Desculpem, sobretudo Miguel Freitas e Mendes Bota, mas as eleições legislativas ainda são feitas por círculos com listas próprias pelo que a leitura política do sufrágio deve passar por um primeiro patamar que é o do círculo – só a partir daí é que a conversa pode ser outra. Nesse primeiro patamar, estão em causa as lideranças partidárias regionais, as listas da cabeça à cauda, e os projectos, programas ou ideias galvanizadoras para a região, sobretudo se a região coincide com o círculo como é o caso raro do Algarve. Os líderes regionais não podem isentar-se desse escrutínio, tenham sido cabeças ou segundos das listas, estejam ou não eleitos.
As perdas enormes do PS no Algarve obviamente que não se explicam pelos incorrectamente chamados votos de protesto que, como tal, não existem e são desculpas de mau pagador de promessas. Quando o eleitor vota, escolhe quem quer e discrimina ou afasta quem não quer – qualquer voto é simultaneamente adesão e protesto. Tanto assim, que é admissível e até comprovável que muitos eleitores que voltaram e voltarão a votar no PS protestam tanto ou mais ainda do que aqueles alegados protestantes que transferiram os seus votos para o PSD do Algarve e para o BE do Algarve. Não é por aí, não valendo a pena explicar os males do PS do Algarve como efeitos dos erros de Sócrates.
O mesmo no PSD que perdeu a hipótese de uma vitória histórica no Algarve mas viu escapar-se-lhe eleitorado suficiente para o CDS julgar que é o que não será tanto. O PSD só não ficou eleitoralmente humilhado porque a perda para o mesmo CDS foi compensada pelos votos provenientes do PS, compondo a fotografia.
Ora Miguel Freitas e Mendes Bota deveriam tirar conclusões, possivelmente aquelas conclusões que o escol do eleitorado tirou: o Algarve tem chefes e até muitos candidatos a chefes, mas não tem lideranças políticas com bilhete de identidade reconhecível, programa galvanizador, projecto com cabeça tronco e membros, ideia para a região e não para os quintais de interesses e caciques do costume.
Quanto a Miguel Freitas, as enormes perdas do PS do Algarve foram, em análise séria, perdas no Algarve, e se, globalmente no país, o PS tivesse seguido o comportamento do eleitorado algarvio teria o destino traçado: em vez dos 96 mandatos até agora obtidos, teria metade dos de 2005: apenas 60… Naturalmente que a lassidão de comando e arrastamento acrítico do PS do Algarve nos últimos anos, conduziu a isto.
Quanto a Mendes Bota, enfim, teve tudo contra – perfil da líder nacional do partido, perfil da lista, perfil circunstancial do CDS que fez à vontade e sem transtorno o tal trabalho de sapa que o mar faz nas falésias da região hidrográfica.
Carlos Albino
- Flagrante sugestão: A de uma vista de olhos pelo blogue Estado do Algarve, em www.estadodoalgarve.blogspot.com
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