quinta-feira, 8 de maio de 2014

SMS 563. A Ex.ma Sr.ª D. Irracionalidade

8 maio 2014

TEM NOME, tem código postal, não é um ser virtual como aparentemente parece. Chama-se Irracionalidade e nem uma nem duas vezes mas muitas, deixou de entrar na História Portuguesa assumindo até a função de dona de casa. Sempre que ela conseguiu atingir em pleno o seu poder de matriarca, deixou sempre as marcas dos pés e das mãos nas escolas, nas empresas, nas autarquias, nas associações e, como a principal função para a qual foi adestrada desde pequenina é espreitar, a Irracionalidade também está plantada à esquina das ruas e conhece todas as travessas e becos, mesmo os que o GPS não regista. Além disso, para entrar na casa de cada um, ela não bate à porta nem precisa de chave. Entra sem que alguém dê por ela. E se não entra, mostra-se na televisão fazendo com que tudo e todos, por mais célebres que sejam e por mais inteligentes sejam reconhecidos, entrem racionais para o ecrã e dois segundos após se comportem como irmãos gémeos da D. Irracionalidade.

Esta senhora, é bom que se registe, tem na verdade um alvo escondido. Esse alvo é a Comunicação. Sempre que uma Sociedade revelar possuir alguma comunicação, uma rádio, um jornal, um megafone que seja, a D. Irracionalidade não descansa enquanto não acabar com esses instrumentos da Racionalidade, que é filha de outra família. Família por regra perseguida pela família da Irracionalidade. Primeiro começa por tentar controlar o jornal, a rádio ou mesmo o megafone. Depois, quer o controle quer não, provoca-lhe a asfixia, ou por considerara a sua inutilidade ou para acabar de vez com a ousadia da crítica, do relato fidedigno ou do simples dos factos. Para a D. Irracionalidade, tudo começa a ser sério apenas quando todas as vozes da Racionalidade ficam abafadas.

E tem uma estratégia. Começa pelas províncias. Algum dia chegará a Lisboa, ao Porto, ou, vá lá, a Coimbra dos doutores, pois a D. Irracionalidade gosta do fado, gosto que cultiva a par da invenção de milagres. Mas começa pelas províncias, com pequenos gestos indolores cujos efeitos não ultrapassam a comarca. Começou por exemplo no Algarve. Começou, quer dizer: está instalada. Até dizem por aí que tem alojamento reservado nos principais hotéis, que faz turismo de saúde em inúmeros departamentos camarários e que até organiza procissões. Dizem isso, mas a D. Irracionalidade vem logo a terreiro desmentir, dizendo que não, que isso não é da sua cultura, nem da sua educação, nem faz parte da sua saúde, nem para isso passou a ser eleita. Passe bem!

Carlos Albino
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Flagrante sismo: Na saúde, no ensino, na cultura, na economia, na agricultura, nas pescas, nos transportes, nas infra-estruturas e nas super-estruturas. E perante um sismo destes, a alternativa ou alternativas não oferecem segurança, até porque está longe de ter sido feito o rescaldo. 

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