Vai para dois meses, Viegas Gomes dedicou-me
nestas páginas palavras que me comoveram. Não lhe agradeci de imediato como
seria de esperar porque o tempo voou avaliando se tais palavras foram justas ou
desproporcionadas. Faço-o agora, quando 2015 começa, no pressuposto de que as
palavras de Viegas Gomes não se dirigiam exclusivamente a mim, mas sim ao
conjunto dos jornalistas algarvios sérios, probos e com espírito de missão
pública, tendo eu sido mero pretexto, simples pretexto.
Na verdade, o Algarve tem um grave problema de
comunicação e, entre outros fatores, os jornais e as rádios pesam, porque em matéria
de televisão e atividade noticiosa o Algarve não tem absolutamente nada de
próprio e autónomo. Os meios de comunicação social da chamada “cobertura
nacional” mantêm por aqui umas antenas de correspondência, umas avenças e pouco
mais, com jornalistas que não podem fazer mais do que fazem, submetidos às
agendas de Lisboa e Porto, para as quais o Algarve praticamente conta quando há
crime, catástrofe, desastre de peso ou alguma curiosidade para entreter o
mercado de leitores nortistas e centristas. Restam os jornais locais, um ou
outro, é verdade, a tender para o regional mas que já não chegam aos dedos de
uma só mão, e, nestes, jornalistas que resistem sabe Deus como. Temos um grave
problema de comunicação que afeta a sociedade algarvia em geral, problema esse
que tem vindo a agravar-se de ano para ano, contra as expetativas dos que
sempre pensaram que a liberdade de expressão, a liberdade de empresas de
comunicação e um ensino universitário específico viriam a dotar o Algarve de um
forte sistema de informação, matriz da sua identidade e alavanca das atividades
que lhe são próprias da economia à cultura, do desporto à educação.
É costume avaliar-se o grau de desenvolvimento de uma
sociedade pelo número de profissionais especializados por cada mil habitantes.
Se há um médico por cada mil, ótimo; um dentista por cada cinco mil, razoável…
Quanto a jornalistas, no Algarve, há 0,00005 por cada mil, mesmo assim
contando-se com os jornalistas adventícios, os brincalhões e os que dão uma
perninha a troco de salário de prestígio social. Mas há um grupo de resistentes
e com crença num dia de amanhã melhor. E há também uma avalanche de jovens bem
dotados e preparados que sonharam exercer essa profissão de missão pública mas
que, se têm sorte, acabam nos press releases
populistas das câmaras, e se não têm, acabam a lavar pratos.
Viegas Gomes, obrigado pelas palavras que me
dirigiu, mas, não leve a mal, reparto-as pelo pequeno grupo de jornalistas
algarvios que merecem um 2015 com o reconhecimento da sociedade, e também um
2015 em que os políticos, sobretudo os políticos, ponham a mão na consciência e
vejam em que estado se encontram aqueles de quem se servem quando deles
precisam e rapidamente deles se esquecem quando verificam que a independência
de espírito, a livre crítica e o relato objetivo dos factos são um estorvo e
obstáculos a eliminar. Não seria franco se não dissesse que os políticos
algarvios, no seu conjunto, são os principais responsáveis do grave problema se
comunicação que o Algarve tem e se não o resolver, não vai longe.
Carlos Albino
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Flagrante apelo: A quem encontrar a AMAL, roga-se o favor de informar o seu paradeiro. Tem 16 manchas no lombo.
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