quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

SMS 597. Problemas muitos; soluções poucas

8 janeiro 2015

Os problemas do Algarve arrastam-se, no essencial, de ano para ano. Neste ou naquele assunto, continuamos na mesma, aqui e ali estamos pior. A sociedade está cada vez mais dividida, as autarquias fecham-se cada vez mais, e cada um cada vez mais se fecha nas suas casas, alguns mais confortavelmente do que a maioria que vai engrossando e sofre pela calada. Mas parafraseando o novo cardeal de Lisboa, numa daquelas suas tiradas que ele julga de bom gosto e bom senso, “os Algarvios sobrevivem apesar do Algarve”… Sobrevivem porque julgam que o adormecimento é de bom gosto e que a regra do cada um que se governe é de bom senso.

O desemprego e o emprego precário atingem recordes no país; na saúde, médicos e responsáveis fazem das tripas coração para que a coisa continue a chamar-se serviço público; no ensino, os professores que estão à frente dos agrupamentos escolares deveriam receber medalhas de mérito porque já estão a fazer o impossível na sequência de uma reforma irracional e de medidas avulsas que não atendem à realidade caso estejamos numa sociedade que pretende a melhoria; a suposta rede pública de transportes para uma minoria chama-se carro particular e para a maioria interdição de mobilidade; o comércio está nas lonas, por um lado porque não se adaptou nem se quer adaptar, e por outro porque está na prática estrangulado pelas grandes superfícies que se instalam sem condições e funcionam como aspiradores do dinheiro local, dando uns empregos nas caixas, nas arrumações e nas limpezas; a cultura está na proporção do subsídio e na dependência da maior ou menor proletarização dos responsáveis por bibliotecas públicas e departamentos municipais, onde se faz o que é exigido e pouco mais, onde a criatividade rumo à excelência é um estorvo; cada vez mais há associações sem associativismo e os que insistem no associativismo não conseguem aguentar-se em associação; participação cívica e política tornou-se cada vez mais sinónimo de combinação prévia; o turismo oferece números que não andam desligados das tragédias dos outros, não se sabendo, por ora, o que será quando acabarem as tragédias nos destinos concorrentes, além de que a avaliação do turismo que vamos tendo não excede a contagem do número de dormidas; a construção, depois do caos e das plantações de cimento, parou.

Enfim, todos sentem isto mas poucos o dizem em voz alta, havendo alguns que, mesmo sentindo, dizem por conveniência do lugar e da qualidade dos ouvintes que tudo vai bem, queo comércio vai animado, que o turismo vai de vento em popa, que a agricultura e as pescas deram azo a uma sólida indústria transformadora alimentar, que a cultura prova uma sociedade de sábios, que o ensino e a saúde estão “racionais”, que isto entrou tudo na disciplina, estando por fazer apenas o trabalho de fazer esquecer essa coisa chamada Algarve substituindo a palavra por Sul, como a orquestra já o fez. Para quê o Algarve?

Dir-me-ão que é preciso acordar; direi que, assim, o que é preciso é dormir bem.

Carlos Albino
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Flagrante monumento nacional novo: Em Loulé, encostado a restos da muralha, de torre e do caminho da ronda (monumento nacional) surgiu em betão o que se pode designar por “Minarete da Cóltura”. Merece o nome. 

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