15 julho 2010
Não é de agora, nem de há pouco mas há muito tempo que a caixa de correio se me enche desmedidamente às quintas e sextas. Não, não é pela publicidade gratuita mas pelos jornais locais e regionais um pouco de todo o país. Alguns mesmo, são os principais ou os mais vivos, intervenientes e, portanto de referência, independentemente do número de páginas ou da roupagem. A maior parte desses jornais vêm-me parar às mãos por deferência, bastantes por mediáticas cumplicidades antigas, alguns deveras por gratidão em função de ajudas, colaborações esporádicas ou, caso mais frequente, por ensinança, coisas que de modo geral para a imprensa loca ou regional fui fazendo ao longo da vida sem qualquer contrapartida e ainda assim é hoje. Mas porquê esta conversa? É que dei por mim não tanto a folhear e a ler na diagonal cada um desses jornais de toda a semana passada acumulados na caixa do correio, mas a compará-los uns com os outros, em três áreas de interesse, não quanto à forma mas quanto ao conteúdo: editoriais, noticiário próprio e publicidade. E sobretudo nesta área da publicidade ocorreu-me comparar, com mais pormenor, o grosso dos jornais lá de cima com os do Algarve. Rapidamente cheguei a uma conclusão para qual não é preciso grandes dotes, enorme esforço e muito menos correr-se o risco de cansaço cerebral: a publicidade dos jornais locais e regionais lá de cima, sobretudo os oito ou nove principais e que não vivem adventiciamente de ou para esquemas esquisitos, refletem a sociedade onde se inserem e servem, desde a publicidade colocada diretamente pelas autarquais e empresas locais, até aquela mesma publicidade colocada pelo cidadão comum, seja a da oferta ou da procura de serviços, seja a da mera prestação de informação social como é o caso da necrologia. E, para comparar melhor o fenómeno, medi com mais atenção dois desses jornais, um do Oeste (a Gazeta das Caldas) e outro da Beira (o Jornal do Fundão) comparando-os com os dois melhores jornais regionais do Algarve que não andam em barrigas de aluguer, não porque me repugnem as barrigas mas apenas porque as barrigas desvirtuam a avaliação própria do jornal alojado, sobretudo em matéria de publicidade que nunca se sabe. Mas que diferença lá em cima com aqui em baixo! Lá em cima, autarquias, empresas e serviços marcam presença nos jornais como que por necessidade e para eficácia; cá em baixo, não levem mal e aceitem mil desculpas se estamos em erro, a publicidade é colocada, pelo que parece, ou por favor e caridade patrocinadora, ou à espera de encómio adequado nem sempre discreto, ou como contrapartida para campanha sem convicção e por vezes para fogachos pessoais. E interrogo-me: como é que os jornais no Algarve podem sobreviver? Melhor: como é que o Algarve e os algarvios querem ter jornais? É que medindo e comparando bem, autarquias, empresas e cidadãos cá em baixo, na sua relação com os jornais cá de baixo, imitam e fazem o mesmo que as agências funerárias, no género – «Morreu alguém? Para que isso se saiba, basta colar fotocópias do morto em cada esquina e em placards sem taxas e sem IVA, que a família do morto paga!» Pois tenho que dizer: no Algarve, quer o Jornal do Fundão quer a Gazeta das Caldas, seriam jornais impossíveis, não por falta de apoios e ajudas mas por diferenças nas mentalidades e procedimentos entre lá em cima e cá em baixo, como se verifica logo folheando as agendas municipais cá de baixo. Isto da sociedade algarvia não se refletir nos seus jornais, dói.
Carlos Albino
- Flagrante interpelação: O Algarve tem deputados a mais ou deputados a menos?
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