O que mais por aí há é o desalento, o desânimo, o desapontamento. O
interesse pela coisa pública está na mó de baixo, em largos estratos da
sociedade, a começar pelos dos que decidem mais ou menos, a regra é a de que cada
um se governe, regra que se cumpre em cada casa, em cada rua e em cada
município, ao mesmo tempo que a pobreza deixou de ser envergonhada e está na
praça pública. Aqui e além há fome, o desemprego está em porta sim porta não, os
piores fantasmas da crise não medem as consequências seja de dia, a meio da
tarde ou à noite pela calada, e, muito embora o País lá de cima sofra o mesmo
ou de coisa parecida, esse ainda tem direito à consideração até porque o poder
central é o do País lá de cima – deixemo-nos de conversas fiadas. Algarvio que
proteste, ou mesmo que peça com mesura, fica como que a atirar barro à parede
pois também há a regra de deixar essa gente a falar até se cansar, pois toda a
divulgação de alguma causa é feita com os calculados elementos de desprestígio
da causa. Em Lisboa, o Algarve não tem grupo de pressão que se assemelhe ao dos
Açores que gravita na Casa dos Açores, ao da Madeira, ao das Beiras, por aí
fora. A “nossa” Casa do Algarve é um símbolo do passado que resiste mas anda
por ali, pela capital, como que um sem-abrigo que não passa de símbolo de um
Algarve que nem sequer ousa abrigar-se defendendo-se a si próprio. E além desse
símbolo ineficaz, na capital, junto do poder ou nas barbas do poder, o Algarve não
tem mais nada a não ser uns minhotos, uns alentejanos e até uns angolanos que
por acaso elege, e que, por serem eleitos aqui, até parecem ser marroquinos mas
nem sequer de Gibraltar são. Ao menos fossem de Gibraltar, que sempre teriam o
ar de não serem Filipes que são e é pena que sejam para nosso desapontamento,
desânimo e desalento. Gente animada no Algarve, só algum Filipe.
Carlos Albino
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Flagrante naturalidade: Se o Presidente toma alguma medida acertada, ele é nacional, é estadista e fazem-no até mesmo filho adotivo de Guimarães; mas se diz alguma barbaridade ou se resvala um segundo que seja, ele é algarvio, ele é o homem de Boliqueime e ele pertence àquela gente lá do sul... E o mais curioso é que os Filipes do Algarve são os primeiros a entrar nesse folclore.
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