quinta-feira, 5 de novembro de 2009

SMS 335. Estimadas bibliotecas



5 Novembro 2009

Nada melhor que se compare com as bibliotecas municipais do que um barco cujo homem do leme tenha ao mesmo tempo as mãos no motor, tendo que executar as duas tarefas. É claro que o homem ou mulher do leme e motor de uma biblioteca é o director e não vale a pena andar-se às curvas. Daí que se há o azar de sair na rifa um director ou uma directora sem criatividade, jeito e golpe de vista, essa biblioteca azarada não terá grande sorte, devendo contentar-se com mais um funcionário daquele género a que outrora se chamava manga de alpaca, mas que nestes dias de computação pode ser designado por rato sem fios.

E é assim que temos por aí bibliotecas cheias de vida, com programação de qualidade, onde a todos dá gosto de entrar, participar e usufruir, pelo que se tornaram não só em referências locais como chamariz das redondezas. Por sua vez, outras há entregues a rotinas cómodas, com cheiro a bolor dos dias, sem golpe de asa, prosseguindo aquele género do não me incomodem que também a ninguém incomodo, pelo que estas tais bibliotecas pouca diferença farão da igreja secundária que faz de centro funerário – a sineta só toca quando há morto – pelo que os actos culturais em tal ambiente se assemelham a cortejos de piedade, umas vezes devida, outras vezes mal paga.

Vários factores condicionam, por certo, o êxito ou fracasso de uma biblioteca, instituição que tantos e tantos vislumbraram como imprescindíveis emblemas da democracia – biblioteca só é biblioteca se for verdadeira universidade aberta, com alunos nas estantes e professores a entrar e a sair, porque mal da biblioteca se quem lá entrar ou de lá sair não se sinta de alguma forma professor embora com a humildade do sábio, e boa biblioteca será se dela se afastarem os alunos prepotentes, alguns de tal modo prepotentes que nasceram sabendo tudo e lido tudo no ventre que os professorou.

É claro que há por aí alguns que dirigem bibliotecas como se estivessem a dirigir arquivos, e outros que nem isso porque caíram no Algarve de pára-quedas, não se esforçando minimamente para conhecerem o lugar onde caíram e as pessoas com que se cruzam – caíram numa biblioteca como poderiam ter caído num centro funerário com a tal sineta a tocar pela cultura morta.

Carlos Albino

    Flagrante Mendes Bota: O deputado do PSD não dá tréguas. Já seguiu uma pergunta para o governo sobre o afastamento do administrador hospitalar José Carlos Casimiro, após 15 anos em funções no Centro Hospitalar do Barlavento. Na anterior legislatura subiu a meio milhar, o número de perguntas, requerimentos…

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