TEM NOME, tem código postal, não é um ser virtual como aparentemente parece. Chama-se Irracionalidade e nem uma nem duas vezes mas muitas, deixou de entrar na História Portuguesa assumindo até a função de dona de casa. Sempre que ela conseguiu atingir em pleno o seu poder de matriarca, deixou sempre as marcas dos pés e das mãos nas escolas, nas empresas, nas autarquias, nas associações e, como a principal função para a qual foi adestrada desde pequenina é espreitar, a Irracionalidade também está plantada à esquina das ruas e conhece todas as travessas e becos, mesmo os que o GPS não regista. Além disso, para entrar na casa de cada um, ela não bate à porta nem precisa de chave. Entra sem que alguém dê por ela. E se não entra, mostra-se na televisão fazendo com que tudo e todos, por mais célebres que sejam e por mais inteligentes sejam reconhecidos, entrem racionais para o ecrã e dois segundos após se comportem como irmãos gémeos da D. Irracionalidade.
Esta senhora, é
bom que se registe, tem na verdade um alvo escondido. Esse alvo é a
Comunicação. Sempre que uma Sociedade revelar possuir alguma comunicação, uma
rádio, um jornal, um megafone que seja, a D. Irracionalidade não descansa
enquanto não acabar com esses instrumentos da Racionalidade, que é filha de
outra família. Família por regra perseguida pela família da Irracionalidade.
Primeiro começa por tentar controlar o jornal, a rádio ou mesmo o megafone.
Depois, quer o controle quer não, provoca-lhe a asfixia, ou por considerara a
sua inutilidade ou para acabar de vez com a ousadia da crítica, do relato
fidedigno ou do simples dos factos. Para a D. Irracionalidade, tudo começa a
ser sério apenas quando todas as vozes da Racionalidade ficam abafadas.
E tem uma estratégia.
Começa pelas províncias. Algum dia chegará a Lisboa, ao Porto, ou, vá lá, a
Coimbra dos doutores, pois a D. Irracionalidade gosta do fado, gosto que
cultiva a par da invenção de milagres. Mas começa pelas províncias, com
pequenos gestos indolores cujos efeitos não ultrapassam a comarca. Começou por
exemplo no Algarve. Começou, quer dizer: está instalada. Até dizem por aí que
tem alojamento reservado nos principais hotéis, que faz turismo de saúde em
inúmeros departamentos camarários e que até organiza procissões. Dizem isso,
mas a D. Irracionalidade vem logo a terreiro desmentir, dizendo que não, que
isso não é da sua cultura, nem da sua educação, nem faz parte da sua saúde, nem
para isso passou a ser eleita. Passe bem!
Carlos Albino
Carlos Albino
________________
Flagrante sismo: Na saúde, no ensino, na cultura, na economia, na agricultura, nas pescas, nos transportes, nas infra-estruturas e nas super-estruturas. E perante um sismo destes, a alternativa ou alternativas não oferecem segurança, até porque está longe de ter sido feito o rescaldo.
Sem comentários:
Enviar um comentário