quinta-feira, 2 de abril de 2015

SMS 608. Para a unidade do Algarve 


2 abril 2015

Nestes 58 anos do Jornal do Algarve, ocorre e é imperioso que se diga que o desiderato do seu fundador, José Barão, está a ser cumprido, de uma forma quase milagrosa. Desiderato que, mais do que nunca, está atual. Uma sociedade esboroa-se sem comunicação, e como na natureza, detesta o vazio. Os novos meios tecnológicos, só por si, não preenchem esse vazio, são e devem ser complementares. O Jornal do Algarve soube atempadamente perceber isso – o Algarve precisa de que o desiderato de José Barão seja prosseguido, sem anulação da concorrência, antes pelo contrário, quanto mais concorrência melhor, desde que haja um objetivo comum: a unidade do Algarve e o fortalecimento dos valores de sociedade aberta que configuram a sua identidade

Não é difícil entender que a comunicação do ou no Algarve, atravessa uma profunda crise. A atividade noticiosa depende em larguíssima medida da informação institucional dos poderes públicos, informação essa amiúde condicionada pelas vorazes agendas políticas e por interesses difusos; não tem pé na televisão; e, além das grafonolas locais que com alguma heroicidade e proporcional dependência sobrevivem, não há uma rádio regional que coloque o Algarve na agenda de informação do Pais – tem repetidores usurpando o legítimo direito das comunidades concelhias a terem voz própria, licitamente mas usurpam. À parte isto, com recurso aos novos meios tecnológicos, aí estão implantados por todos os cantos jornais online sem papel complementar ou complementares deste, não constituindo documento, arquivo, memória palpável mas também amiúde não constituindo responsabilidade expressa, designadamente a responsabilidade pública em matérias do interesse público. Diga-se, claramente e sem equívocos, que, no novo mundo virtual, há bons jornais on-line, dentro da legalidade, com propósito ético no bilhete de identidade e princípios deontológicos no cartão de cidadão. Mas, diga-se igualmente sem equívocos, que estas ilhas de bom senso e até de bom serviço público, estão rodeados por atrozes ilegalidades, havendo “redações” sem jornalistas, empresas de “informação”, contra todos os princípios, alojadas nas barrigas de aluguer de agências de publicidade quando não nas agências imobiliárias. Assim não se vai a lado nenhum e, pasme-se, há ilegalidades financiadas ou protegidas por poderes locais que, sem critério e por benefício reciprocamente servil, usam o erário público com a maior das leviandades ou distraídos pela inexistência do adequado escrutínio – somos todos vizinhos, e quanto mais próximo é o vizinho, menor o exercício de avaliação do dano público e seu autor. Se a Entidade Reguladora para Comunicação Social e a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, alguma vez, descessem ao Algarve, estamos em crer, haveria uma apreciável razia, a vários níveis.

É neste panorama que, no Algarve, as poucas empresas deveras jornalísticas (com jornais impressos, apenas online, ou mistas) sobrevivem e dão contributo para a unidade do Algarve, sobretudo as empresas que têm, prosseguem e apostam, não numa manta de retalhos de quintais mas num desiderato regional do Algarve. O Jornal do Algarve está neste caso e se há mais, que há, oxalá continue bem acompanhado. Recordo-me, era eu um adolescente, ouvir da boca de José Barão, no saudoso Café Martinho – emblema da Lisboa de outrora, que queria do seu Jornal do Algarve um “jornal provincial” e não um “jornal provinciano”. Passados 58 anos, esse seu desiderato está atual, pelo que se um abraço tem peso, um forte abraço para o atual diretor, Fernando Reis. Prossiga!

Carlos Albino
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Flagrante pergunta: Um jornal online tem obrigação de ter muito espírito, mas será sempre carne sem osso; um jornal impresso tem o dever de ter bons ossos, tendo a obrigação de não perder o espírito. O ideal é ser misto: com o espírito do online a recobrir o osso do papel. Esse será o futuro.

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