Ser líder político do Algarve ou, talvez melhor, no Algarve, não significa nem depende de ser deputado pelo Algarve, nem o facto de alguém ser deputado significa que, só por isso, seja líder na região ou da região. Daí que o esmagador número dos deputados que os eleitores algarvios, desde 1976, têm vindo a depositar em S. Bento, jamais tenham feito parte de qualquer liderança visível e credível, que apenas um pequeníssimo número deles tenham tido alguma fama de líderes mas que não passou da fama, e que ao fim de décadas de democracia dificilmente se pode dizer que houve ou há um, dois, três líderes políticos algarvios com pensamento estruturado, discurso mobilizador, projecto com profundidade, coerência e reconhecimento geral para a sociedade balcanizada deste Sul, e, sobretudo, com voz autorizada em Lisboa e que seja respeitada pelos governos e directórios partidários como a voz a ter em conta. Assim com estas características não tivemos nem temos essa voz ou vozes, como outras regiões têm e ainda bem. É claro que tivemos e temos gente muito trabalhadora - Mendes Bota, então, na última legislatura, foi uma fábrica de requerimentos, protestos, pedidos de esclarecimento, por aí fora, a contrastar com a lassidão dos seus colegas de partido e dos seus directos adversários que andaram a dormir nas curvas. Mas isto não basta.
E porque é que se chegou a este ponto? Certamente porque as estruturas regionais dos partidos ocuparam-se nestas décadas de democracia em jogos de poder, em distribuição de mordomias, em atribuir lugares marcados, em disputas alimentadas simpaticamente pelos poderes instalados em Lisboa, porque quanto a ideias e a debate, pouco ou nada. Nem o PS nem o PSD se livram desta evidência que já vitimou o PCP para durar e inclusive o BE neste seu breve trânsito, muito embora os partidos tenham promovido de quando em onde alguns fóruns, bastantes jornadas e possivelmente colóquios a rodos todos eles para consagrar os líderes de ocasião que, no Algarve, tão depressa sobem como rapidamente acabam por cair… Tudo isso não deu nada ou deu muito pouco, como se viu com a formação das listas para a Europa e para as legislativas em que a regra foi a do «come e engole».
Com o fracasso de voluntaristas sem estofo, com o desapontamento de meros afilhados do poder de Lisboa, e após estas décadas de espera por um golpe de asa da parte de quem, só tarde se viu, era incapaz de voar, acredito que apenas uma nova geração de políticos no Algarve, sem os vícios dos progenitores, poderá proporcionar a formação de um escol de qualidade e de um lote de dirigentes onde se a representatividade se reveja na liderança e, sobretudo, onde o oportunismo partidário não só seja crime como também castigo. Para essa nova geração, leva tempo e é preciso que não nasça já envelhecida, já que, em política, os bebés-velhos são já vulgares…
Mais? Fica para a semana.
Carlos Albino
- Flagrante espectáculo: Vai repetir-se em breve o triste espectáculo das renúncias e suspensões de mandatos em S. Bento.
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