quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

SMS 599. O pior táxi perto de si…

22 janeiro 2015

Na semana passada aqui se referiu a perigosa proletarização voluntária das profissões, e, pelas consequências gravosas para a sociedade, aqui se destacou a proletarização dos profissionais cuja atividade se cruza com serviço público, missão cívica e os tais “desideratos” invocados normalmente nos atos de posse e logo esquecidos no dia seguinte. Sei que a palavra proletarização ou proletários é já de sete e quinhentos, mas para dizer o que se pretende é uma palavra inevitável e menos acintosa do que, por exemplo, criptogâmicos (seres incapazes de criar) ou mesmo fanerogâmicos (seres cuja manha depende das flores que produzem), o que também por esses municípios, escolas e departamentos estais afora. Fiquemos então pelos proletários, mal sabendo que seria eu uma rápida vítima dessa renovada espécie. Vamos aos fatos.

Nesta segunda-feira, pelas 23 horas, precisei de um transporte urgente em Loulé, para resolver pequena inconveniência. Telefonei para o número “oficial” da praça de táxis, e fui remetido para a caixa de mensagens. Aguardei resposta de retorno e, por um quarto de hora, nada. Decidi então caminhar até à dita praça. Nem um táxi. Confirmei os contactos dos táxis “de serviço” colocados à disposição pública. Novamente fui remetido para a caixa de mensagens. No abrigo, encontrava-se um rapaz enregelado (fazia um frio de rachar) que me disse estar a guardar um táxi havia uma hora e nada. Fiz uma nova tentativa de chamada telefónica e o resultado foi o mesmo que anterior: caixa de mensagens, concluindo eu por isso que estava a tentar em vão o serviço de um novo proletário. Desisti do proletariado da praça de Loulé, e acabei por pedir a um amigo o incómodo de me ajudar na situação. E fiquei a pensar sobre qual a razão, pela qual uma já razoável cidade, às 23 horas, não tem um táxi nem um taxista que pelo menos atenda uma chamada, dê uma indicação, seja solícito. Ninguém exige que um taxista fique dentro do seu carro em prisão preventiva até que surja um cliente, mas aquele que está “de serviço” tem a obrigação pública de atender telefones seja a que horas forem.

A cidade de Loulé está rodeada de outdoors que anunciam o melhor concelho perto de si, os melhores eventos desportivos perto de si, o melhor património perto de si, tudo perto, incluindo nomeadamente o novo “minarete da cóltura”. Apenas falta mais um outdoor: “O pior táxi perto de si” ou, em alternativa e com maior abrangência, “O proletariado no seu melhor perto de si”.

Carlos Albino
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Flagrante convite: Vou convidar Cláudio Torres (e mais alguém) para uma passeata em Loulé...

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