quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

SMS 596. Na pessoa de Viegas Gomes

1 janeiro 2015

Vai para dois meses, Viegas Gomes dedicou-me nestas páginas palavras que me comoveram. Não lhe agradeci de imediato como seria de esperar porque o tempo voou avaliando se tais palavras foram justas ou desproporcionadas. Faço-o agora, quando 2015 começa, no pressuposto de que as palavras de Viegas Gomes não se dirigiam exclusivamente a mim, mas sim ao conjunto dos jornalistas algarvios sérios, probos e com espírito de missão pública, tendo eu sido mero pretexto, simples pretexto.

Na verdade, o Algarve tem um grave problema de comunicação e, entre outros fatores, os jornais e as rádios pesam, porque em matéria de televisão e atividade noticiosa o Algarve não tem absolutamente nada de próprio e autónomo. Os meios de comunicação social da chamada “cobertura nacional” mantêm por aqui umas antenas de correspondência, umas avenças e pouco mais, com jornalistas que não podem fazer mais do que fazem, submetidos às agendas de Lisboa e Porto, para as quais o Algarve praticamente conta quando há crime, catástrofe, desastre de peso ou alguma curiosidade para entreter o mercado de leitores nortistas e centristas. Restam os jornais locais, um ou outro, é verdade, a tender para o regional mas que já não chegam aos dedos de uma só mão, e, nestes, jornalistas que resistem sabe Deus como. Temos um grave problema de comunicação que afeta a sociedade algarvia em geral, problema esse que tem vindo a agravar-se de ano para ano, contra as expetativas dos que sempre pensaram que a liberdade de expressão, a liberdade de empresas de comunicação e um ensino universitário específico viriam a dotar o Algarve de um forte sistema de informação, matriz da sua identidade e alavanca das atividades que lhe são próprias da economia à cultura, do desporto à educação.

É costume avaliar-se o grau de desenvolvimento de uma sociedade pelo número de profissionais especializados por cada mil habitantes. Se há um médico por cada mil, ótimo; um dentista por cada cinco mil, razoável… Quanto a jornalistas, no Algarve, há 0,00005 por cada mil, mesmo assim contando-se com os jornalistas adventícios, os brincalhões e os que dão uma perninha a troco de salário de prestígio social. Mas há um grupo de resistentes e com crença num dia de amanhã melhor. E há também uma avalanche de jovens bem dotados e preparados que sonharam exercer essa profissão de missão pública mas que, se têm sorte, acabam nos press releases populistas das câmaras, e se não têm, acabam a lavar pratos.

Viegas Gomes, obrigado pelas palavras que me dirigiu, mas, não leve a mal, reparto-as pelo pequeno grupo de jornalistas algarvios que merecem um 2015 com o reconhecimento da sociedade, e também um 2015 em que os políticos, sobretudo os políticos, ponham a mão na consciência e vejam em que estado se encontram aqueles de quem se servem quando deles precisam e rapidamente deles se esquecem quando verificam que a independência de espírito, a livre crítica e o relato objetivo dos factos são um estorvo e obstáculos a eliminar. Não seria franco se não dissesse que os políticos algarvios, no seu conjunto, são os principais responsáveis do grave problema se comunicação que o Algarve tem e se não o resolver, não vai longe.

Carlos Albino
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Flagrante apelo: A quem encontrar a AMAL, roga-se o favor de informar o seu paradeiro. Tem 16 manchas no lombo. 

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