quinta-feira, 28 de outubro de 2010

SMS 385. Gente nossa lá fora


28 outubro 2010

Temos pouca gente lá fora, mas não nos devemos esquecer dela. Claro que há muita, muitíssima gente nossa lá fora, mas a gente a que me refiro é a que ascendeu a cargos internacionais ou de representação do estado, por carreira e mérito, e não pelo jogo político que nas mais das vezes é pura combinata.

Acaba agora de ser eleito presidente do conselho consultivo dos procuradores-gerais do Conselho da Europa, João da Silva Miguel, ali de Querença, e que é o representante de Portugal no Eurojust. À gente que temos lá fora em postos, cargos ou funções de alto nível, junta-se assim ao embaixador Américo Madeira Bárbara, representante permanente de Portugal junto do Conselho da Europa, em Estrasburgo, diplomata de carreira nascido naquele país aparte que fica entre Messines e Alte que também pode ser Silves. O embaixador Madeira Bárbara, antes de Estrasburgo, chefiou a missão diplomática portuguesa em São Tomé e Príncipe, e foi cônsul-geral em Boston, encarregado de missão para a CPLP, representante permanente adjunto na FAO e diretor dos serviços jurídicos do MNE. Além disso, o até agora homem discreto de Querença, na lista da nossa gente junta-se também ao embaixador Luís Filipe Castro Mendes, ainda embaixador de Portugal em Nova Deli e que em breve vai assumir a chefia da missão de Portugal junto da UNESCO, em Paris, mas que apesar de nascido em Idanha a Nova e depois andado pelos Açores, Chaves e Leiria, se considera algarvio pela direta ascendência e sobretudo pelo estado de alma – é filho do saudoso magistrado Afonso de Castro Mendes que colaborou neste mesmo jornal em anos que já lá vão. Além disso os que associam o nome do embaixador Luís Castro Mendes a títulos de livros de poemas como O Jogo de Fazer Versos, Os Dias Inventados, Correspondência Secreta, Outras Canções, Viagem de Inverno, Seis Elegias e Outros Poemas, Recados, Modos de Música... não se enganam. Luís Filipe Castro Mendes pertence à fina-flor da poesia portuguesa contemporânea, na qual ele inscreve sem dúvida aquela inconfundível meridionalidade que igualmente perpassa nas obras de Nuno Júdice e Gastão Cruz. Serve isto para dizer que Luís Castro Mendes é nosso.

Chegou a hora de ouvirmos mais cá na terra, esta nossa gente que sabe. Porque quanto a vê-los, só não os vê quem não é de cá ou está de passagem mesmo que naquelas “passagens definitvas”...
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Flagrante certificado: Mas José Sócrates e Passos Coelho precisam de explicadores sobre o Algarve? Mas que ideia é essa, Miguel Freitas?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

SMS 384. Por favor, não brinquem


21 outubro 2010

O momento que passa é grave e o mínimo que se pode esperar dos políticos responsáveis (sobretudo os eleitos e os nomeados) é que não brinquem às escondidas. Responsáveis de partidos, deputados e decisores, todos têm, nas presentes circunstâncias, o dever e a obrigação de serem claros e de irem diretos ao assunto, com seriedade perante quem os elegeu e com respeito pelos administrados. Portanto, se é do Orçamento de Estado que se fala, não falem da fé, da esperança e da caridade como nos sermões morais; e se é do PIDDACC, não falem dos vinhos de areias. Não elegemos folgazões, elegemos deputados. Julgo que todos ganharemos com o fim das brincadeiras e do andar-se às curvas no discurso e no debate político faz de conta. E se quem deve não pode ter voz, diga que está rouco ou que pura e simplesmente não quer ter voz, mas não se ande a fingir por aí que se fala como se a suposta assembleia dos que ouvem fosse uma assembleia de pacientes papalvos.

Deploravelmente, o debate das implicações do Orçamento para o Algarve e o escrutínio sobre se a região está a ser ou não tratada com exceção sediciosa, está aquém do que se poderia esperar. Pelo menos até agora, dois ou três comunicados e duas ou três crónicas em jornais parece que arrumaram o assunto, os deputados eleitos pelo Algarve obviamente que vão votar com toda a disciplina pela qual os respetivos estados-maiores os vinculam, enquanto no terreno os da oposição fazem o seu esperado papel e os afetos ao poder se baixam na trincheira tal como os soldados mentalmente reservados que não querem entrar na guerra em que têm que estar, nem perder a próxima – sobretudo não perder a próxima.

Os do poder, encolhem-se, vão para as metáforas e apelos morais que já poucos suportam, e, longe da realidade ou apenas enfronhados na realidade que é a sua realidade pessoal, esquecem-se de que o Algarve precisa de ter voz não lhe bastando ter boca e que os militantes de um partidos não são deputados dos eleitores da área. Por sua vez, os das oposições obviamente que cumprem o seu papel com a vida muito mais facilitada do que quando eram poder antes de serem revezados ou porque, se nunca estiveram no poder, também nada têm a perder com a boca a fugir para a facilidade. É claro que aqueles que sabem que uma democracia, nestas circunstâncias, perde qualidade, têm a obrigação cívica de advertir antes que seja tarde - «Por favor, não brinquem». E sobretudo, para os que não são, não brinquem aos algarvios.

Carlos Albino
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Flagrante ironia do destino: No cartaz que acompanhou a construção do Estádio Algarve, bem se podia ler: «Construímos vitórias”. Nem se conseguiu o empate.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

SMS 383. Os carris do czar…


7 outubro 2010

Conta-se que os bolcheviques, nos calores da revolução russa de 1917, arrancaram os carris construídos pelo czar apenas porque, por isso, seriam caminhos-de-ferro czaristas, e que, com o mesmo ferro refundido e no mesmo traçado, reconstruíram caminhos-de-ferro então sim caminhos-de-ferro revolucionários… Vem isto como exemplo de quanto a irracionalidade pode ir longe e até ao inimaginável, não sendo coisa própria ou exclusiva de ditaduras – nas democracias também há indícios ou mesmo práticas próximas do ridículo dos bolcheviques. Sim, é à Via do Infante que nos queremos referir.

Pelo noticiário quotidiano mais recente, por aí surgiu uma associação de utentes com certidão de nascimento contra as portagens e porque algum dos promotores, como consta, é do Bloco de Esquerda, logo todos os membros presentes de tal associação e todos os futuros até à quinta geração serão forçosamente dos carris desse partido. Depois, foi o PSD da região a demarcar-se da respetiva direção nacional que impôs ao governo do PS a condição de “ou todos ou ninguém”, e em protesto claro contra as portagens, insurgiu-se contra aproveitamentos partidários mas apoiando os protestos, pelo que remeteu o ferro para a “sociedade civil” que é aquela coisa onde a política não tem código postal e, como se sabe, é tão nómada como uma tribo cigana. E estava a desenhar-se esse quadro, quando o PS da região que nos últimos dois anos tem tido pesadelos com a questão, surge a dizer, por um dali, que o partido não pode ir a reboque do PSD, mas acolá a ter de considerar como "legítimo" o protesto mas que "não alinha num protesto do BE", que, segundo o mesmo PS está a "instrumentalizar" a insatisfação de alguns…

Afinal qual é o problema? O problema da Via do Infante será apenas o de que o PSD não quer que o BE proteste ou se intrometa no protesto que deve ser da “sociedade civil”? Consistirá esse problema apenas em que o PS não sabe como protestar sem que o faça ao lado do PSD, ou seja em “sociedade civil”, ou se deve ter o seu próprio protesto não alinhando em outro qualquer protesto, fazendo excursões às obras da 125 a norte de Faro como se o resto fosse paisagem para a “sociedade civil”? E será assim tão grande problema para a Via do Infante, o BE não perder a ocasião para mobilizar apartidariamente contra o PS e contra o PSD, já que o PCP disse em junho, e parece que mantém, que os protestos devem chegar exatamente “ao PS e ao PSD”? Ou seja, o problema dos algarvios quanto a portagens na Via do Infante será o de que todos têm de protestar como que uma obrigação e para não ficarem mal no filme, e portanto cada um arrancando os protestos dos outros para reconstruir o mesmo protesto, com o mesmo ferro e no mesmo traçado dos carris do czar?

Mas porque é que um protesto, se é protesto legítimo, não há-de ter gente do PS, do BE, do PCP, do PS ou seja de quem for que não esteja seja militante de partidos ou tenha sido e já não é? E o que é isso de “sociedade civil”, como se esta fosse a da gente pura e não contaminada pelos partidos? Haverá? E será conveniente que volte a haver uniões nacionais dessas entre anónimos de trazer por casa, consoante as conveniências, já que não somos assim tantos e os que somos, mais ou menos conhecemo-nos todos uns aos outros?

Os partidos da região, mais uma vez, estão a falhar. O PS da região parece que não aprendeu com as últimas eleições, com os seus poucos deputados eleitos ou repescados a atirarem os foguetes e a apanharem as canas, com a demonização do “aproveitamento partidário”; o PSD da região parece que não percebeu que não tem peso específico nos órgãos nacionais decisores do partido, fazendo-se ouvir sem receio do sotaque sulista; o BE parece que também não percebeu que as boleias na A 22 não resultam; o PCP e o CDS pouco podem fazer, a não ser comunicados. E essa falha dos partidos será dramática se o protesto, qualquer protesto, for por acaso inorgânico, espontâneo e incontrolável – o que é sempre lícito admitir sobretudo quando os partidos não formulam com rigor, isenção e seriedade o problema, antes de pregarem a solução ou, mais grave ainda, antes de cada um, arremedo de czar ou bolchevique apalhaçado, impor a sua solução com a exclusão das soluções dos outros.

Carlos Albino
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Flagrante emoção: A de ouvir os Artista de Minerva a executar o hino nacional, em Loulé, em uníssono com as bandas de todo o país.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

SMS 382. Região-piloto?


30 setembro 2010

Volta a falar-se da região-piloto que naturalmente será o Algarve, pensam uns tantos. Já esteve na constituição, de lá foi retirada sem grandes protestos dos deputados pelo Algarve de então, agora pretendem alguns que isso volte a ser colocado na lei fundamental, embora não se saiba se os decisores do Norte vão tratar das regiões como trataram das portagens: ou há regiões para todos, ou não há para ninguém... Falar da reintrodução da região-piloto na constituição, é pouco, para não dizer que não é nada. Já lá esteve e viu-se no que resultou. Com que objetivos, alcance e meios? Qual o calendário? Será “piloto” de quê? Sobre tudo isto, há por aí umas declarações vagas que não dão para se perceber bem as intenções políticas para se regressar à bandeira da região-piloto. Mas que convicções são essas que assim de um momento para o outro levaram a retomar um projeto com que se enganou o Algarve, há uma vintena de anos, quando o Algarve por acaso até tinha ainda alguns algarvios e não apenas gente que vem para aqui para fazer carreira que noutras paragens lhe estaria vedada?

Na verdade, com a crise que para aí estalou, é difícil admitir que o estado proceda à regionalização, ou que a queira mesmo. Primeiro, por falta de vontade, e segundo por falta de recursos. À falta de vontade do estado soma-se a corda que se foi dando aos municípios, com cada câmara a considerar-se “governo local” sem nada pelo meio antes do governo central, e com os representantes que fazem as assembleias municipais a graduarem-se em deputados... Daí que muitas câmaras e assembleias pensem que a regionalização já está feita com os municípios, sobretudo nas áreas de controvérsia geográfica que é a única coisa que o Algarve não conhece. E quanto a recursos, não vale a pena espalhar ilusões porque é preciso dinheiro, bastante dinheiro, para manter as instituições necessárias para uma regionalização a sério, dinheiro que não cai do céu – o problema não é fazê-la, é mantê-la, e a Madeira e os Açores fazem o que fazem, esticando a corda, porque estão rodeados de mar por todos os lados e por vezes não têm a consciência de que aquilo não é bem o Kosovo, mas que são duas excelentes regiões-piloto, lá isso são.

Sendo assim, é lícito admitir que a nova revoada da região-piloto é mais uma vez, um expediente para aqueles que em última análise partilham a decisão política, fugirem à questão, evitarem o problema e contornarem airosamente a solução, mantendo tudo como está mas com outro nome “salvador” para a região que fizer de “piloto”... Ora se uma região-piloto do Algarve for para legitimar as mordomias que já conhecemos com a atual desconcentração de serviços e que não é mas do que desconcentração (subserviente lá para cima e prepotente para os cá de baixo), então – não, obrigado.

Carlos Albino

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Flagrante divertimento: Muito divertimento com as ideias de André Jordan...


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SMS 381. Instalada a confusão


23 setembro 2010

Com as portagens na Via do Infante, obviamente. Vai ser a grande confusão. Prevejo e oxalá me engane, porque o Algarve evita sempre levantar ondas, e, como está provado, mesmo quando lhe dói, come e cala, o que também não é nada bom. A solução encontrada foi do género daquela que, para curar a dor de cotovelo a uns quantos, se tivesse de criar uma dor de cotovelos geral, para todos mesmo para quem não andou ou não quis andar à cotovelada. Tem sido dito, e com verdade, que a Via do Infante não tem comparação possível com as auto-estradas do Norte e do Centro e que, em algumas áreas são um enxame. Além disso, também foi já dito que a velha EN 125 não tem possibilidades de “requalificação” e se nesta se insistiu levando-a avante, foi no interesse exclusivo de empresas projetistas e construtoras, para ganharem algum com umas rotundas aqui, umas voltas ou reviravoltas acolá, mais uns troços que destroçam além ainda mais o que destroçado está. A 125 está praticamente toda urbanizada e ocupada, como estrada só existe no mapa pois no terreno é uma grande rua com travessas, alguns becos e milhentos enfiamentos inomináveis para urbanizações de casinhotos. É certo que a 125 liga terra a terra ou localidade a localidade, mas a cada ligação dessas corresponde uma ratoeira à entrada e outra à saída, além das armadilhas pelo meio, e tanto assim é que já tiveram que colocar em extensas áreas, separadores que nem nas auto-estradas existem, verdadeiramente uns muros de Berlim separando populações, interesses, vizinhanças e serviços e que nem acessos novos em redor e na proximidade evitaram e evitam... Requalificar a 125 como estrada é deitar dinheiro à rua, como estão a deitar, e o resto se verá – cada câmara isoladamente agradece tal requalificação (sempre é mais uma obra) mas numa perspetiva de região, a requalificação é um desastre. A Via do Infante, além de ter sido construída e em grande parte paga como toda a gente sabe e como o estado parece não se recordar, é de facto a única estrada longitudinal de que o Algarve dispõe, e tanto assim é que não é apenas uma nem duas mas várias são a localidades algarvias cujos acessos foram planeados e construídos em função dessa única via, como se a 125 não existisse, porque deveras já não existe como estrada longitudinal da região – não é alternativa.

E assim sendo, parece que vamos ter confusão.

Carlos Albino
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Flagrante sorte: Na verdade foi uma sorte não termos sido literalmente passados a ferro, em Lagoa, por uma Toyota Hiace em alta velocidade, sob a arcada do Convento de São José, eram 20 e 45...


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SMS 380. O Luar de Quarteira


16 setembro 2010

Com certeza que é um monumento efémero mas tem dia marcado em agosto, aquela Lua Cheia de Quarteira que risca o mar, suaviza o espírito e irmana os olhares. Não há luar como esse, o de Quarteira. Não há. Ver aquela mesma lua mais a um lado à esquerda é como um crente ir a Meca e ficar desapontado, e vê-la mais a outro lado à direita é como um descrente regressar de Roma ficando na mesma – Quarteira é o local exato para se nascer e morrer por uns instantes com aquela luz atravessando o mar e o corpo. Há uns anos, nesse dia previsto, pedi ao poeta Nuno Júdice que me transmitisse o que lhe ia na alma e o que por lá ia está gravado em pedra na Praça do Mar – belo poema que até a Lua por certo já leu. Pois todos os anos, nessa noite que o calendário confirma, lá estou e se a Lua der voltas certas e a Terra não desacertar, em 2011 lá voltarei a estar. Habituei-me a esse monumento efémero desde que aprendi a soletrar, e todos os anos, por essa noite, lá vai mais um papel para a arca sobre essa dádiva de luz que vem oferecida em silêncio do outro lado da terra. Este ano, aconteceu uma espécie de oração que não pede nada e que não resisti a ler em voz alta, no extremo de um molhe, mas foi assim:

Avé Lua Cheia de prata,
que o penhor é connosco,
manuscrita pareceis vós
com todos os caracteres
e manuscrito é o fruto
do Vosso ventre, essa Luz.

Canta Lua, nesse apogeu,
cantai por nós, observadores,
agora e antes que, sem sorte,
uma nuvem Vos corte.
Além.

Carlos Albino

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Flagrantes demissões & exonerações: Recordam-se? Ainda há pouco tempo toda a gente se demitiria e exonerava e que faria isto e mais aquilo, se houvesse portagens na Via do Infante. Chegou a hora e dão o dito pelo não dito. Fazem-me lembrar o tal herói que prometia vencer batalhas com uma faca de cana…


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

SMS 379. Em escassos três dias...


9 setembro 2010

Referiu, e bem, o diretor do Jornal do Algarve, Fernando Reis, a perda de urbanidade dos algarvios ou, como disse, a arte de bem receber como era tradição e lhes era próprio. É verdade. Não é este o sítio mais indicado para identificar as causas dos destemperos de trato, nem a correção desse mal que é público e notório deve ser feita apenas em função do turismo que, queiramos ou não, é a bitola da sociedade algarvia. Mas não é desapropriado testemunhar o que me aconteceu no domingo, segunda e terça, escassos três dias:

1 – Uma rapariga que, saída de garagem à berma da estrada, deixou o carro atravancando metade de estrada municipal a seguir a uma curva apertada, forçando-me a travagem brusca, perante reparo delicado meu, enxotou-me como se enxota um cão e fez-me aquele gesto que apenas alguns desculpam a Carlos Queirós ou a bêbados de circunstância…

2 – A mulher que passeava dois cães atrelados deixou que estes fizessem à minha porta aquilo que nem Satanás permite à porta do inferno, e perante delicado reparo meu, deitou de imediato pela boca palavras equivalentes ao que os cães deitaram…

3 – Na esplanada de praia, a meio da manhã, e ainda quase tão deserta como Guimarães, confrontado com batuque de se ouvir na linha do mar alto, a rapaz tatuado aos botões, perante delicado reparo meu, respondeu simplesmente: “Tás incomodado, pá? Põe rolhas nos ouvidos, oh meu!”…

4 – Num café, pedi a substituição de um copo sujo à vista desarmada, veio outro copo sujo e que voltou para trás, veio outro como os anteriores, e perante um delicado reparo meu, o empregado de mesa não esteve por menos: “Se voceia quer melhor, olhe!, beba pela garrafa”

5 – Um jeep conduzido por rapariga de óculos escuros presos aos cabelos, por pouco que não me ia passado a ferro numa passadeira de peões devidamente assinalada. Notando pelo retrovisor um delicado sinal meu apontando para a sinalética, nem mais nem menos, lá adiante ela fez aquilo que apenas se aprende com o ex-ministro Pinho…

6 – Na avenida principal da cidade, um homem trintão de fato imobiliário escuro e pasta de causídico formado em Beja, talvez inadvertidamente ao cruzar-se comigo, debitou para o chão aqueles quesitos de valente escarradela. Perante um delicado reparo meu, ele sorri e diz-me: “Caro senhor, dê-se por feliz não ser atingido”. E seguiu, empertigado e a badalar a pasta tal como os imperadores impotentes badalam o que simulam não lhes faltar…

7 – Numa tabacaria em zona de “turistas de luxo” – não é assim que se diz? – procurava eu um jornal que me interessava. A rapariga do balcão apontou, voltou a apontar e eu não conseguia descortinar. Ao quarto pedido de apoio, a rapariga solta intempestivamente aquele “Ali! Ali, homem! Não vê, ou quer que lhe empreste os meus óculos?” e após sorriso de desdém para este português continuou a atender um cliente alemão por gestos.

Em escassos três dias, é demais. E não cabe aqui contar o que terceiros me narraram ter-lhes acontecido numa junta de freguesia, na segurança social em Faro e nuns serviços camarários. Não cabe e um desses casos é até inacreditável. Vamos bem.

Carlos Albino
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Flagrante obrigado à GNR: Em curva perigosa, o meu carro teve uma avaria simples mas suficiente para o imobilizar. Surgiu-me uma patrulha de trânsito da GNR e foram inexcedíveis – um deles até foi colocar o sinal de aviso de perigo, outro ajudou-me a colocar o colete. Solícitos em tudo, ates da retirada perguntaram-me se queria algum apoio. Fiquei sem saber os seus nomes e eles sem saber o meu. Obrigado.


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

SMS 378. Guimarães desnorteou-se

Aqui fica esse cartaz, para que conste...


2 setembro 2010

Pois Guimarães desnorteou-se ou desonrou-se, como queiram. E não precisava disso. Para quê promover-se Guimarães como Capital da Cultura de 2012 com o slogan “Guimarães: é onde tudo acontece” sobre a foto contrastiva de uma praia do Algarve deserta e camas de areia arrumadas junto dos toldos fechados? Se isso é cultura, Guimarães começa por acontecer mal e com o rei na barriga. Mas, mais grave do que essa promoção de basbaques, foi a explicação dada pela responsável local dessa cruzada. Disse ela que a intenção “era surpreender, com ironia, o espetador que está habituado a ver as praias cheias de gente”. Ironia? Ou afronta decorrente de sarcasmo presunçoso gritado de ameias que parecem necessitar de inimigos como pão para a boca? É reles e próprio de pessoas reles. Se o objetivo era o da eficácia, porque não escolher-se para o cartaz uma foto de Nova Iorque, Paris ou Londres vazia para reforçar essa peregrina ideia de que “em 2012 todos os caminhos vão dar a Guimarães” substituindo-se assim até a Roma? Uma imagem de Nova Iorque vazia para promover Guimarães, isso é que seria comparação surpreendente, diria qualquer psicanalista que se desse ao trabalho de deitar no divã quem dá pública nota de manifestações tardias de adolescência provinciana.

É que ai temos, naquela explicação, um juízo que anda atrás de muita afirmação “regional”, juízo esse que atemoriza, sim atemoriza e de que maneira!, que se façam regiões com provincianos tardiamente adolescentes. Não é a promoção de Guimarães que causa temor, é sim a mentalidade que por ela se revela, como se para se promover uma região ou a cidade de uma região, se precisasse de esvaziar as outras regiões e as cidades de outras regiões, a começar por alguma coisa simbólica, uma praia, por exemplo, a sul desse desnorte. E chamar-se a este exercício um exercício de ironia, naturalmente que é desfaçatez ao usar-se acintosamente um símbolo de promoção de outra região, achincalhando-o, ao mesmo tempo que se omite algum símbolo próprio. É o mesmo que fazer e servir-se de outra região como capacho para limpar os pés e os complexos.

Males desses não se curam com a mera substituição de cartazes. Curam-se com a substituição de mentalidades e, sem dúvida dos responsáveis que pensam que todas as outras mentalidades vão dar à sua própria mentalidade. É verdade que os cartazes da nova Roma cultural minhota começaram a ser retirados por essa ou outra razão, mas é duvidoso que a mentalidade irónica de Guimarães não continue na senda de que todos os caminhos tenham que ir dar até ela, apesar de saber ou de fingir ignorar que muito do dinheiro arrecado no Algarve para os cofres do estado não retornem ao mesmo Algarve, mas sejam usados, de alguma forma por alguma via, para financiar ironias provincianas. Aliás, o Allgarve é uma dessas ironias, pois em casa de ferreiro, espeto de pau.

Carlos Albino

    Flagrante fracasso: O de D. Afonso Henriques, ao não ter conseguido chegar às praias algarvias para que pelo menos isso tivesse acontecido fora de Guimarães.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

SMS 377. Há demasiado jogo


26 agosto 2010

Já nem se percebe. Num dia, o turismo anda bem, ocupa as camas, enche os aviões, são as percentagens risonhas, um movimento prestes a apagar maus sinais, fora com os ventos da desgraça e da crise nem se fala. No outro dia ou no mesmo dia, isso é aparências, muita parra pouca uva, há muita gente vinda de fora mas que vem de bolsos vazios ou com os euros bem contados, os lucros vão por aí abaixo, enfim que “o setor” não recuperou. E fora do turismo? Num dia, as águas estão como nunca, o ambiente um primor, as medidas foram tomadas por responsáveis cheios de zelo, tudo muito cuidado e vigiado. No outro dia, basta um protesto de pescadores, fica-se a saber que, por exemplo, a Ria Formosa está cheia de lixo, que falta fiscalização da poluição e que as margens daquele paraíso estão aqui e li pejadas de frigoríficos, sapatos e plásticos de todo o género, além de descargas de águas poluídas, o que diga-se de passagem, é magnífico para o setor. Num dia, também por exemplo, não há presidente de câmara que garanta a requalificação urbanística, a limpeza das ruas, a iluminação com que nem Deus sonhou quando pronunciou aquele fiat lux, que não garanta o controlo da poluição sonora e o controlo de todas as poluições. No outro dia, é o que se vê: ruas conspurcadas, cada um na velocidade com o escape que entende gozando da libertinagem, novas e extensas urbanizações de casinhotos uns iguais aos outros sem qualquer bom gosto ao lado de novas estradas já entaladas entre altas placas de absorção de ruídos em fileiras tão extensas quanto as filas dos casinhotos e substituindo a paisagem pelos grafitis, o que é bom para o setor. Num dia, a saúde está num primor para efeitos dos turistas de luxo que, afinal, não abundam por aí além. No outro dia, mal de quem precisa para se certificar da falta de meios e condições, das demoras impensáveis, se não houver recurso a “uma pessoa conhecida”. Num dia, os assaltos diminuíram, a segurança está a voltar, pelo número de queixas registadas “no período homólogo”, a GNR anda em bicicleta. No outro dia, sabe-se que ali houve assalto à mão armada por 400 € e que até houve tiros por sorte ao lado do alvo humano, que houve mais vários roubos de alfarrobas – mas o que é isto para o turista de luxo? Nada - , que houve assalto à tal moradia, à outra e outra cujos dono não estavam nem foram avisados, nem serão ou que nem se queixaram suspeitando do gang mais que sabido e das represálias do gang, o que é bom para o setor, porque situações destas são mais que muitas, no dia a dia. E quanto a incêndios, agora que disso tem havido pouco no Algarve, num dia há autarcas que se apresentam como advogados em causa própria no indisfarçável propósito de capitalizarem dividendos políticos, mas nem no outro dia, por exemplo, reconhecem que o êxito contra os incêndios foi devido ao esforço político da governadora civil em promover a coordenação entre os agentes da Protecção Civil como coisa fundamental e que deve ter suado bastante em apelos para que os autarcas da se coordenassem entre si e assinassem o compromisso, justiça lhe seja feita. Mas já nem se percebe como alguns se esquecem tão depressa de um dia para o outro – há demasiado jogo.

Carlos Albino

    Flagrante esquecimento: O de Sagres. Há políticos que deveriam fazer mais do que tirar fotografias à maravilha.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

SMS 376. E o que fica depois disto?


19 agosto 2010

Volto à vaca fria. Sim, senhor, por via do Programa das Experiências que Marcam, tem havido e vai haver coisas “clássicas”, mais ou menos “jazz”, também “pop”, bastante “arte”, igualmente “desporto”, aqui e ali “gastronomia”, ainda a saia larga da “animação”, coisas a que se chama “arte de rua” e também “novo circo”, para não se citar as milhentas “feiras” e os milhentos “festivais” quase todos internacionais. Muito disto em parceria com municípios que podem, com patrocínios de empresas ou organizações que devem se é que não precisam, mas também porque muito disso tinha que acontecer em algum lado, de preferência para dar uso a elefantes brancos.

Mas depois disto o que fica? Fica a memória, por certo, e também alguma recordação, sendo que a memória é curta e a recordação esvai-se. Além de que muito disso é parte de tournées, anda por todo o país e a descida ao Algarve é mera circunstância, em alguns casos bem aproveitada, noutros casos perfeitamente dispensável. No entanto, é a animação que não se contesta por ser animação mas porque, a esse propósito, se chama indevidamente cultura. Contesta-se pois que numa folha A4 se alinhem os eventos, que de eventos se trata, e, dando à cara a aparentemente extensa lista, se chame a isso cultura, se queira dizer que com isso se inunda o Algarve com cultura, e levando o sofisma às consequências pretendidas, com isso, se teime em dizer que o Algarve tem uma política cultural… Claro que não tem nem, nas presentes circunstâncias pode ter. E não pode ter, primeiro porque quem a devia delinear ou teoricamente a poderia delinear, não pode ir além do chinelo; segundo porque os municípios não mostram grande vontade em construir uma agenda cultural do Algarve que ponha em crise autonomias em grande parte provincianas e prerrogativas populistas; terceiro porque nada custa falar horas sobre as indústrias culturais e criativas, mas é já mais difícil convocar os que comprovada e reconhecidamente industriam na cultura e na criatividade, coisas que não são propriamente os jogos florais do Cachopo. E é difícil convocar porque temos alguns mortos e poucos vivos, e os vivos transportam uma crítica que os primeiros, os segundos e os terceiros não suportariam e dela militantemente suspeitam, enquanto há algum dinheirinho.

Vamos bem, caros senhores.

Carlos Albino

    Flagrante antologia: A das colunas cativas dos autarcas. Não perco uma, porque cada uma vem mesmo a propósito, e, em cada uma, não é a comunicação social que “deturpa o que eu disse”…

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SMS 375. O Cine-Teatro que esteve por um fio


12 agosto 2010

E nisto, de repente, lembrei-me de José Mendes Bota. Depois das obras, a fachada está a descoberto, nem interessa ater-me por uns pormenores desinteressantes mas dizem-me, e acredito, que o interior está mesmo muito bem. Em boa hora a câmara de Loulé tomou a iniciativa de remodelar e adaptar ao tempo que corre, o Cine-Teatro que é um dos símbolos da terra e já com longa vida – desde 1930. Mas em diversos momentos esteve por um fio, sobretudo quando a restauração das liberdades públicas faziam crer que não haveria desculpa para ali não haver bom cinema, bom teatro, boas conferências, boas sessões de poesia, boa música, boas óperas até, enfim, um foco de irradiação cultural com audiências interessadas e que nivelasse por cima e não por baixo. E eis que, olhando para a fachada, lembrei-me de José Mendes Bota, mesmo sem saber se no futuro próximo aquela casa vai ser Casa de Cultura ou mero estabelecimento de enchidos como tantos há. Mas porquê José Mendes Bota? Vou contar.

Já lá vão uns anos, ele era candidato à câmara em eleições renhidas. E por acaso, coube-me escrever sobre autárquicas com todo o espaço, naquele tempo em que as páginas dos diários nacionais eram verdadeiros lençóis. E a José Mendes Bota destinei um verdadeiro lençol, com crítica cortante e prosa daquela que os prosélitos numa primeira leitura legitimamente pensaram que era para derrubar. O certo é José Mendes Bota ganhou, foi marcado o dia de posse e tudo fiz para vir de Lisboa propositada e unicamente para assistir ao ato No final da sessão solene, os habituais cumprimentos, a habitual fila por regra composta por ganhadores e caras de vitória fresca com um ou outro com ar de bom perder pelo meio, mas sempre ar estranho em dia de tais festas. Meti-me na fila sem me importar com as caras de mau ganhar ou de bom perder, também com um único propósito – formular um pedido ao presidente empossado. Cheguei ao pé dele e percebi que ele ficou mais perturbado do que eu pelo encontro. Abri o diálogo com o normal e óbvio “venho cumprimentá-lo” e eis que ele, de pronto: “Então você, depois daquele lençol, aqui?” Olhou-me olhos nos olhos e eu olhos nos olhos o olhei, retorquindo: “Foi eleito presidente dos louletanos, acabou a liça eleitoral e venho fazer-lhe um pedido – salve o Cine-Teatro!” Depois de breves momentos de silêncio perscrutante, ele: “Acredite, tudo farei para isso.” Despedi-me com o normal e óbvio “acredito na sua palavra, vamos ver”.

É claro que sabia eu das congeminações ou projetos ou ideias primas-irmãs daquela vitória, para pura e simplesmente derrubar-se o Cine-Teatro para dar lugar a amplo acrescento do mamarracho de 10 ou 12 andares contíguo, ou a outro mamarracho ainda pior, e com isso dando-se uma machadada não só na memória de Loulé mas sobretudo no que de mais apaziguador pode haver na vida coletiva de uma terra – um lugar de Cultura com história, com alguma história pequena que seja, porque sem história não é lugar, é sítio.

Fui acompanhando o caso e pude verificar que José Mendes Bota cumpriu o que prometera e nisso foi determinante, com engenho, remetendo para as calendas a consumação da avidez imobiliária, num tempo em que as câmaras estavam longe de possuir a instrumentação jurídica e política para acautelar interesses públicos. Primeiro com um aluguer de longa duração abrindo caminho à posterior aquisição do edifício, o Cine-Tetro de Loulé aí está, não sem que tenha de dizer um normal e óbvio “obrigado, José Mendes Bota”. Oxalá esse Cine-Teatro seja lugar e não sítio.

Carlos Albino

    Flagrante estupefação: Que outra coisa não pode haver quando um casal que reside em Albufeira me diz que teve de alugar um apartamentozinho em Quarteira para poder ir à praia e ter socego...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

SMS 374. Fartos, fartos de escrever e dizer que…

5 agosto 2010

que ali em Sagres, aquilo não é nem pode ser uma rosa-dos-ventos mas um relógio solar de dois quadrantes e que urgiria estudar com cuidado e rigor, dando sequência ao trabalho mais sério feito até hoje feito nos anos 60 pelo astrónomo José António Madeira.

que mais do que suspeitas, indícios de que a cataplana foi introduzida no Algarve pelos soldados polacos do tempo das invasões napoleónicas e que desertaram – as suas armas estão a ser descobertas, uma hoje, outra anteontem na serra onde terão sido escondidas pelos desertores e vendidas por tuta e meia a colecionadores particulares ou negociantes por vezes sem escrúpulos.

que corridinho e acordeão terão sido introduzidos por essa via ou sobretudo por essa via. O meu saudoso amigo de Alte, José Vieira, chegou a testemunhar-me a sua estupefacção quando, numa ida do seu rancho à Polónia, os polacos cantaram a Tia Anica na sua língua sem prévio ensaio ou aviso.

que a chaminé algarvia a que em crónica aqui no JÁ, vai para 42 anos chamei “estranha arma de ira”, é um belo e inestimável elemento persistente da arquitetura romana e que nada tem a ver com essas visões dos que vêem vestígios árabes em tudo. Chaminé romana proveniente do culto dos deuses Lares que eram de três ordens tantas quanto os orifícios da genuína chaminé algarvia (e não as da Mealhada) feita para servir a lareira por cima da qual outrora existia a “boneca”, sim, vestígio da deusa da casa. Aliás, Carminda Cavaco provou, e bem, a traça romana da casa rural algarvia, mas os estudos deveriam ter ido já mais além para não ficarmos na intuição. A chaminé de quatro águas, secundária e normalmente para servir o forno, essa sim é árabe e encontra-se aí por todo o lado nas adjacências do Mediterâneo, desde o Alentejo à Andaluzia, Marrocos Argélia, por aí fora.

que os castelos do Algarve nada têm a ver com a conquista mas com o casamento de Afonso III, em segundas núpcias, com Beatriz de Castela cuja heráldica incorporou, seguindo os costumes. Nada dessas patranhas das publicações da antiga Mocidade Portuguesa, havendo autarcas que não passaram a leitura daí.

que a população algarvia, em grande parte, tem mais a ver com transmontanos do que com árabes, pois pelo menos ao longo de três séculos, XVI a XVIII como bem responde Romero Magalhães, foram os transmontanos transportados por galegos (que aqui tinham as suas póvoas na costa) que colonizaram e recolonizaram o Algarve, deixando para a posteridade os seus jantares, advérbios, cantares e, sobretudo, os romances, como de resto Teófilo Braga se encarregou de recolher, com pequenas variantes. A natureza não dá saltos e então a natureza cultural não daria um salto sobre Beiras e Alentejo.

que não há meio nem vontade de política para recolocar em Faro pelo menos parte da Biblioteca do Bispado roubada em pilhagem inacreditável mas que orna Oxford como inquestionável acervo humanista onde figura o primeiro livro impresso em Portugal, o Pentateuco impresso por Samuel Gaucon na oficina que possuía na capital algarvia e que, disso, apenas tem uma fotocópia.

muito mais, muito mais, para não chegarmos aos caíques, pois é aqui que devia estar um Museu Marítimo e das Descobertas . Para não dizerem que o Algarve não tem nada. Foi perdendo tudo, o que é diferente e bem pior.

Carlos Albino

    Flagrante engano: Foi inaugurado, em Loulé, um troço de uma variante que é rigorosamente uma auto-estrada de uns cinco ou seis quilómetros mas que parte de um certo sítio que não se sabe bem que sítio é e chega a outro sítio que não se sabe para onde vai.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

SMS 373. Estrelas a rodos


29 julho 2010

Independentemente das ações judiciais e de quem tem ou não razão, se os promitentes-compradores britânicos se a empresa às portas da Quinta do Lago, o caso é chocante. E é chocante não pelos milhões dos apartamentos em causa, muito menos pelo apresentador José Mourinho, mesmo nada por ser PIN a fazer recordar aqueles discursos entusiasmantes de Manuel Pinho, também em nada chocando que a administração reitere, como acaba de o fazer, que o empreendimento “é claramente um produto acima do Hilton”. É chocante pelo número de estrelas.

Na verdade, o anúncio do empreendimento surpreendeu o país: não era quatro, nem cinco mas de seis estrelas! Com tanta estrela, as televisões noticiaram, os jornais repicaram e aquela parte do Algarve que continua provinciana mesmo que dela já façam parte britânicos que, alguns, vão para onde forem, também arrastam o seu próprio provincianismo crédulo porque não são exceção à globalização do provincianismo, regozijou-se com a nova constelação caída dos céus para uma zona classificada como florestal no PDM de Loulé. E então dizia um que pouco daquilo haveria em toda a Europa, ao que outro emendava – qual Europa? A nível mundial! E como tudo isso, é claro, que todos tivemos de acreditar nas seis estrelas, pois hoje já nada se faz sem estudos prévios, sem estudos previsionais, sem pareceres jurídicos ao pormenor para a lei não ficar em crise nuns casos, ou noutros para que legalmente se contorne a lei pelas veredas das lacunas, omissões e doutrinas difusas emanadas de instâncias interpretativas, havendo recurso, nas horas tristes e se a coisa dá para o torto, à invocada crise conjuntural que era coisa apenas imprevisível para quem, na origem das estrelas, já escondia a cabeça na areia.

Sabe-se agora que as referências às seis estrelas foram apagadas da obra e que, pelos vistos, só agora se percebeu que o número de estrelas não é por livre arbítrio, havendo um quadro legal. É claro que não se sabe muito bem porque é que as estrelas foram mal contadas ou se até o próprio ex-ministro Manuel Pinho por lapso contou seis onde estavam cinco, devendo nós ressalvar que, se não houvesse lei para o caso, até concordaríamos em dar sete, nove ou - porque não? - dez estrelas, ou até mais mesmo sem contrapartidas, formais ou informais. Aliás, como o governo, na altura, também ressalvou ao decretar a suspensão do PDM apenas na área do empreendimento, possivelmente fiado nas estrelas…

Carlos Albino

    Flagrante merecimento: Claro que esta homenagem não é autárquica ou, por outras palavras, a levar água no bico, mas 21 anos a fazer um jornal – Carteia - assumidamente local e que sempre resistiu a fazer de capacho autárquico, é obra. Vaz dos Santos, continue com brio.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

SMS 372. Aproveitemos estes dois meses e picos


15 julho 2010

Sim, aproveitem alguns este agosto e setembro que julho vai para o fim para passear pela fresquinha nos areais junto da arrebentação das ondas, para fotografar arribas agora que nenhuma delas se desmorona sem estudo prévio, para refrescar memórias a meio da tarde com os dedos cruzados em alguma esplanada que sirva café que não saiba a cardos, para percorrer nas noites sem ventania algum chão calcetado perto do mar se possível lambendo um gelado que é a melhor forma de evitar brigas nas famílias desavindas, para sonhar de janelas abertas aqueles sonhos que repelem até os mosquitos quanto mais os lobisomens, vampiros e outros títeres voadores que não perdem uma greta para saborear o sangue alheio à falta de sangue próprio, enfim aproveitem alguns estes tempinhos para perceber um monumento que ninguém explica se é que a porta esteja aberta. E que outros também aproveitem estes meses e picos para vender brindes, servir sardinha assada, lucrar alguma coisita com chapéus de palhinha e óculos de sol, compensar dezembro com baldinhos de plástico que calem crianças berradoras, equilibrar janeiro com uns quilitos de camarão assado junto de quem parece querer tirar a barriga da miséria mas a teve sempre farta, fazer esquecer fevereiro com umas camas paralelas mas tão paralelas como todas as outras pois dormir em camas verticais deve ser muito incómodo, enfim, justificar março convencendo que é artesanato o que à pressa se acabou anteontem para ir de feira em feira, e saldar algumas contas de abril com essa laranja toda à beira das estradas grande parte com aquela casca grossa que apenas engana papalvos. Ah! É claro que muitos não podem evitar o sofrimento nestes dois meses e picos, sobretudo perante as palmeiras comidas até ao tutano pelos bezouros, ou, depois do milagre de não ter sido passado a ferro por aquele carro conduzido por um cara de pau a 140 à hora na rua mais digna de civilização da localidade, ou ainda após ter engolido o habitual impropério da tal rapariga de óculos escuros com ar de ministra da Palestina mas que mais não é que rapariga das limpezas da agência bancária. Aproveitemos todos e o melhor possível estes dois meses e picos porque já estamos habituados, e, além disso, as próximas eleições legislativas ainda vão longe, muitos autarcas já não poderão ser reeleitos mas é agora que, sem abrirem demasiado o jogo, devem preparar o salto para outra, embora alguns, à evidência, melhor fariam se aproveitassem este tempinho que falta inscrevendo-se nalgum curso das novas oportunidades – e há um desses cursos, o da cultura geral, que forma excelentes especialistas.

Carlos Albino

    Flagrante advertência: Com provincianos, uma região nunca vai lá e mal de quem adverte pois o provincianismo jamais perdoa quem faz o diagnóstico, tal como o doente que prefere morrer na ignorância da causa.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sete anos de SMS

Poucos deram por isso mas passaram sete anos sobre o dia em que as SMS começaram neste mesmo espaço que é também tempo e vestígio. Foi a 15 de maio de 2003. Obrigado a todos os que desde então ou de ainda agora nos acompanham.

SMS 371. Olhando, medindo e comparando


15 julho 2010

Não é de agora, nem de há pouco mas há muito tempo que a caixa de correio se me enche desmedidamente às quintas e sextas. Não, não é pela publicidade gratuita mas pelos jornais locais e regionais um pouco de todo o país. Alguns mesmo, são os principais ou os mais vivos, intervenientes e, portanto de referência, independentemente do número de páginas ou da roupagem. A maior parte desses jornais vêm-me parar às mãos por deferência, bastantes por mediáticas cumplicidades antigas, alguns deveras por gratidão em função de ajudas, colaborações esporádicas ou, caso mais frequente, por ensinança, coisas que de modo geral para a imprensa loca ou regional fui fazendo ao longo da vida sem qualquer contrapartida e ainda assim é hoje. Mas porquê esta conversa? É que dei por mim não tanto a folhear e a ler na diagonal cada um desses jornais de toda a semana passada acumulados na caixa do correio, mas a compará-los uns com os outros, em três áreas de interesse, não quanto à forma mas quanto ao conteúdo: editoriais, noticiário próprio e publicidade. E sobretudo nesta área da publicidade ocorreu-me comparar, com mais pormenor, o grosso dos jornais lá de cima com os do Algarve. Rapidamente cheguei a uma conclusão para qual não é preciso grandes dotes, enorme esforço e muito menos correr-se o risco de cansaço cerebral: a publicidade dos jornais locais e regionais lá de cima, sobretudo os oito ou nove principais e que não vivem adventiciamente de ou para esquemas esquisitos, refletem a sociedade onde se inserem e servem, desde a publicidade colocada diretamente pelas autarquais e empresas locais, até aquela mesma publicidade colocada pelo cidadão comum, seja a da oferta ou da procura de serviços, seja a da mera prestação de informação social como é o caso da necrologia. E, para comparar melhor o fenómeno, medi com mais atenção dois desses jornais, um do Oeste (a Gazeta das Caldas) e outro da Beira (o Jornal do Fundão) comparando-os com os dois melhores jornais regionais do Algarve que não andam em barrigas de aluguer, não porque me repugnem as barrigas mas apenas porque as barrigas desvirtuam a avaliação própria do jornal alojado, sobretudo em matéria de publicidade que nunca se sabe. Mas que diferença lá em cima com aqui em baixo! Lá em cima, autarquias, empresas e serviços marcam presença nos jornais como que por necessidade e para eficácia; cá em baixo, não levem mal e aceitem mil desculpas se estamos em erro, a publicidade é colocada, pelo que parece, ou por favor e caridade patrocinadora, ou à espera de encómio adequado nem sempre discreto, ou como contrapartida para campanha sem convicção e por vezes para fogachos pessoais. E interrogo-me: como é que os jornais no Algarve podem sobreviver? Melhor: como é que o Algarve e os algarvios querem ter jornais? É que medindo e comparando bem, autarquias, empresas e cidadãos cá em baixo, na sua relação com os jornais cá de baixo, imitam e fazem o mesmo que as agências funerárias, no género – «Morreu alguém? Para que isso se saiba, basta colar fotocópias do morto em cada esquina e em placards sem taxas e sem IVA, que a família do morto paga!» Pois tenho que dizer: no Algarve, quer o Jornal do Fundão quer a Gazeta das Caldas, seriam jornais impossíveis, não por falta de apoios e ajudas mas por diferenças nas mentalidades e procedimentos entre lá em cima e cá em baixo, como se verifica logo folheando as agendas municipais cá de baixo. Isto da sociedade algarvia não se refletir nos seus jornais, dói.

Carlos Albino

    Flagrante interpelação: O Algarve tem deputados a mais ou deputados a menos?

quinta-feira, 8 de julho de 2010

SMS 370. A 125? Há seis anos ninguém ligou


8 julho 2010

Foi em 16 de dezembro de 2004 que a nossa mensagem curta n.º 84 trazia este título: Uma Avenida Metropolitana para todo o Algarve… Vai para seis anos, portanto. Confesso que tive a esperança de que a ideia fosse aproveitada por algum amante do Algarve mas sobretudo decisor ou influenciador, e secundada pelos amadores. Confesso que tive a vaga esperança de que os autarcas se mobilizassem, de que os dirigentes políticos assumissem a ideia, e de que, enfim, o Algarve se mexesse em vez se ficar à espera do trem e do sábado que vem. Mas não, ninguém ligou, e nem mesmo quando o governo avançou com a ideia da requalificação da 125, ninguém levantou um dedo, sabendo-se que tal requalificação não é da estrada mas sim requalificação de gabinetes de arquitetos, de engenheiros e de construtoras. Julgo que ninguém levantou um dedo porque toda a gente se acomodou na ideia de que a Via do Infante sem portagens era um dado adquirido e de que a Via do Infante continuaria até todo o sempre como a via rápida e única de travessia do Algarve, e até porque não houve político que tenha sido eleito ou nomeado para mordomia que não tenha feito essa promessa que alguns até entoaram como profissão de fé.

Justifica-se repetir esse apontamento de 2004, para que o leitor conclua:

Boa ideia, a que ouvi de Horácio Neves, o editor e director da Brasilturis (para quem não sabe, a maior publicação de turismo do Brasil). Estávamos a evocar José Barão e eis que ele salta com a proposta de se transformar a Estrada 125 que atravessa a Província Algarvia, numa avenida – precisamente a Avenida Metropolitana do Algarve. Na verdade, em muitos pontos, a 125 e derivados (os apêndices da 125 vão de 1 a 9) já não é mais nem menos do que ruas de comércio, trabalho e residência, movimentadas ruas às quais é crime chamar estrada. A ideia de Horácio Neves vem a matar e julgo que é uma daquelas ideias galvanizadoras, um projecto integrador de que o Algarve precisa como de pão para a boca e pelo qual vale a pena terçar armas. Os Municípios envolvidos – 12 dos 16 que integram a Área Metropolitana – se quiserem, podem concretizar a ideia não porque essa avenida venha a ser a maior da Europa mas porque retiraria o Algarve do beco onde possivelmente já está ou para onde caminha se não houver uma ideia salvadora. A transformação da 125 em Avenida pode ser um daqueles desígnios muito mais significativos do que D. Afonso III ter conquistado castelos aos mouros… Portanto, Macário Correia deve anotar isto na agenda. Deixemo-nos disso que caiu em folclorada do «Não às Portagens» e tratemos é desta boa ideia que, por tão boa, é a melhor resposta ao ministro António Mexia e ao senhor que se segue que não deve ser muito diferente do que o antecedeu. Está nas nossas mãos.

Recusar uma ideia destas tem perdão? Não tem. Ponham a mão na consciência.

Carlos Albino

    Flagrante refúgio dos bandidos: Reconhece-se agora abertamente que parte apreciável dos bandidos que assaltam, roubam e atacam, vêm de Espanha e que, depois de cada façanha, ao refúgio de Espanha retornam. As autoridades de um e do outro lado, sabendo disto, não agem? Ou será que as queixas de um lado não comovem o outro lado?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

SMS 369. A única Via que o Algarve tem


1 julho 2010

Vamos por pontos:

1 – A Via do Infante, em grande parte, não custou um cêntimo ao estado e a pequena parte que custou mais não é do que o retorno de uma décima milionésima parte do lucro que o Algarve tem dado ao mesmo estado. Além disso, ficou barata: absorveu as montanhas de escórias de Sines tornando-se por isso, em largos troços, na via mais barulhenta da Europa.
2 – Estrada de 3 vias esticada com engenho para 4, a Via do Infante foi uma solução para a EN 125 pois esta 125 não foi planeada para a região mas feita para ligar terra a terra, aos ziguezagues, na época da mula e das duas camionetas da EVA, quatro automóveis de Faro para Portimão, duas cucciolos de Olhão, duas de Sachs para Loulé e o resto a pedal quer no Parchal quer do Patacão. E com tanto turismo, foi um crime ter-se deixado que a 125 se transformasse na Estrada da Morte, após décadas de fino lucro do estado com o mesmo turismo.
3 – Largos trajetos da Estada da Morte foram sendo anulados consoante os bochechos da Via do Infante, transformando-se praticamente em ruas com restaurantes de grelhados e casas de toldos à esquerda, vendedores de automóveis e de materiais da construção civil à direita, separadores de arame ao centro com casas de móveis de um lado e outro, rotundas volta e meia com setas para paraísos da imobiliária, tudo menos uma estrada de ligação longitudinal do Algarve que nunca foi mas isso fazia de conta. Entusiasmadas pelo progresso, as câmaras concederam licenças atrás de licenças, os clandestinos legalizaram-se, as finanças do estado agradeceram (e de que maneira!) e a estrada, hoje, é uma feira de quilómetros e quilómetros. É verdade que a 125 deixou de ser a Estrada da Morte mas isso aconteceu apenas porque a Via do Infante passou a ser a única estrada de travessia do Algarve, sem alternativas e nada tendo a ver com a lógica da rede de auto-estradas do Minho, do Douro e das Beiras, também não tendo comparação com os descampados do Alentejo – a Via do infante, na hora que passa, é a única via possível, a única utilizável e a única que serve e o próprio conceito de SCUT que se lhe aplicou foi um erro político de entendimento. E aqui é que bate o ponto.
4 – A anunciada mas muito atrasada requalificação da EN 125 mais não será do que a requalificação da Estrada da Morte – requalificará mais a morte que a estrada pois a 125, tal como nasceu e para o que serviu, não tem emenda. Talvez até ficasse mais barato uma estrada nova, embora esta tenha ficado inviabilizada pelos erros de traçado da Via do Infante por efeito daquela pressão de meia dúzia de fundamentalistas do ambiente que são os que mais conspurcam às escondidas o ambiente humano.
5 – Mesmo com a promessa da morte requalificada, a 125 deixou de ser estrada, e se voltarem a empurrar o trânsito para aí, por mais rotundas e traçados de emenda que arquitetos e construtoras adoram, a mesma 125 será, sim, a Estrada do Genocídio com palmeiras e rotundas. É só esperar pela pancada.
6 – Introduzir portagens na Via do Infante é, além de injusto, uma violência e um abuso, porque essa estrada numerada como A 22 não é uma entre outras auto-estradas que o Algarve tem, é única via de que a região dispõe – é uma via que o estado tardiamente construiu com dinheiros dados ou repostos com maus modos e ainda assim aos bochechos (é 22 mas terminou depois da 48). E, além disso, é auto-estrada por acaso porque foi pensada para estrada de três vias por gente dos gabinetes em Lisboa a justificar que “O Algarve não precisa mais do que isso”.
7 – É preciso dizer Não a isso.

Carlos Albino

    Flagrante falta de zelo: Diz a Câmara de Loulé que atuou no património da Praia do Trafal “por falta de resposta das entidades com responsabilidade direta nesta área”. Mas que novidade! O Algarve não é local para sinecuras?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

SMS 368. Os maus da fita


24 junho 2010

E como estamos em época de crise e de forçada poupança, lá vem outra vez a história dos governadores civis como se fosse com a extinção deste cargo (18 titulares) que alguma salvação viria para as finanças públicas. Quem reclama a extinção sabe, lá bem no fundo, que a poupança é irrelevante e que manter ou não o cargo de governador civil é coisa meramente simbólica, primeiro porque o cargo é simbólico e segundo porque cada figura que o exerce simbólica é. O cargo é simbólico do centralismo (que é o sistema, haja ou não governo civil) e as figuras simbólicas são da mordomia política acrescida de alguma relevância protocolar que, além das polícias, pouca gente sente e, se sente, é por deferência civilizada. Na dependência hierárquica do ministro da Administração Interna e com equiparação a secretários de estado, os governadores civis obviamente que não obstáculos à regionalização, embora sejam os braços mais emblemáticos do centralismo, como de resto emblemáticas são desse mesmo centralismo as dezenas de direcções, delegações e agências regionais que mascaram uma descentralização que não há e dissimulam uma desconcentração faz de conta, cada uma delas apresentando-se por sua vez como governozinho civil gozando a vida à custa do mau da fita que é esse governo civil assumido. E por aí sim, seria pelas direcções e delegações regionais que de regionais nada têm que a poupança deveria ser feita, até porque se suspeita que no seu conjunto esteja já a ser mais dispendiosa do que uma efetiva regionalização. No Algarve, por exemplo, o que se ganha com a extinção do governo civil, mantendo uns 40 governozinhos civis (parece que João Soares contou 48...) que, não raras vezes, são mais intratáveis que o simbólico e intratável Terreiro do Paço? Até porque, também não raramente, o governo civil é a única defesa de proximidade perante as 40 prepotências que nos cercam e que, algumas, em termos de mordomia, fazem elevar o governo civil aos céus.

Carlos Albino

    Flagrante promoção: Se chamam a isto promoção do Algarve, cá dentro e lá fora, é uma grande promoção a juntar à animação que é um provincianismo que soma e segue.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

SMS 367. Assim se vê a força de você


17 junho 2010

Olhando para as atividades dos deputados eleitos pelos eleitores algarvios, o panorama é confrangedor. As iniciativas respeitantes cá à terra, são escassas; os requerimentos, salvo um ou outro, são como lã para encher almofadas e por vezes não passam de pretextos oferecidos ao requerido; as perguntas, em grande parte, parecem ser do âmbito de assembleias municipais ou menos do que isso – de assembleias de freguesia; quanto a nomeações de relatores, contam-se pelos dedos os de assunto com peso e interesse direto e útil para a região; quanto ao trabalho em comissões, parlamentares, é o cumprir de agenda e pouco ou nada mais; quanto a intervenções em plenário, pouco há a registar, mesmo nas matérias que à partida estariam talhadas para galvanizar o debate público na região (público, e não meramente o que serve ao jogo partidário); sobre atividade em delegações permanentes ou eventuais, há por aí bastante turismo político lá fora e cá dentro mas que também pouco ou nada tem a ver com o Algarve; quanto a audições e audiências, é uma pobreza de agenda; quando a deslocações, não levem a mal, mas as que ao Algarve dizem respeito, parecem missões de escuteiros. É claro que há deputados com muito mais parra que outros e outros alguma uva, independentemente da parra. Mas o panorama é confrangedor e, com algum tempo e paciência (mais paciência que o tempo), iremos apreciar cada um dos eleitos que estão em funções, pois a cada um eles poderemos dizer: «Assim se vê a força de você...”

Carlos Albino

    Flagrante convicção: A de que, em matéria de publicidade na imprensa regional, há por aí suficientes indícios de favorecimento resvés a tocar no ilícito ou a pôr em crise as boas regras da livre concorrência. Nota-se à vista desarmada e pode vir a dar muito mau resultado.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

SMS 366. Três Presidentes


10 junho 2010

Do nosso sítio, até hoje, saíram três algarvios para a Chefia do Estado. Um, o País conhece mais ou menos bem – Teixeira Gomes. Outro, foi esquecido ou pelo veneno do costume ou pela intriga que já é hábito – Mendes Cabeçadas. O terceiro, ainda está sob escrutínio mas já deixou suficiente rasto – Cavaco Silva. O primeiro, Teixeira Gomes, renunciou porque não quis ser o "senhor da cana verde", como ironicamente descreveu a situação em que as elites republicanas o colocaram. O segundo, figura-chave da implantação da Repú¬blica, é verdade que esteve na Presidência escassos 26 dias, mas essa brevidade foi um mero pormenor – ele podia ter estado ou tentado estar por muito mais tempo se, com abnegação, não tivesse querido evitar uma guerra civil sem precedentes, sendo esta a sua opção a troco de um negociado Carmona. O terceiro, cumpriu praticamente um mandato e, pelo já se viu, também não estará muito afim a que o transformem em "senhor da cana verde" ou presidente ao serviço de uma qualquer facção, e pode ou não vir a submeter-se a sufrágio para um segundo mandato, mas apesar dos altos e baixos, o País já lhe reconhece contributos para alguma serenidade e equidistância entre gregos e troianos. Quanto ao primeiro, Teixeira Gomes, Portimão encabeça um programa de evocação nacional, sem grande espalhafato mas com dignidade e até estímulo ao estudo da figura e da obra, pois teve obra - no entender de muitos, e estamos aí, foi um dos grandes estilistas da língua pois a forma como descrevia fosse o que fosse, cativa com perenidade. Quanto aos dois restantes, Loulé expôs as biografias no que uma biografia pode sugerir ou ter de espectáculo da história, muito embora Cavaco Silva possa falar de si e Mendes Cabeçadas já não. É claro que a renúncia de Teixeira Gomes, hoje, pode pôr o País a pensar duas vezes sobre se deseja ou se será aconselhável que a história se repita. Sobre o mandato de Cavaco Silva, sem dúvida que todos – os que o publicamente o apoiaram ou não, como foi o meu caso – gostariam de usar a máquina do tempo e dando um salto artificial de 50 ou mais anos, apreciá-lo num passado longínquo, mas não temos esse dom pelo que temos que avaliar a atualidade na atualidade. E quanto a Mendes Cabeça¬das que pertenceu ao grupo que romanticamente acreditou numa "regeneração democrática" e onde estavam figuras cimeiras da intelectualidade portuguesa da década de 20, tão cedo dela se desiludiu com o galopar do regime autoritário, como logo se transformou em figura cimeira e de referência incontornável da oposição democrática, pelo que o próprio regime autoritário o sacrificou tanto a ele, Mendes Cabeçadas, como a todos os que acreditaram por uns momentos breves na "regeneração de¬mocrática", tais como Fidelino Figueiredo, António Sérgio e Fernando Pessoa, para se citar alguns.

Carlos Albino

    Flagrante vazio: Não é? Cada um à sua maneira finge mas há um enorme vazio, com responsáveis públicos, por aí, a não se darem conta da sua superficialidade. O que até confrange.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

SMS 365. Há elites, não há escol


3 junho 2010

A propósito do apontamento da semana passada, fizeram-me várias observações, algumas em tom de reparo, por aqui se ter insistido nessa evidência de que o Algarve não tem uma liderança regional, sem que se tivesse adiantado um linha sobre o que será uma «liderança regional», as condições para que seja isso e as características dessa entidade... Limitámo-nos a referir não basta liderar a fração regional de um partido para automaticamente se ascender a esse patamar de liderança política regional, mesmo que tal fração partidária seja eleitoralmente esmagadora. É claro que toda a gente sabe isto, mas é sempre bom recordar isso porque dessa confusão tem resultado o erro político do Algarve, por certo erro incontornável porque a confusão é também círculo vicioso.

Numa ditadura, ou, em palavras mais amenas, num regime autoritário, não é coisa muito difícil que uma elite coloque um líder na praça da consideração pública, seja essa a mera praça regional, envolvendo-o com a fama de liderança – basta que ele tenha um bengalim na mão ou coisa que isso finja (uma simples esferográfica pode resultar...), bigode a dar ares amedrontadores ao lábio superior, uns óculos escuros se o olhar for ralo, e, naturalmente, uma dúzia de capatazes à volta aptos a desdobrar ordens e a negociar perdões.

Numa democracia, não é assim, nem pode ser assim – aí, um líder tem que necessariamente sair de um escol (não de uma elite...) e de um escol gerado e alimentado pelo confronto de ideias, de projetos de sociedade, de programas políticos e propostas de atuação. O líder, em democracia, sai daí, desse escol, e, se de facto é líder, sai com um golpe asa quanto a ideias para a região, com um projeto para a região, um programa para a região, propostas para a região, e com provas de denodada generosidade para com a região. Não é a oratória que se lhe exige, embora a oratória seja muleta, é a ideia, o programa, o plano, a proposta e, naturalmente, é a definição de valores que identifica um rosto de líder à légua pela sua credibilidade. E só depois disto tudo é que, se for o caso, vai a votos, ganhando ou tendo que dar lugar a outro, pelo que, já agora se acrescente que não é o cargo que faz um líder, podendo haver líder sem que seja algum cargo a sugerir tal função.

Desiludamo-nos, não é a regionalização do Algarve que por si só vai criar líderes algarvios ou uma liderança algarvia suportada com serenidade pelas alternativas dos partidos. Por palavras mais precisas, será melhor que não haja regionalização se não houver escol, pois o escol (e não a elite...) é a condição para a formação de líderes e lideranças sufragadas.

Ora, no Algarve, elites temos muitas, o que não falta por aí são elites – mas não temos escol, com bilhete de identidade. E tem o Algarve tido também chefes, muitos chefes, cada qual com uma montanha de interesses sobre os ombros mas sem um grama daquele peso pelo qual um escol apenas poderá certificar um espírito como tendo golpe de asa.

Carlos Albino

    Flagrante inevitabilidade: Cortes a doer nos municípios, e se não se começar pelas mordomias será mau, muito mau. Mau e feio. Feio e perigoso.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

SMS 364. João Soares disse a verdade


27 maio 2010

O facto. Sabe-se que, no passado sábado, durante o jantar que levou ao Arco da Vila a nutrida comissão parlamentar de Assuntos Económicos que anda por aí e bem a tomar o pulso ao país real, o deputado do PS, João Soares, afirmou alto e bom som que o problema de fundo do Algarve é o da “falta de liderança regional”. Mais disse João Soares, surpreendendo muitos, que esse problema jamais poderá ser resolvido pelo governo central – o atual ou mesmo o que se lhe seguir, provavelmente em 2011 – e que nem sequer a regionalização o resolverá.

Primeiro ponto, então. João Soares disse a verdade, tem carradas de razão e não lhe pode ser imputado qualquer sinal de incoerência, antes pelo contrário, todos os algarvios (sejam do PS ou não) apenas podem ficar-lhe gratos pela coerência manifestada, coerência essa, oxalá fosse seguida pelos demais deputados sejam eles do PS ou não, pois a todos, nesse caso, deveríamos ficar gratos não assobiarem para o lado ao menos uma vez na vida. E é importante sublinhar que João Soares não disse que o Algarve precisava de uma liderança partidária ou de lideranças partidárias, mas sim de liderança regional – o que tem a ver mas pode também não ter a ver com apenas partidos. Naturalmente que os partidos ou as estruturas regionais dos partidos elegem os respetivos líderes sejam estes assim ou assado, por interesse do cozido ou ao serviço do frito, mas são eleitos e não consta que haja lugares vagos. O problema de fundo não é, pois, partidário, mas de liderança regional e o lugar desta, sim, é que está vago. Aliás esteve sempre vago e, bem avaliados os intérpretes e personagens (todos) da política algarvia desde 1974, nunca a região teve uma liderança nem um líder que verdadeiramente a protagonizasse. Uns arremedos, quando muito.

Segundo ponto. Um líder - e então um líder do Algarve! - obviamente que não é feito nem pode ser feito por decreto, como se bastasse para tanto um primeiro-ministro da simpatia despachar coisa do género “nomeio fulano tal, líder do Caldeirão ao cais da lota de Faro”. Além disso, como ficou provado, o líder não pode depender da eleição partidária interna (pode coincidir mas não depende), o que se viu de forma muito clara nas últimas eleições: é verdade que os partidos algarvios, num primeiro momento, elegeram os que julgaram ser os seus “líderes partidários” regionais mas, a começar pelas três agora principais forças políticas, tais líderes foram desautorizados para a representação democraticamente mais refinada. E a desautorização, aceite, tolerada ou colaborativamente consumada, é o quanto basta para impedir que uma qualquer liderança partidária evolua para liderança regional.

Terceiro ponto. É claro ainda que o tal líder ou a tal liderança regional também não cai do céu por obra e graça do Espírito Santo, e, em democracia, jamais se pode aceitar que seja alguém que, por nascimento, fortuna ou fanfarronice se julgue predestinado a chefe, ou portador de desígnio insondável, desígnio este que por regra anda com a máscara do populismo, sobretudo quando a democracia se transforma em permanente carnaval de uns quantos foliões à custa do erário e do interesse público – o Algarve tem conhecido disto e é por isso mesmo que mais uma vez, reconheça-se, João Soares tem razão: não é regionalização que vai ou poderá resolver o problema da falta de liderança política do Algarve, porque uma regionalização sem liderança e sem pluralismo de líderes não passará de um baile populista que, passados três dias de democracia frágil, redundará num perfeito entrudo.

Carlos Albino

    Flagrante esquecimento: O de alguém, crente ou não, que em nome ou em representação do Algarve, tivesse oferecido uma caravela ao papa. Até do nosso maior milagre já nos esquecemos?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

SMS 363. Tudo ao molho e fé em Deus


20 maio 2010

Mesmo com todos os sinais que estão à vista, alguns que não são poucos continuam a não querer perceber a crise em que estamos metidos, e, pior do que não querer perceber, é camuflar os sinais e adiar a discussão dos possíveis caminhos de saída. Para o Algarve, estes caminhos são escassos, porquanto a região depende precisamente de tudo o que pelo mundo afora e no país está em crise ou que inesperadamente ameaça entrar em crise, pedindo-se a todos os santos para que a crise não se transforme em colapso, como é o caso preocupante das ligações aéreas. Tenho vindo a dizer, desde há semanas, que estamos entregues ao acaso, o que é desagradável, e pior do que isso, não temos estratégia decente e segura – temos táticas, por sinal pequenas táticas atiradas para o ar na esperança de que a coisa resulte e haja sorte. Infelizmente até a sorte tem faltado e oxalá que não cheguemos a um momento em que a regra seja aquela de “tudo ao molho e fé em Deus”. Um exemplo de tática pífia atirada ao ar, por exemplo, aí esteve patente nos discursos de esperança no mercado espanhol para compensar a quebra do mercado britânico, no turismo claro. Como se a crise não estivesse já instalada em Espanha, com os espanhóis a braços com os mesmíssimos males de que padecemos – do desemprego ao défice. Outro exemplo de pífias táticas atirada para o ar, aí a temos também, com as veleidades segundo as quais a exploração de pequenos nichos de mercado, mesmo que seja a pretexto de coisas festivamente marginais e de duvidosa paz, ajudará a matizar a crise… E é assim que instituições que temos entre nós e que já deviam ter produzido estudos com linhas alternativas de orientação, ou que já deviam ter instalado observatórios com alertas para o que der e vier, andam nas nuvens ou olhando para o umbigo. Refiro-me sobretudo às instituições que deviam ser as últimas em que a sociedade deve perder a confiança.

Carlos Albino

    Flagrante calafrio: O fracasso do Museu da Cortiça. O fracasso não foi apenas de Silves mas do Algarve no seu todo. Além disso um sinal de aviso e que não é pequeno.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

SMS 362. Quem se pica, alhos mordica


13 Maio 2010

E em vez de se avaliar a realidade (a que temos pelos olhos e a previsível) continua-se a fazer vaticínios, conjeturas, hipóteses e exercícios de esperança sem fundamento que é a pior das esperanças. Em vez de preparar isto para enfrentar o pior, porque para o melhor não são necessários preparos, ainda se está a amaciar e a pintar o céu de azul quando as nuvens carregadas entram pelos olhos. Além disso, em vez de se reconhecer que o poder central está, na sua quase totalidade e nos postos-chave, na dependência dos grupos de pressão onde o Algarve e os algarvios não contam como tal, ainda alguns por aqui julgam que o tal Zé Pagode já não percebeu que a moda virou desde que os decisores deixaram de ter interesses directos ou indirectos neste quintal, que a política volta a ser dirigida quase em exclusivo para onde secularmente se tem dirigido sempre e que é onde o país se julga sentir país, considerando o resto como um pequeno território inofensivo e adjacente tal como aquelas ilhas que já foram adjacentes e hoje, pelos vistos, não. Portanto, pequeno território que não levanta ondas e mesmo que as levante está sob controlo porque o próprio território perdeu o controlo de si próprio – o controlo económico há muito que o perdeu ou não o soube construir quando podia e devia, e o controlo político naturalmente que foi sacrificado a bem das disciplinas nacionais. O turismo como motor de desenvolvimento do Algarve pode estar à beira de um estrondoso fracasso se a sorte faltar, porque o turismo, além de não viver de cálculos com desfecho improvável e de notícias artificiais, também não é motor de desenvolvimento quando não está ancorado onde opera – e o turismo algarvio não se ancorou, é um extenso balcão de quem está fora com a carteira. Além disso, o mar está esquecido e o que dele se ouve parece oratória nas nuvens, e a terra resume-se a umas poucas experiências-piloto, a meia-dúzia de resistências e a campos abertos a qualquer género de ladroagem. Não admira, pois, que o discurso político no Algarve abuse do vaticínio e se sirva da ingenuidade circundante, até porque quem não aceita as regras deste jogo que é um jogo infame numa democracia, está feito. Aliás, pouco faltará para que a própria democracia não esteja feita. E quem se pica, alhos mordica.

Carlos Albino

    Flagrante incógnita: A do estafado Hospital Central do Algarve... Obra adiada, suspensa ou para ir até ao fim?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

SMS 361. O triunfo do Zé Pagode…



6 maio 2010

Há um personagem que volta a andar por todas as ruas e aflora amiúde à mente de toda a gente, não há ninguém que o não conheça embora não apareça nas televisões nem seja tido muito em conta pelos jornais, nunca se candidatou a câmaras, sempre o recusaram para listas de deputados e, não estando contra os partidos, também não se importa que estes o olhem com desdém não desejando a sua presença em reuniões em que alguma coisa se possa decidir. Esse personagem, silencioso por natureza, sabe mais do que se julga quanto a jogadas que abusam do interesse público, a procedimentos que roçam a ilegalidade e tocam-não-tocam na corrupção e a golpes que resultam sempre em enriquecimentos sem justa causa, em usufruto de mordomias e empregos de favor, e em estratagemas que pouso a pouco vão diluindo a confiança nos poderes eleitos e a crença nos processos de escolha dos que em última análise decidem a vida colectiva e determinam a maior ou menor felicidade de se viver numa sociedade aberta e livre. Claro que esse personagem tem um nome embora o seu nome não conste em nenhum bilhete de identidade, nunca se absteve sem que alguma vez tivesse fisicamente aparecido em qualquer mesa de voto de Aljezur a Alcoutim e, como mais ninguém, interfere na opinião pública possível de Vila Real a Sagres. Pois não é segredo dizer-se que esse personagem é nem mais nem menos que o Zé Pagode. Exactamente: o Zé Pagode.

Ele, o Zé Pagode está na sua e dificilmente o demovem da convicção de que o aparelho público, tal como está, das juntas e câmaras às repartições, divisões, delegações, entidades e direcções desconcentradas ou descentralizadas dos ministérios, que tal aparelho, de um modo geral não existe para servir a população, mas para ser sustentado por ela. Pode até não ser assim, mas o Zé Pagode pensa isso e tem motivos para pensar assim – ou pelo sinal de imobilismo transmitido por esse aparelho no trato das questões centrais do Algarve que dependem exclusivamente não só do livre mas sigiloso arbítrio do estado mas também dos que o Zé Pagode acreditou para serem seus representantes, ou pelas provas patentes de que é pura e simplesmente uma perda de tempo esperar a colaboração do estado em qualquer medida que vise a devolução do poder aos administrados com a consequente diminuição da fisiologia política do aparelho público que só revela alguma humildade mês e meio antes de cada eleição, seja esta qual for e consoante o nível que seja da eleição. Ora o Zé Pagode que de ingénuo nada tem, naturalmente que anda por aí irritado por o terem tratado como se tivesse nascido e sido criado pela ingenuidade, ingenuidade esta, como se sabe, é já de si um promíscuo harém da democracia.

Resumindo e concluindo, o Algarve, tal como no distante século XIX, está cheio de duques, condes e viscondes mas sem nobreza própria, e, tal como no recente e acabado século XX, está cheio de regedores e com proeminentes figuras no santuário da representatividade popular, mas não chegam aos dedos de uma só mão os que em vez de mostrarem que sabem defender os interesses dos eleitores, não se livram da fama de apenas defenderem os interesses pessoais e políticos dos que integram o carro alegórico da pescadinha de rabo na boca em que os partidos tristemente se converteram aos olhos do Zé Pagode que não é propriamente uma ilustre figura da democracia e, pior, não tem o código genético desta, sendo mais um filho do harém…

Carlos Albino

    Flagrante entalanço: O da entidade do turismo com as verbas do orçamento. Pois o modelo não foi acabar com a evolução da defunta RTA? O que se esperava com o modelo, se o modelo foi para isso?