2 Setembro 2004
A peça de Nuno Couto sobre como vai a preparação do Algarve para a fatalidade de um terramoto deve ser tomada muito a sério pelos órgãos da Junta Metropolitana. As asneiras de arquitectos, engenheiros, imobiliárias e autarquias cometidas neste longo período de verdadeira selvajaria urbanística que infelizmente não terminou, podem ser pagas muito caro. Muitos de nós, sem dúvida, nos recordamos do que aconteceu em Agadir onde as chamadas «construções anti-sísmicas» foram pura e simplesmente engolidas pela terra e que foi uma pálida amostra do que poderá ocorrer no Algarve. Nuno Couto e o Jornal do Algarve fizeram bem em lançar aquilo que é um verdadeiro alerta cívico e uma oportuníssima chamada de atenção à responsabilidade dos políticos, se são políticos. A memória possível do Algarve ao longo dos séculos dá-nos na verdade uma lição que, perante as asneiras e a irresponsabilidade que está nos caboucos da construção voraz de lucro e engano, é no mínimo de arrepiar. Mas não vale a pena chorar sobre o leite derramado e nem vale a pena descrever a cobardia dos que perante o perigo preferem enterrar a cabeça na areia. Há que prevenir, há que emendar o que pode ser emendado, há que corrigir o que obviamente tem que ser corrigido. Creio que a Junta Metropolitana, mesmo que não estejamos em Marrocos, tem a obrigação de, com toda a urgência, promover um Livro Branco onde tudo esteja doa a quem doer sobre esta matéria em que o governo central foi somando enormíssimas responsabilidades ao longo dos anos, tolerando à direita e tolerando à esquerda, tantas vezes com a canga dos financiamentos eleitorais. Fiquemos por aqui porque na próxima semana vou falar dos «arquitectos». Sim, dos arquitectos que também são de arrepiar.
Carlos Albino
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