quinta-feira, 16 de setembro de 2004

SMS 71. O Estado que circula em sentido contrário…

16 Setembro 2004

Grande maná. As receitas do Turismo algarvio foram, nas últimas décadas, um verdadeiro maná fundamentalmente para duas entidades: para o Estado e para esse grupo irregular de investidores, operadores e agentes com sede e contas em paraísos fiscais, cuja actuação foi tolerada, protegida e até condecorada pelo Estado em função da parte que este foi sempre recolhendo. Deste gigantesco negócio do turismo, para o Algarve sobraram as migalhas, pouco mais. As assimetrias dentro do próprio Algarve entre concelhos ou áreas de concelhos «turísticas» e «não-turísticas» falam por si – mesmo junto do apregoado maior dos luxos deste mundo continua a maior das pobrezas do País. O Algarve não beneficiou do Turismo porque este, até agora - descontadas as palavras de encantar do discurso político - não surgiu como elemento de um Plano de Desenvolvimento, como peça de um Programa de Progresso Geral da região.

A surdez do Estado. Foi neste contexto que o Estado cujo Orçamento foi em larga medida alimentado pelos dinheiros captados por causa do Algarve e no Algarve, demorou séculos acabar a Via do Infante, demorou milénios a completar a auto-estrada para o Centro, demorou uma eternidade a reformular via férrea (fazendo-o apenas até Faro e com estações pelo meio com aspecto e serviços miseráveis) e foi incapaz de ligar com modernidade Loulé a Quarteira (neste caso é uma vergonha), Faro a Loulé (por escassos seis quilómetros de vergonha também), Monchique a Silves, Silves a Loulé, por aí fora… A Via do Infante, na óptica do Estado, resolveria tudo e, em certa medida, é o único recurso, o único e, mesmo assim mal amanhado e barulhento para não dizer ensurdecedor.

Mau cobrador. Ora é este mesmo Estado que quer cobrar portagens numa coisa a que chama auto-estrada mas que não é – é apenas uma via dupla alargada com separador central… - não lhe bastando as «receitas turísticas» que ao longo de décadas cobrou sem benefício directo para o Algarve, melhor, para as populações do Algarve.

Multa, claro. E o que se deve fazer a um Estado que circula em sentido contrário? Naturalmente que esse Estado deve ser autuado. Nem mais.

Carlos Albino

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