27 novembro 2014
Terminou o que já parecia um auto de fé. Independentemente da acusação que supostamente será deduzida, a carreira política de Sócrates terminou.
Ninguém, à direita ou à esquerda pode
vangloriar-se com o destino que José Sócrates foi traçando até este desfecho
que em primeiro lugar afeta todos os que acreditaram nele, especialmente a roda
da sua proximidade e, nela, os que usufruíram, à confiança, algum benefício
político legítimo.
Mas também ninguém, à direita ou à
esquerda, pode ou deve vangloriar-se.
Por um triz, outras figuras não caíram,
outras caíram mesmo e pertencem a comboios diferentes daquele que Sócrates
tomou. A prisão de Sócrates não permite, só pela prisão, vivas à Democracia,
como se a saúde desta dependesse da prisão de um homem que já foi poderoso,
mas, agora, está reduzido à dimensão de quem tem que explicar porque não
cumpriu deveres e obrigações.
Na verdade, é triste que, para esse
homem, agora tenhamos que lhe destinar aquele sentimento da Grécia Antiga e que
tem o nome de piedade. Não está condenado, poderia ter fugido como muitos podem
fugir neste mundo e fugiram, mas a sua carreira terminou.
É certo que, no território da probidade e
da seriedade, deixa muita gente atónita, e permite que, no território do
engano, muita gente também ande por aí ululante mas com pernas de fora ou
tapando muita perna.
A ver vamos.
Esta é uma lição da qual todos, sem
exceção, eleitos e eleitores, devem extrair conclusões. Aquele que foi eleito e
sobre o qual possam recair dúvidas baseadas em factos, documentos e
procedimentos, prejudicando gravemente a respetiva idoneidade moral, têm o
dever de, atempadamente, se demitir ou de se auto-suspender, não entrando no
jogo da presunção de inocência ou da invocação de que “nunca fui condenado”,
sabendo-se como a lei, sempre imperfeita e lacunar, pode ser contornada e
ladeada. Desde o Presidente da República, Primeiros-Ministros e Deputados cuja
consciência tem um espelho como qualquer cidadão mas cujos exercícios decorrem
perante uma massa de anónimos desconhecidos, até ao Presidente de Câmara do
qual todos são vizinhos e conhecidos, têm essa obrigação de não entregar a sua
idoneidade aos tribunais. A idoneidade moral não é assunto de tribunal, de
sentença ou de acórdão – é assunto de consciência. E os que elegem têm o dever
de, pelos menos, não se enganarem duas vezes seguidas. A ver vamos.
Carlos Albino
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Flagrante
alerta: Houve alguém que, um dia,
perante a campanha anti-partidos, saiu-se com este: “Os partidos são melhores
que os seus líderes”.
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