Os problemas do Algarve arrastam-se, no essencial, de ano para ano. Neste ou naquele assunto, continuamos na mesma, aqui e ali estamos pior. A sociedade está cada vez mais dividida, as autarquias fecham-se cada vez mais, e cada um cada vez mais se fecha nas suas casas, alguns mais confortavelmente do que a maioria que vai engrossando e sofre pela calada. Mas parafraseando o novo cardeal de Lisboa, numa daquelas suas tiradas que ele julga de bom gosto e bom senso, “os Algarvios sobrevivem apesar do Algarve”… Sobrevivem porque julgam que o adormecimento é de bom gosto e que a regra do cada um que se governe é de bom senso.
O desemprego e o emprego precário atingem recordes no país;
na saúde, médicos e responsáveis fazem das tripas coração para que a coisa
continue a chamar-se serviço público; no ensino, os professores que estão à
frente dos agrupamentos escolares deveriam receber medalhas de mérito porque já
estão a fazer o impossível na sequência de uma reforma irracional e de medidas
avulsas que não atendem à realidade caso estejamos numa sociedade que pretende
a melhoria; a suposta rede pública de transportes para uma minoria chama-se
carro particular e para a maioria interdição de mobilidade; o comércio está nas
lonas, por um lado porque não se adaptou nem se quer adaptar, e por outro
porque está na prática estrangulado pelas grandes superfícies que se instalam
sem condições e funcionam como aspiradores do dinheiro local, dando uns
empregos nas caixas, nas arrumações e nas limpezas; a cultura está na proporção
do subsídio e na dependência da maior ou menor proletarização dos responsáveis
por bibliotecas públicas e departamentos municipais, onde se faz o que é
exigido e pouco mais, onde a criatividade rumo à excelência é um estorvo; cada
vez mais há associações sem associativismo e os que insistem no associativismo
não conseguem aguentar-se em associação; participação cívica e política
tornou-se cada vez mais sinónimo de combinação prévia; o turismo oferece
números que não andam desligados das tragédias dos outros, não se sabendo, por
ora, o que será quando acabarem as tragédias nos destinos concorrentes, além de
que a avaliação do turismo que vamos tendo não excede a contagem do número de
dormidas; a construção, depois do caos e das plantações de cimento, parou.
Enfim, todos sentem isto mas poucos o dizem em voz
alta,
havendo alguns que, mesmo sentindo, dizem por conveniência do lugar e da
qualidade dos ouvintes que tudo vai bem, queo comércio vai animado, que o turismo
vai de vento em popa, que a agricultura e as pescas deram azo a uma sólida
indústria transformadora alimentar, que a cultura prova uma sociedade de
sábios, que o ensino e a saúde estão “racionais”, que isto entrou tudo na
disciplina, estando por fazer apenas o trabalho de fazer esquecer essa coisa
chamada Algarve substituindo a palavra por Sul, como a orquestra já o fez. Para
quê o Algarve?
Dir-me-ão que é preciso acordar; direi que, assim, o que é
preciso é dormir bem.
Carlos Albino
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Flagrante monumento nacional novo: Em Loulé, encostado a restos da muralha, de torre e do caminho da ronda (monumento nacional) surgiu em betão o que se pode designar por “Minarete da Cóltura”. Merece o nome.
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