Nesta terça-feira, os algarvios que se sentem afectados pelo traçado de linhas de alta tensão, manifestaram-se em Lisboa às portas da REN, e fizeram bem.
Duvido, duvido mesmo se José Penedos estará a falar verdade e certo quando afirma que a REN, nos traçados das linhas eléctricas, fala com as autarquias envolvidas e com os proprietários dos terrenos afectados, além de que tem equipas no terreno «a falar com as pessoas, a dar informações e a negociar». Admitindo que fale verdade ou convencido desta, não sei se fala certo. Sabemos, desde há muito, que os electricistas plantam caixas onde querem e passam fios por onde lhes apetece ou convém, como se os fios fossem cães a passar por vinha vindimada. É claro que esta REN não será directamente responsável por tudo o que foi feito no passado, nem por tudo o que feito nas ruas de cidades e vilas onde os electricistas das câmaras dão nota da mesma cultura da REN e da mãe que a gerou, e que é uma cultura de desprezo pela estética e pelo bem-estar público, porque a cultura eléctrica é pura e simplesmente chegar ao contador de quem afinal paga.
E assim é que linhas de alta tensão passam exactamente sobre telhados de casas rurais, havendo, em tais casas, coincidências que José Penedos não deveria descartar num ponto de vista de saúde pública. Mas, independentemente dos legítimos receios em matéria de saúde, convenhamos que, olhando para montes e vales em pleno mapa turístico do Algarve, é demais. São fios eléctricos para ali, de telefones para além, cruzando-se uns sobre os outros, postes encavalitados sobre postes uns para Norte, outros para Este, sem respeito pela paisagem, em travessias sem respeito por nada, como se o País fosse dos fios e não os fios a servir o País, e no caso do Algarve, como se o Algarve fosse todo ele uma herdade de pecuária.
Porque uma coisa é José Penedos a olhar para as suas linhas no mapa aberto sobre a sua enorme secretária, respeitando e bem, segundo diz, até vestígios arqueológicos, outra coisa é olhar-se para as mesmas linhas na paisagem real e sobre as casas e corpos de cada um, onde a gente viva não é mero e menosprezível vestígio.
Carlos Albino
Flagrante cena de desenvolvimento: Com o encerramento da fábrica de Loulé será que o turismo deixou de consumir cerveja, ou anda outro negócio atrás disso?
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