Pois o resto serão esses 56 organismos do estado, eufemísticamente ditos regionais, tal como foram contados por João Soares que se deu a esse trabalho, por entre direcções, administrações, delegações e possivelmente agências e que dificilmente conseguem evitar cair na tentação de serem quintais provincianos, a somar aos 16 tendencialmente quintais camarários e, os piores dos quintais, aos 82 das freguesias onde geralmente a humildade reside quinze dias antes das eleições e evapora-se oito dias depois.
É claro que esta descrição será um exagero e possivelmente uma falsidade se houver, em razão de cultura local, bastantes excepções entre as câmaras seja qual for a força política que as lidere, e excepções também por entre as freguesias. Ou melhor, para não se ofender ninguém, e não tendo em conta o número de algarves das empresas municipais, intermunicipais e paramunicipais que estão no vasto território de mordomais e favores discutíveis, nada custa afirmar gratuitamente que nenhuma câmara algarvia deixa de ser excepção não reclamando autonomia provinciana, e também que todas as freguesias algarvias são excepções ao mesmo anestesiante provincianismo – assim ficamos todos contentes com esse estatuto de excepções, embora as freguesias continuem a desunhar-se por mais três centímetros de território além, ou quatro aqui na perspectiva do imobiliário, e as câmaras continuem a contribuir, cada uma por seu lado e na defesa intransigente das suas visíveis fronteiras, para o esvaziamento do conceito concreto de Região (com letra grande), porque o conceito abstracto não incomoda e está nas nuvens. Ficamos portanto na mesma, sem se saber se o Algarve concreto é ou não todo ele uma excepção ao caciquismo ou todo ele uma disfarçadíssima adesão ao dito caciquismo que se pretende combater com a imposição legal do número de mandatos.
Somando as parcelas, 16 algarves camarários, mais os 82 dos fregueses, mais ainda os tais 56 do corrupio de despachos em Lisboa, aí teremos 154 algarves - o que, convenhamos, são algarves a mais para se pensar numa voz afinada, enfim, numa voz que há bem escassos anos se poderia designar como voz do povo algarvio, e que outrora foi lícito admitir que, em democracia representativa, haveria de ser sinónimo de salto cultural, de aprofundamento político do exercício da Crítica, e de movimentação cívica de uma sociedade ciosa de alguma identidade que lhe seja própria por nascença ou por adopção, tanto faz.
A falta dessa voz denuncia, todavia, a falta de liderança da Região ou a falta de competição entre candidatos a lideranças, como as legislativas poderiam e deveriam ter suscitado, para se evitar algum dia, um pior mal que é o do populismo. E não é pelas autárquicas que tal voz se consegue, antes pelo contrário.
Carlos Albino
- Flagrante surpresa: Surpresa mesmo, o despacho do Ministro dos Negócios Estrangeiros prorrogando por mais três anos (até 2012), a comissão de serviço de Miguel Freitas com efeitos a partir de 1 de Setembro, como conselheiro técnico principal na Representação Permanente em Bruxelas junto da UE. Como é? Outra vez suspensão do mandato? Para quê então concorrer?
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