21 outubro 2010
O momento que passa é grave e o mínimo que se pode esperar dos políticos responsáveis (sobretudo os eleitos e os nomeados) é que não brinquem às escondidas. Responsáveis de partidos, deputados e decisores, todos têm, nas presentes circunstâncias, o dever e a obrigação de serem claros e de irem diretos ao assunto, com seriedade perante quem os elegeu e com respeito pelos administrados. Portanto, se é do Orçamento de Estado que se fala, não falem da fé, da esperança e da caridade como nos sermões morais; e se é do PIDDACC, não falem dos vinhos de areias. Não elegemos folgazões, elegemos deputados. Julgo que todos ganharemos com o fim das brincadeiras e do andar-se às curvas no discurso e no debate político faz de conta. E se quem deve não pode ter voz, diga que está rouco ou que pura e simplesmente não quer ter voz, mas não se ande a fingir por aí que se fala como se a suposta assembleia dos que ouvem fosse uma assembleia de pacientes papalvos.
Deploravelmente, o debate das implicações do Orçamento para o Algarve e o escrutínio sobre se a região está a ser ou não tratada com exceção sediciosa, está aquém do que se poderia esperar. Pelo menos até agora, dois ou três comunicados e duas ou três crónicas em jornais parece que arrumaram o assunto, os deputados eleitos pelo Algarve obviamente que vão votar com toda a disciplina pela qual os respetivos estados-maiores os vinculam, enquanto no terreno os da oposição fazem o seu esperado papel e os afetos ao poder se baixam na trincheira tal como os soldados mentalmente reservados que não querem entrar na guerra em que têm que estar, nem perder a próxima – sobretudo não perder a próxima.
Os do poder, encolhem-se, vão para as metáforas e apelos morais que já poucos suportam, e, longe da realidade ou apenas enfronhados na realidade que é a sua realidade pessoal, esquecem-se de que o Algarve precisa de ter voz não lhe bastando ter boca e que os militantes de um partidos não são deputados dos eleitores da área. Por sua vez, os das oposições obviamente que cumprem o seu papel com a vida muito mais facilitada do que quando eram poder antes de serem revezados ou porque, se nunca estiveram no poder, também nada têm a perder com a boca a fugir para a facilidade. É claro que aqueles que sabem que uma democracia, nestas circunstâncias, perde qualidade, têm a obrigação cívica de advertir antes que seja tarde - «Por favor, não brinquem». E sobretudo, para os que não são, não brinquem aos algarvios.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante ironia do destino: No cartaz que acompanhou a construção do Estádio Algarve, bem se podia ler: «Construímos vitórias”. Nem se conseguiu o empate.
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