19 agosto 2010
Volto à vaca fria. Sim, senhor, por via do Programa das Experiências que Marcam, tem havido e vai haver coisas “clássicas”, mais ou menos “jazz”, também “pop”, bastante “arte”, igualmente “desporto”, aqui e ali “gastronomia”, ainda a saia larga da “animação”, coisas a que se chama “arte de rua” e também “novo circo”, para não se citar as milhentas “feiras” e os milhentos “festivais” quase todos internacionais. Muito disto em parceria com municípios que podem, com patrocínios de empresas ou organizações que devem se é que não precisam, mas também porque muito disso tinha que acontecer em algum lado, de preferência para dar uso a elefantes brancos.
Mas depois disto o que fica? Fica a memória, por certo, e também alguma recordação, sendo que a memória é curta e a recordação esvai-se. Além de que muito disso é parte de tournées, anda por todo o país e a descida ao Algarve é mera circunstância, em alguns casos bem aproveitada, noutros casos perfeitamente dispensável. No entanto, é a animação que não se contesta por ser animação mas porque, a esse propósito, se chama indevidamente cultura. Contesta-se pois que numa folha A4 se alinhem os eventos, que de eventos se trata, e, dando à cara a aparentemente extensa lista, se chame a isso cultura, se queira dizer que com isso se inunda o Algarve com cultura, e levando o sofisma às consequências pretendidas, com isso, se teime em dizer que o Algarve tem uma política cultural… Claro que não tem nem, nas presentes circunstâncias pode ter. E não pode ter, primeiro porque quem a devia delinear ou teoricamente a poderia delinear, não pode ir além do chinelo; segundo porque os municípios não mostram grande vontade em construir uma agenda cultural do Algarve que ponha em crise autonomias em grande parte provincianas e prerrogativas populistas; terceiro porque nada custa falar horas sobre as indústrias culturais e criativas, mas é já mais difícil convocar os que comprovada e reconhecidamente industriam na cultura e na criatividade, coisas que não são propriamente os jogos florais do Cachopo. E é difícil convocar porque temos alguns mortos e poucos vivos, e os vivos transportam uma crítica que os primeiros, os segundos e os terceiros não suportariam e dela militantemente suspeitam, enquanto há algum dinheirinho.
Vamos bem, caros senhores.
Carlos Albino
- Flagrante antologia: A das colunas cativas dos autarcas. Não perco uma, porque cada uma vem mesmo a propósito, e, em cada uma, não é a comunicação social que “deturpa o que eu disse”…
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