Não é a
essa que nos referimos. Essa é
milenar, comestível, companheira do espírito e que bem justifica o brinde de
uns à saúde dos outros. Referimo-nos a outra dieta, não menos mediterrânica mas
intragável, a que destrói instituições, arrasa ideias de progresso, mina a
convivência, faz quebrar compromissos e parte a espinha da esperança.
Essa
horrível dieta é aquela com que
tantos se alimentam quando transformam o poder (qualquer poder) em coisa da sua
propriedade privada. Conquistam o poder em nome do serviço pela causa pública,
ou são nomeados para servir a mesma causa pública, mas a tal dieta
mediterrânica, a breve prazo, não lhes disfarça os efeitos perversos.
Não sendo
autistas, fingem-se autistas por
conveniência, num fingimento a que a sabedoria popular costuma designar por
manha; não se lhes reconhecendo no passado mérito de jogadores, jogam; tendo
ganho a confiança geral do voto ou a deputação do chefe, desconfiam de quem
julgam que lhes estraga o apetite; os seus quintais cheios de roseiras entre
duas palmeiras com ninhos de passarinhos, são uma espécie de estados islâmicos onde
decapitam a crítica que foge à dieta, executam o reparo que fira o culto
pessoal, apedrejam quem lhes observe que, em política, o verbo “eu” não é
conjugável nem é verbo, e redigem, para cima e para o lado, o índex com os
nomes dos que querem mandar para baixo, e mandam mesmo.
Tudo pela
calada, como mandam as boas dietas.
E, além disso, os que seguem esta dieta, estão conscientes de que numa sociedade
sem bases de anonimato social, os seus nomes permanecerão, por isso mesmo,
anónimos e tanto mais anónimos quanto mais na província a avaliação
nutricional é feita. Por isso, os bons seguidores da dieta gostam da
província profunda e recôndita.
Mas os
efeitos notam-se, saltam à vista e
por isso aí vemos, nos serviços públicos, estatais e municipais, verdadeiras
legiões de gente proletarizada, com lassidão dos pés à cabeça, cumprindo
estritamente o obrigatório, com cortesia se o chefe obriga mesmo que não saibam
redigir uma carta, com lhaneza se o chefe determina mesmo que o atendimento
qualificado de um telefonema lhes cause cansaço cerebral. Se o chefe confunde
animação com cultura, é uma animação constante; se o chefe confunde património
com matrimónio, é um casamento contínuo; se o chefe é um néscio embora com bons
fatos, então, está na mão.
Mero
apontamento, por hoje, observando
por aí tanta obesidade política e mediterrânica.
Carlos Albino
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Flagrante prova dos nove: Naturalmente que aqueles que lutaram sempre, lutam e lutarão contra a corrupção, geram anti-corpos… E um anti-corpo, apesar das provas da sua existência, nunca se vê e raramente se dá a ver.
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