadão não são para o Algarve, mas faz parte da prova que o Algarve entre mesmo que num breve momento, por deferência à terra anfitriã. E Vossa Excelência tinha bons pretextos para isso, repetindo-se que nesses pretextos não se incluem questões menores como a das portagens, mas, sobretudo a questão de fundo que é a da terra não ser ouvida nem lhe darem explicações sobre medidas em que profundamente se sente afetada e se diz injustiçada por erros de decisão. Mas não! Vossa Excelência passou ao lado dessa mera questão de conteúdo e que a terra anfitriã muito gostaria que referisse ainda que fosse de forma geral e abstrata. Passou ao lado do conteúdo, ficou na forma. Por certo e independentemnete da hora de graça, provou como tribuno mas não deixou um laivo de premonição que é condição sine qua non para que apaixonados, expectantes e céticos digam: “É um político!” Ninguém disse que não ia lá, mas toda a gente reparou na omissão que, se foi calculada, foi mal calculada; se foi uma inadvertência ou conselho, acabou por funcionar como o apagamento da sagacidade que certamente Vossa Excelência terá. Não gostei dessa. E para o ano já é tarde.

Carlos Albino
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Flagrante ortografia: Aqui se declara que, no próximo apontamento, o autor escreve segundo o português do Século XIX. Não fica mal, como leve  apontamento de verão, e até ajuda a compreender a evolução das letras.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

SMS 424. Britânicos, como em toda a parte


18 agosto 2011

O pacífico Algarve que conheceu durante séculos a violência e pilhagens dos corsários britânicos da qual já se esqueceu e nem convém lembrar, acorda sem dúvida sobressaltado com a criminalidade violenta que, não vale a pena disfarçar, tem consequências nefastas na principal atividade da região: o turismo. E no turismo, afetada fica a corrente de turistas britânicos que aqui chegam confiantes em encontrar uma terra pacífica e segura. Mas ninguém, nenhum país, nenhuma nacionalidade hoje, no mundo, pode hoje dizer que dessa água não beberei, os britânicos, designadamente, na sua própria terra de onde partem confiantes, como inesperadamente provaram os recentes acontecimentos em Londres, Manchester, Salford, Birmingham, Wolverhampton, West Bromwich e Nottingham que não propriamente terras como Alcantarilha, Olhos de Água, Almancil ou Guia, nem tais acontecimentos, no seu gigantismo, se comparam aos atos selváticos mas isolados que no Algarve ocorrem e que todos desejaríamos que deixassem de ocorrer, fazendo mais por isso em prevenção e responsabilidade pública.

Parece, todavia, que os britânicos, pelo menos quem os representa, continuarão a pensar que neste mundo atual ninguém precisa de ninguém, ou que as obrigações só competem aos que dos outros precisam ou dos quais dependam de alguma forma, nem que seja por via do turismo que é a via mais pacífica dos povos se cruzarem e se conhecerem, virada que está a página de má memória do corso ao serviço de Sua Majestade.

Vem isto a propósito do que, em matéria de conselhos a turistas britânicos, se lê na página oficial do Foreign Office, dada como atualizada nesta semana que vivemos. Relativamente a Portugal (Algarve naturalmente incluído, sendo o Algarve a principal escolha dos britânicos) lá se adverte que  aqui “há uma ameaça subjacente de terrorismo” e que “ataques podem ser indiscriminados, inclusive em locais frequentados por estrangeiros e viajantes estrangeiros”.  E depois de uns considerandos, certamente para dar mostras de informação no terremo, chega-se ao ponto ou pormenor de recomendar particular cuidado com os roubos nas carreiras de n.ºs 16 e 28 dos autocarros em Lisboa, vá lá, não se citando como particularmente perigosas a carreira para o Parragil ou a que passa pela primeira curva à esquerda para o Montechoro. Isto dito com Tottenham em polvorosa, não é apenas ridículo – é inconsciência a roçar em zelo sedicioso contra os próprios.

Deixemos os pormenores e vamos ao essencial. Não sei se a embaixada portuguesa em Londres leu ou tomou conhecimento dessa advertência britânica aos seus turistas que se preparam para viajar de que em Portugal há uma “ameaça subjacente de terrorismo”. Se leu e tomou conhecimento, e não fez nada, nomeadamente pedindo explicações para essa “ameaça subjacente”, é mau. Imaginam um pacato turista britânico que parta para o Algarve, informado de fonte oficial de que pode ser alvo em Portugal de um “ataque terrorista indiscriminado inclusive em locais frequentados por estrangeiros e viajantes estrangeiros”? Não é demais? É. E o que é demais não presta.

Carlos Albino
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Flagrante heroicidade: A dos jornais regionais do Algarve que resistem – do Algarve e não tanto no. Fazer das tripas coração é que dá mesmo problemas cardíacos. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

SMS 423. Muro das provocações

11 agosto 2011

O défice democrático tem duas faces, qual delas mais tenebrosa, não sei: por um lado, há défice, quando o poder e seus intermediários agem sem diálogo, abusando da autoridade e impondo à força decisões que põem em crise o interesse geral e o bem comum; por outro lado, também há défice, quando o cidadão não usa os meios legais e legítimos para se defender do abuso de poder, das deliberações injustas e da violência autoritária. É por isso que o poder, se é democrático, tem que ouvir e explicar, e que o cidadão deve conhecer os meios que tem à sua disposição para agir e retificar desvarios. Vem isto a propósito da estrada 125 sobre cuja anunciada “requalificação” sempre aqui manifestámos dúvidas.

Um pouco de história. A Via do Infante, inicialmente prevista como mera via rápida e depois mascarada de auto-estrada, foi lançada e aceite para aliviar a 125, substituí-la até onde a 125 era já a estrada da morte, como o povo a batizou, porque era. A Via do Infante não foi portanto um luxo, foi a alternativa para o Algarve ter uma travessia segura, unindo as terras porque a 125, com a explosão urbanística e a evolução natural das coisas, deixou de ser estrada, mas em longuíssimos quilómetros, uma rua ou avenida ad  hoc, ao mesmo tempo que vilas e cidades foram planeando as entradas e saídas em função do novo traçado longitudinal que por isso mesmo, e não tanto por dois ninhos de águia dos ecologistas de trazer por casa, não foi remetido mais para a serra e longe dos centros urbanos. E o Algarve acomodou-se a essa solução, a vida corria normalmente sem que os algarvios sentissem que a “via rápida” mascarada de auto-estrada era uma situação de exceção e de privilégio no País. A vida corria calma até que surgiu essa ideia peregrina das portagens e com tais portagens o poder se lembrasse fazer na 125 o que podia e devia ter feito antes da explosão urbanística e antes que fosse estrada da morte – requalificá-la com critérios de emergência e à maneira do trolha arvorado em mestre de obras.

E então aí temos a 125, com traços saídos dos estiradores e do ar condicionado dos gabinetes, a ser refeita não em função das pessoas e do Algarve (que também tem pessoa) mas das portagens da outra via que nasceu para a substituir como estrada da morte. À força querem agora transformar a 125 na alternativa à estrada que nasceu como alternativa. Insuportável, claro. Tanto mais que, como se previa, a 125 só teria uma solução com longos separadores centrais e que por serem separadores, separam mesmo – separam vizinhanças, casas comerciais, serviços, a porta do primo que mora em frente, bens, separam tudo, numa extr4ema violência para o dia a dia das pessoas. E tudo isto sem discussão pública, sem explicação pública, assim por decreto e trolha a cumprir decreto, acrescentando mais uns quilómetros de muro aos quilómetros de muro já implantado, pois de muro se trata.

É muro. Por motivos bem diferentes, o mundo já conheceu o Muro de Berlim e também por outros motivos mais confessáveis, há muito que conhece o Muro das Lamentações. O que não se esperava é que o Algarve viesse a dispor como sucedâneo da estrada da morte, um Muro de Provocações. É uma provocação à região e Mendes Bota só fez bem em pedir à população lesada que use os meios legais e legítimos que a democracia disponibiliza. E os outros deputados só fizeram mal numa coisa: não aparecerem junto dos cidadãos lesados. Assim não se requalificam.

Carlos Albino
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Flagrante consequência: Aí se disse que sete escolas do Algarve vão perder 74 lugares com um número apreciável de professores com horário zero. A “catástrofe” está em que pouco ou nada fizeram para terem força moral para impedir isso. Pois que força moral face ao ranknig das escolas da região e ao deplorável grau de qualificação dos alunos algarvios? 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SMS 422. Devia ser moda geral

4 agosto 2011

Dando uns pespontos de moralidade na bainha da saia larga do Estado, entendeu o governo, e bem, publicar as nomeações de quadros e designações de colaboradores para os gabinetes dos ministérios, e, além disso, os respetivos vencimentos em valor bruto mensal. E em hora de internet, criou um portal para o assunto que prometeu manter “atualizado” – e já colocamos aspas. É um pequeno embora conveniente gesto para pôr travão à fama dos boys que ascendem pela calada, à suspeita das mordomias que se movimentam atrás dos biombos, à convicção geral de que na peugada de cada ego político e cheio de poder segue uma legião de protegidos que entram sem concurso, vegetam sem escrutínio e sobem na vida por estratagema e esperteza. Por vezes, admita-se, à fama não equivale a verdade, à suspeita não correspondem os factos, e para a convicção que se espalha não se encontram fundamentos. Mas lá que isto parece um mar de boys e um oceano de mordomias, parece. E tem sido. Tem sido a todos os níveis – na administração central e local, nas grandes empresas públicas e nas empresas municipais. Além das nomeações diretas e acumulações nada éticas, são concursos feitos como fato talhado para o corpo e com pré.aviso do alfaiate, são jeitinhos e aproveitamentos nas nesgas da lei. O que é preciso é que tudo pareça “legal”, com aspas, claro, pois o Diário da República encarrega-se do resto já tarde e a más horas, meses e meses depois do facto consumado. Temos tido de tudo e até alguns bons ladrões têm aparecido com ar de crucificados ao lado do filho de Deus eleito para o sacrifício da causa pública.

Nos Estados democráticos que seguem a democracia com rigor, e muito antes da internet, essa é uma prática corrente, porquanto a transparência pode ser escrita até em papel de cartuxo, desde que se queira e essa seja a regra assumida e praticada. Para se dar contas das decisões públicas e pagas pelo contribuinte, nem é preciso meios sofisticados – basta querer e ter o sentido de responsabilidade pública. De ética, no fundo.

Só que o exemplo que vem lá de cima, pequeno pesponto, repita-se, na saia larga do Estado, devia ser moda geral. Ainda quanto ao governo central, as nomeações e designações para direções e delegações regionais, além da informação atempada sobre quem e para onde, deviam ser acompanhadas pelos currículos que fundamentem tais decisões. E cá mais para baixo, os municípios e empresas do seu âmbito, para já, deviam ter um local onde ficassem patentes as nomeações e designações que fazem, com nomes, caras, motivos e vencimentos. Admita-se que pode haver por aí muita suspeita sem correspondência com os factos, mas também há por aí muita gente a cair do céu e alguns bons ladrões de pára-quedas. As decisões tomadas com base na mera “confiança política” foram longe de mais pelo voluntarismo de reputados jogadores, e tão longe que fizeram com que este pobre Estado tenha uma saia larga. O eleitor que é, ou será também contribuinte, sabe disso, e é por isso que muitos perderam a confiança na política quando a política deveria ser um bem a preservar a todo o custo. Sobretudo a Política em Democracia, com letra maiúscula e sem aspas.

Percebeu, meu caro jogador? Ou quer que “eu o aprenda”, como outrora o filho do pescador dizia para o menino rico na Praia do Monte Gordo?

Carlos Albino
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Flagrante professorado: Vem aí novo ano letivo e os professores do Algarve, melhor dito, as suas estruturas e organizações no Algarve, nem uma palavra debitam, muito menos uma reflexão, sobre o estado do ensino na região, melhor dito, sobre o seu próprio estado. Lamentável, dado o panorama, melhor dito, dada a lástima salvo honrosas exceções, melhor dito, salvo heróicas exceções.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

SMS 421. O “nosso” elefante

28 julho 2011

Não gostaria de voltar a este assunto, mas tem que ser. Por aí ficou preto no branco que, pelo Estádio Algarve, a Câmara de Loulé paga 2,1 milhões de euros por ano enquanto a parceira Câmara de Faro paga apenas 900 mil euros, portanto menos de metade. E é com tais pagamentos que temos um estádio com o nome “Algarve”  mas às moscas, não fossem em todos estes anos uns desafios da II Divisão, três sacrifícios do Portimonense, um recurso afluente do Guadiana, e uns festivais, além do rali – tudo somado, muito pouco para compensar o esforço financeiro de Loulé sem fama nem proveito e o de Faro com fama. Mas é esse o nosso estimado elefante que custa a erário público 3 milhões de euros. Nem quero imaginar se tal montante fosse gasto num plano de combate à relutância da leitura, já não digo nos dois concelhos da obra – Faro e Loulé, mas em todo o Algarve! Seria um escândalo destinar três milhões de euros para que os jovens de modo geral não entrem cada vez mais parvos para as universidades, pagando a melhores professores do que os muitos que por ai andam a fazer de conta. Todavia, segundo parece, para se manter um elefante branco, o dinheiro, todo o dinheiro é bem empregue e poucos questionam, tal como ninguém questionou o slogan que durou durante toda a construção daquele estendal: “Construímos vitórias!”, era assim, quando deveria ter sido – “Construímos Buracos!”. É claro que, para além do estádio há o Parque das Cidades que, se é Parque ninguém deu por isso, e se é de Cidades, é de ver bem isso, quais são as cidades que se dão a esse luxo com fama e proveito.

Quando, por ocasião do lançamento da ideia do estádio, dissemos frontalmente ao direto responsável governamental da ocasião que, para ali, seria melhor um projeto mais integrado comunitariamente, com valências rentáveis e interligadas com a região por exemplo com o alvitre de um velódromo coberto, recordo-me da resposta - uma gargalhada. E ainda hoje ouço essa gargalhada quando vou àquele descampado verificar se houve alguma evolução da espécie e se a direção do vento mudou... enfim este pequeno pormenor que não se nota no estirador de arquiteto ganhador de concursos mas que não pode ser descurado por quem conta as notas de euros ao ar livre. E as notas, ali com a ventania do cerro da Goldra como voam! E como voam mais a de Loulé que as de Faro, cidade esta que não será com São Brás e muito menos com Almancil que vai compensar aquilo... Pelo contrário, fará aumentar a ventania.

Carlos Albino
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Flagrante mestra: Aquela rapariga de Guimarães que há um ano provocatoriamente e com toda a proa esvaziou as praias do Algarve, foi apeada pelos próprios de Guimarães. Só que a indemnização daria para pagar refeições escolares a crianças carecidas em três concelhos... Grande mestra!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

SMS 420. Que assim seja. Todavia…

21 julho 2011

É um dado confortante que o cidadão, sem execção de ninguém e para ninguém, aceite contribuir para o salvamento do país – o mal começa com as suspeitas de exceções e, depois, a agravar, com as provas de que bastantes têm artes para se isentarem, fiados naquele lema segundo qual o segredo é a alma do negócio do momento. Já é um dado menos confortante que os governantes, levados pelo voluntarismo, não expliquem as medidas que decidem, ou que, quando as explicam, ficam pelo “modo geral”. Vem isto a propósito das portagens na Via do Infante, cuja explicação ficou pelo “modo geral” ou na justificativa de arrecadar receitas a todo o custo, seja onde for e, já agora, contra quem for. Portanto não se explica, não se ouve os argumentos de quem discorda, não se responde, como se o poder central, para ser central, tivesse que ser hipertrofiado e hegemónico para o funcionamento do País. Perante a crise, o grito das instituições naturalmente que deve ser escutado pelo cidadão, mas também para resolver a crise as instituições devem ouvir o grito do cidadão. A crise é o problema, um problema que está formulado, todavia não se dê o caso de à crise se sobrepor uma crise maior – a da desconfiança do cidadão perante poderes que não escrutinam minimamente como o bem comum pode e deve ser conciliado com o interesse geral, sobretudo nos temas que se converteram na caixa de ressonância da generalidade dos cidadãos sem os quais as instituições ficam a falar sozinhas – o que será mau, como doença. As últimas eleições deram a lição magistral de como o cidadão reage quando verifica que os dinheiros públicos são usados como pau para toda a obra, pelo que será aconselhável também que os governantes se interroguem sobre os motivos pelos quais os cidadãos reagem quando a crise é usada como obra para todo o pau.

A Via do Infante não é um caso particular e como tal atendível? Então digam porquê, como e que alternativas há cujo teor tenha relação direta e útil com o que está em causa, pois o que está em causa é apenas a única ligação longitudinal de que o Algarve dispõe neste acumulado de erros e virtudes com que a região chegou ao século XXI. A estrada 125 é uma estrada dos anos 40 do século passado e, repete-se, não é com 435 rotundas que o tempo volta para trás. Entre Lagoa e Portimão nada tem a ver com o ermamento de outrora onde o Pragal era um desconfortável oásis para operários conserveiros; entre Faro e Tavira nada tem a ver com os bucólicos postais ilustrados dos anos 50 – onde estav uma pita, está uma urbanização; entre Portimão e Lagos até Vila do Bispo, nada fica isolado e no cu de Judas; entre Tavira e Vila Real de Santo António é uma passadeira para uma Espanha que já não fica no Egito mas ali, vizinha de que até nem se tira partido pelo facto de Sevilha ser mais fácil que Lisboa, e Huelva apenas a outra margem; Silves poderia perfeitamente voltar a ser capital e com bispo na Sé; também só um psicopata ainda vê Albufeira como aldeia piscatória com duas tabernas, pronúncias envergonhadas e uma ribeira intransponível para os remexidos de trazer por casa; Loulé mescla-se com Quarteira tal como Faro se mescla com Olhão. Enfim, eis o Algarve que mais não é do que uma extensa cidade do litoral, com a população de Braga e, ironicamente, mais helénica do que no tempo de Teixeira Gomes, agora sim com uns bairros a fingir de cidades, outros de vilas e a 125 como rua do seu interior a que as 435 rotundas vão dar aspeto de beco sem saída para gáudio dos gabinetes de arquitetura e de engenharia que têm a sorte de pegar em mais este pau para bonita obra.

Assunto para continuar.

Carlos Albino
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Flagrante multiplicação: Com a neutralização do governador civil (M/F, como nos empregos), espantosamente estão a surgir os governadores civis substitutos. Agora é que acordaram?

quinta-feira, 14 de julho de 2011

SMS 419. O futuro do PS cá da terra

14 julho 2011

Interessa a todos. O futuro do PS, sobretudo o cá da terra, interessa tanto como o do PSD, o do PCP, o do CDS, o do BE, e de cada um dos demais, desde que sejam legais e concorram, tenham conseguido assentos parlamentares ou não, estejam representados somente numa assembleia de freguesia do monte ou estejam em todas, tenham poder ou não. Os partidos, no seu conjunto, formam o retrato político da terra e, gostemos ou não dos primos, sejam ou não parentes afastados ou mesmo parentes de pára-quedas, é a “família” que temos e perde o Algarve se a família for má. Agora, naturalmente, é o PS que está em causa, havendo aí uma parte que é restrita e das contas da casa, mas outra parte que é pública e do interesse público. E o PS está mal.

Primeiro, porque viveu ao sabor, ao ritmo ou por inércia das vitórias ou derrotas do líder nacional de cada momento – raramente se questionou, nos últimos anos, pelas causas próprias (não culpas), pelos motivos próprios (não interesses) e pelas responsabilidades no próprio cartório (não conjunturas lá decima). Segundo, como de resto é mal geral a todos os partidos, esteve sempre aberto a todas as críticas, sem dúvida, mas cada crítica ou foi tratada como armadilha da oposição, ou remetida para a prateleira dos ataques classificados como pessoais. Terceiro, viveu dos resultados – às mil maravilhas, camarada, quando se revelaram favoráveis, vitimando-se, apelando à misericórdia geral por ocasião dos tombos e enganando-se com aqueles cálculos primários de que amanhã é um novo dia, virando-se o disco e tocando a mesma música.

Ora se os partidos existem para conquistar o poder pelo sufrágio, é também pelo poder que conseguem conquistar e pelo número e qualidade dos protagonistas da conquista, que os partidos valem. Mais ou menos.

E o que é que o PS cá da terra conquistou? Pouco. Dois deputados, numa lista em que a figura do quarto lugar deveria ser a primeira, com uma terceira ninguém sabe porquê mas na expetativa de alguma renúncia, a primeira figura com interesses políticos manifestamente longe do Algarve (ou pelo menos longínquos) e a segunda figura que nem atou nem desatou, quando deveria ter atado logo nas legislativas de 2009 e desatado antes destas últimas, as de junho.

É que não basta ser voz no Algarve, é preciso ser voz do Algarve – é isso que o eleitorado exige, espera e reclama dos deputados eleitos, mesmo daqueles a quem não destinou o voto. E para ser voz do Algarve é preciso corporizar os interesses, as aspirações, as razões e sobretudo as condições que o Algarve entende como necessárias para o seu bem comum. Ninguém exige a um deputado algarvio que seja contra o Alentejo, uma boca aberta contra o Norte, um arqueiro medieval contra o Oeste ou um artista de circo contra o poder central. O que se exige é atenção política, corpo inteiro e alma viva, e particularmente do PS que não saia pela esquerda alta.

Claro que o Algarve precisa que o PS tenha isso, seja isso, como precisa que cada um dos restantes partidos tenham isso e sejam isso, porque se não tiverem e não forem, vão ver. É uma questão de tempo – para se enganar o eleitorado é preciso ter maior memória que este… o que é impossível, em democracia. Tirem os cavalinhos da chuva.

E a pergunta que inevitavelmente se coloca será esta: conseguirá o PS dar a volta por cima, conseguirá reagrupar-se para enfrentar o que o calendário democrático impõe – autarquias, para já, legislativas lá mais para a frente? E neste parlamento? O que é isso?

Carlos Albino
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Flagrante criminalidade: Naturalmente que nas esquadras não se combate o crime lendo calmamente os jornais que recebem em primeira-mão as notícias do próprio crime. E quando crime é já algo muito próximo do terrorismo, há que haver mobilização. Não é a palavra?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

SMS 418. As escolas do Algarve

7 julho 2011

Os professores, tal como os governos e até o papa, alguma vez podem não ter razão. E não é por se lhe apontarem erros ou omissões, que ficam desautorizados – desautorizados ficarão é se as suas lutas ou reivindicações forem apenas as corporativas, e se julgarem que o seu prestígio e credibilidade podem sobreviver com indiferença pela sociedade que justifica a sua missão. Um professor que seja professor tem que dar provas de que é capaz de ensinar a crítica e de que aprendeu a auto-crítica. Vem isto a propósito da situação calamitosa das escolas do Algarve ou no Algarve, como queiram. Da situação calamitosa da qualidade do ensino, dos resultados obtidos que de modo geral no cômputo do País são uma lástima, do ranking sobretudo das nossas escolas do ensino secundário que é o que diretamente verte para as universidades as evidentes lástimas do ensino e que acabam, mais dia menos dia, por colocar às próprias universidades a questão da sua sobrevivência, missão e credibilidade – seja esse ensino superior público ou privado. Não creio que os professores do secundário do Algarve tenham dialogado muito sobre esta matéria com os professores das universidades. Se têm falado, pouca gente terá ouvido. E quando ninguém, do secundário ou do superior, toma a iniciativa de formular o problema que os de um lado e outro sabem que existe, sim, a estratégia é suicidária.

Nesse propósito, a Direção Regional de Educação falhou, e não é uma questão de gastar milhões ou apenas dois cêntimos, de ter um só adjunto ou de ter posto ordem ou fechados os olhos à desordem nas escolas (e desordem é por vezes o carreirismo, a lassidão, a golpaça curricular e não apenas a má ministra). E falhou porque não foi capaz de formular o problema em diálogo com as universidades, seja a grande, a do Algarve, sejam os institutos superiores que aqui a ali sobrevivem. Também não espere agora que cada escola vá fazer isolada em grupo se simpatias, aquilo que, de forma concludente e continuada, uma estrutura “regional” não foi capaz de executar perante um problema que está à vista de todos – o baixo e humilhante nível do ensino secundário no Algarve com consequências diretas no abastecimento do superior -, não valendo a pena enterrar a cabeça na areia e estar à espera da publicação do próximo ranking das escolas como nos exercícios de adivinhação. Um ou outro êxito pontual não alivia, e culpar pais ou alunos é expediente que não colhe fora também do pontual.

Ora, escolas, municípios, institutos e universidade alguma vez têm de acordar e fazer alguma coisa em conjunto e a primeira a fazer é formular o problema, se querem viver, melhor – sobreviver.

Carlos Albino
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Flagrante naturalidade: Observam-nos que haverá afinal um “algarvio” no governo só porque terá nascido em Faro. Mantém-se o que sempre se disse aqui: há algarvios (até grandes!) que não nasceram no Algarve, e há quem tenha nascido e não seja ou até tenha vergonha disso nos currículos...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

SMS 417. Lá em cima e cá em baixo

30 jumho 2011

Lá em cima. Comecemos lá por cima. Não é que o Algarve tenha que ter alguém no governo, como se isso fosse direito próprio ou direito a uma quota, mas não ter continuadamente ninguém em qualquer governo é mau sinal, pior indício e confrangedora constatação. É um sinal mau da aceitação, credibilidade e capacidade da nossa estimada classe política – é como se não tivéssemos ninguém, portanto, ou como se a gente que temos ande só na praia. O indício é pior porque esse não-Algarve na área do poder central vem de longe, não é um ato premeditado deste XIX Governo – foi no XVIII, foi no XVII e a presença de José Apolináro na secretaria das Pescas foi o último fogacho, o último dos sinais de consolo para esta ou “aquela” gente lá do sul que, politicamente, já não é apenas sul, é sul do sul, lá dos confins, pelo que não contam. E a constatação é confrangedora porque é prova das duas uma: ou a prova de que o Algarve não tem quadros competentes e capazes de entrar num governo, já não se diz para um Ministério que imponha respeito ao FMI, à UE e aos mercados, mas ao menos para uma secretariazinha de Estado, para algum desses nichos que trate dessas reles coisas como, por exemplo, o Turismo; ou então, caso tenhamos quadros – possivelmente temos… - o seu aproveitamento poria o País a desconfiar de algum algarvio ousado ou simplesmente aceite na fechada comunidade ou elite do poder central, onde o peso de algumas regiões é evidente (neste e em anteriores governos, deixemo-nos de histórias), não disfarçando a existência de lobbies que atuam independentemente das organizações partidárias, dos resultados eleitorais e dos encantadores discursos da moda sobre a aproximação da política aos cidadãos.

Cá em baixo. Pois cá em baixo, depois de se ter enchido o balão do municipalismo de que muita gente se serviu para esvaziar qualquer veleidade de organização administrativa regional séria, completa e participativa como uma democracia participativa, completa e séria já deveria ter posto à disposição dos administrados, agora pretende-se picar o balão com agulhas. É claro que o municipalismo exacerbado inviabilizou na prática o balão que valeria a pena ter-se elevado – no Algarve, por exemplo, a Região Piloto, sem se tocar no mapa autárquico, mas tocando-se apenas nas competências que seriam transferidas para a Terra Comum ou para o Bem Comum do Algarve, como queiram. Mas não! Em nome não do bem comum mas do chamado interesse geral, encheram-se os 16 balõezinhos, cada um o melhor que os do fôlego podiam dentro das suas fronteiras, uns mais do que outros, aliás, uns tantos muito e uns poucos nada. E agora? Agora, por invocada pressão exterior, melhor dizendo, por manifestas condições impostas do exterior, depois do mal pretende-se fazer a caramunha, lançando populações contra populações, uns municípios comendo outros ou partes de outros para obviar às respetivas insolvências, insolvências esperadas porque o municipalismo fundamentalista e exacerbado haveria, algum dia, de redundar em insolvências. Haja bom senso. O caminho pode ser emendado.

Carlos Albino
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Flagrante Parabéns: A propósito dos 25 anos da sua ordenação, parabéns ao padre César Chantre que estima o conhecimento, acolhe a cultura, dialoga com os sinais do mundo, não rasga livros mas encaderna-os na crítica afável e fez das igrejas de três aldeias verdadeiras catedrais que crentes e descrentes espreitam em fraternidade espontânea – verdadeiro milagre. Ele que não leve a mal, mas é o primeiro santo do século XXI no Algarve.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

SMS 416. Governadores que nunca governaram

23 junho 2011

O problema foi e tem sido esse: governadores ou governadoras nunca governaram. Representaram, presidiram, informaram para cima, explicaram para baixo tanto quanto puderam ou souberam (por vezes nem isso sabiam), envolveram-se também por vezes nessa tarefa abstrata e inútil de “aproximar o cidadão e a Administração”, emitiram pareceres quando pareceres lhes fossem solicitados, e, a parte mais visível, festiva e por certo apetecível, elaboraram os cadastros das associações desportivas, recreativas e culturais para efeitos de gestão dos subsídios e financiamentos que foram atribuindo no âmbito do distrito. E tem sido esta a vida dessas figuras nomeadas e exoneradas pelo Governo, em Conselho de Ministros, por proposta do Ministro da Administração Interna, de quem dependeram hierárquica e organicamente. Têm sido, portanto, os cônsules desse ministro sem poderem levantar cabelo, pelo que não será difícil admitir que os governadores civis não governaram, e que, dada a natureza humana, alguns governaram-se.

No caso do Algarve, esta estrutura do governo civil que não governa, apresenta-se com três dirigentes e 24 postos de trabalho nos serviços (1 técnico superior, 2 técnicos de informática, um coordenador técnico, 16 assistentes técnicos e 4 assistentes operacionais). Claro que, descontado o trabalho protocolar dos dirigentes, desde os passaportes e às autorizações de peditórios de rua, por entre mais, até à instrução de processos de contraordenações todos os da estrutura têm muito que fazer e alguém no futuro terá que fazer isso, se não forem os mesmos a fazê-lo deslocados para outro lado, mas a questão de fundo é esta: o governador não governa, nunca governou e o título é uma falácia, não se escondendo que vem da noite do passado uma espécie de temor reverencial, de medo até ou uma ideia de autoridade implacável que o nome de governador civil infunde na mente de quem se deixa infundir, claro.

Falácia que a própria Constituição reconhece, ao julgar que mata a questão dos distritos sem assumir a questão das Regiões e aqui é que está o busílis. Em três penadas, diz a Constituição que – primeira penada -  “enquanto as regiões administrativas não estiverem concretamente instituídas, subsistirá a divisão distrital no espaço por elas não abrangido”; que – segunda penada – “haverá em cada distrito, em termos a definir por lei, uma assembleia deliberativa, composta por representantes dos municípios”, e que – terceira penada – “compete ao governador civil, assistido por um conselho, representar o Governo e exercer os poderes de tutela na área do distrito”

Ora o novo primeiro-ministro ao anunciar que não irá nomear novos governadores civis como primeiro sinal do “exemplo de rigor e de contenção” do Estado, anunciou pouco, porque não foi ao essencial além de que não poderia ir ao essencial. Ele não pode acabar com os distritos apenas porque anuncia que não vai nomear novos governadores, sugerindo, pois, que os que existem renunciem, abandonem os cargos. Teria sido preferível anunciar que iria nomear como governadores civis provisórios os presidentes das organizações autárquicas regionais, caso aceitem e onde aceitem, com outras soluções transitórias mas sempre possíveis, na atual moldura constitucional, onde essa aceitação não se opere de forma natural e legítima, porque legitimada ela é. Foi, para já, um erro de calendário a coincidir com uma precipitação de agenda política. Nenhuma ave põe ovo no vazio.

Carlos Albino
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Flagrante terramoto: No PS. Vai levar muito tempo porque ninguém se preparou nem ninguém foi preparado. E quando assim é, confia-se num milagre, num pastorinho vidente. Quem sabe?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

SMS 415. Definições e indefinições

16 junho 2011

Afinal o que ficou definido?

A nível nacional, ficou definido o governo e o parlamento. Como isto irá ser, mais ou menos, já estava definido e não por braço no ar ou voto nas urnas – teve que ser, e neste teve que ser a grande lição segundo a qual para nada serve a vaidade, a sobranceria, o auto-convencimento e o não querer escutar ninguém, mesmo os que estejam próximos.

A nível regional, aí, as indefinições começam: o governo civil que nos últimos anos pouco mais tem sido que uma mordomia a dar ar oficial ao jardim da doca de Faro, acaba ou continua nisso, dando vez a quê de Região e passando a quem da Região? As direções e delegações que por aí andam, algumas apenas no corrupio de despacho para Lisboa, outras com dinheiro apenas para pagar aos funcionários mas sem grande utilidade nem sequer a de intermediário credível, ou mesmo visivelmente para nada a não ser para penacho do titular, isso continua com este mapa, vai para engordar Évora, dar o ar da sua graça a Beja ou ser integrar-se em quê de Região e ficando em que mãos da Região? E o turismo? Vão os proventos captados no Algarve continuar a financiar direta ou indiretamente o que não tem nada a ver com a Região, nem sequer diretamente o País mas outras regiões e entidades de outras regiões que mais não fazem que denegrir o Algarve sem que podem, competir com o Algarve como se tivesse que haver competição entre quem financia e quem é financiado? E como vão ser estes deputados que o Algarve elegeu, aparentemente  que são 5 da coligação (4 do PSD, mais um da paralaxe do CDS) e 4 aparentemente da oposição descoligada entre si, além da descoligação dentro de cada partido (2 do PS, a do PCP e 1 do BE) mas que não será difícil perceber que dos 9, uma pequena maioria que não quantificar para que a constatação de curriculum não se transforme ou seja entendida como ofensa, tem o coração no corpo e a cabeça na alma?

Belos tempos aí vêm.

Carlos Albino
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Flagrante mapa: Sempre quero ver o que vai acontecer se mexerem no mapa com o melhor dos concelhos a ir para baixo e o pior das freguesias a vir ao de cima…É que uma coisa é o mapa geo-político, outra o mapa mental.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

SMS 414. A fábula ensina que…

9 junho 2011

Toda a fábula, porque é fábula, deixa uma lição e procedem mal os que, com os resultados destas eleições no Algarve, se isentam das responsabilidades pelo remate da história contada. Uma fábula eleitoral não é coisa acontecida há séculos e com personagens de terras longínquas – é feita por eleitos ou derrotados e por eleitores inscritos acabem estes por ser os votantes que contam, os que entram em branco e brancos saem, os que se divertem como nulos que são ou mesmo os abstencionistas que decidam ser filhos de ninguém.  Todos, sem exclusão, fazem intervenção na fábula e no seu remate. Os algarvios sabiam que, feitas as contas finais, haveriam de ser eleitos 9 deputados por entre as listas de 13 partidos. E aí os temos, quer uns, da fábula, dêem razão a Henri Bergson quando este avisava que "escolher é excluir", outros prefiram aliviar-se com a lamúria de Platão segundo a qual “Deus não é culpado, pois a culpa é de quem escolhe", quer outros ainda da mesma fábula andem pelos cantos a repetir satiricamente as desculpas de mau pagador inventadas pelo velho boémio francês Mathurin Régnier cuja regra era a de que “quem muito quer escolher, fica com o pior", mesmo que nenhum saiba quem foi Bergson, Platão e, para mais, Régnier…

No palpite aqui deixado a 21 de abril (apontamento 408), não se errou quando se garantia que seriam eleitos 4 deputados para o PSD, 2 para o PS, 1 para o CDS (beneficiando dos tais erros de paralaxe), 1 para o BE e 1 para o PCP. Assim foi. E não foi apenas a correnteza nacional que levou os 200 mil votantes (pousos mais) a contribuir para tais resultados – em parte sim, em parte não. Como não foi também a mesma correnteza nacional a levar que 160 mil tivessem ficado em casa considerando que o momento não lhes dizia respeito. Alguma coisa de grave está a ocorrer no sistema democrático, melhor dito, nos partidos – em todos os partidos -  para que quase metade dos eleitores deitem assim o seu papel no momento mais solene e decisivo da democracia para a reciclagem. O clientelismo, o carreirismo, as jogadas do submundo do pequeno poder e sobretudo aquela corrupção omissiva que lava a cara todos os dias de manhã (a outra, a suja, a que jamais se lava, essa não engana a ninguém e nota-se à distância pelo cheiro) explicam em grande parte a desmotivação, o desinteresse, a lassidão e explicam sobremaneira que gente generosa não exercite a generosidade que tem e revele profunda descrença. Mas estes 160 mil ficaram em casa e, ficando em casa, não incomodaram ninguém, como pouco incomodaram os cerca de 8 mil que votaram em branco ou anularam o voto. Os que incomodaram foram os tais 200 mil ao provocarem na Região um verdadeiro abanão político. E sem dúvida, em democracia, tal incómodo é um bom incómodo, um saudável incómodo desde que tanto os incomodados como os que incomodaram saibam extrair a moral da fábula e aprendam com ela. Outra coisa não se espera.

Nenhum partido que ganhou mais (o PSD e o PCP) “roubou” deputados ao outro – em democracia não há roubos, pois escolher é excluir, e contra isto batatas. E qualquer dos partidos que “manteve” (o CDS e o BE) com mais triz menos triz, não pode cantar do alto, porquanto não se esqueçam que podem estar meramente a beneficiar da evidência de quem muito quer escolher, fica com o pior.  Finalmente, meu caro Miguel Freitas, Deus não é culpado, pois a culpa é de quem escolhe. E com isto se pretende dizer que Mendes Bota fica com uma enorme responsabilidade, perante os que votaram e perante os que ficaram em casa – 160 mil abstencionistas é muita gente e tal número só não atemorizaria se Deus tivesse culpa. Pensem nisto.

Carlos Albino
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Flagrante lição: Ao que erra, perdoa-se uma vez, mas não três. É como diz o provérbio.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

SMS 413. Os interesses do Algarve

2 junho 2011

Sempre que há eleições, quando chega a hora de prestar contas ou de prometer mundos e fundos na mira de novo contrato de representação, os “interesses do Algarve” são elevados a categoria de causa e mal de quem não pugne por tais interesses, mesmo que os não especifique. Mas afinal o que são ou quais são em concreto os interesses do Algarve que sejam assim tão diferentes dos interesses do País? Caso sejam interesses deveras do Algarve, a sua consideração deveria ser transversal a todos os partidos e cada força política organizada na região deveria apresentar, antes de mais, a sua formulação própria dos problemas que tais interesses suscitam, e, depois, a solução que também autonomamente preconizam, propondo ao eleitorado a escolha dos representantes (eram oito, passam a ser agora nove) que defendam tais interesses e se comprometam a não os deixar cair em cesto roto. Numa democracia madura, sadia e que funcione, será assim. Caso a democracia não funcione, a representação acaba por se transformar num equívoco perigoso ou até mesmo num exercício inútil e desencorajante.

À falta de reflexão consolidada e em tempo, ou por efeito da rotina espúria que transforma a representação em emprego político, prémio por bons serviços ou direito adquirido por carreira, os interesses do Algarve são alinhados à última hora em função de carências gerais mais ou menos evidentes, mais ou menos sentidas, mais ou menos localizadas. E isso, quando a definição do que sejam tais interesses não fica ao arbítrio de cada líder circunstancial, da sua capacidade imaginativa ou da sua verve interventora. Naturalmente que o elenco de carências, da saúde aos transportes, da educação à agricultura, de alguma indústria às pescas, por aí fora de setor em setor, será coisa que se prende mais com o bem comum do Algarve e este bem comum em pouco diferirá do bem comum do País – o elenco de carências não é suficiente, e está longe de poder recortar aquilo que se poderá considerar como interesses do Algarve, interesses tais que sejam sentidos por todos os algarvios e só por estes. Por hipótese, por esta ordem de ideias, até de pode admitir que na verdade o Algarve não tenha interesses, um único interesse que seja – tenha apenas carências, carência de um porto de pesca, de uma barra, de mais uns quilómetros de ferrovia decente, enfim, de uma lâmpada na esquina à saída de Portimão ou um centro de congressos no Cachopo. Pois carências sempre haverá.

Só que ao longo do tempo, bem ou mal definido, parece que tem havido um interesse claro e inequívoco: o interesse na regionalização, o interesse num modelo de administração autónoma e participada diretamente pelos administrados, e que, paradoxalmente custe menos ao Estado, ao mesmo tempo que se apresente como alavanca para mais riqueza – riqueza geral da região e obviamente riqueza para o Estado. Esta não é uma carência, é um interesse. Pode haver mais interesses, mas esse é sem dúvida um interesse bem identificado.

È óbvio que o Algarve não precisará de eleger turistas, mas também ficará mal servido se eleger representantes que mais não sejam do que agentes de exceção sediciosa contra os seus interesses, contra o seu interesse, tapando o sol com a peneira das carências.

Carlos Albino
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Flagrante Aleixo: Porque será que nós temos/ na frente, aos montes, aos molhos,/ tantas coisas que não vemos/ nem mesmo perto dos olhos?

quinta-feira, 19 de maio de 2011

SMS 412. Bandeira ao vento

19 maio 2011

Sim, a identidade é um caleidoscópio – agita-se e os mesmos elementos surgem sempre diferentes. A gente bem pode estar ver o Algarve antropológico e até se pode julgar que se vê, mas ao mínimo movimento as peças desarrumam-se e o que se pensava ser um genuíno contributo de Aljezur em nada passa a diferir de Castro Marim. E com o Algarve sociológico? Mexam o assunto que aquilo que aparece arrumado se desarruma como em todo o lado. O que será então “ser Algarve” que leve a considerar que alguma coisa, conforme a fronteira, possa “não ser Algarve”? Traçar a identidade no mapa é fácil – todos sabemos que, por aquela linha, Almodôvar não é Algarve e que o Vascão, ribeira que de vez em quando parece arremedo de rio, é metáfora política em momento de prova de vida. Só que o mapa não é critério podendo ir mais além ou ficar mais aquém e nomes de mapa são nomes – tanto podem servir para certidão de nascimento como para epitáfio. Também fácil será demarcar a identidade pelas tradições ou por aquilo que, segundo a tradição, se julga ser a tradição, por aquilo que é velho e sabido costume... Muito da identidade do Algarve tem sido escavado por aí, por vezes escavado até à exaustão e à ficção, diga-se. E então “ser Algarve” será mais ou menos o que “era”ou se julga que “foi Algarve” e, não se indo além do circunstancial, ou a tradição atropela a História ou é esta que atropela a tradição. Fica assim sem explicação, aquele corridinho polaco a um canto, a cataplana polaca noutro canto, o gnómon de Sagres mais velho que as urtigas na sala corporativa de historiadores rasos, a chaminé dos lares romanos ao abandono e à espera que a substituam por uns buracos em cimento moldado à macaca na Mealhada, um “mák’jêto” a figurar na palhaçada da anedota, umas chapadas de cal para a fotografia ou uma velha muito velha a cavalo num burro, mesmo que isto seja corriqueiro na Sicília, uns quantos advérbios idênticos aos de Trás-Os-Montes e outros filhos da Galiza sem que se saiba ou queira saber como voaram sobre as Beiras e o Alentejo, uma aguarela de um caíque e haver aguarela é uma sorte, uns folhetos do turismo que, sobre o Algarve, nem sequer copiam a parte melhor da velha enciclopédia de que Mário Lyster Franco foi o redator regional... E andamos nisto há anos, sem o trabalho de identificar o Algarve pelo reconhecimento dos valores ou pelo entendimento dos elementos de coesão que existem no Algarve, mesmo os seus elementos nómadas, e que determinam que o Algarve seja isso mesmo e não mera bandeira ao vento.

Dá para continuar.

Carlos Albino
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Flagrante questão: Não será adequado pedir-se à televisão da Andaluzia para, no interesse público, dedicar atenção ao Algarve? Em castelhano que seja.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

SMS 411. A identidade

12 maio 2011

De vez em quando vem à boca de uns e à cabeça de outros falar da “identidade algarvia”. Coisa fácil. Difícil é dizer o que será isso. Politicamente, o Algarve, sim senhor, foi um reino ao longo de séculos mas sem alguma vez ter possuído instituições de reino ou deixar marca de autonomia organizativa, o que foi o mesmo que não ter sido nada – era um penacho em cima de uma cabeça, penacho herdado do pai e deixado como penacho para o filho. Com o regime republicano, até o penacho desapareceu – ninguém foi Presidente da República de Portugal e do Algarve – e vieram boas doses de tardias manifestações românticas à mistura com evocações sérias e algumas até fundamentadas para dar alguma identidade a isto. Foi assim que as amendoeiras já cobriram de neve os vales por onde também corriam alegres odaliscas e, segundo as conveniências, onde igualmente se colava à paisagem alguns mouros mas não muitos para que os cristãos da identidade encantada gozassem à vontade o prato, nesse delírio em que até se via em cada chaminé um minarete de mesquita. Foi essa uma época em que a identidade algarvia tinha poesia oficial e até um poeta oficial – Cândido Guerreiro. Mas também já foi a época da identidade marítima, com o Infante D. Henrique por todos os cantos, cada caíque a fazer de pai e mãe das caravelas, Lagos e Sagres em linha reta com o Brasil, Olhão a navegar pelas estrelas, enfim, sem o Algarve Portugal não teria dado novos mundos ao mundo. Paralelamente, a reforçar essa onda de identidade, também houve tempos em que lá surgia Tavira como a Veneza do Algarve para quem quisesse ver, e para quem não pudesse ver, os livros de Teixeira Gomes eram expostos como os manuais de identidade da terra. E agora?  Nem penacho, nem odaliscas, nem dois mouros a fugir nus com uma faca de cana na algibeira, o Infante está reduzido a um monumento funerário no enfiamento da A2 com a 22, o Agosto Azul de Teixeira Gomes perdeu a cor, as amendoeiras de Cândido Guerreiro dão amêndoa amarga, os caíques foram-se...

Na próxima semana há mais sobre identidade.

Carlos Albino
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Flagrante documentário: Perante estes protagonistas que se nos oferecem, serve o expediente da Euronews para evitar palavras sobre coisas que doem: No Comments.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

SMS 410. Uma pedrada no charco

5 maio 2011

O que acaba de sair das mãos de Macário Correia, esta semana, é uma pedrada no charco. Há anos que, com insistência, alguns jornais regionais, ou por via de notícias ou por via de comentários, vão dando conta de situações insustentáveis e inadmissíveis de burocracias municipais, sobretudo quando está em causa alguma pretensão de obras particulares, algum projeto ou licença de construção, algum parecer que cheire a perspetiva de financiamento, ou mesmo casos corriqueiros. Perante 300 processos pendentes, 50 funcionários que preparam para despacho apenas sete a oito processos por semana, havendo um caso de 2008 em que o documento já passou por 63 fases sem que até agora tenha havido solução, o presidente da câmara de Faro foi direito ao assunto: quatro processos disciplinares abertos, aviso geral a chefes de departamento e de divisão que outros se seguirão, reunião com as chefias de viva voz a comunicar que a guerra não era a brincar. Mas segundo reporta o jornalista Idálio Revez (Público, terça), em função da mesma experiência por que passou em Tavira onde ninguém foi punido, Macário Correia chega à conclusão de que “a lei é corporativa e defende a incompetência”.

Investidores com quem tenho esporadicamente falado, alguns lá fora, e sobretudo cidadãos comuns à hora do café que é quando se confidencia muita verdade mas com o indispensável e desesperado pedido do “não diga nada, guarde para si, porque senão será pior”, têm-me dado conta de situações inacreditáveis e não apenas em Faro – é pelo Algarve todo, designadamente nos municípios com litoral. E posso aqui afirmar também que, pelo que conheço e sei, essa burocracia de raça perigosa como alguns cães que mordem sem razão aparente, é pior no Algarve do que noutras regiões onde também há infracções sinónimas desse tal laxismo que a lei não pune, mas, pelo menos, há vergonha na cara suficiente para se cumprir o código de procedimento administrativo, com destaque no capítulo do atendimento de quem requer, de quem pergunta, de quem solicita – há por aí gente que trata o cidadão com ar de Pitbull, e, destacando também as letras, desculpem-me os justos estarem a pagar pelos pecadores. No Algarve, sei e tenho presenciado casos que bradam aos céus, e que implicam desde o quadro técnico que sabe como não deixar uma perna de fora, até ao fiscal camarário que anda por aí, ora abrindo, ora fechando os olhos, conforme... 

É claro que presidentes e vereadores, a quem compete aquelas decisões a que por comodidade se chama “decisões políticas”, são eleitos, e acho bem que, se sentem o charco, atirem a pedra e verifiquem se por lá já não há bicho a mais – é no seu próprio interesse, pois ninguém vai votar ou voltar a votar em quem tolera que se leve anos para fazer o que em muitos casos se pode fazer de um dia para o outro. Também é claro e por demais evidente que os “quadros técnicos” não dependem de eleições mas de regulamentos e do seu próprio arbítrio, critério, capacidade e, mais, dependem do seu perfil de alma - coisas que saem do tear que dá roupa para as saias muito largas.

Carlos Albino
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Flagrante evidência: Para isso continuar assim, os governos civis deveriam ser extintos como tais e convertidos em delegações do ministério da Administração Interna que é o que são.