Nada, nada temos contra a internacionalização das escolas, nada contra a mobilidade dos alunos além-fronteiras, nada contra novas perspetivas num mundo cada vez mais aldeia. Antes pelo contrário, é disso que a humanidade precisa para se conhecer e para se entender sem discriminação de nacionalidades, cores de pele, línguas faladas. Mas já nos repugna que alguns se aproveitem disso para explorarem “nichos de mercado”, para irem “ao ataque” nas escolas dos países mais fracos a fim de “fornecerem” jovens transformados em produtos, aos países mais ricos. Os corsários fizeram isso com outros produtos, e pelos vistos, os corsários também evoluíram. Se os corsários britânicos roubaram de Faro, em 1596, os incunábulos da riquíssima Biblioteca do Bispado do Algarve, porque não hão-de roubar os novos incunábulos das escolas, que são os jovens transformados em produtos de mercado, pelos critérios do mercado e pelos interesses do mercado? Repetimos: não é a mobilidade dos alunos e a cooperação internacional das escolas que se põe em causa. O que se põe em causa é o “ataque” dos novos condes de Essex, a “abordagem” dos corsários, o “desembarque” ao serviço da rainha que já é o novo feminino de mercado. E neste feminino, está em causa o recrutamento de alunos portugueses do ensino secundário para as universidades britânicas, onde os candidatos britânicos não são suficientes.
Nesta semana, o Diário de Notícias levantou o problema a
seco e na forma indolor de peça jornalística, dando conta também,
indiretamente, da qualidade do empresariado português que nem com os corsários
aprende quanto mais com os professores e escolas, nos seus apelos. Aí se diz
que uma aluna de 19 anos, estudante de hotelaria em Birmingham, três dias após
a chegada à Inglaterra já estava a trabalhar num restaurante, cumprindo
semanalmente 13 aulas, e que no fim de Junho seguirá para os EUA para estágio
remunerado. E esta é coisa que, por exemplo no Algarve não acontece, mesmo por
parte da maioria dos “operadores” britânicos que fora da pátria não fazem o que
na pátria é regra, para gáudio dos condes de Essex. Mas isto ainda se
compreende, é da crise, da invocada crise que tanto dá para surgir como
imaculada filha da corrupção, como depressa aparece como mãe protetora dos
seres errantes que vitimou.
Aquilo que não se
entende de um todo, é quando o desplante do corsário é colocado à proa.
Disse o homem desta façanha, o seguinte, como que para pedir perdão pela abordagem: “Posso dizer que 50 alunos angolanos nos
rendem mais do que 200 portugueses”. E com isto, está tudo dito por parte
do conde de Essex.
E o mais grave é
que por cá ficam os alunos postergados pelo conde, com o sentimento de vergonha
de valerem tanto que nem um corsário lhes pega. Como é que o empresariado
apátrida, já de si corsariante, lhes pode pegar, remunerando pelo menos os
estágios, e atraindo para cá alunos britânicos tal como a Inglaterra atrai
alunos portugueses?
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante deus em Tavira: Por via fiável, somos informados de que para além do relojoeiro José João dos Santos Guerreiro, em Loulé, outro há em Tavira: Saul Silva. Foi o filósofo britânico William Paley que usou a figura do relojoeiro como analogia para deduzir a existência de Deus. Com tais deuses em Loulé e em Tavira, já não é preciso ir a Serpa, para se acreditar na eternidade dos relógios de parede.
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