quinta-feira, 5 de maio de 2011

SMS 410. Uma pedrada no charco

5 maio 2011

O que acaba de sair das mãos de Macário Correia, esta semana, é uma pedrada no charco. Há anos que, com insistência, alguns jornais regionais, ou por via de notícias ou por via de comentários, vão dando conta de situações insustentáveis e inadmissíveis de burocracias municipais, sobretudo quando está em causa alguma pretensão de obras particulares, algum projeto ou licença de construção, algum parecer que cheire a perspetiva de financiamento, ou mesmo casos corriqueiros. Perante 300 processos pendentes, 50 funcionários que preparam para despacho apenas sete a oito processos por semana, havendo um caso de 2008 em que o documento já passou por 63 fases sem que até agora tenha havido solução, o presidente da câmara de Faro foi direito ao assunto: quatro processos disciplinares abertos, aviso geral a chefes de departamento e de divisão que outros se seguirão, reunião com as chefias de viva voz a comunicar que a guerra não era a brincar. Mas segundo reporta o jornalista Idálio Revez (Público, terça), em função da mesma experiência por que passou em Tavira onde ninguém foi punido, Macário Correia chega à conclusão de que “a lei é corporativa e defende a incompetência”.

Investidores com quem tenho esporadicamente falado, alguns lá fora, e sobretudo cidadãos comuns à hora do café que é quando se confidencia muita verdade mas com o indispensável e desesperado pedido do “não diga nada, guarde para si, porque senão será pior”, têm-me dado conta de situações inacreditáveis e não apenas em Faro – é pelo Algarve todo, designadamente nos municípios com litoral. E posso aqui afirmar também que, pelo que conheço e sei, essa burocracia de raça perigosa como alguns cães que mordem sem razão aparente, é pior no Algarve do que noutras regiões onde também há infracções sinónimas desse tal laxismo que a lei não pune, mas, pelo menos, há vergonha na cara suficiente para se cumprir o código de procedimento administrativo, com destaque no capítulo do atendimento de quem requer, de quem pergunta, de quem solicita – há por aí gente que trata o cidadão com ar de Pitbull, e, destacando também as letras, desculpem-me os justos estarem a pagar pelos pecadores. No Algarve, sei e tenho presenciado casos que bradam aos céus, e que implicam desde o quadro técnico que sabe como não deixar uma perna de fora, até ao fiscal camarário que anda por aí, ora abrindo, ora fechando os olhos, conforme... 

É claro que presidentes e vereadores, a quem compete aquelas decisões a que por comodidade se chama “decisões políticas”, são eleitos, e acho bem que, se sentem o charco, atirem a pedra e verifiquem se por lá já não há bicho a mais – é no seu próprio interesse, pois ninguém vai votar ou voltar a votar em quem tolera que se leve anos para fazer o que em muitos casos se pode fazer de um dia para o outro. Também é claro e por demais evidente que os “quadros técnicos” não dependem de eleições mas de regulamentos e do seu próprio arbítrio, critério, capacidade e, mais, dependem do seu perfil de alma - coisas que saem do tear que dá roupa para as saias muito largas.

Carlos Albino
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Flagrante evidência: Para isso continuar assim, os governos civis deveriam ser extintos como tais e convertidos em delegações do ministério da Administração Interna que é o que são.

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