Ainda há pouco tempo, antevia-se as próximas eleições autárquicas
como mais um ritual de um presidente dar lugar a outro seu rival ou seu
correligionário, ou mais uma quinzena de propaganda rotineira, de comícios que
nenhuma novidade introduzem a não ser rouquidão nos oradores menos prevenidos,
e sobretudo de jogadas que só cinco ou seis em cada terra percebem e mesmo
assim ficando tudo dentro dos partidos que são como as lapas – só se mexem
quando se lhes toca. Parecia, pois, que as autárquicas iriam despertar o menor
interesse na história da democracia, até porque com a profunda crise em que o
País mergulhou, gerir uma câmara e conduzir um município não dá a pompa que
recentemente dava. E sendo assim só um grande santo disposto a enorme
sacrifício ou então algum diabo com grande e estranho interesse atado ao rabo
escondido, poderiam concorrer a presidências de câmaras deficitárias, algumas
quase falidas, outras na corda bamba mas dissimulando tudo isso para salvar o
prestígio do poder local, sem que alguém se importe minimamente com o facto de
ter sido o somatório destes poderes que esvaziou, para gáudio do Estado
centralista e centralizador, o que poderia ser hoje um poder regional.
Acontece porém que nestas próximas eleições autárquicas não vão ser
tanto os candidatos que vão estar à prova mas sim os eleitores. É que, depois
das promessas, incongruências e trocas de pés pelas mãos que o eleitorado
verificou e sente na pele como resultado das recentes legislativas, é muito provável
que, nas próximas autárquicas, já sejam muito menos os que comem gato por lebre
ou que vão exclusivamente atrás da propaganda. Numa democracia adulta, o
eleitor é altamente exigente para consigo mesmo; numa democracia de fatela, o
eleitor vai atrás do compadre, vota na mira de um favor e por vezes chega a dar
um contributo decisivo para uma eleição apenas para corresponder a um aperto de
mão do candidato. E é por saberes disto que alguns candidatos, sobretudo nos
poderes locais, imitam campanhas só admissíveis em clubes desportivos mesclados
com negócios – grandes jantares e passeatas como se fossem mini-Presidentes da
República.
Pelos indícios já dados nos últimos meses, parece que nas próximas
autárquicas serão em número muito mais reduzido que em eleições anteriores, os
eleitores que vão dar voto fiado. E se assim não for, será caso para se dizer
que pior que a democracia só a ditadura, quando se preferiria dizer que melhor
que a democracia só uma melhor democracia.
E quanto a isto não decretos que determinem – depende dos eleitores que
temos e somos.
Carlos Albino
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Flagrante
pena: Guimarães que não pediu
desculpa ao Algarve pelo tal cartaz, está com dívidas, tem que importar
criadores de todo o lado e apesar de ter esvaziado as nossas praias, não tem
gente. É uma pena só encher o castelo.
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