Anda o Estado, há um ror de anos, a prometer regiões administrativas por via daquilo que é mais sagrado num estado de direito – a Constituição. Há 33 anos que promete, a idade de Cristo, acabando sempre por crucificar a ideia, no alto de um monte, num perfeito entendimento entre os Pilatos do regime e os sacerdotes do poder central que nunca deixou de ser uma corporação do autoritarismo e, amiúde, do desdém pelo cidadão comum, passada a hora da captação do voto. E o pior é que a ideia tem sido sempre crucificada entre dois ladrões, o bom e o mau, sugerindo que se trata de uma ideia ladra. Ora, 33 anos, já é demais.
Num dia, afirmam uns centuriões que o povo não está preparado para a criação de regiões; no dia seguinte, para acalmar clientela, promete-se desconcentração cumprindo-se dela uns arremedos; e quando os arremedos são postos em causa, agita-se o caminho para a descentralização que, bem vistas as coisas, não tem passado de embustes burocráticos. Quando havia dinheiro, promoveu-se um referendo cujo resultado se antevia e cujos promotores no fundo desejavam, respirando de alívio com o adiamento das regiões para algum dia que, também no fundo, desejavam que fosse o de São Nunca à Tarde. Agora que não há, porque o dinheiro foi gasto por esses mesmos em tudo menos nas regiões ou para regiões, o argumento é outro mas a intenção é a mesma: crucificar a ideia.
Por estas e outras razões, aderi ao movimento cívico «Regiões, Sim». Naturalmente que não aderi a Mendes Bota, não se trata de aderir a pessoas mas aderir a uma ideia. Diria o mesmo se fosse Miguel Freitas a tomar o pulso. Não é por a iniciativa ter partido de Mendes Bota que, só por isso, haveria que diabolizar a ideia já de si tão crucificada - aderi ao movimento, o qual espero que se mantenha «cívico» e sem tutelas partidárias directas. Aderi porque julgo ter chegado o momento de se descriminalizar politicamente as regiões, e quando precisamente os centuriões de sempre se preparam para colocar sobre as regiões o carimbo acintoso do «regionalismo» apresentado, sem qualquer honestidade intelectual e moral, como doença infantil do regime democrático. É com carimbos destes que se crucificam as ideias que ponham em causa o Estado naquilo que ele tem de corporação autoritária avessa ao escrutínio dos cidadãos e sempre com dois ladrões à mão – o bom e o mau.
Carlos Albino
Flagrante sugestão: Ao autarca que foi a São Brás proferir uma conferência sobre «Como conquistar uma autarquia depois de uma derrota», ele ir preparando já outra conferência sobre como «Perder uma autarquia depois de uma vitória» …
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