18 dezembro 2014
Não há agenda municipal, boletim de freguesia,
folheto de entidade ou instituição pública que, nesta época, dispense ou
prescinda da “Mensagem de Natal” ou de “Ano Novo”, com simpáticas fotografias
dos mensageiros, em pose protocolar e bandeirinhas atrás. O que o Presidente da
República ou o Primeiro-Ministro fazem, é assim imitado, pelos presidentes do
País até à mais recôndita aldeia. Por regra, estas mensagens não acrescentam
nada. Repetem-se de um ano para o outro, como nos antigos sermões em latim. Lá
vêm as estafadas referências a que esta época é de paz e amor, que é a ocasião
para se colocar de lado todas as divergências, que os sinos tocam, que a
alegria inunda as praças e ruas, só não dizem que os passarinhos cantam os hinos
municipais e dançam a valsa das freguesias, porque nesta época não há muitos
passarinhos. Algumas dessas mensagens atingem o cúmulo do ridículo e, sem os
seus autores disso se darem conta, acabam por ostentar, por vezes sem pudor,
provas de atroz provincianismo que, como observava Pessoa, é a doença mental do
português. Digamos que do conjunto destes exercícios natalícios, só se salvam
as fotografias dos seus supostos autores, até porque nem sempre quem surge como
“mensageiro” redigiu a mensagem.
O exercício das mensagens não se esgota, todavia,
com o Natal e o Ano Novo. É já um estilo de vida, uma prática política. Há
mensagens a propósito de tudo e de nada, ao longo do ano. Esse hábito das
mensagens já funciona quase como campanha eleitoral, mesmo que não haja
campanha e muito menos eleições. Digamos que esse hábito faz parte do populismo
que grassa no País, no qual o Algarve não é exceção. Antes pelo contrário.
Entrou agora e aqui em força, quando lá pelo Norte e Centro, as pessoas
responsáveis já vão dando conta desse ridículo e de como desgastam a sua
imagem, a sua presença e até a sua credibilidade.
É de presumir que alguns não gostarão de ler estas palavras
e muito menos de as reler. Mas, em consciência, entendi que deveria redigi-las.
Não digo que os responsáveis de aldeia, cidade, concelho, instituição, por aí afora,
não digam umas palavrinhas porque têm tribuna para isso. Só que o que é demais
não presta e o exercício populista das mensagens, além de matar o mensageiro, é
já um estorvo e um incómodo público. Qualquer pessoa minimamente inteligente
ri-se dessa presunção e água benta. Mas cada um toma a que quer.
Carlos Albino
_______________
Flagrante lembrete: Tanto um cargo público por nomeação como um mandato ganho pelo voto, não são coisas da propriedade privada de quem os exerce. Certo?
Sem comentários:
Enviar um comentário