“Toda e qualquer coincidência com nomes conhecidos ou com a realidade, é simples semelhança” |
Por muito que haja, o debate local
autárquico e também o debate regional, não ganham vigor e muito menos verdade,
se tudo isso se resumir a uma luta de gatos e ratos. Os ratos nos seus
esconderijos, resistindo com as possíveis provisões de queijo e toucinho, à
espera de que o gato se afaste ou que, desalentado, vá à caça de outro roedor;
o gato disfarçando-se em vegetariano, comendo cenoura, alface e até ovos de
perdiz, para iludir o rato sobre o instinto carnívoro dos felinos.
Este jogo de disfarce até tem a sua piada
quando gatos e ratos atuam no mesmo território, seja ele o de uma freguesia ou
o de um mesmo concelho. Reuniões públicas de câmaras e de juntas, ou de
assembleias municipais e de fregueses, naturalmente que propiciam divertidíssimos
momentos em que os ratos exercitam com esperteza a paciência da clausura
política (toda a clausura de rato é sempre política), e em que os gatos abdicam
de um passarinho na ementa – quanto mais de um rato! – para provarem à
sociedade que, por coerência com os resultados do último sufrágio, passaram a
comer brócolos políticos (todo o bróculo na boca de um carnívoro é sempre
político). Todavia esse divertimento
entre gatos e ratos, se é feito no mesmo território que os bichos partilham,
até pode favorecer o escrutínio das ementas de cada um, ou seja, ajuda a
esclarecer se gato come brócolos e se rato ainda tem queijo para se aguentar no
esconderijo. Em cada concelho, em cada freguesia, poderíamos dar nomes aos
gatos e ratos locais, mas ter-se-ia que usar a tal legenda dos filmes: “Toda e qualquer semelhança com nomes
conhecidos ou com a realidade é simples coincidência”. Assim foi na Arca de
Noé, onde este almirante bíblico conseguiu a proeza de evitar que os ratos
fossem extintos pelos gatos e estes, por sua vez, extintos por abocanharem
politicamente ratos envenenados (todo o veneno dado a rato é sempre político).
Por aqui não há problema.
O problema é quando, sem que o gato
saiba ou disso se aperceba, o rato escolhe outro território, outro concelho,
outra freguesia com a proteção dos gatos locais, para espreitar a ocasião da
extinção do gato no território onde campeou. E igualmente problema será quando
o gato, alterando de igual forma as regras do confronto, vai à caça dos ratos
do concelho a que não pertence ou da freguesia onde não é freguês, fazendo a
caça de forma perversa: comendo brócolos, ou cenouras como coelhinhos da banda
desenhada. A esta troca de terrenos sempre se chamou emigração política de
conveniência, mas também sempre com maus resultados. Ou seja: entre gatos e
ratos apenas muda uma letra. E essa letra mutante é politicamente suicidária.
Isto é uma fábula, e, tal como em todas
as fábulas, “Toda e qualquer coincidência com nomes conhecidos ou com a
realidade é simples semelhança”.
Carlos Albino
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Flagrante modalidade paraolímpica: Espionagem autárquica.
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