quinta-feira, 10 de junho de 2010

SMS 366. Três Presidentes


10 junho 2010

Do nosso sítio, até hoje, saíram três algarvios para a Chefia do Estado. Um, o País conhece mais ou menos bem – Teixeira Gomes. Outro, foi esquecido ou pelo veneno do costume ou pela intriga que já é hábito – Mendes Cabeçadas. O terceiro, ainda está sob escrutínio mas já deixou suficiente rasto – Cavaco Silva. O primeiro, Teixeira Gomes, renunciou porque não quis ser o "senhor da cana verde", como ironicamente descreveu a situação em que as elites republicanas o colocaram. O segundo, figura-chave da implantação da Repú¬blica, é verdade que esteve na Presidência escassos 26 dias, mas essa brevidade foi um mero pormenor – ele podia ter estado ou tentado estar por muito mais tempo se, com abnegação, não tivesse querido evitar uma guerra civil sem precedentes, sendo esta a sua opção a troco de um negociado Carmona. O terceiro, cumpriu praticamente um mandato e, pelo já se viu, também não estará muito afim a que o transformem em "senhor da cana verde" ou presidente ao serviço de uma qualquer facção, e pode ou não vir a submeter-se a sufrágio para um segundo mandato, mas apesar dos altos e baixos, o País já lhe reconhece contributos para alguma serenidade e equidistância entre gregos e troianos. Quanto ao primeiro, Teixeira Gomes, Portimão encabeça um programa de evocação nacional, sem grande espalhafato mas com dignidade e até estímulo ao estudo da figura e da obra, pois teve obra - no entender de muitos, e estamos aí, foi um dos grandes estilistas da língua pois a forma como descrevia fosse o que fosse, cativa com perenidade. Quanto aos dois restantes, Loulé expôs as biografias no que uma biografia pode sugerir ou ter de espectáculo da história, muito embora Cavaco Silva possa falar de si e Mendes Cabeçadas já não. É claro que a renúncia de Teixeira Gomes, hoje, pode pôr o País a pensar duas vezes sobre se deseja ou se será aconselhável que a história se repita. Sobre o mandato de Cavaco Silva, sem dúvida que todos – os que o publicamente o apoiaram ou não, como foi o meu caso – gostariam de usar a máquina do tempo e dando um salto artificial de 50 ou mais anos, apreciá-lo num passado longínquo, mas não temos esse dom pelo que temos que avaliar a atualidade na atualidade. E quanto a Mendes Cabeça¬das que pertenceu ao grupo que romanticamente acreditou numa "regeneração democrática" e onde estavam figuras cimeiras da intelectualidade portuguesa da década de 20, tão cedo dela se desiludiu com o galopar do regime autoritário, como logo se transformou em figura cimeira e de referência incontornável da oposição democrática, pelo que o próprio regime autoritário o sacrificou tanto a ele, Mendes Cabeçadas, como a todos os que acreditaram por uns momentos breves na "regeneração de¬mocrática", tais como Fidelino Figueiredo, António Sérgio e Fernando Pessoa, para se citar alguns.

Carlos Albino

    Flagrante vazio: Não é? Cada um à sua maneira finge mas há um enorme vazio, com responsáveis públicos, por aí, a não se darem conta da sua superficialidade. O que até confrange.

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