Passaram as europeias, com os resultados já esperados: abstenção, designadamente abstenção dos estrangeiros recenseados no Algarve, os quais, aparentemente, se isentam por autodefesa das questiúnculas domésticas mas que em matéria europeia não têm motivos para se isentarem, sobretudo eleitores alemães e britânicos. Para além da abstenção, o chamado fenómeno Marinho Pinto que não é fenómeno – o ex-bastonário há muito que vinha a fazer campanha e foi o único que há muito fez a chamada campanha de proximidade, sem esperar por listas, mastigações partidárias, convites do líder ou obtenção de consenso e apoios de “sensibilidades”. Marinho Pinto começou há meses e meses pela calada, precisamente com uma cultura de proximidade (conferências, colóquios, intervenções nos intervalos), entrou pela calada (clamando contra o mal comum que é a corrupção contra a qual se afirmou como advogado do diabo) e ganhou obviamente votos pela calada. Nenhuma surpresa quanto a este fenómeno, numa campanha eleitoral sem proximidade entre candidatos e eleitores, com maior e comprovada evidência no caso do Algarve onde as europeias não foram absolutamente nada algarvias. E porquê? Por causa das estatísticas, e do malfadado raciocínio político analógico que das estatísticas decorre, que é um raciocínio típico da senilidade precoce, quer quanto a indivíduos, quer quanto a instituições, regimes e sistemas.
O Algarve que,
por esse raciocínio senil, foi, como região, erradicado dos apoios da União
Europeia por alegadamente entrar no patamar dos níveis ricos, foi também pelo
mesmo raciocínio estatístico desconsiderado pelos partidos na elaboração das
suas listas, feitas em função do número de eleitores, e não em função da
expressão política e da importância estratégica de afirmação das forças
concorrentes. Em nenhum partido o Algarve contou, nenhum algarvio foi colocado
em lugar potencialmente elegível, pelo que o grosso das campanhas aconteceu a
norte. Mas também, reconheça-se, também no Algarve não houve lá grandes
protestos por causa disso, pelo que uma senilidade pagou a outra, acrescentando-se
que a abstenção do Minho, de todos os Douros, de todas as Beiras e de tudo o
que tem Tejo depois do advérbio, pouco tem a ver com a abstenção do Algarve.
Caso cada partido
se tivesse apresentado ao eleitorado algarvio, com candidatos da região ou
identificados com a região, o caso teria mudado de figura. Não estaria tanto em
causa a questão doméstica do governo, ou mesmo a descrença nesta Europa
reduzida a Bruxelas que diz mata (em português) e a Berlim que acrescenta
esfola (naquele alemão que prescinde de tradução simultânea), mas estaria em
causa a capacidade deste ou daquele em colocar o Algarve mais e melhor na
possível agenda europeia. O que, reconheça-se também, pouco importará aos
operadores que sem escrutínio dominam a região onde não vivem nem residem, mas
onde agem e não raras vezes subjugam por via de pró-cônsules como no tempo dos
romanos.
E então, ou se muda
de critérios, e a política, quando há senilidade, sabe qual a terapêutica
para o rejuvenescimento, ou para a próxima será pior. A não ser que o Algarve
passe a votar em conjunto com a Andaluzia. Do mal, o menos.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante aparição de relojoeiros: É que para além do relojoeiro José João dos Santos Guerreiro, em Loulé, e Saul Silva, em Tavira, em Loulé há mais: o relojoeiro Albano Carvalho dos Santos, o relojoeiro José Manuel Farrajota, e, tal como me disseram, também ainda o “senhor Geraldo” e o “senhor Zeca Duarte”, este, embora já retirado, o grande consultor reverenciado por todos em matéria de mecanismos do tempo. Dá para fazer uma escola profissional.
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