1 novembro 2012
A palavra divórcio é adequada ao caso, embora deputados e eleitorado nunca tenham casado. Não é todos os anos que um país inteiro toma conhecimento de um Orçamento de Estado de desfazer os ossos, como não é coisa rotineira que uma região ou círculo com seus eleitores pode ver desmoronar-se programas e projectos em que se empenhou e e que acreditou. É verdade que o debate foi nacional, ou seja, foi um debate entre os diretórios partidários, com avanços ou recuos em função das fatias do bolo da democracia (caso do acordo para as autárquicas entre dois desses partidos), mas nada justifica que os deputados se tenham refugiado na toca ou se tenham tornado anónimos, portanto sem nome e sem cara.
No caso do Algarve, é para todos, sejam quatro ou três mais um,
dois apenas ou um. Não basta um comunicado apaziguador dos militantes, ou de
resposta a facção interna, ou ainda para mostrar serviço a Lisboa. Muito menos
basta uma croniqueta, dessas que mal começam, sabe-se logo como acabam. Os
deputados do círculo, todos por um ou um por todos, deveriam ter tomado posição
pública sobre assunto da mais elevada importância para indivíduos, empresas e
instituições da região. O normal é que cada um desse a cara, mostrasse a boca e
olhasse olhos nos olhos os eleitores que o elegeram, muitas vezes sem
hesitações, outras por arrasto da figura de proa.
Nunca escondi que sou crítico deste Orçamento – pela sua filosofia,
pela garotice na condução do processo, pelas intenções escondidas e pelas omissões
graves sobre a causa da crise e desta emergência com impunidade para os
reponsáveis. Isso não quer dizer que apenas seja bom ou correto quem partilhar
da mesma opinião. Nada disso! E no caso dos deputados do Algarve, esperava,
sempre esperei que tivessem ido a Lagos, a Tavira, a Silves, a Portimão ou a
Faro que apenas fosse, explicar o sim ou o não. Não basta Lisboa dizer que não,
para isentar os deputados regionais da explicação, como não basta Lisboa
decretar a disciplina de voto para os dispensar da prova pública de que têm um
voto de consciência. Não o fizeram, ficaram-se pelo comunicadozito ou por um
textozito com fotografiazita, e assim deixaram provado que o divórcio com o
eleitorado ainda lhes dá o que resta do casamento: o ordenadozito.
Carlos Albino
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Flagrantes
monumentos: Sobretudo igrejas, é verdade
que abertas para glória dos turistas que estão lá nas alturas tais como santos
e anjinhos, mas perante as quais os vivos dão com os narizes nas portas.
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