Como em todos os
parlamentos, os deputados representam os eleitores de todo o território a
que digam respeito. Assim, no doméstico parlamento português onde os deputados
da Madeira não representam a Madeira, mas o malfadado continente e ilhas, e os
do Algarve, no rigor estatutário, também não podem fazer casulo. Os deputados
são eleitos por cada círculo para representarem tudo. A rigor é assim, e esse é
o argumentário para a disciplina de voto, mas também para impedir que o
parlamento se torne numa assembleia parlamentar composta por delegações
regionais fragmentárias. No Parlamento Europeu assim também é, muito embora os
alemães deixem de ser alemães nas matérias melindrosas que digam respeito à
Alemanha, o mesmo acontecendo com espanhóis, franceses, italianos, etc., e com
portugueses. Se algum eurodeputado vota contra algum expresso interesse
português, independentemente de ser do partido A ou B, cai o Carmo e a
Trindade. Daí que, o Parlamento Europeu, não tão raro quanto se possa pensar, acaba
muitas vezes por parecer mais uma assembleia parlamentar com delegações
nacionais do que um parlamento.
Acresce que, em
quase todos os casos, as campanhas ditas europeias, são desenvolvidas mais em
função das políticas internas e dos despiques domésticos, do que em torno da
política geral europeia. E nas chamadas eleições europeias, o que é europeu
fica no abstrato e por vezes ininteligível (é preciso descodificar a linguagem)
e o que é nacional é bom, como no velho slogan. Acresce ainda o desfasamento
entre as legendas nacionais dos partidos e as dos “partidos europeus” a que se
chama famílias. Também acresce que as campanhas europeias mais não são que
testes intercalares do xadrês político doméstico, tidos como úteis para avaliar
domésticas políticas. E ainda acresce que as listas de candidatos espelham ou
procuram satisfazer as ânsias regionais já de si insatisfeitas ou então
satisfeitas no doméstico parlamento. Em Portugal tem sido assim, pelo que o
Norte, o Oeste, as Beiras, a Madeira, os Açores e de vez em quando o Alentejo lavrado
pelo Ribatejo, através dos estados-maiores dos partidos, apenas se não podem é
que não entalam um eurodeputado “regional” na delegação “nacional” para a
família “europeia”. Para a eleição dos 21 deputados, no próximo dia 25 de maio,
assim é, pelo menos por parte dos partidos já rotinados no conhecido exercício
dos elegíveis.
No meio disto, para o
Algarve as coisas estão pretas. Na lista do PS, Júlio Barroso está no 19.º
lugar, não tem hipótese. Na CDU, Paulo Sá está em 9.º, hipótese não tem. No PSD
com o CDS mais uma vez à boleia para três eurodeputados, José Mendes Bota
figura no 9.º lugar, ainda assim o que pisa a porta desde que o eleitorado
nacional não agite demasiado o caleidoscópio. A quem pergunte se interessa ao
Algarve ter um eurodeputado em Estrasburgo e nos meandros de Bruxelas, claro
que a resposta é: “Interessa, seja de que partido for”. Não porque o Parlamento Europeu seja
praticamente uma assembleia parlamentar com delegações nacionais, mas porque
estas delegações são fundamentalmente expressão de pressões regionais. Os
partidos que não colocaram nomes de algarvios em lugares elegíveis, nem sequer
à porta, têm assim todas as condições para fazerem no Algarve campanha
verdadeiramente “europeia” liberta do “nacional” e do “regional”, o que não
deixa de ser um bico-de-obra.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante reforço de agradecimento: A propósito dos dinheiros para as regiões, no que toca ao Algarve já aqui dissemos – “Obrigado, Poiares Maduro!”. Agora que muita gente já percebeu, reforçamos – “Muito obrigado, muitíssimo obrigado Poiares Maduro!!!”
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