quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

SMS 592. Menosprezo pelo que é nosso


4 dezenbro 2014

Toda a gente sabe que a identidade de uma região, começa logo pelo território e pela assumpção dos bens e valores que essa mesma região pode e deve exibir no seu bilhete de identidade, designadamente por onde se transita. E como há muito já não estamos com os caminhos de almocreves da Idade Média, agora falamos de estradas, aeroporto, caminho-de-ferro, portos e marinas, tudo por onde passe quem vem e onde esteja quem recebe. Quanto ao Algarve, é uma desgraça, há anos e anos. A RTA se fez outrora pouco, agora não faz nada, nem tem lampejo para dar sinal de Algarve. A Via do Infante atravessa o Algarve como podia atravessar a Mauritânia - apenas tem placas de desvios para ali e acolá, como se os viajantes fossem caravanas de camelos. As estações dos caminhos-de-ferro parecem morgues onde o Algarve entrou morto e está congelado à espera da autópsia. Nas marinas e no porto de cruzeiros, a palavra Algarve não existe, e é tudo muito local, muito quintal, muito casa de arrecadação municipal. Na 125 e suas derivas, as autarquias metem-se umas com as outras, sobrepõem-se em cartazes com direções e quilometragens como se cada uma fosse capital da próxima e dentro das outras, todas a dizerem que sejam bem vindos, como pretexto para marcação do quintal e não mais que marcação, sem Algarve e sem o que, de valores e bens de relevância, sirva de bilhete de identidade do Algarve, caindo na fatela, no ridículo, no novo-riquismo de analfabetos. Os hotéis, na generalidade, nos seus folhetos, nas suas páginas electrónicas e nos seus guias para o turista, exibem erros, omissões e indicações sem rigor que são para estarrecer. No aeroporto, é como se todos chegassem à República Centro-Africana – nada de Algarve, a não ser, no pior sentido, a confusão dos parques às voltas e às curvas - não há acolhimento de Algarve, cada um que vá à sua vida, nos seus transfers, táxis ou carros alugados, ao seu golfe e aos seus bares e discotecas, e nada de conversa fiada sobre Algarve.

Bem podem dizer que, quem vem de Lisboa pela auto-estrada, depois do Viaduto das Ribeiras após dezenas de viadutos no Alentejo assinalados como que pontos de referência mundial, há um placar a indicar Algarve com umas amendoeiras debotadas, e depois a indicação da fortificação militar de Paderne (como se esta estivesse em Messines…) e a do Castelo de Silves. E terminou. Depois disso até Vila Real de Santo António num sentido ou até Lagos noutro sentido, mais nada.

É o menosprezo pelo que é nosso, pelo muito que em património material e imaterial temos, pelo muito que em bens culturais possuímos, algumas coisas únicas na Europa e únicas no País. Se calhar, os responsáveis nem sabem. Falando com alguns, parece que é isso.

Carlos Albino
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Flagrante má educação: Há gente por aí que, antes de subir ou para subir o degrau do poder, escreve, insiste, exige resposta, roja-se aos pés; depois de conquistado o degrau, não responde aos emails, desconhece o remetente, ou manda terceiros dar resposta lacónica e até saloia, como se tivessem o mundo a seus pés. Não vão longe, ou se forem, é a má educação que os acompanha.

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